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Chapter 9 - May, 6th

Ainda sonolenta, joguei meu braço para o lado e tateei o colchão, subitamente sentindo falta do calor humano que me aquecia quando adormeci. Coçando os olhos, eu me sentei na cama e cruzei as pernas, buscando Jungkook pelo cômodo. O relógio marcava 5:15AM, e me perguntei qual o motivo para que ele não estivesse até aquele horário deitado, porque as aulas só começavam às oito da manhã. Preocupada com a possibilidade dele estar com a cara enfiada nos livros em algum outro lugar — porque ele não estava no quarto —, eu me levantei e caminhei até o corredor com passos arrastados e letárgicos, bocejando vez ou outra e tentando afastar o sono para que pudesse ter forças para encontrá-lo. Atravessei o corredor e estanquei meus pés no lugar quando escutei alguma coisa vindo de uma das portas. Semicerrei os olhos e pisquei para processar melhor as informações e ver se não estava imaginando coisas, mas a voz que passava pelas paredes e chegava até meu ouvido com certeza era real.

Aproximei-me da porta e encostei meu ouvido na madeira para clarear o som. É, eu não estava ficando louca. Mas... aquela voz era do Jungkook?

You are all of my life, you are all of my life...

Engoli a saliva, sentindo que cada centímetro do meu corpo estava bem acordado naquele momento. Ele continuou cantarolando a música baixinho junto ao som das gotas do chuveiro, e era notável o tom afinado e bonito do garoto. Senti uma onda de sensações me invadir, e escorreguei minhas costas na parede para sentar no chão, adorando a maneira como meu corpo reagia àquela sublime e angelical voz que penetrava em meus tímpanos. Aquele ser humano realmente era bom em tudo? Inacreditável.

Permaneci ali pelo que pareceu uns dois minutos e, quando escutei o chuveiro ser desligado, eu rapidamente me levantei e voltei para o quarto, disposta a não ser pega em flagra bisbilhotando e apreciando Jungkook. Me sentei na cama e passei as mãos no cabelo, ainda afetada pelo que acabara de acontecer, mal percebendo o instante em que alguém entrou no quarto e parou na minha frente.

— Ayu-chan, você está bem? — O culpado pela minha mente conturbada questionou. Pisquei para sair do transe e poder respondê-lo.

— Ahn, sim, sim. Estou bem, Jungkook-san. — Forcei um sorriso, encarando-o e segurando as milhares de perguntas que eu tinha para fazer. E também segurando a vontade de obrigá-lo a cantar um pouquinho mais para mim. — Por que você está acordado tão cedo?

Assim que terminei de falar, gelei. Meu olhar caiu sobre a visão do abdômen definido de Jungkook bem na minha frente, e prendi a respiração, tensa, enquanto ele secava o cabelo na toalha que pendia em seu pescoço e caminhava até o closet de outro lado do quarto. Minha expressão abobalhada provavelmente não foi notada pelo mais velho — e eu estava muito feliz por isso —, então levantei o queixo caído e engoli a saliva na tentativa de não deixar transparecer o quanto eu tinha ficado afetada por uma paisagem daquelas logo após despertar.

Uma visão muito maravilhosa, convenhamos.

— Vai ter um torneio de Karatê agora de manhã. Vou precisar chegar cedo no ginásio pra treinar e me aquecer, essas coisas. — Explicou, cobrindo suas costas nuas com uma camisa branca de mangas curtas. Seu tom de voz parecia esconder alguma coisa mais.

— Um torneio de Karatê? O torneio nacional? — Questionei-o. — Você vai competir! — Quase gritei, sorrindo. A súbita felicidade que senti ao saber que ele estaria participando de um campeonato tão importante não me poupou de segurar a euforia. — Que legal!

Jungkook se virou para mim com um sorriso meio nervoso no rosto, engolindo a saliva enquanto concordava com um pequeno movimento da cabeça.

— É... — Ele hesitou antes de me olhar novamente. — Se você quiser ir, o Jimin pode te dar uma carona.

— Claro que eu quero ir, Jungkook. — Mesmo que eu não entendesse quase nada de Karatê, ir pelo menos dar suporte para ele com certeza seria uma coisa que eu iria fazer. — Que horas começa?

