Pensamentos
Os primeiros raios de Sol mostram-se através dos edifícios da cidade de Seattle, já há nove horas que Ricci e Bobby procuram em bares e caves de jogo clandestino por Tommy Note, na sua busca pelo Livro do Calvário.
Bobby: Só falta o Old Man's Pond, o bar onde o Harley jogava poker.
Ricci: Achas que vão estar lá? Porque o Tommy, provavelmente, vai, e o Harley não vem a Seattle há anos, ainda o Henry fazia magia regularmente. Seria uma enorme coincidência se o ladrão viesse para aqui, depois de roubar o livro, e não estar cá aquele traidor filho da puta.
Bobby: Obviamente, estás mais chateado com a traição dele do que com o facto de, o Harley, não sei, quase ter destruído a porcaria do nosso sistema solar?
Ricci: Achas? Sempre achei que fosse porque ele me causa prisão de ventre, se calhar, estou enganado.
Bobby: Não consegues levar nada a sério, pois não?
Ricci: Eu levo muitas coisas a sério, a continuidade do universo, o HIV, o cancro do fígado, a violência policial, essas coisas.
Bobby: Porque é que perguntei? Óbvio que não, para ti, é tudo uma brincadeira.
O mestre da magia negra para, a meio do passeio, e olha, seriamente, para Bob.
Ricci: Percebe uma coisa, não é por eu não levar nada a sério, não quer dizer que eu não me preocupe com nada, só escolho usar o sarcasmo como escudo, tanto o uso contra ti, como contra um polícia a tentar bater num rapaz afro-americano. Entende isso. Achas que eu estou a fazer isto, puramente, por orgulho e egoísmo? Obviamente que não! Eu tirei a Beth e o Willard do outro universo porque, o puto, estava a aproximar as duas realidades!
Bobby: E, mesmo com eles aqui, tu não os vais juntar com o Henry. Aí é que entra a parte egoísta, não queres perder o teu melhor amigo para um filho!
Ricci: Ele é que não quer estar com eles, foda-se!
Um curto silêncio cai entre os dois, dando-lhes a oportunidade de se acalmarem.
Ricci: O Tareg está à procura dele, e ele não quer pôr o filho e uma mulher que ele ama, mesmo que esteja casada com outro e esteja a viver em Londres, em trabalhos e perigos desnecessários.
Bobby: Foda-se... podias ter dito logo. Eu pensava que, quando eles bazaram, deixaram para trás algo que é deles.
Ricci: Pois. Mudando de assunto, trouxeste a aguardente caseira? Aquela que se usa para os rituais de magia negra portuguesa.
Bobby: Achas que tenho amnésia? Claro que trouxe.
Bob tira uma garrafa de água, na qual estava guardado o líquido de odor forte e volume de álcool elevado.
Bobby: Tem, pelo menos, 92% de volume de álcool, mas sabes que a malta que vive nas zonas mais campestres de Portugal faz aguardente com a mesma potência que álcool etílico.
Ricci: Dizes-me isso a mim? Eu já bebi aguardente com 98% de grau alcoólico, isso até afasta o próprio Satanás.
Richard despeja meia garrafa de aguardente à volta da porta do Old Man's Pond, dirige-se ao centro do fio de líquido, ateia com o seu isqueiro Zippo e estende as mãos na direção das chamas.
Ricci: Revelem a magia neste espaço, grandes espíritos antigos.
A chama, com os seus tons de amarelo, laranja e vermelho, transforma-se numa mistura roxa e verde, aquecendo mais que o normal de uma labareda, apagando-se quase em seguida.
Ricci: Boa noite, Tommy! Encontrámos o cabrão.
Bobby: Então, vamos entrar.
Ouvem-se os passos de, pelo menos, duas pessoas. Ricci e Bobby olham para trás, na direção dos sons.
Ricci: Podiam ser um bocadinho menos barulhentos, não é?
Os dois homens que se aproximavam do mestre da magia negra e do bartender mágico, eram Asclepius Agollis e Adrian Downes.
Adrian: Achavas mesmo que podias perder, a porcaria do Livro do Calvário, sem ninguém saber? Foda-se Ricci, conta as merdas!
Bobby: Não sabes da missa a metade, mas falamos disso depois, não é?
Ricci: Yá, a prioridade, agora, é impedir que o Harley ponha as patas sujas dele em cima do livro.
Asclepius: Aguenta aí os cavalos! O Harley?! Ricci, tu devias ter avisado mesmo a malta, se desconfiaste que ele tinha mão nele! Tu precisas de ligar ao Eric!
Ricci: Não ligo a ninguém! Nem ao Eric, nem à Beth, nem a qualquer um dos outros! Eu meti-me nesta alhada e eu vou resolver isto, não é o Eric que o vai fazer por mim!
Adrian: Ricci, pensa, foda-se! Se o Harley põe as mãos no Livro do Calvário, acabou-se! Isto não é nenhuma brincadeira, porra!
Ricci: Nós conseguimos, sem o Eric, sem a Beth e sem a Tammy.
Adrian: Continuas o mesmo teimoso! Se tu pensasses, nem que fosse por dois segundos, saberias que o Eric está preparado para estas situações, por alguma razão, ele é o Oracle, pelo amor de Deus!
Ricci: Enquanto o Harley não tiver o livro, estamos bem.
Ricci entra no bar, seguido do resto do grupo e encontra, facilmente, Tommy.
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