◉●-6-●◉
Madelaine entra no quarto de Rafaela encontrando a garota mexendo no notebook, seus olhos percorrem o quarto percebendo que só estava limpo porquê Vanessa estava dormindo ali. Entretanto, quando seus olhos param sobre o teclado da garota sendo usado de cabideiro, ela respira fundo e fecha os olhos no momento que o valor daquele instrumento chega a sua mente.
- Rafaela, eu vou vender isso aqui. - fala alto assustando a garota que a olha no mesmo momento - Eu paguei caro nisso e você usa de cabideiro?! - pega as peças de roupa que estavam sobre o mesmo.
- Eita, não vende! - arregala os olhos se levantando da cadeira - Eu só estou dando um tempo, logo volto a tocar. - tenta driblar sua mãe vendo a expressão seria em seu rosto.
- Que nem fez com o violão? - levanta a sobrancelhas. A dois anos Madelaine tinha comprado um violão para Rafaela, semanas depois ela disse a mesma coisa e ele ficou parado por quase um ano até que resolveu vender.
- Não, eu juro. - Madelaine a olha com desconfiança mas resolve acreditar - Mãe, posso pedir uma coisa?
- Não vou te dar dinheiro, você não vai comprar outra coisa da internet e não, eu não vou te deixar ir em um rolê com seus amigos para voltar uma da manhã.
- Não é nada disso. - solta uma risada - Eu queria pedir permissão para pintar o cabelo. - junta as mãos na frente do corpo e da alguns pulinhos.
- Igual aquela tal de beliche? - coloca a mão na cintura.
- Billie Eilish, mãe.
- É, alguma coisa assim.
- Mas não, eu queria pintar aqui. - mostra algumas mechas que ficavam atrás da orelha.
- Que cor?
- Rosa. - Madelaine fica encarando sua filha por alguns segundos pensando se deveria dar a permissão ou não. Podendo ver os olhos castanhos brilharem, ela afirma com a cabeça.
- Mas eu não vou pagar um salão, você vai pedir tudo para o seu pai porquê eu já devo estar devendo até o cu das calças no meu cartão.
- Obrigada, obrigada! - vai saltando até Madelaine e a abraça começando a beijar todo o rosto da mulher arrancando um sorriso do rosto tão sério - Eu já comprei a tinta e o descolorante. - sussurra fazendo Madelaine se afastar, erguer a sobrancelha e voltar a aderir a expressão séria.
- E se eu não deixasse?
- Ah mãe, estava na promoção e o pai estava de bom humor. - se defende - Se você não deixasse, eu revendia para alguma amiga. - deu de ombros. Madelaine ri afirmando com a cabeça.
- Se eu encontrar mais alguma peça de roupa em cima desse teclado, você não vai mais ver ele. - avisa saindo do quarto com as blusas que estavam sobre ele.
Madelaine suspira parando na sala, olha para Vanessa que tentava entreter Cecília e colocar a foto 3×4 com um clipes nos cinco currículos que tinha imprimido. Decidindo brincar com a bebê, vai até a lavanderia colocando as roupas de Rafaela no cesto e volta para a sala sentando no sofá, ao lado de Cecília.
- Está dando tudo certo? - Madelaine pergunta pegando um ursinho e chamar a atenção de Cecília.
- Sim, eu encontrei alguns lugares que estão aceitando currículo e vi nos comentários que eles dão mais preferência para quem levar pessoalmente. - explica podendo usar as duas mãos agora.
- Verdade, eu já fiquei um tempo no RH quando ainda era estagiária e via a preferência maior por quem levava o currículo pessoalmente. - afirma com a cabeça sentindo os dedinhos de Cecília agarrarem o anel que sempre usava no dedo do meio.
Permitindo que Cecília sane a curiosidade pelo acessório, Madelaine se permite observar as afeições delicadas de Vanessa. Era uma mulher tão bonita, se fosse seu sonho, poderia embarcar em uma carreira de modelo com extrema facilidade.
- A Rafa colocou na cabeça que quer pintar o cabelo. - revira os olhos com um pequeno sorriso no rosto - Mas é bem provável que esse plano demore a se tornar realidade já que me recuso a pagar um cabeleleira depois das coisas que ela aprontou nos últimos dois meses.