— Oito e meia. Vai até as onze.

Assenti com a cabeça e o observei arrumar o cabelo em frente ao espelho próximo ao closet, ainda com uma expressão indecifrável no rosto. Ele parecia tenso.

— Jungkook... — Chamei-o. Suas orbes encontraram-me pelo reflexo do vidro. — Você tá bem?

Ele se limitou a assentir minimamente, pegando um hidratante labial que tinha ali perto e utilizando-o. Nada convincente. Continuei olhando-o, curiosa. Me levantei e aproximei-me devagar de seu tronco, escolhendo as palavras que usaria para confortá-lo. Abracei seu corpo por trás e depositei um beijo no seu ombro, próximo à nuca.

— Vai dar tudo certo, Jungkook. Eu confio em você. Vencendo ou perdendo, você vai continuar sendo incrível, acredite em mim.

Escutei-o suspirar pesadamente e tocar em minhas mãos em sua barriga. Pelo espelho, pude vê-lo esboçar aos poucos um sorriso grato e bonito antes de se virar para tocar em meu rosto com o polegar e beijar minha testa. Eu nunca cansaria de me deliciar na sensação de proteção que aquele ato me proporcionava.

— Eu só acredito em você se você também acreditar em mim. — Ele murmurou, passando o dedo no local onde havia me beijado, retirando o pouco de seu hidratante labial que tinha grudado em minha pele.

Franzi o cenho em uma leve confusão.

— Mas eu acredito em você, Jungkook, sabe disso.

— Você acredita em mim quando digo que você é incrível e pode fazer qualquer coisa que quiser? Ou quando digo que pode contar comigo para o que precisar?

Pisquei, assimilando suas palavras. Ele me fez observar suas íris escuras por um tempo, mas logo desviei-as de meu campo de visão porque sabia o que ele queria dizer com aquilo. Ele sabia que, apesar de tudo, eu não conseguia ser sincera com ele. Seus dedos retornaram ao meu queixo, fazendo-me encará-lo mais uma vez.

— Você acredita em mim quando digo que você não é os seus problemas? Que isso aqui é passageiro e que mesmo que tudo pareça não ter um fim, sempre existe um ponto final para a sua dor e uma vírgula para suas alegrias?

Por que ele fazia aquilo tão cedo? Ele queria que eu morresse e ainda nem eram seis da manhã!

— Jungkook... — Retirei sua mão do meu queixo para que pudesse abaixar a cabeça, escutando-o soprar o hálito em uma risadinha.

— Ayumi-chan... — Ele deu uma breve pausa. — Não existem horários pra se dizer a alguém o quanto ela é importante. E você é muito importante pra mim, espero que pelo menos isso já esteja claro pra você. — Mordi o lábio inferior, engolindo em seco.

Jeon Jungkook era tão intenso que às vezes transbordava. Será que eu o suportaria na minha vida acostumada com coisas e pessoas rasas e inconstantes?

É claro que não.

— Você é importante pra mim, Ayu-chan. — Repetiu. Meu estômago revirou-se em borboletas. Senti a garganta arranhar quando forcei minhas cordas vocais a funcionarem.

— E você é importante pra mim, Kookie-san. — Sorri fracamente antes de me afastar e ir me sentar na cama para deixá-lo terminar de se arrumar.

Abracei meu corpo e fiquei encarando o relógio digital, que piscava os números que indicavam o horário de mais um dia. Respirei fundo. Eram em torno de 9,780 minutos que eu estava sem sentir o toque aveludado da mão carinhosa de mamãe, ou de escutar sua suave voz me chamando para comer algo. 160 horas desde que não dormia direito. Quer dizer, até hoje. Levantei o olhar à silhueta de Jungkook, que separava uma malinha de mão com o seu quimono branco, e meu peito se aqueceu, repleto de gratidão. Ainda que eu tivesse dormido menos de seis horas ao seu lado, eu me sentia estupidamente bem e relaxada. Efeito Jeon Jungkook.

Sorri minimamente, mordendo os lábios em uma tentativa de não deixar transparecer o quanto eu estava feliz apenas pela existência daquele ser humano.

