Capítulo 5
Taehyung chegou à faculdade atrasado, mas não se deu ao trabalho de correr para sua aula, não estava certo se deveria ter ido naquele dia. Ainda assim, foi.
Estacionou o carro e se dirigiu para a entrada. Após passar pelas portas principais, encontrou Jimin.
— Olha só quem resolveu aparecer? — se aproximou devagar, com um sorriso sínico no rosto. — Suas férias acabaram?
Taehyung estranhou a atitude do Park. Geralmente, era ele quem iniciava os disparates contra o outro e o provocava sempre que possível. Agora, Jimin aparecia afiado, pronto para o combate iminente entre os dois.
— Não estou no clima para provocações, Park. — ignorou Jimin e começou a caminhar pelo corredor.
— Ainda bêbedo demais para contra-atacar, Taehyung? — o Kim parou no corredor e suspirou longamente.
— O que você quer? — virou-se para Jimin.
— Eu não sei o que você andou fazendo nessas suas curtas férias, mas eu ainda me lembro do que aconteceu da última vez que nos vimos.
— E...?
Jimin se surpreendeu com a pouca importância que ele deu às suas insinuações. Ele estava calmo, como se nada pudesse abalá-lo, o que irritou Jimin.
— E eu posso contar para todo mundo o quanto você ficou excitado se esfregando em alguém que tanto repudia. — ainda impassível, Taehyung se aproximou de Jimin, bem devagar.
— Se isso é algo que você tanto quer fazer, me admira que ainda não tenha feito. — encarando os olhos de Taehyung, Jimin engoliu em seco. — Faça isso, e acabe de vez com toda essa história ridícula. — suspirou mais uma vez e voltou para o corredor. — Eu estou cansado de tudo isso, não me importo mais com o que pensam de mim. Então, vá em frente, e conte para todo mundo. — finalizou, se afastando.
— O que há de errado com ele? — Jimin bufou, irritado e confuso.
No intervalo, Taehyung estava com seus amigos, em uma mesa afastada de Jimin. O Park o encarava, tentando decifrar o que eles conversavam pelo movimento labial do Kim.
Ele parecia distante, um tanto avoado, e Jimin queria saber o que aconteceu para ele simplesmente ignorar tudo o que acontecia ao seu redor.
Pagou por sua comida no caixa e avistou a mesa que Adam gargalhava em uma conversa com outros intercambistas. Foi até eles e sentou ao lado do colega de quarto.
Alheio às conversas dos presentes, Jimin ainda se mantinha focado na mesa do outro lado.
— Algum problema? — Adam murmurou no ouvido dele.
— O Kim está estranho. Encontrei com ele mais cedo, e o canalha não me provocou. Algo está errado.
— Aproveite que ele está de luto e estenda a bandeira branca. — Jimin o encarou surpreso.
— Luto? — indagou mais alto do que pretendia. Para sua sorte, só os presentes na mesa ouviram.
— Sim. Segundo Naerin, que tem uma amiga no mesmo curso que ele, a avó dele faleceu há alguns dias. Por isso ele tirou licença.
Jimin voltou a observar a mesa de Taehyung. Entendeu porque ele parecia tão disperso e para baixo.
Seria realmente o momento certo para dar fim a todas as diferenças que ambos possuíam entre si, e acabar de vez com aquela richa infundada?
Jimin começou sua refeição devagar, ainda de olho do outro lado do salão. Kim Taehyung estava mesmo disposto a deixar tudo de lado, se assim o Park lhe propusesse? Segundo suas palavras de mais cedo, ele não queria mais se manter preso às diferenças que eles tinham.
Acho que vale a pena tentar.
Sozinho em seu quarto, Taehyung não queria ver ninguém, falar com ninguém, interagir com ninguém. Queria ficar em paz, pensar sobre como seria sua vida, agora, também, sem sua avó.
Dois anos antes, ele perdeu o avô. Foi um momento muito doloroso para a família, algo inesperado. Seu avô teve um infarto, e de um dia para o outro, ele já não estava mais entre seus familiares.
Com sua avó as coisas foram mais tranquilas. Desde a morte de seu avô, ela ficou fragilizada, cada vez menos disposta e visitava com frequência o hospital. Sua mãe costumava dizer que ela estava sentindo falta de seu parceiro de uma vida inteira, e que ela logo partiria para ficar ao lado dele.
