-5-
As quatro ficam ali na área da piscina até às onze da manhã, até mesmo Cecília tinha entrado na piscina com Rafaela antes de subirem para o apartamento. Após dar banho em Cecília, Ludmilla foi preparar o almoço deixando a bebê na sala, ela picava os pedaços de batata com habilidade e colocava dentro da panela de pressão junto com a carne.
Colocando alguns temperos que tinha encontrado ali, ela mexe a carne antes de ligar o fogo tampando a panela no mesmo instante. Logo mais ela começa a preparar o arroz temperado e quando tudo estava no fogo, um barulho de algo caindo no chão a faz correr até a sala encontrando Cecília se apoiando na estante e um porta retrato caído ao seu lado.
Seu coração dispara com seu instinto materno gritando, tudo fica em câmera lenta e Ludmilla corre para pegar a bebê antes que ela se machuque por ter alguns casos de vidro espalhados pelo chão. Com uma rapidez absurda, Ludmilla pega Cecília no colo olhando cada pedacinho do corpo da bebê para ver se ela tinha se machucado.
- O que aconteceu? - Brunna sai do quarto usando uma toalha e vê Ludmilla olhando para a filha com uma expressão aflita. Encontrando o porta retratos caído e alguns cacos espalhados, ela fica parada onde estava por não estar usando seus chinelos - Ela está bem? Se cortou? - pergunta preocupada.
- Felizmente não. - nega com a cabeça aliviada ao olhar os pés de Cecília.
- Menos mal. - solta o ar que tinha prendido nos pulmões e Ludmilla da alguns passos para trás soltando um gemido dolorido. Então é ai que Brunna percebe que ela estava descalço - Ludmilla, saía daí. - pede e a mulher manca até o sofá onde se senta - Você se machucou?
- Acho que pisei em um caco. - fala aparentando ainda estar nervosa por Cecília quase ter se machucado.
- Não sai do sofá. - ela diz antes de voltar para dentro do quarto, fechar a porta e se vestir com rapidez pegando uma pinça, calça um dos seus chinelos e leva outro para Ludmilla.
- Brunna, me desculpa eu vou limpar e pagar pelo estrago. - quando Brunna entra na sala, Ludmilla fala aflita ignorando o incômodo que sentia em seus pés.
Cecília estava agarrada a sua blusa com força ainda assustada pelo barulho do vidro quebrando.
- Não se preocupe com isso, me deixe ver seu pé. - nega com a cabeça sentando no sofá puxando uma almofada para seu colo - Quero ver se tem algum caco ou apenas cortou.
Ludmilla cora por se sentir extremamente idiota e triste por Cecília ter quebrado algo de Brunna, porém não hesita em colocar o pé em que mais sentia incômodo sobre a almofada, ela sentia pavor de sangue, e sabia que não conseguiria limpar sem chorar.
- Relaxa, o porta retrato eu troco. O importante é que a Cecília está bem e vamos cuidar desses pés. - Brunna tranquiliza Ludmilla vendo alguns furos com resquícios de sangue na sola do pé.
- Mãe, o que ac...
- Não vem aqui descalço! - Brunna quase grita ao ouvir a voz de Rafaela se aproximando - Vai calçar um chinelo e vem limpar isso aqui. - pede no momento que a garota coloca a cabeça para dentro da sala.
- Meu Deus, o que aconteceu? A Cecília está bem? - pergunta de olhos arregalados vendo o rostinho assustado da bebê.
- Ela está, só a Ludmilla que se machucou.- Brunna explica analisando a expressão de dor no rosto de Ludmilla enquanto mexia seu pé tentando decidir por onde começaria. Deveria ter uns quatro cacos de vidro fincados em seu pé - Vem limpar isso aqui antes que mais alguém se machuque. - volta a pedir recebendo uma resposta positiva de Rafaela que vai atrás dos seus chinelos para começar a limpar. - Isso não está tão feio, você vai sobreviver. - Brunna brinca tentando deixar Ludmilla mais relaxada.
- Menos mal, já ia perguntar se iria ser preciso uma cirurgia. - responde com o mesmo humor tentando camuflar a aflição que sentia.
Brunna a olha por alguns segundos e solta uma risada baixa levando a pinça até o primeiro pedaço de vidro quebrado. Durante o processo de retirada dos cacos, Ludmilla acalmava Cecília que ainda parecia assustada, conseguindo relaxar a bebê em questão de minutos após iniciar uma sessão de beijos por seu rostinho, sabendo que ela estava bem.
- Tudo certo por aqui. - a de olhos castanhos desvia a atenção de Cecília para Brunna encarando a mulher que tinha uma expressão séria no rosto analisando seu pé - Me dê o outro. - pede e Ludmilla atende ao seu pedido. Nesse momento, Rafaela entra na sala segurando uma vassoura, uma caixa de leite cortada e uma pá - Filha, não precisa colocar na caixa de leite, eu faço isso depois. Só junta e leva para a lavanderia. - o medo de Rafaela se machucar era tão grande quanto o medo de Ludmilla com Cecília mesmo sabendo que a garota sempre tinha algum machucado pelo corpo por ser desatenta e desastrada.