- Se quiser, eu posso pintar. - Vanessa se oferece - Quando eu tinha a idade dela, pintava o meu direto, todo mês era uma cor diferente. - sorri de lado colocando os currículos dentro de envelopes amarelos e coloca de lado para olhar Madelaine. - Nunca fiquei careca então acredito que fazia certo. - brinca.
- Ela iria adorar. - sorri afirmando com a cabeça - Rafaela, venha aqui. - chama virando o rosto para a entrada da sala. Em questão de segundos, a garota já entrava na sala segurando seu celular - A Vanessa se ofereceu para pintar o seu cabelo, você quer? - pergunta.
- Ai meu Deus, claro que sim! - afirma com a cabeça animadamente.
- Podemos fazer hoje.
- Mulher, eu amo você. Sério. - a adolescente gesticula com as mãos fazendo Vanessa rir.
- Mas por uma condição. - Madelaine levanta o dedo indicador deixando a expressão de felicidade no rosto dela vacilar por alguns segundos - Você vai lavar o banheiro e ficar responsável pelas roupas essa semana.
- Tudo pelos minhas mechas coloridas. - coloca a mão sobre o coração e se curva com um ar risonho.
- Daqui a pouco vou dar banho na Cecília e ela vai tirar a soneca da tarde, ai podemos começar.
- Vou preparar o banheiro. - da mais alguns pulinhos antes de sair correndo pelo apartamento deixando as duas mulheres rindo.
- Não entendo qual a graça em pintar o cabelo com esses tipos de cores. - nega com a cabeça.
- Você nunca pintou o cabelo de colorido?
- As únicas vezes que eu pintei foram quando começaram a aparecer alguns fios brancos mas perdi a paciência e nunca mais pintei. - ao dizer isso, Vanessa repara em poucos fios brancos na parte da frente do cabelo de Madelaine. Dava um charme a mais para a mulher.
- Você não sabe como é divertido. Deveria tentar algum dia. - sugere deixando a cabeça descansar no encosto do sofá.
- Já estou velha para esse tipo de coisa, Vanessa. - nega com a cabeça levando uma mão até os cabelos de Cecília e acaricia ali.
- Você não está velha, Madelaine. - torce o nariz.
- A meia idade está batendo na porta então sim, estou. - refuta com humor.
- A meia idade é a melhor idade, ao meu ver. Principalmente se tiver uma filha como a Rafa.
- Nisso eu tenho que concordar. - afirma com a cabeça admirando a cor castanha nas orbes da mulher.
[…]
Uma música baixa tocava na caixinha de som que estava apoiada na pia do banheiro, Rafaela estava sentada em um banco e Vanessa em pé atrás usando luvas e um avental.
- Vanessa. - chama a mulher que desvia os olhos do cabelo para o celular da de garota vendo que estava sendo filmada, sorri e Rafaela volta a se filmar para mandar no grupo que tinha com suas amigas.
- Qual o nome da cantora? - pergunta prestando atenção na letra da música.
- É a Biab. - responde observando Vanessa passar o descolorante pelas mechas que tinha mostrado.
- Quando eu puder vou pesquisar mais músicas dela. - fala sem demonstrar preocupação.
- Você gosta desse tipo de música? - questiona interessada.
- Desse gênero?
- Que fala sobre suas mulheres. - Vanessa se engasga e começa a tossir virando o rosto para o lado - Se gostar, eu posso te recomendar algumas. - sorri tendo sua resposta, algo que já tinha desconfiado após stalkear o Instagram dela.
- Você ouve muito essas músicas?
- Sim, gosto bastante. Assim como gosto de meninas e meninos. - confidência sabendo que sua mãe não iria ouvir pois estava trancada no quarto, só não gritava pois sabia que Cecília estava dormindo e a última coisa que desejava era acordar a bebê gritando com alguém da sua equipe.
- Você é bissexual?
- Pansexual. - responde sem se preocupar.
- Sua mãe sabe?
- Não, não sei como ela reagiria ao saber. - explica deixando os ombros murcharem - Não vai contar para ela, né?
- Claro que não. - sorri olhando para ela pelo espelho.
Rafaela sorri aliviada. Por um lado, ela já confiava em Vanessa para falar tal coisa por sentir que ela não correria para contar para sua mãe.