Taehyung já havia notado que nas últimas semanas a saúde de sua avó estava mais debilitada. Foram poucas as vezes que a encontrou acordada quando a visitou. E no dia que morreu, horas antes, Taehyung teve a conversa mais franca que já fez na vida.
Sua avó estava desperta, e conversava tranquilamente. Parecia ter melhorado muito. Eles conversaram sobre várias coisas, e sua avó tinha sempre um sorriso no rosto. Mas, em certo momento dessa tarde, ela o olhou nos olhos e disse:
— Por que você finge que está feliz, meu querido?
Ele precisou de um tempo para assimilar a pergunta dela, ainda assim, não entendeu a que se referia exatamente.
Vendo a confusão do neto, ela pediu que ele se aproximasse e lhe abraçou longamente. Em seu ouvido, ela disse:
— Você não tem que seguir as convicções de seu pai. Já é um homem, pode escolher os próprios caminhos. — ele se afastou e olhou nos olhos dela, quando completou: — Seu avô ficaria muito orgulhoso de vê-lo seguindo o caminho que deseja.
Taehyung não conteve as lágrimas.
Ele queria seguir os passos do avô, ser médico e atuar no setor público, ajudando os necessitados, que não podiam pagar por um médico. Mas os planos de seu pai eram outros. Queria que o filho seguisse carreira em sua área, que mantivesse o nome dos Kim no meio empresarial. Taehyung odiava tudo isso.
Além disso, ele odiava ter uma pose egocêntrica e prepotente que seu pai exibia, e fazia questão que ele também as mantivesse.
Ríspido, intolerante e intragável, era assim que ele definia o próprio pai, e não queria ser como ele, de jeito algum.
Ainda assim, lá estava ele, fazendo exatamente o que seu pai queria.
Com o tópico da conversa aberta, Taehyung desabafou:
— Vovó, eu odeio aquela casa, odeio nossa convivência, odeio ir à igreja toda semana, e bancar o mesquinho com coisas tão superficiais. Odeio fingir que gosto do que estudo e odeio...
Sua avó esperou que ele concluísse o que tinha a dizer, mas ele se calou e baixou a cabeça, envergonhado.
Estava farto de toda aquela vida, e ver sua mãe seguir atuando da mesma forma que ele, só para evitar maiores desavenças dentro de casa.
— O que você tanto tem medo de assumir até para si mesmo, meu querido? — Taehyung mordeu o interior da boca, engolindo em seco e evitando o olhar dela. — Tudo o que você me disser, ficará apenas entre nós, hum? — com os dedos no queixo do neto, atraiu o olhar suplicante dele.
— Eu quero ser médico, vovó. Quero viajar para fora do país, ter amigos hippies e não fazer nada e acordar tarde nas férias. Quero ir à Amsterdam e ficar chapado com maconha, quero poder viver a minha vida e gritar para o mundo inteiro que eu amo Park Jimin.
A última frase saiu em um rompante desesperado, acompanhado de lágrimas desoladas. Sua avó segurou suas mãos e beijou sua testa. Taehyung beijou as mãos da avó e soluçou em seguida.
— Teteco...a vida é curta demais para vivermos sob o olhar constante de outras pessoas. Temos que fazer nossos próprios caminhos e escolhas. Devemos viver sem arrependimentos. — ele beijou outra vez as mãos dela, chorando um pouco mais. — O que você dirá aos seus netos quando estiver no meu lugar? Que a vida não vale a pena ser vivida?
Ele baixou a cabeça aos poucos, até deitar no colo de sua avó, que lhe fez um carinho nos cabelos.
— Dê um basta nisso, meu querido. Ouse voar, escolher, trilhar...amar quem você quiser. Seja livre.
Taehyung não teve mais coragem de dizer nada, permaneceu ali, sob o carinho constante de sua avó.
No final daquele dia, tarde da noite, o hospital entrou em contato informando o falecimento dela.
Mais uma vez, Taehyung rompeu em lágrimas. Queria ter tido coragem para ter essa conversa com ela antes, ser sincero sobre seus anseios e mostrar a ela que rompera o ciclo. Mas não teve tempo para fazê-lo, e agora se arrependia de não ter compartilhado e tê-la ouvido antes.
Desde então, ele vive na lembrança daquela tarde, dos abraços calorosos que recebeu dela, do apoio incondicional que afirmou que lhe daria nos passos seguintes e no traçar de sua nova jornada.