- Oxi! - Ludmilla resmunga ao sentir Brunna tirar algo do seu pé. Em seguida, o dedo suave da mais velha passa pela sola procurando alguma elevação ou ponta mas nada encontra, apenas sorri.
- Pronto.
- Caralho! - Rafaela diz fazendo Brunna a encarar com um olhar furioso.
- Olha a boca, garota. Acha que está a onde? - pergunta.
- Desculpa, é que eu me cortei. - explica se virando para as mulheres mostrando o dedo indicador que começava a sair sangue.
- Eu avisei, Rafaela. - Brunna fica de pé calçando seus chinelo e anda até a filha para ver o machucado - Só cortou?
- Sim, só cortou. - faz um bico choroso nos lábios. Era sempre assim, quando se machucava, ainda que fosse pequeno e Brunna estava perto, ela ficava sensível e chorosa. Já quando estava longe poderia cair de um prédio que iria agir como se nada tivesse acontecido.
- Vai lá lavar isso, eu termino aqui. - Rafaela afirma com a cabeça e entrega a vassoura para Brunna antes de correr para o banheiro.
- Brunna, deixa que eu limpo. - Ludmilla se pronúncia não querendo causar mais bagunça.
- Não, você fica sentada ai. - seu tom mandão pega Ludmilla de surpresa mas afirma com a cabeça se dando por vencida.
Quando tudo é resolvido, Rafaela fica com Cecília no quarto evitando que a bebê fique na sala por precaução já que ainda poderia ter alguns cacos pequenos pelo chão, mesmo que Brunna tivesse varrido cada canto da sala. Ludmilla se encontrava olhando o arroz para ver se já poderia desligar o fogo e Brunna arrumava a mesa.
Ludmilla já não mancava, assim como previsto, quando os cacos foram retirados o incômodo sumiu.
- Brunna, posso falar uma coisa sobre a Rafaela? - Ludmilla se vira para a mulher que afirma com a cabeça.
- Ela aprontou alguma coisa?
- Não, eu só acho que ela sente a sua falta. - se aproxima de Brunna - Acho que ela gostaria que você passasse mais tempo com ela, mesmo não dizendo.
- E como você chegou a essa conclusão? - pergunta insegura.
- Essa semana eu percebi que ela fica tentando chamar a sua atenção a todo custo, fica tão animada quando você está chegando do trabalho que me lembra bastante uma criança de cinco anos. - pausa percebendo Brunna ganhar uma expressão de choque - Eu sei que você trabalha muito, mas não tem como você tirar mais horas por semana para passar com ela? Tenho certeza que ela amaria. Nem que fosse um almoço, uma tarde, buscá-la na escola ou ajudar com os estudos. - seu tom ameno continuava com medo de Brunna entender errado e parecer que queria se intrometer na relação das duas.
- Eu nunca percebi isso. - confessa passando a mão pelo rosto deixando transparecer o quanto em choque estava - Sempre pensei que ela não se importava.
- Ela parece ser uma menina que guarda tudo para si mas como eu já estive na mesma posição que ela, consegui perceber. - explica.
Brunna fica em silêncio se lembrando de quantas vezes ela chegava em casa e continuava trabalhando, mesmo quando Rafaela a chamava para assistir um filme ou série. Seu coração dói pensando se era uma péssima mãe, engole seco e olha para Ludmilla que tinha compreensão brilhando nos olhos.
- Vou fazer o possível para passar mais tempo com ela. - sorri tristemente afirmando com a cabeça - Obrigada por me contar.
Decidida a deixar sua agenda um pouco menos cheia, Brunna pega seu celular para ver que naquela semana estava tudo lotado por conta do casamento, mas na próxima agendaria poucas coisas para poder chegar em casa mais cedo.
- Que cheiro bom... - Rafaela entra na cozinha com Cecília no colo e entrega para Ludmilla colocar na cadeira de alimentação.
- Está quase tudo pronto. - Ludmilla sorri para Cecília que chupava uma chupeta de silicone rosa.
Já com Brunna e Rafaela comendo, Ludmilla terminava de preparar a papinha de arroz e frango que tinha feito em outra panela especialmente para Cecília.
Como era costume, Cecília tentava a todo custo desviar das colheradas que Ludmilla levava até sua boca mas quando Ludmilla fazia algum barulho de avião ou caretas, a menina comia sem reclamar ou bater a mão.
Ludmilla tenta pedir desculpas novamente pelo incidente mas Brunna da uma bronca na mulher dizendo que bebês faziam bagunça, e não tinha problema. Além de colocar a culpa em Rafaela alegando que tinha pedido para a garota tirar o que pudesse quebrar da estante.
No meio da tarde, Cecília toma um pouco de leite e dorme como sempre fazia. Ludmilla aproveita para pegar o notebook de Rafaela emprestado para poder entrar nos sites de emprego que tinha se cadastrado antes de tudo acontecer. Ela resolve entrar no Instagram por também seguir alguns perfis que anunciavam vagas de emprego mas a primeira coisa que se depara ao logar é uma foto de Luana com uns amigos, eles estavam na Argentina.
Ludmilla aperta o maxilar, revira os olhos e entra no perfil do home que tinha postado aquela foto deixando de o seguir. Não queria ver o rosto daquela mulher nunca mais. Aproveita para entrar no seu perfil e sorri vendo várias fotos de Cecília mais nova, ela tinha crescido tanto nesses últimos meses.
Voltando ao foco, ela revira a internet inteira atrás de algum anúncio, encontra alguns que ela poderia ser qualificada por ser formada em administração. Indo perguntar para Rafaela se poderia montar um currículo e deixar salvo no seu computador, ela recebe uma resposta positiva e retorna ao quarto começando a montar o currículo, colocando suas formações, experiências e informações pessoais. No lugar onde deveria colocar o número de celular, Ludmilla encara espaço vazio aflita e respira fundo.
Como eles iriam entrar em contato com ela sendo que não tinha nem ao menos um telefone?
Ludmilla tomba a cabeça para trás encostando na parede grunhindo baixo, aperta os olhos e tenta ficar menos nervosa.
- Algum problema, Ludmilla? - a voz de Brunna preenche o vazio do quarto obrigando a mulher arrumar a postura com rapidez.
- Só um empecilho em montar meu currículo. - se limita a dizer sentindo os olhos castanhos presos em seu rosto.
- Posso ajudar com algo? - aproxima devagar da cama.
- Acredito que não, já dei muitos gastos para você. - nega com a cabeça.
- Ora, me diga. - insiste cruzando os braços.
- Eu não tenho um celular para facilitar a comunicação. - explica. Brunna passa a língua sobre os lábios maneando com a cabeça, da as costas para Ludmilla e sai do quarto deixando a mulher com o cenho franzido.
Minutos depois, Brunna volta com uma caixinha de celular em mãos deixando Ludmilla surpresa.
- Pode ficar com esse. - estende a caixa para a mulher que engole seco. Antes que Ludmilla fale alguma coisa, ela continua: - Esse é meu antigo celular, eu tive que trocar a um tempo porquê ele já não estava aguentando a demanda que o meu emprego exigia, precisava de um celular com a câmera melhor e mais espaço. - explica - Mas ele está em perfeito estado, tem todos os acessórios, menos o fone porquê a Rafa rouba todos. - coloca a caixa sobre a cama olhando esperançosa para Ludmilla. - E já tem um chip virgem que veio com o meu atual celular mas não usei.
Envergonhada, Ludmilla pega a caixa na mão vendo que era um S10+ da samsung e acaba se perguntando o quanto Brunna usava o celular para o trabalho a ponto de precisar de um aparelho ainda melhor que aquele.
- Brunna, eu não sei como te agradecer...
- Não precisa me agradecer, Ludmilla. Vou te deixar a sós para poder cadastrar o chip e terminar o currículo. - sorri com gentileza antes de lhe dar as costas para sair mas mas ao se lembrar do que tinha ido fazer ali, se vira novamente para Ludmilla. - E se puder, me envia o seu currículo para o meu email e eu deixo na empresa que eu trabalho, vai que surge alguma vaga. - e então ela sai.
Ludmilla arregala os olhos encarando a caixa preta que tinha em mãos, demorando alguns segundos para abrir já que ainda estava em choque. Quando finalmente abre, se debara com o aparelho e uma capa preta, tirando ele com cuidado, Ludmilla vê o carregador e outros acessórios. Olhando para o celular, um tanto quanto nervosa, ela aperta o botão power até que a tela acende anunciando que estava reiniciando o Android.
Pelo aparelho estar formatado, Ludmilla o configura e vasculha a caixa procurando o chip que Brunna tinha dito. Ao encontrá-lo, tira do plástico e pega a chave do celular, momentos depois o chip já estava cadastrado no seu nome e ela terminava seu currículo.
Pela primeira vez em dias, Ludmilla sorri animada por finalmente ter saido um pouco do aperto em que estava. Após enviar o currículo para seu email, ela salva o mesmo no celular e fecha todos os sites que tinha aberto no notebook de Rafaela pois poderia prosseguir com o celular.
Lembrando do pedido de Brunna, ela morde os lábios sem ter onde colocar a cara. Estava comendo as custas dela, morando debaixo do seu teto, roubando o quarto da sua filha, ganhando um celular e ainda iria receber ajuda para tentar conseguir um emprego. Ela se sentia tão envergonhada por isso, ainda mais por saber que não estava em condição de manter o orgulho na frente de tudo e negar as coisas.
Segurando o celular perto do rosto, as imagens de Brunna usando apenas uma toalha na sua frente atingem sua cabeça a obrigando balançar a cabeça, apertar os olhos e respirar fundo. Não podia olhar para Brunna dessa forma.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro