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No dia seguinte, entre milhões de xícaras de chá de camomila e suco de maracujá, Ludmilla e Brunna vão até um cartório para que Cecília Oliveira passe a se chamar Cecília Gonçalves Oliveira. Em seguida, elas foram até o prédio de advocacia onde o advogado de Brunna as esperava, chegando lá, elas entregam o pendrive e ele marca uma reunião com Luana para tentar dialogar de uma forma fácil antes de irem a justiça.
Naquela mesma tarde, Ludmilla foi atrás de uma nova creche para Cecília, dessa vez era uma um pouco mais distante porém mais segura, tinha vários seguranças por ali, Ludmilla acabou descobrindo que filhos de políticos e pessoas da elite estavam matriculadas naquela escola, por isso a segurança excessiva. Conversando com a diretora e explicando a sua situação, mais uma vez Ludmilla consegue que Cecília frequente alguns dias, sem compromisso para ver como seria a adaptação dela.
Aquela creche era bem mais completa, tanto que os pequenos tinham aulas de inglês pois nessa idade são mais propensos a aprenderem outras línguas, ouvindo aquilo Ludmilla ficou animada e já matriculou Cecília ali, só precisaria levar a transferência na próxima semana.
Os dias seguintes se passam com o casal tentando ao máximo ficarem calmos já que tinham bezerrinhos para alimentar, assim como Brunna falava. Por Cecília ter que ficar até duas semanas em casa, Verônica voltou a trabalhar na casa e ficava responsável por entreter a bebê para não sobrecarregar as pessoas da casa.
Em uma tarde de domingo, elas recebem a ligação de Rodrigo dizendo que tinha marcado uma reunião para a próxima quarta com Luana. Essa reunião seria apenas uma demonstração do que ela iria enfrentar se decidisse seguir o processo, mesmo que já fosse um caso perdido para ela.
Por Rafaela ter notado o quanto tensas elas estavam, as mais velhas decidiram deixar a adolescente a par do que estava acontecendo, o que a deixou indignada e se auto convidou para estar nessa reunião, prometendo que ficaria em silêncio, mesmo que no fundo sabia que provavelmente não iria conseguir controlar um comentário ou outro contra a mulher que mal conhecia e já odiava profundamente.
O pior de tudo é que os pequenos pareciam sentir a tensão das suas mães, ocasionando mais choros e noites mal dormidas, até mesmo com Cecília que acabava tendo um sono agitado e acordava manhosa no dia seguinte, obrigando elas a abusarem dos chás naturais para as manterem calmas.
Quando quarta feira finalmente chega, Brunna deixa várias mamadeiras com leite prontas para caso demorassem e conversa com seus pais, tendo certeza que tudo ocorreria bem enquanto estivesse fora. Brunna estava assustadoramente calma, diferente de Ludmilla que precisava fazer vários exercícios de respiração para se manter tranquila.
No banco de trás do carro, Rafaela estava inquieta sentindo a raiva borbulhar em seu peito, não conseguia acreditar que alguém poderia ter feito tantas atrocidades contra Ludmilla, o ser mais doce que já tinha conhecido e tinha a chance de a chamar de mãe, ainda que as duas não tivessem contado toda a história para ela.
Vários minutos depois, quando entravam no prédio, Ludmilla tinha uma expressão seria no rosto, assim como Brunna. Elas tinham as mãos entrelaçadas e uma postura de dar inveja, exalando confiança a cada passo que davam, até mesmo Rafaela estava seria, não com uma postura tão boa pois sempre estava sentando torta por ai, mas ainda sim, séria.
No décimo sexto andar, elas entraram em uma sala que tinha uma mesa, paredes de vidro, Rodrigo que era o advogado e uma mulher assustadoramente bonita e jovem, ela tinha um sorriso divertido nos lábios mas ao ver o casal entrando, seu sorriso morreu aos poucos enquanto elas sentavam-se a sua frente.
- Rodrigo, essa é nossa filha. - Brunna apresenta os dois antes de pousar seus olhos carregados de ódio sobre a mulher.
- A Ludmilla não é muito nova para ser sua mãe? - Luana questiona com um tom debochado, em direção a Rafaela.
- E você não é muito velha para ser uma vagabunda? - a adolescente rebate deixando Luana de olhos arregalados, diferente de Ludmilla e Brunna que nem se quer se abalaram com na fala da adolescente.
- Senhoritas, peço que se comportem. - Rodrigo toma a frente daquele assunto percebendo que Rafaela tinha uma personalidade idêntica a de Brunna e como conhecia sua mãe a muito tempo, sabia que se Luana a respondesse ocorreria uma discussão logo nos primeiros cinco minutos - Estamos aqui para tentar fazer um acordo para que não seja necessário uma briga judiciário pela guarda da menor Cecília Gonçalves Oliveira.
- Perdão, é Brenda Norato Oliveira. - Luana levanta a mão, deixando sua voz vacilar alguns instantes pelo olhar de Brunna e Rafaela sobre seu rosto.