Perdê-la foi demais para ele, e chorar não resolvia nada, não a trazia de volta, mas ajudava a aliviar a dor.
Na manhã seguinte, Taehyung chegou à faculdade com uma determinação diferente. Assim que chegou ao corredor, viu Jimin com Adam. Ele encostou em uma parede, com os braços cruzados no peito e o observou. Jimin percebeu o olhar atento de uma gaivota que o outro lhe direcionava, então, partindo do princípio que tudo havia voltado a ser como era, aguardou que ele se aproximasse e começasse com as ofensas e "gracejos" que estava acostumado a receber. No entanto, nada foi feito pelo outro. Sequer saiu do lugar. O corredor esvaziou aos poucos, e o Kim permanecia lá, parado, observando.
Quando, enfim, deu os primeiros passos em sua direção, Jimin suspirou fundo e se preparou para o primeiro golpe. Adam já não estava do seu lado, então precisaria de um grande empenho para dar a ele o retorno de sua gentileza e sair com a última palavra.
Jimin prendeu a respiração e levantou o rosto, com um orgulho evidente. Não importava o que dissesse, ele não baixaria a guarda, nem demonstraria inferioridade.
Cinco, quatro, três passos de distância, e finalmente Taehyung o alcançou. Segurou firme seu braço esquerdo, olhou fixo em seus olhos e não hesitou ao dizer:
— Me encontre debaixo da arquibancada no final da aula. Não falte!
Jimin abriu a boca para responder, mas não soube o que dizer, sua mente demorou muito para processar aquela informação.
— O quê? — falou sozinho, pois, o Kim já havia sumido corredor adentro quando ele deu por si.
Taehyung ficou de olho em Jimin durante todo o dia. Tentava disfarçar seu interesse na presença dele, mas falhou. E mesmo que tivesse muito o que falar com ele, e seu recado tivesse sido bem claro, Jimin se comportava como se nada tivesse acontecido.
Claro, toda aquele tremor e revirar no estômago do Kim não passava de ansiedade para o que viria mais tarde. Ele não tinha ideia do que diria a Jimin, como começaria aquela conversa, mas sabia que ela era necessária.
No final da aula, não foi difícil despistar seus amigos. Ele disse que tinha algo para resolver, e seguiu no sentido contrário à saída. Songtae e Junhyon não se preocuparam em perguntar nada, ele andava quieto e pouco falava com eles desde a perda da avó. Entendiam que ele precisava ficar só para aceitar a perda recente.
Taehyung chegou no local combinado e esbarrou em Jimin, quando ele tentou se evadir, mas não obteve sucesso. A única coisa que conseguii, foi dar de cara com o peito largo do Kim.
— Droga, Taehyung, você me assustou! — se afastou rápido, indo para o outro lado.
— Você se assusta com facilidade. — disse sem emoção alguma.
— Você acha? — debochou Jimin, encarando-o com sarcasmo. — Eu não sei o que você acha que pode ter de importante para me dizer, mas eu tenho mais o que fazer, e você já me fez esperar muito. Agora, eu preciso ir.
Jimin não compreendia o motivo dele tê-lo convocado para aquele lugar, mas sabia que era algo diferente do que estavam acostumados, afinal, se fosse para debochar de sua natureza "fresca", ele poderia ter feito ali mesmo, no corredor da faculdade. Sendo assim, se arriscou a ir até o local e entender o que estava acontecendo com Taehyung. E rezava para que fosse um acordo de cessar-fogo.
Com o olhar penetrante e inescrutável sobre Jimin, Taehyung permaneceu calado.
— Tudo bem, chega dessa palhaçada. — Jimin arrumou a mochila no ombro e desviou do Kim, rumando à saída. — Eu não tenho tempo para essa babaquice.
— Espera, Jimin. — Taehyung o segurou pelo braço, impedindo que ele fosse embora.
Aquela mão forte e máscula segurando seu braço com firmeza, fez um arrepio se instalar na nuca de Jimin.
Céus, como ele ousava lhe tocar novamente daquela forma?
Os olhos escuros e intensos vasculharam sua alma com um brilho ofuscante. Jimin contraiu os lábios e arqueou as sobrancelhas. Não sabia o que pensar, o que sentir, o que dizer.
E na falta de palavras para expressar o que precisava, Taehyung apenas agiu. Puxou Jimin para mais perto e o abraçou.