— Vou me arrumar, Jungkook. — Avisei-o antes de me levantar e me dirigir ao quarto de hóspedes — cujo quarto era o que eu deveria ter dormido, mas não o fiz.

Tomei um banho rápido e efetuei minhas higienes matinais, logo depois dobrando meu novo pijama com cuidado e colocando-o dentro de uma sacola de papel que tinha em cima da mesinha de cabeceira para poder transportá-lo com mais praticidade até minha casa. Quando acabei, passei pelo quarto de Jungkook e ele me acompanhou até o andar de baixo para tomarmos café antes de sairmos. Eu com certeza não tinha problema algum em tomar um café da manhã ao lado de Jungkook, no entanto, quando pude atravessar a sala de estar e chegar à cozinha, me deparei com o senhor e a senhora Jeon acomodados na mesa, e isso me fez questionar-me seriamente sobre minha certeza acima citada.

Depois de hesitar por não fazer ideia de como agir perante aqueles dois, lancei um olhar suplicante para Jungkook, que captou o recado e me lançou uma risadinha antes de puxar uma cadeira para que eu sentasse. Nós quatro começamos a comer depois dos breves cumprimentos. O garoto estupidamente fofo que sentou ao meu lado começou a falar bobeiras bem baixo comigo, em uma tentativa de me fazer relaxar, e vez ou outra eu me peguei pigarreando baixo para segurar a risada, já que, mesmo que ele tivesse dezenove anos, a mentalidade era de cinco e sua conversa idiota parecia não ter um fim.

Porém, gostava de ouví-lo falar em como achava estranho que algumas pessoas colocassem o leite antes do cereal, ou como ele começou a perceber que gostava de karatê — desde o ensino fundamental, quando experimentou, por curiosidade, o "clube do Karatê" e se apaixonou por aquela prática. Foi entre essas pequenas coisas bobas e singelas que percebi a troca de olhares curiosa de seu pai e sua mãe, como se estivessem se perguntando sobre o motivo pelo qual eu ria com tanta facilidade e Jungkook também. Ou talvez eles estivessem se questionando acerca do jeito que nós dois estávamos próximos, ou por que ele insistia em arrumar uma mecha teimosa de meu cabelo atrás da orelha e me elogiar — nada demais, claro.

Mas, só talvez. Eu preferi não entrar em detalhes. Pensar muito sobre isso me faria sentir vergonha, e nossa conversa estava boa demais para eu atrapalhá-la com pensamentos aleatórios. Depois que terminamos, me despedi dos pais dele e fui esperá-lo na entrada enquanto ele ia buscar o carro.

Apesar de ter trocado poucas palavras com o senhor Jeon, percebi, pelo modo que conversava com Sora-san, que era tão educado e carinhoso quanto seu filho. Isso me fez temê-lo um pouquinho menos, e admirá-lo um pouco — muito — mais. Jungkook tinha uma família incrível, e agora eu entendia de onde vinha seu caráter bem polido.

Ele me deixou em casa e o tempo que eu teria até Jimin vir me buscar era relativamente pequeno, então eu o aproveitei para ficar apresentável para o grande torneio. Era legal me importar com a minha aparência, com coisas que não fossem o grande silêncio que prevalecia naquele lugar. Era bom sentir que ainda tinha alguma coisa ali dentro, no meu coração, transformando o calor de meu peito em uma pequena fagulha de esperança. Perdi a conta de quantas vezes sorri como uma idiota para o espelho, simplesmente por me ver assim, ansiosa por alguma coisa que alguém iria fazer. Tudo bem que tudo isso poderia ser passageiro, mas, eu queria aproveitar aquela sensação por completo, sem arrependimentos.

Quando cheguei no ginásio acompanhada de Park Jimin, sorri abertamente ao ver que Hyeri e Sora-san estavam ali também, prontas para ver o irmão e o filho arrasando no tatame — porque eu sabia que ele iria ganhar mesmo nunca tendo visto ele lutando.