- Não sabe nem o nome da garota que diz ser mãe. - Rafaela debocha mas dessa vez recebe o olhar sério de Ludmilla, se calando no mesmo instante mas não deixa de segurar uma risada vendo que a cada segundo que se passava, Luana ficava mais tensa pois não parecia estar esperando que Ludmilla tivesse saído da classe baixa para a classe media alta, estivesse casada com uma mulher exuberante e intimidadora, muito menos que Cecília tivesse seu sobrenome.
- Como minha cliente, Brunna Gonçalves, quer ao máximo evitar que precise brigar na justiça, algo que eu estudei e seria desnecessário. - Rodrigo comenta, iniciando sua fala - Irei lhe mostrar quais novos processos podem ser abertos caso você decida a levar isso adiante... - ele anda até um monitor, segura uma caneta e o liga - Primeiro, você iria enfrentar uma acusação de extorsão, seguidamente de roubo, abandono de menor, duas acusações de tentativa de homicídio e violência doméstica. - Rodrigo lista todos os crimes que Luana tinha cometido, pelo menos o que ele sabia até então, após ter visto todos os vídeos, áudios e capturas de tela que estavam no pendrive - Para ser gentil, se você pegaria no mínimo vinte e cinco anos de prisão. - Luana arregala os olhos e suas mãos passam a tremer, arrancando um sorriso vitorioso de Ludmilla.
- E-eu... - Luana gagueja observando Brunna pegar uma garrafa de água que estava sobre a mesa, a abrir e beber um pouco, sem desviar os olhos do seu rosto.
- Realmente deseja seguir em frente com o processo, Srta Norato?
- Fala que sim. - Rafaela sussurra baixo, quase que inaudível.
- Um segundo, eu posso falar com a Srta Luana a sós? - Brunna vira seu pescoço para Rodrigo que arruma o blazer - Será uma conversa amigável, eu dou minha palavra. - sorri gentilmente e o homem balança a cabeça concordando.
- O que você vai fazer, Brunna? - Ludmilla cochicha e recebe uma piscadela da esposa antes que ela se levanta, dê a volta na mesa e caminhe até a parede mais afastada.
Brunna desliza suas mãos para dentro dos bolsos da calça social que usava e espera que Luana reaja, ficando de pé e indo até ela. Assim que a mulher bem mais jovem para na sua frente com um olhar hesitante, Brunna esboça mais um novo sorriso.
- Luana, não é? - questiona como se não soubesse e não tivesse amaldiçoado aquele nome milhares de vezes.
- Sim.
- Então Luana, eu quero te dizer uma coisa. - Brunna da um passo em sua direção, ficando mais próxima - Eu tive trigêmeos a menos de dois meses, meus hormônios ainda estão malucos e eu ando me irritando com uma facilidade que chega a ser assustadora. - fala com um falso pesar, sentindo os olhos castanhos da outra presos em seu rosto - Quando a minha esposa me disse que você estava ameaçando tentar tirar a guarda da minha filha de nós, eu fiquei tão irritada, mas sabe uma coisa que eu não ando podendo ficar? Irritada pois o meu leite corre perigo de secar. - pressiona um lábio contra o outro - Ando tentando eliminar tudo que me deixa irritada, sabe de uma pessoa que me tira do sério? É você, eu aconselho que você volte para o buraco que estava e nunca mais saia de lá. - estala a língua.
- Isso é uma ameaça?
- Isso é um aviso, você não tem noção do que eu sou capaz de fazer pela minha família. - maneia com a cabeça - E sabe de outra coisa que eu não posso? É ir para a cadeia, não queremos que você seja o motivo da minha prisão, não é mesmo? - seu tom calmo e o sorriso amigável faz um arrepio percorrer a coluna de Luana.
- Você é maluca.
- Eu acabei de parir três seres humanos, digo e confirmo com todas as palavras que sou doida, você não irá querer me ver assim.
- Não, senhora.
- Que estranho, não irá crescer para cima de mim como tentou fazer com a minha mulher? - questiona franzindo o cenho deixando Luana sem palavras - E mais uma coisa, espero que aquela sua ameaça seja apenas um blefe, porquê se não, eu irei até o inferno para fazer você pegar a pena máxima, sem direito a sair antes do tempo por bom comportamento. - tira as mãos do bolso e dá um tapinha no ombro da mulher, ainda com um sorriso gentil no rosto.
Com seus inúmeros ataques de raiva, Brunna tinha percebido que ela ficava bem mais intimidadora quando estava calma e sorridente falando coisas assustadoras, tinha aprendido com Rafaela quando a garota aprontava algo, quando gritava, Rafaela sempre repetia o mesmo erro mas quando falava nesse tom, ela nunca mais chegava perto de tal coisa.
- Foi bom conversar com você, flor. - Brunna lhe da as costas e caminha de volta para onde estava sentada, sentindo três olhares queimando em seu rosto. Ao sentar do lado da esposa, Brunna observa uma Luana trêmula e nervosa sentando a sua frente.
- Então, irá prosseguir com o processo? - Rodrigo pergunta.