Completamente tenso, Jimin se manteve imóvel, com os braços juntos ao corpo. Foram longos quatro minutos em um silêncio absoluto e sentindo os braços quentes do Kim envolvendo seu corpo, e o coração dele batendo acelerado.
Jimin entendeu que ele estava passando por um momento difícil, e que sua reação não era de tudo normal, então deixou que ele ficasse abraçado a si pelo tempo que precisasse. Afinal de contas, ele era humano, e sabia que perder alguém não era fácil, e poderia abalar todas as convicções de uma vida inteira. Ele mesmo havia passado por isso. Ainda que fosse uma criança, a dor era arrebatadora em qualquer idade. Perder alguém é sempre difícil demais.
Aos poucos, Jimin moveu o braço e apoiou nas contas largas de Taehyung. Ouviu ele suspirar. Parecia cansado. Então, Jimin passou suavemente a mão pelas costas dele, subindo e descendo, de forma sutil. Ainda assim, nenhum dos dois emitiu uma única palavra.
Mais três minutos em silêncio depois, Taehyung afrouxou os braços e se afastou um pouco, olhando Jimin nos olhos.
— Desculpe, eu só...
A confusão evidente no rosto dele deu a Jimin uma compreensão nítida de seu pesar. Ainda que ele não fosse a pessoa mais indicada para o desabafo sentimental dele, Jimin não o julgou, não o afastou, não o recriminou. Apenas deixou que ele se consolasse.
— Eu só preciso me livrar um pouco dessa dor. — concluiu Taehyung.
— Tudo bem, eu...
Taehyung puxou Jimin outra vez e o beijou. Abismado, Jimin arregalou os olhos tremendo com a investida repentina do Kim.
Tudo bem, sem alarde, tudo vai acabar em breve e nem ele vai entender o porquê fez isso.
Convicto de que tudo não passava de um impulso do outro, Jimin acreditava que tudo acabaria daquele jeito, com um beijo confuso. Porém, a maneira como Taehyung conduziu a língua para dentro da boca de Jimin, o fez amolecer aos poucos. Suas pernas tremeram e seus braços não tinham forças para afastá-lo. Mas será que ele queria mesmo afastá-lo?
Nos últimos dias Jimin esteve mal humorado. Não conseguia se livrar de Kim Taehyung em seus sonhos, fantasias sexuais e até acordado, envolto em lembranças "assustadoras".
Sim, foi incrível tudo o que sentiu com ele, mas era assustador saber que ele não só despertou algo dentro de si, como insistia em ser lembrado o tempo todo. Jimin estava ficando louco de tanto que pensava no corpo de Taehyung sobre o seu, em suas mãos marcando sua pele, de seu beijo fogoso e inflamável.
Enfim, outra vez estava entre os braços dele, e não queria, de maneira alguma, ser solto.
À procura de oxigênio, ambos ofegaram e puxaram o ar com força. Ainda que precisassem daquele rompimento momentâneo, Taehyung não parou. Beijou o pescoço de Jimin, curvando-se sobre ele, mas mantendo-o apoiado, com a mão em suas costas, ao seu total alcance.
Jimin tentou pedir que ele parasse, mas tudo o que conseguiu emitir foi um grunhido rouco carregado de prazer.
Merda, estava outra vez atrelado ao Kim, e seu corpo sequer resistia. Se odiava por isso. Se odiava ainda mais por desejar que ele não parasse. Oh, céus, ele estava mesmo condenado ao inferno.
Com passos atrapalhados, Jimin foi direcionado para a lateral estreita do vão, onde havia grossas vigas de aço que sustentavam a estrutura da arquibancada.
Como Jimin era um pouco mais baixo que a maioria dos rapazes de sua idade, a altura da viga batia em sua lombar. Mas aquilo não impediria o Kim de explorá-lo como queria. Firmou as duas mãos abaixo das costelas de Jimin, e o impulsionou para cima, colocando-o sentado sobre a viga. Sem descanso, continuou a beijar-lhe o pescoço, a clavícula e passou as mãos por baixo da camisa dele, acariciando sua pele.
— Taehyung... — Jimin gemeu arrastado, sentindo a fúria selvagem e faminta daquelas mãos em seu corpo.
— Jimin... — beijou novamente sua boca, com a mão em seu rosto, sem delicadeza alguma, tomando seu maxilar. — Quero que a minha primeira vez seja com você.
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