Hyeri e eu compartilhamos um saco de pipoca e um copo de refrigerante que Jeon Sora comprou para nós. A pequena era bem comunicativa como qualquer outra criança, e eu estava feliz que ela gostasse da minha presença e fizesse questão de que eu sentasse no lugar ao seu lado. Quando o campeonato começou, nós ficamos um pouquinho mais caladinhas somente para focar nas vitórias consecutivas que Jungkook estava tendo. Mesmo que eu não soubesse nada de karatê, sabia que ele era muito bom naquilo.

As semifinais passaram rapidamente e quando dei por mim, estavam somente Jungkook e um outro garoto disputando pelo troféu. Era a final. Cruzei os dedos para tentar mandar energias positivas para Jungkook não ficar nervoso, e meu peito se apertou quando, em um momento de descuido, um golpe do adversário colocou Jungkook no chão. Xinguei mentalmente, ansiosa, vendo-o levantar-se e assumir uma postura séria, como se aquilo não tivesse sido nada. Ele ainda conseguiu aplicar mais alguns golpes no garoto antes que o tempo acabasse e o juiz declarasse o vencedor.

Jeon Jungkook brilhou no telão de LED — com um foto que provavelmente tirou nos bastidores, com uma cara de mau estilo UFC — e eu, Sora, Hyeri e Jimin deixamos até quem estava passando na rua surdo com tantos gritos. Quando a euforia passou, procurei por Jungkook no tatame, entretanto, tudo que eu encontrei foi seu professor segurando o troféu e conversando entusiasmado com alguns homens.

— Ele não está bem. — Jimin sussurrou, sério, olhando para o mesmo lugar que eu. — Conheço Jungkook, ele ganhou do adversário por um ponto de diferença porque ele deu bandeira e caiu com aquele golpe mawashi geri... ele vai se culpar pelo resto da semana, droga.

— Mas... ele venceu. — Franzi as sobrancelhas.

— Pro Jungkook não é só a vitória que importa. É como você consegue ela. E com certeza ele não está se achando digno desse nome no telão.

— Vá falar com ele, Ayumi-chan. — Jeon Sora, que eu nem havia percebido que estava nos escutando, falou. Não precisou de um milésimo de segundo para que eu assentisse e recebesse confirmação de Jimin para ir.

Desci as arquibancadas e caminhei receosa até o lugar que julguei ser o lugar onde Jungkook estava. A maioria dos competidores já tinha ido embora então não foi difícil avistar Jungkook sentado com a cabeça baixa em um dos bancos. Aproximei-me devagar, esperando que ele levantasse o olhar para mim, no entanto, não o fez.

— Tá tudo bem? — Murmurei, parando a alguns centímetros a sua frente.

Escutei-o fungar e, junto com isso, meu coração se estilhaçar quando imaginei a possibilidade dele estar chorando.

— Jungkook-san, fale comigo, por favor. — Me agachei na sua frente e busquei por seu rosto abaixado. Ele ergueu a visão até mim, engolindo a saliva e evidenciando seus olhos vermelhos pelo choro contido. — O que aconteceu?

— Eu poderia ter sido melhor. — Foi tudo o que disse, desviando o olhar do meu para o chão cinza do vestiário.

— Mas você foi, Jungkook-san, e arrasou.  Você não precisa fazer tudo perfeito toda hora. Você é humano. — Tentei consolá-lo.

— Eu sei, é só que... — Ele ergueu levemente as mãos, gesticulando-as para tentar explicar o que sentia. — As pessoas falam tanto sobre o quanto eu sou incrível porque sei fazer várias coisas e esquecem que eu tenho que me esforçar o dobro do que elas se esforçam diariamente pra conseguir me sentir bem comigo mesmo. Eu me sinto mal por não conseguir corresponder elas do jeito que elas esperam de mim. Alguém perfeito, sem erros.

As bochechas de Jungkook estavam vermelhas e seus olhos brilhantes denunciavam o quanto aquelas palavras o afetavam.

Então eu me dei conta de que apesar de ver o quanto Jungkook era incrível todos os dias, ele também era abalável. Ele não era o ser imbatível e sorridente que todos — e eu — pensavam ser, alguém que é bom com facilidade apenas porque consegue. Jungkook carregava o título de "perfeito" e eu jamais pude imaginar que isso pesasse tanto sobre seus ombros.

