Com as semanas se passando desde o aniversário de Rafaela, algumas coisas começam a ficar mais evidentes na gravidez de Madelaine como: os desejos inusitados, o humor e os vômitos que ficaram frequentes. Tanto que assim que a adolescente colocou os pés no apartamento, ela se deparou com uma cena um tanto quanto cômica.

Madelaine estava sentada no sofá aos prantos como se um familiar tivesse falecido, Cecília em pé ao seu lado dando beijinhos em sua cabeça para a consolar e Vanessa parada no meio da sala com a mão na cintura. Completamente confusa sobre o que estava acontecendo ali, Rafaela solta sua bolsa no chão e tira o tênis o deixando de canto.

- O que aconteceu? Vocês brigaram? - pergunta atraindo a atenção de todas, menos de Cecília que estava ocupada demais dando beijinhos em sua mãe para tentar fazer ela parar de chorar, mesmo não sabendo o motivo.

- Não! Sua mãe quer comer bolo com feijão. - a mais nova fala com incredulidade.

- E a Vanessa não quer deixar... - Madelaine fala entre soluços. Por sua vez, Cecília passa os bracinhos pelo pescoço da mãe e a abraça, sendo retribuída de imediato.

- Não chola, mamãe. - Cecília fala beijando sua bochecha. Foi tempo o suficiente para que Rafaela caia na risada, colocando as mãos na barriga.

- Amor, você precisa comer os legumes que eu fiz, lembra o que a Natália disse? - Vanessa tenta pela vigésima vez convencer Madelaine de comer o que tinha preparado.

- Mas eu quero bolo com feijão. - tenta controlar o choro, focando seus olhos vermelhos em Vanessa .

- Deixa ela, Vanessa . - Rafaela sai em defesa da sua mãe, mesmo tentando parar de rir.

- Nem pensar, é nojento e ela vai vomitar se comer isso. - nega com a cabeça sem ceder.

Nesse instante, Vanessa se abaixa quando uma almofada voa ao seu encontro arrancando uma risada de Cecília que por ver que sua irmã ria, não era algo sério e não precisava se preocupar.

- Se seus filhos nascerem com cara de bolo com feijão, a culpa é toda sua!

- Tudo bem, vamos fazer assim. Se você comer tudo o que eu colocar no seu prato, eu deixo você comer essa coisa nojenta, pode ser? - Vanessa tenta negociar.

- Meu Deus, parece que está falando com a Cecília. - Rafaela brinca. Ouvindo aquilo, Madelaine para de chorar no mesmo instante, coloca Cecília sentada no sofá e arremessa outra almofada em direção a Rafaela, acertando seu rosto em cheio.

- Está de castigo, Rafaela Pestch! - rosna irritada e a garota apenas arregala os olhos saindo de fininho para poder rir.

- Então, vamos fechar esse negócio? - a de olhos chocolates pergunta, se aproximando da mais velha.

- Tudo bem. - balança a cabeça sabendo que aquele seria o único jeito de comer o que desejava. Ficando de pé, ela enxuga as lágrimas e da um selinho nos lábios de Vanessa antes de ir para a cozinha.

- Vamos comer, bebê! - Vanessa pega Cecília a jogando por cima de seu ombro fazendo a risada infantil ecoar pelo apartamento. A colocando na cadeira de alimentação, primeiro a serve com um pouco de cada coisa que tinha feito para só então entregar o prato para Madelaine , sendo alertada que se ela fizesse corpo mole daria um exemplo ruim para Cecília.

Por sua vez, Madelaine comeu tudo sem reclamar e ainda elogiava para que Cecília ficasse com mais vontade de comer, apenas para depois poder o que desejava. Quando Verônica chegou do seu horário de almoço, ela levou Cecília para dar uma volta a pedido de Vanessa por saber o que viria em instantes, Madelaine vomitaria tudo o que comeu após a maldita combinação estranha que tinha desejo.

Entregando a ela um pedaço de bolo com feijão, Madelaine comeu aquilo como se fosse um bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro, quando ela terminou de comer e bebeu um copo de água, em questão de segundos ela já saía correndo. Observando Madelaine sair desesperada da cozinha, ela segue a mulher com rapidez e segura seu cabelo enquanto ela colocava tudo para fora.

Prendendo a respiração para não sentir o cheiro, Vanessa aperta os olhos até ouvir o barulho da descarga.

- Eu avisei que não era uma boa combinação. - Madelaine fala ficando de pé para lavar a boca. Ouvindo aquilo, Vanessa coloca as mãos na cintura e encara Madelaine a com descrença.

- Sim amor, avisou. - concorda, temia por sua vida se contrariasse Madelaine naquele dia, seus hormônios acordaram atacados e afetava seu humor - Vamos deitar? Não devia ter deixado você comer isso depois de almoçar, não pensei direito. - suspira mordendo os lábios observando Madelaine escovar os dentes.

- Minha culpa, desculpa. - apoia a mão na barriga que já estava evidente com as dezesseis semanas.

- Daqui em diante, se eu ver bolo e feijão no mesmo local eu não respondo por mim. - brinca saindo do banheiro segurando a cintura de Madelaine.

- Rafa, você não vai comer? - Madelaine questiona colocando a cabeça para dentro do quarto da garota.

- Eu almocei com o pai e a Este. - mexe os ombros sentando na cama.

Elas iam falar mais uma coisa se não fosse por Cecília chorando que entra no apartamento, Vanessa se solta de Madelaine e corre para a sala encontrando a bebê batendo os pezinhos no chão enquanto chorava.

- O que aconteceu?

- Fez xixi na roupa. - Verônica explica.

- Oh dó. - Vanessa afina a voz de abaixando para pegar a bebê - Pode deixar, eu a troco. - Verônica afirma com a cabeça e Vanessa sai segurando Cecília longe do seu corpo.

- O que aconteceu?

- Xixi. - explica indo direto para o banheiro, coloca Cecília em cima da pia e tira sua roupinha que estava ensopada. Ela estava passando pelo desfralde, Vanessa tinha iniciado assim que Cecília completou um ano e nove meses, a menina já não usava mais fralda de dia, apenas de noite para evitar acidentes mas quando eles ocorriam de dia, Cecília chorava com nojo o que ajudava ainda mais a ela procurar os adultos para a levar no banheiro.

- Vamos tomar banho para se limpar. - Vanessa diz, levando Cecília para dentro do box, ligando o chuveiro com o chuveirinho. Cecília já tinha aderido a rotina de tomar banho na banheira apenas de manhã e à noite, em outros horários era da forma tradicional.

Vanessa se ajoelha para começar a ensaboar a filha, cantando uma musiquinha infantil que conhecia sem se importar de ficar um pouco molhada pelas mãozinhas de Cecília se segurando nela para não perder o equilíbrio. Em poucos minutos, ela já saía com Cecília enrolada em uma toalha e ia para o quarto de Rafaela.

- Quer ajuda? - Rafaela pergunta de prontidão, desde que pegou uma certa idade, Vanessa sofria para a vestir pois ela sempre queria ficar sem nada.

- Não precisa. - recusa a ajuda segurando Cecília para pegar as roupas que ela usaria. Quando colocou Cecília no chão por alguns segundos, ela apenas ouviu os pisados da bebê indo para fora do quarto.

Vanessa olha para baixo encontrando a toalha, segura a risada e vai atrás de Cecília vendo sua bundinha entrando na sala. Não conseguindo se conter, ela começa a rir indo atrás de Cecília que já entrava na cozinha soltando um gritinho para assustar Verônica e Madelaine que estavam na cozinha.

- Te peguei! - Vanessa de abaixa pegando Cecília nos braços e a mesma ri se debatendo - Verônica, você que é babá a muito tempo, é normal um ser humaninho gostar tanto de correr por ai desse jeito?

- Igual ela, não. - entra na brincadeira vendo Cecília tentar descer do colo da mãe.

- Que horror. - brinca beijando os cabelinhos úmidos de Cecília - Vamos nos vestir, Lady peladona. - fala com humor indo para a sala.

- Não! - Cecília grita tentando descer do colo mas Vanessa a coloca em pé no sofá, lhe da uma bronca que faz Cecília ficar quietinha permitindo que sua mãe a vista.

- Pronto, pode correr agora. - coloca Cecília no chão com os olhos arregalados, ouvindo a risada de Madelaine assim que a bebê invade a cozinha.

Voltando para o quarto de Rafaela rindo baixinho, ela vê que a bagunça feita já estava arrumada. Agradecendo Rafaela pela ajuda, ela parte para o banheiro onde tinha alguns brinquedos dentro do box, recolhendo tudo, Vanessa finalmente pode descansar no sofá. Dizendo que Verônica poderia ir embora para aproveitar o feriado, a babá agradece beijando os cabelos de Cecília para se despedir e vai embora, Vanessa precisou sair na parte da manhã para resolver algumas coisas sobre a mini van que já estavam dando entrada e por isso, Verônica tinha ido para cuidar de Cecília, para que Madelaine ficasse sozinha com a filha, pois Rafaela precisou ir a escola por causa do grêmio.

Vendo uma Madelaine manhosa saindo da cozinha acompanhada de Cecília segurando uma mamadeira com suco, Vanessa abre espaço no sofá sabendo que sua mulher iria deitar ali, a abraçando logo em seguida.

- Eles nem nasceram e já estou exausta. - Madelaine murmura baixinho para que Cecília não ouvisse.

- Isso não é nem a metade do que nos espera, benzinho. - beijando sua bochecha, Vanessa murmura sentindo Madelaine se encolher nos seus braços.

Descansando um pouco, logo Vanessa sai do sofá para brincar com Cecília que se escondia, iniciando um pique esconde ali mesmo. Minutos depois, Rafaela se juntou a elas para brincar, ficando apenas Madelaine jogada no sofá se divertindo com as três.

Um pouco mais tarde, elas realmente puderam descansar por um tempo quando Cecília foi tirar seu cochilo da tarde, deixando Vanessa e Rafaela limparem o apartamento já que Madelaine não podia fazer esforço. Perto das cinco, elas fizeram uma maratona de jogos com uno e banco imobiliário, incluindo até mesmo Cecília permitindo que a bebê jogasse errado.

Com a janta feita por Rafaela, todos comeram lançando elogios para a garota que ficava corada a cada um deles. Por fim, Madelaine resolve lavar a louça por ter ficado o dia inteiro sem fazer nada porquê ninguém ali deixava ela fazer. Quando começam a se aprontar para dormir, Vanessa dá um banho demorado em Cecília para só então colocar a bebê no berço sem dar sua mamadeira por ela estar cheia, quase meia hora depois o casal se encontrava jogado na cama, embaixo do edredom com o ar condicionado ligado.

Elas trocavam beijos lentos e calmos porém não passam disso, ambas estavam exaustas do dia que tiveram, vindo a adormecer em seguida. No meio da noite, Vanessa rolou para o outro lado da cama e continuou a dormir, sonhando com diversas coisas que a deixavam feliz.

Entretanto, seu sono é interrompido com uma mãozinha infantil batendo em seu rosto, assim que ela abre os olhos, percebe Cecília sentada sobre sua barriga.

- O que foi, filha? - murmura sonolenta.

- Qué mama. - explica e Vanessa respira fundo.

- A mamãe já vai fazer, tá? - Cecília afirma com a cabeça, sentindo os braços de Vanessa a envolverem para a deitar na cama.

Ficando em silêncio, Vanessa volta a dormir em segundos por estar sonolenta, o que não passa despercebido por Cecília que faz uma carinha de brava mesmo no escuro, fica de pé na cama e encara onde acreditava que sua mãe estava. Até que uma ideia passa por sua cabeça para acordar Vanessa .

Cecília volta a sentar na cama tirando a fralda que usava, jogando no rosto de Vanessa que não demora a se mexer, acender a luz e tirar a fralda seca do rosto.

- Cecília! - resmunga sonolenta ao notar o que era aquilo em seu rosto.

- Qué mama! - fala com uma carinha brava, cruzando os braços.

- Tudo bem, vamos lá. - respira fundo saindo da cama segurando a fralda, com o outro braço, Vanessa segura Cecília e vai para fora do quarto. - Eu vou fazer uma vasectomia semana que vem. - resmunga brava.

Ao jogar aquela fralda no lixo, Vanessa coloca uma nova em Cecília e vai para a cozinha preparar sua mamadeira enquanto pedia para a bebê fazer silêncio ou acordaria Madelaine .

- Aqui está. - estende e Cecília agarra a mamadeira com urgência levando até seus lábios.

Vanessa volta a pegar Cecília no colo indo até onde seu berço ficava, analisando o local ela percebe que Cecília tinha pulado. Apertando os lábios percebendo que isso era um sinal para mudar o berço para uma cama, Vanessa coloca a bebê ali dentro desejando uma boa noite bem baixinho para não acordar Rafaela.

Ela sai do quarto das meninas aliviada que poderia voltar a dormir, apaga todas as luzes que estavam acesas e entra no quarto de Madelaine , paralisando por alguns instantes vendo sua namorada sentada na cama com uma carinha triste.

- O que foi, meu amor? - pergunta deixando o sono de lado.

- Eu acho que estou com desejo, Nessa. - choraminga observando sua namorada subir na cama.

- Tem aqui em casa? Eu posso preparar.

- Estou com desejo de iogurte grego com goiabada. - suspira.

- Nós não temos isso... Dá para aguentar até amanhecer? - questiona torcendo para que a resposta fosse sim.

- Estou com muita vontade. - faz um bico manhoso.

Vanessa fica em silêncio por alguns segundos, abaixa o olhar para a cama e suspira baixinho.

- Vou ir comprar, fica tranquila. - se inclina para beijar seus lábios.

- Sério?

- Claro. - força um sorriso escondendo seu desânimo de sair da cama - Já volto. - lhe dá mais um beijo e abaixa a cabeça para beijar sua barriga.

Irritada por ter que sair aquela hora, Vanessa apenas calça um chinelo e pega as chaves do carro indo para a sala, não queria tirar o pijama. Não estava brava com Madelaine , nem tinha cabimento ela ficar brava com a mulher por isso, estava brava por odiar sair de casa à noite.

- Isso Vanessa , vai! Transa sem camisinha, não vai dar em nada. - resmunga fechando a porta do apartamento - É só uma vez, não precisa se preocupar. - continua, apertando o botão do elevador - Agora aguente as consequências! - resmunga por fim entrando na caixa metálica.

Parando os olhos sobre o seu reflexo, Vanessa faz um coque apertado nos cabelos e esfrega os olhos, olha no relógio vendo que eram três da manhã agradecendo que amanhã não teria que trabalhar. Ela vai para o estacionamento com rapidez, entra no carro e parte para um mercado vinte e quatro horas.

Poucos minutos depois, já entrando no local, seu celular começa a tocar vendo que era Madelaine que ligava.

- Dengo, trás salame também?

- Só o salame? - pergunta confusa.

- Não, o iogurte, a goiabada e o salame. - Vanessa balança a cabeça pegando uma pequena cesta indo para a região das geladeiras, sem se importar com os olhares sobre ela, sabia que devia estar parecendo uma louca.

- Mais alguma coisa?

- Não, só isso mesmo. - a voz doce de Madelaine tira o seu mal humor em um passe de mágica - Eu te amo, viu?

- Te amo também. - deixa um sorriso abobalhado brincar com seus lábios - É iogurte tradicional?

- Sim.

- Então está entendido, chego em dez minutos. Não durma, por favor. - pede antes de encerrar a chamada, pegando tudo o que Madelaine estava pedindo.

Após passar pelo caixa, Vanessa solta diversos bocejos voltando para o carro. A trajetória de volta para o apartamento foi rápida, as ruas estavam praticamente vazias pela hora permitindo que Vanessa dirigisse mais rápido. Quando finalmente chegou no apartamento, ela foi recebida por Madelaine pulando em seus braços a enchendo de beijos.

- Estava com vontade mesmo. - brinca abraçando sua cintura.

- Você não imagina o quanto, sonhei que estava comendo isso. - responde pegando a sacola da sua mão. Madelaine corta a sala como um raio de luz até a cozinha, colocando as três embalagens sobre a mesa.

- Era isso mesmo? - Vanessa vai atrás para confirmar, não estava confiando na sua vista por conta do sono.

- Sim. - balança a cabeça demonstrando sua felicidade, tirando a embalagem das coisas para cortar em fatias, colocar em um prato e jogar o iogurte por cima - Muito bom. - suspira levando uma colherada até a boca.

- Ainda bem que acertei. - Vanessa murmura se encostando na mesa olhando Madelaine se deliciar com aquela mistura estranha.

- Me desculpa pedir para você sair essa hora. - com a boca suja de iogurte, Madelaine diz - Não desiste de mim, por favor. - pede.

- Nem se eu precisasse remar pelo mundo inteiro em um barquinho, eu desistiria de você. - confidência deixando Madelaine completamente rendida.

Madelaine sente seu coração se encher de amor a ponto de deixar seus olhos marejados, ela dá mais uma colherada no que comia antes de soltar a colher e ir beijar Vanessa , sem se importar se a mulher acharia ruim por estar com o gosto daquela mistura estranha na boca.

Ela já tinha algumas suspeitas que tinha encontrado a mulher da sua vida mas naquele momento, teve a certeza que Vanessa só não era a mulher da sua vida como era uma das melhores coisas que tinha acontecido com ela.