- Você é a primeira adulta que eu falo isso. - pela primeira vez, Rafaela fala algo com o rosto vermelho.
- Eu fico feliz em saber que você confia em mim. - fala com sinceridade. Ela sabia como era difícil falar com algum adulto sobre isso e sentia orgulho por Rafaela ter a escolhido para falar sobre isso.
- E você? - olha por cima do ombro.
- O que tem eu? - junta as sobrancelhas colocando o papel alumínio na mecha que tinha o descolorante.
- Algo me diz que você gosta de mulheres também. - sorri com os olhos estreitos.
- E se eu gostar, o que você tem haver com isso? - brinca. Rafaela ri em resposta mas volta a olhar para o espelho enquanto Vanessa retirava mais algumas mechas do coque.
- Seria divertido ter alguém para conversar sobre isso e saber que me entende. - deu de ombros.
- Então certo, eu sou lésbica. - confessa com um sorriso de canto. Nunca tinha dito aquilo com tanto orgulho como havia dito naquele momento.
- Meu gaydar nunca erra. - comemora arrancando uma risada de Vanessa que termina ao ouvir Madelaine sair do seu quarto bufando irritada reclamando sozinha sobre o quanto a sua equipe era lerda.
- Será que ela ouviu? - pergunta em um tom extremamente baixo.
- Claro que não, esse pisado dela é o de "eu juro por Deus que vou demitir alguém". - faz aspas com os dedos - Quanto tempo você sabe que é?
- Desde os meus catorze. - explica terminando de passar o descolorante para embrulhar o cabelo com papel alumínio.
- Você teve a Cecília por inseminação artificial?
- Não. - nega - Um dia eu te conto.
- É uma história ruim? - indaga com insegurança de ter tocado em um assunto delicado.
- Sim e não. - sorri tirando as luvas e joga no lixo.
- Ok, um dia você me conta. - pausa para ver as mensagens que seus amigos tinham mandado - Vanessa, a Gab perguntou se você espera ela completar dezoito anos para dar um beijo nela. - pergunta risonha.
- Diga que eu não beijo pessoas mais novas que eu. - responde no mesmo tom, lavando as mãos para ler as instruções da tinta rosa.
- Por quê? - seu espírito fofoqueira grita nesse momento.
- Tive muita dor de cabeça por causa de uma pessoa de vinte anos então coloquei uma regra na minha vida. Nunca mais ficarei com alguém mais novo que eu. - torce o nariz.
- A Gab disse que vai te mandar o boleto do psicólogo dela. - lê a mensagem que sua amiga tinha mandado e Vanessa nega com a cabeça soltando uma risada baixa.
Elas ficam em silêncio lendo suas coisas enquanto deixavam o produto agir nas mechas de Rafaela. Seus olhos apenas desviam dos objetos em suas mãos quando Madelaine encosta no portal da porta.
- Está dando certo? - pergunta com os olhos presos em Vanessa que usava apenas um short mais largo, uma blusa de alcinha e o avental, além de ter seus cabelos presos em um coque desajeitado.
- Sim, só temos que esperar o tempo do descolorante agir. - vira seu pescoço em direção a Madelaine.
- Tudo bem, mãe? Tem uma veia quase estourando no meio da sua testa.
- A festa de casamento é hoje, o pessoal da minha equipe fez uma coisa errada mas consegui consertar sem precisar ir para lá. - explica coçando a testa sentindo os olhos das duas sobre seu rosto.
- Quer que eu prepare um chá de camomila? - Vanessa se dispõe colocando a caixa com a tinta sobre a pia.
- Se concentre em não deixar a minha filha careca. - brinca esboçando um sorriso. Nunca admitiria para ninguém, nem para si mesma mas os olhos de Vanessa a deixavam intimidada.
- Certo. - afirma com a cabeça desviando os olhos para Rafaela que mantinha os olhos presos no celular.
Após retirarem o descolorante, Vanessa analisa o cabelo de Rafaela antes de passar a tinta percebendo que precisaria fazer uma hidratação depois de tudo isso. Mais ou menos duas horas depois, Rafaela já tirava o creme de hidratação do cabelo e ia para o quarto da mãe para que Vanessa alisasse deu cabelo para poderem ver como ele tinha ficado.
- Gostou? - Vanessa pergunta guardando o secador e a chapinha no mesmo lugar que Rafa tinha tirado.