— Jungkook... — Tomei o seu rosto delicadamente entre minhas mãos, forçando-o a olhar para mim. — Não se cobre tanto, okay? Você foi incrível, e eu tô muito orgulhosa. Muito mesmo.

Sorri de canto antes de me inclinar em sua direção e depositar um beijo em sua bochecha esquerda, logo sentindo suas mãos puxarem minha cintura para um abraço que me trouxe a certeza de que minha missão de confortá-lo havia sido concretizada com sucesso e tudo que ele precisava agora era de uma demonstração de que, sim, eu estava ali.

Tudo bem que algumas pessoas podem achar que sofrer por algo tão "insignificante" assim é ridículo, mas eu não queria julgar o sentir dele. Somente Jeon Jungkook era capaz de ser machucado por suas feridas, assim como somente eu era capaz de ser tocada por minhas dores. E ninguém poderia nos julgar por isso.

Depois de uns dois minutos daquele jeito, Jungkook suspirou pesadamente e nos afastamos. Examinei sua expressão para ver se ele estava melhor e pude vê-lo esboçar um pequeno sorriso quando nossos olhos se encontraram.

— Obrigado. — Ele sussurrou, com a voz grave invadindo meus ouvidos.

— Tá tudo bem, Kookie-san. — Sorri. — O que acha de fazermos alguma coisa agora? Você venceu o campeonato, nós temos que comemorar! — Bati palminhas em um entusiasmo contido e Jungkook gargalhou brevemente, fazendo meu estômago se revirar em algumas borboletas desesperadas. — O que acha de lancharmos. Tem alguma lanchonete aqui por perto?

— Ayumi-chan, está na hora do almoço, não se lancha na hora do almoço.

Fiz uma careta para ele, achando aquelas palavras no mínimo chocantes.

— Jeon Jungkook, você nunca almoçou um hambúrguer? Ou um grande pedaço de bolo de chocolate? — Ele negou com a cabeça, como se aquilo fosse a coisa mais estranha que ele já tinha ouvido na vida.

— Claro que não! Isso não é almoço, Ayu-chan.

— Ah, então isso quer dizer que você é saudável. Não custa nada eu te corromper um pouquinho só hoje, não acha? — Dei de ombros, sorrindo para ele de uma maneira fofa para convencê-lo de que minha ideia era brilhante. Ele me encarou com os olhos semicerrados, críticos, mas logo depois riu.

— Você é louca.

— Só por você, meu anjo. — As palavras saíram em um tom de brincadeira, o que fez Jungkook rir. Entretanto, eu logo dei uma risadinha nervosa, porque aquelas palavras fluíram com tanta facilidade da minha boca que me assustaram.

-•-

Jungkook e eu — porque Sora-san negou nosso convite para um lanche nada saudável e Jimin teve que resolver alguma coisa que ele tinha pendente — nos acomodamos ao redor da mesa redonda de madeira da lanchonete pequena e bonita que encontramos próximo ao ginásio. O movimento por lá era pouco por conta do horário — que, segundo Jungkook, era o certo, já que ninguém lancha na hora do almoço —, o que nos fazia ser um dos únicos ali, acompanhados apenas da garçonete bem arrumada e dois clientes espalhados pelo estabelecimento. O clima estava ameno e o sol brilhava intensamente do lado de fora, revelando que a primavera estava chegando.

— Nós podemos comer hambúrgueres e bolo. — Palpitei.

— Ayu-chan, você não aguenta comer tudo isso. — Jungkook me alfinetou, ao passo que escutei a garçonete que nos atendia rir baixo. Arqueei uma das sobrancelhas.

— Isso foi um desafio?

— Eu poderia dizer que sim, mas não quero colocar sua saúde em risco desse jeito.

Ri, negando com a cabeça e colocando o cardápio sobre a mesa para olhar a garçonete.

— Eu vou querer um hambúrguer duplo com cheddar e um bolo de chocolate... Espera um pouco... — Olhei novamente para o cardápio para dar o nome certo do doce. — Um bolo vulcão de chocolate, é isso? — Ela fez que sim com a cabeça e anotou o pedido, encarando Jungkook e esperando ele dizer o que queria.

