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Ludmilla permaneceu de mal humor por várias horas, até que finalmente, seu bom humor voltou quando Cecília deu alguns passos com sua ajuda. Já com a cabeça encostada no travesseiro, ela passa a se perguntar o porquê de ter ficado daquele jeito quando viu que Brunna já tinha até mesmo levado algumas peças de roupas para a casa do Bil, para poder voltar na manhã seguinte. Culpando a noite mal dormida, ela resolve tentar pegar no sono.
No dia seguinte, ela desbloqueia o celular vendo uma mensagem de um número desconhecido no whatsapp, pensando que poderia ser sobre o emprego, ela abre o chat com rapidez lendo a mensagem de três linhas. Ao ler "infelizmente informamos que não foi possível lhe colocar na vaga", um misto de sentimentos ruim atingem seu peito. Se sentindo desesperada e frustrada, Ludmilla desliga a tela do celular e o apoia sobre a cama, esfrega o rosto com força e tenta controlar a vontade de chorar.
Abalada, ela respira fundo diversas vezes, se levanta da cama para ir até o berço de Cecília observando a bebê dormir com calma e olha em volta pensando no que poderia fazer para tentar conseguir um pouco de dinheiro, se lembrando de que sua falecida avó vendia pães recheados e roscas para conseguir uma tenda extra, Ludmilla junta as sobrancelhas tentando se lembrar da receita que a mulher sempre fazia, sua memória era impecável quando se tratava das receitas da sua avó.
Ludmilla sempre tinha sido muito próxima da sua avó paterna, ela passou a maior parte da sua adolescência na casa da mulher por sua convivência com seus pais não ser tão boa até que a mulher faleceu por uma pneumonia forte, um ano antes de Ludmilla ir para a faculdade
Ela sorri abertamente ao se lembrar, caminha até suas malas e a abre começando a escolher algumas peças de roupas que não fariam tanta falta, mais algumas roupas de Cecília que já não serviam. Colocando todas as peças sobre a cama, Ludmilla apoia a mão na cintura procurando o celular para se certificar que o brechó, na qual ela sabia que poderia conseguir até mesmo 70 reais em tudo ainda estava aberto. Mais aliviada por ver que ele ainda estava aberto, ela afirma com a cabeça abrindo um enorme sorriso. Iria começar a vender roscas e pães até conseguir um emprego.
Naquele mesmo dia, Cecília e ela vão até o brechó que ficava em um bairro próximo, o clima não estava quente e isso a ajudou bastante já que Cecília sempre ficava chorosa em dias quentes. Com uma caminhada de aproximadamente vinte minutos, Ludmilla chega até o brechó, sorri vendo que já estava aberto e entra com o carrinho de Cecília indo até o balcão atraindo a atenção de uma mulher de cabelos encaracolados e curtos.
- Bom dia! No que posso ajudar? - pergunta sorridente.
- Eu queria vender essas roupas. - Ludmilla pega as duas sacolas que estavam na cesta do carrinho de Cecília e coloca sobre o balcão - Tem roupas e sapatinhos de bebê, mais algumas roupas de adulto. - ao ouvir a palavra "bebê", a mulher fica interessada.
- Posso olhar? - Ludmilla afirma com a cabeça e ela vira as suas sacolas sobre o balcão. Elas ficam conversando enquanto a mulher que se chamava Marta analisava as roupas, e por fim, dá o preço de sessenta reais para pagar na hora.
Ludmilla ficou um pouco pensativa mas aceitou, daria para comprar algumas coisas para o início. Animada, a mulher saiu do brechó com três notas de vinte reais e voltou para o apartamento de Brunna radiante, iria fazer uma lista das coisas que precisaria comprar e do que não poderia comprar pelo orçamento apertado.
Entrando no apartamento, ela tira Cecília do carrinho e coloca a bebê no chão da sala junto a uns brinquedos, Ludmilla vai para o quarto onde dormia pegando um caderno e uma caneta, procura um papel do mercado com os preços e volta para a sala para iniciar a pequena lista com os ingredientes, o plástico que teria que comprar junto com os enfeites.
Apertando os lábios ao ver que tudo estava caro pela inflação que estava no país, vendo que teria que descartar algumas coisas deixando apenas o plástico para embalar as roscas, Ludmilla olha para Cecília que a olhava.
- A mamãe vai conseguir. - sorri soltando a caneta para acariciar os cabelos de Cecília que começavam a criar cachinhos, algo que ela tinha herdado de Luana.
No dia seguinte, Ludmilla anda pelo prédio conversando com alguns moradores que já tinha feito uma espécie de amizade e comentava sobre os pães e roscas que faria, o que gerou um enorme interesse entre as pessoas mais velhas que moravam ali por adorarem esse tipo de coisa, mas não terem mais disposição para fazer. Pelos próximos dias, Rafaela ficou com Cecília para que Ludmilla fosse em um dos mercados que o preço estava mais em conta e para comprar os plásticos, ela chega perto das cinco e meia em casa se sentindo exausta por ter rodado quase toda a cidade, suas pernas doíam e sua cabeça latejava por ter pego muito Sol.
No dia em que Ludmilla iria começar a fazer tudo, algo a impede; Cecília acorda queimando em febre e tossindo, assim como Rafaela foi percebido por Brunna logo de madrugada graças aos seus resmungos na madrugada.
- Mãe... - Rafaela murmura chorosa sentindo frio assim que Brunna levanta da cama.
- Filha, você tem que levantar para ir tomar um banho para abaixar essa febre. - fala com um tom calmo.
- Não quero...
- Quer ficar com febr... - a batida incessante em sua porta a faz abrir com pressa encontrando Ludmilla segurando Cecília nos braços com uma expressão aflita.
- A Cecília está queimando em febre, eu não sei o que fazer... Ela nunca ficou com febre assim, eu... - suas fala é desesperada tentando buscar ajuda com Brunna que também tinha uma filha.
- Deixe-me ver. - murmura levando a testa até a testa da bebê que estava chorosa - Acho que as duas pegaram gripe... - olha para Rafaela que também estava quente como Cecília - Olha, eu vou fazer uma compressa para abaixar a febre dela e você se arruma para a levarmos no médico, tudo bem? - tenta acalmar Ludmilla que estava em pânico - Rafaela, vai tomar banho, você vai ir no médico junto com a Cecília.
- Tá... - a adolescente murmura sentando na cama. Sabia que não tinha necessidade de ela ir ao médico, ao contrário de Cecília que ainda era pequena, mas Brunna não daria nenhum remédio além de dipirona por morrer de medo de fazer auto medicação.
Enquanto Ludmilla voltava para quarto, Brunna pegava um pano e ia molhar com água quase fria para levar até a bebê que já chorava deixando a mãe desesperada. Brunna coloca o pano molhado na testa de Cecília e deixa a mão em cima tentando o deixar ali por a bebê estar se mexendo bastante.
Durante o processo para abaixar a febre de Cecília, Rafaela tomava um banho para tentar abaixar a própria febre e saia do banheiro para ir se trocar. Estava preocupada com Cecília e queria ir o mais rápido possível para um hospital.
Já com Ludmilla mais calma e a febre de Cecília mais baixa, as duas mulheres se trocam e andam apressadas pelo apartamento antes de saírem com pressa do apartamento. A caminho do UPA, Ludmilla pede ao universo que não esteja tão lotado para que fosse atendida com rapidez, para a sua surpresa, ao entrar no lugar acompanhada de Brunna e Rafaela, estava vazio, algo extremamente raro.
Colocando Cecília nos braços de Brunna para poder conversar com a enfermeira que estava de plantão e dar as informações da bebê, Brunna faz o mesmo logo em seguida. No fim, todas ficaram sentadas nos bancos esperando serem chamadas pelo pediatra que estava de plantão naquele momento.
Rafaela resmunga sentindo um mal estar no corpo e fica aliviada no momento em que Brunna passa o braço por seus ombros a puxando para para si, podendo se aconchegar nos braços da mulher sentindo a sensação de proteção invadir seu corpo. Para a sorte de Ludmilla, Cecília não chorava mas tinha uma carinha chorosa enquanto chupava a chupeta com lentidão.
Não demora até que uma mulher sorridente chame Cecília e Ludmilla a siga quase que de maneira desesperada. Entrando no pequeno consultório, ela senta em uma das cadeiras que ficavam de frente para a mesa da médica.
- O que a... - olha na ficha - Cecília tem? - questiona olhando para a bebê.
- Ela acordou queimando em febre e tossindo. - olha para a filha que tinha os olhos castanhos claros presos na médica.
- Vamos ver o que essa princesinha tem. - a mulher anda até Ludmilla para pegar Cecília e a colocar na maca, faz todos os procedimentos padrões chegando a conclusão que era gripe. Ela entrega a bebê para a mãe para começar a explicação os medicamentos que Cecília teria que tomar para controlar a febre e o mal estar, além dos procedimentos caseiros e que ela poderia ter diarréia.
Mais aliviada, Ludmilla afirma com a cabeça agradecendo a mulher antes de sair segurando Cecília em um braço e a receita com os remédios no outro. Ela senta ao lado de Brunna e sorri aliviada sentindo a mão da mulher tocar seu antebraço com calma lhe dando um sorriso reconfortante. Em seguida, Rafaela é chamada e Brunna entra com a garota não demorando muito para saírem já que Rafaela tinha a mesma coisa que Cecília.
Pela médica ter dito que ela poderia pegar aqueles medicamentos na farmácia que ficava de frente ao UPA e assim elas fazem, ao saírem do local elas atravessam a sua e pegam os remédios, nesse tempo Cecília dorme nos braços de Ludmilla e deixa a mulher preocupada com medo da febre subir novamente.
Elas chegam no apartamento por volta das nove da manhã, Rafaela se joga no sofá choramingando por estar sentindo dor no corpo e afunda o rosto nas almofadas enquanto Brunna ajudava Ludmilla com Cecília que estava enjoadinha por não se sentir bem.
Segurando sua mamadeira, Cecília é entregue para Rafaela que a coloca deitada ao seu lado no sofá e Brunna entregava um comprimido de remédio para a garota que não hesita em tomar. Se certificando que as duas estavam bem, as mães respiram aliviadas finalmente podendo tomar um pouco de café.
- Vou desmarcar os meus compromissos hoje. - Brunna murmura sacando o celular.
- Não precisa, eu posso cuidar das duas. - Ludmilla diz com rapidez recebendo um novo sorriso doce de Brunna.
- Eu gosto de ficar com a Rafa quando ela está doente, ela vira um bebê de novo e posso te ajudar com a Cecília. - nega com a cabeça - E eu não iria conseguir me concentrar no trabalho sabendo que a Cecília e a Rafa estão doentes. - Ludmilla a observa percebendo que ela verdadeira como sempre. - Sem contar você tem que fazer as roscas e os pães, não tem encomenda para hoje? - levanta a sobrancelha tentando tirar a tensão dos ombros da mulher.
- Uh, é mesmo. - aperta os olhos. Tinha se esquecido completamente.
- Então vamos fazer assim, você faz as encomendas e eu fico se olho nelas, se a Cecília voltar a ter um pouquinho de febre eu te aviso. Pode ser? - Ludmilla passa a língua sobre os lábios e afirma com a cabeça.
- Acho que já vou começar a fazer... - murmura hesitante.
- Fique a vontade, se precisar da minha ajuda é só chamar. Pode não parecer mas sou muito boa fazendo massas. - lança uma piscadela em sua direção se levantando com a xícara de café em mãos. Em resposta Ludmilla apenas ri afirmando com a cabeça por se sentir menos preocupada por saber que Brunna estava ali para a ajudar - Bom, já vou porquê não quero te atrapalhar. - pega o celular que estava sobre a mesa, se inclina para beijar o topo de sua cabeça e arregala os olhos ficando surpresa com o seu gesto mas não deixa Ludmilla perceber, apenas vai para fora da cozinha.
Por sua vez, Ludmilla arregala os olhos pelo beijo deixado em sua cabeça, engole seco e repara em seu coração errando algumas batidas pelo ato inesperado. Sem conseguir conter, um sorriso nasce em seus lábios junto com a sensação gostosa que nasce em seu peito.
[...]
Ludmilla coloca as duas formas dentro do forno e passa a língua sobre os lábios, tira o pano do ombro e deixa sobre a pia. Já tinha feito tudo, agora era só esperar assar. Ela sai da cozinha se aproximando do sofá onde Rafaela estava deitada, Brunna no chão e Cecília em suas pernas usando o corpo da mais velha de apoio.
- Deu certo? - Brunna pergunta a olhando enquanto Rafaela apoiava os pés sobre as pernas de Ludmilla.
- Sim, cresceram muito bem. - sorri animada.
- Queria sentir o cheiro. - Rafaela fala com o nariz entupido arrancando uma risada das mais velhas.
- Ela continuou com febre? - Ludmilla pergunta.
- Não, depois que ela tomou aquele remédio que a médica passou, melhorou bastante e ela até ficou menos molinha. - Brunna beija a cabeça de Cecília e sorri.
- Não fique beijando ela, você vai ficar doente também. - Ludmilla adverte.
- A mãe quase não fica doente, se fica é só a garganta ruim. - Rafaela murmura sentindo Ludmilla começar a massagear seus pés.
- Então ela e eu somos iguais. - Brunna tomba a cabeça para trás e a olha.
- Temos a imunidade boa por não ficarmos nos entupindo de coisas industrializadas e gordurosas, mas sim, de frutas e chás. - sorri com cumplicidade e lança uma piscadela para Ludmilla.
- E muita verdura. - completa. Rafaela funga e resmunga ao engolir a saliva sentindo a garganta doer.
- Mas eu como.
- Se eu te der duzentos reais, você gasta tudo em miojo e fast food, Rafaela. - Brunna revira os olhos sentindo Cecília se inclinar para deitar no seu colo e ajuda a bebê.
- Meu Deus, senti nas minhas costas. - Rafaela arregala os olhos quando Ludmilla aperta um músculo de seu pé fazendo com que ela sinta na lombar. Apenas soltando uma risada, Ludmilla continua com a massagem.
Elas ficam conversando até que Cecília dorme no colo de Brunna e a mulher a leva para o quarto deixando-a no berço, retorna a sala e respira fundo sentindo o cheiro gostoso das roscas.
- Que cheiro bom. - elogia.
- Está mesmo, até senti fome. - sorri olhando para a cozinha - E eu fiz umas pequenas com as massas que sobraram, depois vocês podem experimentar e me dar o feedback.
- Que bela hora para o meu nariz ficar inútil. - Rafaela dramatiza fazendo Ludmilla rir, segura os tornozelos da garota e se levanta os soltando sobre o sofá.
- Olhe o lado bom, você vai comer. - mexe os ombros indo para a cozinha ver se as roscas já estavam boas.
- Ai que tristeza. - Brunna cruza os braços e ri da filha, ficava tão dramática quando estava doente.
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