- Não, desculpe o incômodo, eu...
- Eu vou. - pela primeira vez desde que entraram ali, Ludmilla se pronuncia, encostando na cadeira macia - Quero dar início a todos esses processos contra a Srta Norato e uma ordem de restrição contra ela.
- Cara, você deveria ter ficado no buraco em que se meteu. - Rafaela deixa mais um comentário escapar, acompanhado de uma risada divertida.
- Senhorita Gonçalves, serei obrigado a pedir que você se retire caso continue com seus comentários. - Rodrigo se vira para a adolescente que sorri gentilmente, nega com a cabeça fazendo sinal que ficaria em silêncio e puxa uma tigela de docinhos para perto, começando a comer.
- Ludmilla, por favor... - Luana pede atraindo a atenção dos olhos claros.
- Se você tivesse sumido, tudo isso seria esquecido mas como você quer remexer na cova, vamos desenterrar tudo de uma vez, não é? - dessa vez, era Ludmilla quem tinha um sorriso prepotente nos lábios e seus dedos entrelaçados com a mão de Brunna.
- Eu não tenho como pagar um advogado, eu...
- Pensasse nisso antes de aparecer, existem defensores públicos. - Brunna diz, ficando de pé e ajeitando o blazer que usava, seguidamente de Ludmilla e Rafaela.
- Meu Deus, mas eu... - não consegue terminar a frase por não ter palavras graças ao nervosismo que percorria seu corpo, ela só tinha a intenção de amedrontar Ludmilla para conseguir o que queria e agora tinha perigo de se tornar uma presidiária.
- Rodrigo, você pode ajeitar tudo e mandar no meu email para que minha esposa assine? - Brunna desvia sua atenção para o advogado que prontamente balança a cabeça.
- Sim, Sra Gonçalves. Em até quatro dias úteis eu mando todos os documentos para que a Sra Oliveira assine e eu possa dar continuidade aos processos. - Ludmilla sorri agradecendo o homem, aperta ainda mais a mão de Brunna e caminham para fora.
Enquanto o casal passava pela porta de vidro, Rafaela fica parada no mesmo lugar até resolver enfiar a mão dentro da tigela de docinhos, guardar tudo dentro do bolso de seu moletom, olhar para Luana que tinha os olhos marejados e dizer:
- Se fodeu bonito, amiga. Se eu fosse você, nunca mais tinha dado as caras aqui, quando as minhas mães botam algo na cabeça. - estala a língua - Coitada de você. - nega com a cabeça, olhando para Rodrigo que se encontrava inconformado com a garota roubando os doces - Obrigada pelos docinhos. - acena e corre atrás das suas mães, não queria receber uma bronca por ter feito elas perderem o elevador.
Rafaela estava tão animada, nunca tinha visto sua mãe sendo a Senhora Brunna Gonçalves, a mulher mais intimidadora do Brasil, só tinha conhecido Brunna Gonçalves, a mãe furiosa a ponto de arrancar sua cabeça com um grito. Ela confessava que tinha sido divertido ver sua mãe quase fazer Luana desmaiar de nervosismo, principalmente quando foram conversar a sós. Rafaela também agradeceu aos céus que só conhecia Brunna Gonçalves, a mãe, pois não sabia se aguentaria conhecer a outra Brunna, provavelmente em apenas um olhar já ficaria em posição fetal e choraria.
- Um pinscher elegante quase fez uma mulher de 1,70 ficar em posição fetal e chorar. - Rafaela diz com uma risada contida, observando Brunna revirar os olhos pelo espelho do elevador.
- Você se acha muito alta. - olha por cima do ombro.
- Sou oito centímetros mais alta que você, isso já faz a minha querida mamãe de um metro e meio mais baixa que eu. - continua a zoação.
-Ludmilla, faz alguma coisa! - olha para sua mulher esperando que ela a defenda.
- Rafa, pare de implicar com a minúscula esposa. - Rafaela explode em uma risada gostosa, se encostando na parede metálica ouvindo Brunna resmungar algo sobre Ludmilla dormir no sofá aquela noite - E eu acabei de me lembrar, que forma foi aquela que você falou com aquela mulher? Onde está a educação, Rafaela?
- Ah, mamis... - suspira dramaticamente - Educação eu deixo para usar com quem merece, não com alguém nojenta como aquela mulher. - fala em um tom inocente e doce, obrigando Ludmilla a segurar a risada.
Ludmilla estava tão mais leve por saber que Luana teria o que merecia por ter feito da sua vida um inferno durante quase dois anos, também teria uma ordem para que ela se mantenha longe, impedindo que ela se aproxime de Cecília ou da sua família e não precise ir buscar Brunna na delegacia por ela agredir Luana.
Se tivesse que enfrentar aquela mulher sozinha ela não teria forças mas com Brunna e Rafaela ali para lhe darem apoio, se sentiu imbatível e teve coragem de iniciar processos contra Luana, algo que não estava em seus planos porquê só queria que ela sumisse, agora a mandaria para a cadeia.
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