— Hm... eu vou querer um hambúrguer simples e... um milkshake de chocolate. — Levantei o polegar entusiasmado na direção dele, aprovando sua escolha nada saudável e fazendo-o rir.

— Vai querer mais alguma coisa, senhor? — A garçonete perguntou. Franzi as sobrancelhas quando notei seu tom provocativo, quase arrastado, para Jungkook. Engoli em seco, passando a língua pelos lábios e recostando-me na cadeira para deixar aquela ideia de lado.

Eu estava com ciúmes de Jungkook?

— Ayu-chan? — Ele me chamou. — Vai querer mais alguma coisa?

Que eles chamem o detetizador para exterminar uma barata que andava por aquele lugar.

— Não, não. Tá tudo bem. — Sorri minimamente, observando a garçonete se afastar com passos lentos. Eu ri quando percebi sua tentativa falha de um rebolado para ver se chamava a atenção de Jungkook.

— O que foi? — Desviei o olhar da garçonete e voltei-o para o garoto, que continha uma expressão confusa e brincalhona no rosto.

— Nada. — Dei de ombros, porque sabia que aquilo não era grande coisa.

— Nada? — Jungkook olhou para o lado de meu rosto, para onde a garçonete tinha ido. — Por que você ficou estranha depois que ela foi embora?

Mordi a parte interna da bochecha, fingindo naturalidade.

— Por nada, você tá imaginando coisas. Mas, agora você já pode parar de olhar pra ela. — Ele riu enquanto voltava suas orbes para mim, balançando negativamente a cabeça.

— Ayu-chan, eu pensava que você nervosa era a coisa mais fofa que eu já tinha visto na vida, mas, com certeza, você com ciúme é mais fofo.

Abri a boca, passando a língua pelos dentes, sem saber como disfarçar os fatos. Droga.

— Eu não estou com ciúmes, Jungkook, é coisa da sua cabeça. — Ainda tentei driblá-lo mais uma vez, no entanto, quando ele novamente olhou para o lado com um sorrisinho no rosto e eu bufei, sabia que já tinha sido pega no flagra.

Fiquei calada, apoiando o rosto nas mãos e olhando para o movimento fora da lanchonete. Então, Jungkook riu mais uma vez.

— Mesmo que ela seja muito bonita, eu não vou mais olhar pra ela. Não quero estragar nosso almoço-lanche.

— Tá tudo bem, Jungkook, já disse. — Tentei suavizar o fato, indignada por minha indiscrição.

— Ayu-chan, você acha mesmo que eu vou querer ficar olhando para ela com você na minha frente?

Meu coração acelerou estupidamente e rapidamente voltei a olhá-lo. Do que ele estava falando? Estava louco?

— Deixa isso pra lá, Jungkook, sério, não precisa disso. Foi besteira. — Sorri, tentando disfarçar o constrangimento e a súbita endorfina que circulou pelo meu corpo após as suas palavras.

— Sendo besteira ou não, acho que precisava falar isso pra você.

— Isso o quê? — O nervosismo me fez agir como uma idiota lerda. Eu estava me irritando comigo mesma, que diabos estava acontecendo?

— Que acho você bonita. Linda, na verdade.

Prendi a respiração, abrindo a boca para respondê-lo e recebendo apenas frases desconexas como uma ideia de fala. Eu não soube o que dizer, então voltei a olhar para fora do estabelecimento, nervosa. Esperava que Jungkook não ficasse chateado por minha insegurança. E eu não tinha culpa se ele me deixou sem palavras.

Ele riu mais uma vez, provavelmente achando graça da minha atitude — porque eu me sentia como uma criança birrenta —, e pigarreou enquanto relaxava na cadeira.

— Então, você está melhor? — Questionou-me. Em um lapso de memória, percebi que ele falava da minha crise da madrugada e suspirei antes de respondê-lo, encarando-o.

— Aham. Obrigada por aquilo. Sério. — Sorri, agradecida. O sentimento de insegurança deu lugar ao de gratidão, e eu respirei fundo antes de decidir me abrir um pouco mais com ele. — Obrigada por ter me acolhido. Às vezes sinto falta disso, sabe? Minha mãe sabia ser bem carinhosa quando queria, pra suprir a falta de meu pai, e, agora... — Ri. Uma risada sem um pingo de graça. — Você entende o que eu quero dizer, não é?

Ele assentiu. Eu senti minhas bochechas queimarem por ter sido tão clara e profunda, mas Jungkook merecia isso. Mais do que qualquer outro, e eu poderia aprender a lidar com o sentimento  de vergonha, porque ele realmente estava ali, disposto a me escutar e jamais me julgar. Eu sabia disso.

— Às vezes eu acho que o problema pode ter sido eu. Mesmo sabendo que é improvável que eu seja órfã hoje por causa da minha simples existência, é impossível não me culpar algumas vezes por tudo o que aconteceu. Não tem um motivo pra isso. Eu só me culpo. — Encolhi os ombros. — É complicado. — Suspirei, molhando os lábios e lançando um sorriso mínimo para ele, que me escutava atentamente.

— Entendo. — Ele parou para analisar suas palavras. — É normal que isso aconteça, o que você não pode é acreditar nessa culpa e deixar ela florescer no seu coração. A culpa é um dos piores sentimentos humanos, e é mais forte do que muita gente imagina. — Ele hesitou mais uma vez. — Mas, creio que você já saiba disso.

Movimentei a cabeça em um sim letárgico, assimilando suas palavras.

— E você não precisa me agradecer por aquilo, Ayumi-chan. Eu disse que iria te ajudar. Se necessitar de um simples abraço, eu estarei aqui, disposto a te dar mil abraços se for preciso. — Ele sorriu, fazendo um aegyo fofo de coração com os braços acima da cabeça, me fazendo rir.

Jungkook com certeza era o ser humano mais incrível que eu teria a oportunidade de conhecer, e eu estava muito grata por tê-lo perto de mim.

— Jungkook... — Murmurei. Sua atenção já estava em mim, então ele apenas murmurou um "hum" baixo. — Você me disse que queria que eu confiasse em você e que não te impedisse de me ajudar, não é? — Ele fez que sim com a cabeça. Engoli em seco, percebendo o peso das minhas próximas palavras. — Eu estou disposta a te deixar me ajudar. Só... — Hesitei. Vamos lá, Ayumi, você consegue! — Só me promete que você não vai embora. Que não vai me deixar como todo mundo que eu amava me deixou.

Senti meus olhos marejarem, mas sabia que não choraria ali. Era apenas um resultado da intensidade que aquelas súplicas significavam. Ele analisou minhas expressões antes de se levantar e tomar posse da cadeira ao meu lado, onde passou a mão sobre meu ombro e me puxou para um abraço lateral. Encostei minha cabeça na dele, calada.

— Eu farei o que estiver ao meu alcance para não deixar você sozinha. Eu prometo. — Ele beijou o topo da minha cabeça e sorri pequeno antes de ver a imagem da garçonete parar perto de nós dois.

Ela sorriu sem graça, colocando os nossos pedidos na mesa e se afastando logo depois com passos rápidos. Talvez aquilo fosse um bom sinal.

Jungkook e eu começamos a comer nosso almoço 100% saudável e posso dizer que foi um dos melhores almoços não nutritivos que eu já tinha comido. Tudo bem que Jungkook quase arrancou minha cabeça quando eu tentei provar o milkshake dele, mas isso a gente releva — já que eu quase cortei a mão dele fora quando ele tentou se apoderar de uma bocada do meu bolo exageradamente rechado e suculento — porque no final nós sempre ríamos e compartilhávamos nossas bombas de calorias e diabete.

E talvez tenha sido por essas nossas faltas de filtro em público que, quando a garçonete voltou para deixar a conta e retirar os pratos vazios da mesa, ela nos apresentou uma proposta bem tentadora.

— Parabéns, vocês são o casal número cem da nossa lanchonete! Vocês têm direito a uma sobremesa especial do chef, estão interessados?

Jungkook ia abrir a boca para dizer que não éramos namorados, mas eu o cortei antes que nós perdêssemos a chance de um doce totalmente gratuito. Ele riu quando percebeu minhas intenções, cedendo e concordando com tudo o que eu dizia e até tiramos uma foto com o petit gateau bem grande que eles nos deram para deixar como recordação para aquele lugar — e aquela garçonete — do casal de clientes número cem.

Tudo bem que nós não éramos um casal, mas, se já agíamos como um, por que não aproveitar a deixa para ganhar doces grátis? Não era sempre que se era o casal número cem de algum lugar e se recebia um presente por isso.

— Eu sabia que você gostava de doces, mas não nesse nível. — Jungkook ria dentro do carro depois que eu expliquei a ele todos os motivos pelos quais nós estávamos certos em ter mentido para ganhar aquela sobremesa. — Mas estava muito gostoso, foi uma boa ideia ter feito isso. — Eu assenti positivamente.

— A única coisa ruim é que já acabou. E estava tão bom. — Fiz um biquinho contido, acompanhando o mais velho, que riu.

— É verdade. Quem sabe algum dia a gente volte lá pra comer esse doce de novo, namorada. — Ele brincou, olhando-me de relance.

— Mas é claro, amor, você poderia me trazer ele todo dia depois da aula, não acha?

— Aí você vai enjoar dele, querida, não exagere.

Chato. — Revirei os olhos, rindo mais uma vez até avistar minha casa e Jungkook estacionar o carro próximo a ela.

Eu ia abrir a boca para me despedir dele ali, antes de sair do carro, entretanto, quando o vi tirar o cinto, percebi que ele iria me acompanhar até a porta. Nós descemos e caminhamos juntos pela pequena calçada até a entrada, onde eu coloquei a chave a postos e destranquei o lugar.

— Você quer um pouco de água? — Questionei-o. Ele fez que não com a cabeça, pondo as mãos no bolso da calça jeans preta. — Ok. — Sorri, comprimindo os lábios e tomando o seu tronco em um abraço. Seus braços fortes me envolveram e suas mãos tocaram minhas costas gentilmente, me fazendo clarear a mente para criar coragem de dizer alguma coisa. Nós permanecemos abraçados por um tempo, o suficiente para que eu parasse minha briguinha interna e fizesse o que eu queria. — Jungkook... — Chamei-o, engolindo em seco antes de prosseguir.

Eu queria fazer aquilo já tinha um bom tempo, e a noite anterior apenas me fez acelerar mais os passos.

Coragem, Ayumi, você tem coragem.

— Se nós estamos fingindo ser um casal, por que ainda não nos beijamos como um?

Ao contrário do que pensei, Jungkook não riu e perguntou se era brincadeira. Talvez ele estivesse cogitando aquela ideia tanto quanto eu.

— Porque você ainda não tinha me apresentado essa opção. — Respondeu, simplista. E, como Jeon Jungkook sempre foi alguém transparente e sem um pingo de vergonha de dizer o que sentia, ele soltou: — Porque, por mim, nós já teríamos nos beijado há muito tempo.

Ri, sem graça, afastando seu corpo do meu para observar suas feições. Ele estava com sua expressão serena e um leve sorriso brincando em sua boca vermelha e convidativa, me deixando mais certa de que eu realmente queria beijá-lo.

Então, quando ele se inclinou levemente sobre mim e nossos lábios se encostaram, eu fui acometida por uma sensação tão boa quanto o abraço acolhedor que ele me dava.

Quando sua língua tocou a minha e sua mão apertou um pouco mais a minha cintura, eu percebi que Jeon Jungkook era tão meu porto seguro quanto o garoto pelo qual eu estava completamente apaixonada.

Aquele beijo teve gosto de sorvete e bolo, e deve ser por isso que aquele petit gateau se transformou na minha mais nova sobremesa favorita.

Me perdoem pelo pequeno atraso, eu particularmente não gostei muito desse capítulo, mas espero que tenham curtido pelo menos o final — eu poderia ter elaborado mais o beijo, é, eu sei, mas não achei que combinaria com o clima.

Se tiver algum erro, perdão! 💔

Vocês são incríveis, tenham um bom dia e início de semana!

Xoxo,
~Ally

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