- Ficou... - murmura mexendo no cabelo na frente do espelho - Maravilhoso! - arregala os olhos.
- Ficou lindo mesmo. - Madelaine concorda em sua terceira xícara de chá de camomila.
- A cor pegou bem, fiquei com medo de não pegar muito. - diz Vanessa, cruzando os braços.
- Obrigada, Vanessa. - Rafaela agradece pegando o celular para tirar algumas fotos no enorme espelho do guarda-roupa da mãe para postar, mandar para os amigos e para o pai.
Vanessa sai do quarto de Madelaine entrando no que Cecília dormia com o ar condicionado ligado, caminha até o berço esboçando um sorriso doce vendo a bebê dormir tranquilamente mas tinha que a acordar ou demoraria para dormir a noite.
- Cecília, meu amor. - abaixa a grade para aproximar seu rosto da bebê dando alguns beijinhos por sua bochecha. Acordar Cecília com beijos tinha se tornado um hábito para que ela não acordasse chorando - Acorda para brincar com a mamãe. - pede abobalhada vendo Cecília começar a despertar.
Cecília abre os olhinhos com uma carinha brava e sonolenta, boceja e encara sua mãe.
- Está brava com a mamãe por te acordar, filha? - pergunta com a voz levantando a blusa que Cecília usava e beija sua barriga gordinha fazendo um barulho arrancando uma risada sonolenta da bebê que mexe com as perninhas tirando a manta que a cobria.
Cecília ameaça colocar dedo na boca mas Vanessa o substituí pela chupeta. Não queria que ela chupasse dedo pois dificultaria no momento em que decidisse que Cecília deveria começar a largar a chupeta.
Pegando a menina no colo, ela rapidamente segura a alça da sua blusa, encosta a cabeça no ombro da mais velha e fica segurando seu paninho favorito. Vanessa desliga o ar condicionado que Madelaine tinha ligado assim que colocou Cecília para dormir e sai do quarto, acariciando as costas da mais nova.
Madelaine tinha um grande sorriso rasgando seus lábios por ver a felicidade de Rafaela por conta das mechas coloridas que se destacavam entre o cabelo castanho. Somente desvia os olhos de Rafaela quando Vanessa para na porta do quarto com Cecília nos braços.
- Acordou? - pergunta para Vanessa recebendo um sorriso sonolento da bebê em sua direção.
- Se ela dormisse mais, não iria dormir de noite e quem sofre sou eu. - explica beijando a mãozinha da bebê.
- O que vocês querem comer? - pergunta intercalando o olhar entre as duas.
- Ah mãe, qualquer coisa está bom. - Rafa deu de ombros andando até Vanessa para brincar com Cecília que estende os braços pedindo colo para a garota.
- Por mim, tanto faz. - Vanessa fala logo em seguida entregando Cecília para Rafaela - Se quiser eu cozinho.
- Está tudo bem. - nega com a cabeça andando para perto de Vanessa e segura a respiração passando pela mulher.
Durante o processo de preparamento do jantar, Madelaine se encontrava imersa em seus pensamentos tentando entender algumas coisas que estavam acontecendo que para ela eram estranhas. Sua mente estava focada nos últimos acontecimentos; o estresse demasiado que seu trabalho estava lhe causando, Rafaela sentindo sua falta, Vanessa e Cecília aparecendo repentinamente em sua vida e em alguns gastos que deveria cortar para poder balancear o seu salário com os gastos inesperados que iria ter.
Chegando a conclusão que deveria tirar um tempo para sair com suas amigas, ela solta a faca sobre a pia, limpa a mão em um pano de prato e saca o celular, digitando uma mensagem curta para suas duas únicas amigas perguntando se poderiam sair para beber no próximo sábado, por saber que Rafaela iria para a casa do pai naquele fim de semana.
A primeira a responder sua mensagem é Lili implorando para que fossem ou iria gastar o seu réu primário. Camila responde pouco tempo depois falando que iria mandar seus filhos, João e Gabriella para a casa do pai para poderem sair.
Com um sorriso satisfeito, guarda o celular e continua a cortar os legumes. Finalmente ela poderia espairecer, dizer o quanto odiava as pessoas que trabalhavam com ela e beber sem se importar com a hora que chegaria em casa.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro