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Me desculpe, era isso o que a cabeça de Felix gritava a todo momento, ele queria ser um filho melhor queria ser o que sua mãe sempre sonhou queria seguir os conselhos que o padre o dava queria ser perfeito mas, não.
Não era assim que pensava, ele não queria amar outra pessoa ele queria Hyunjin e só Hyunjin ninguém mais, mas sua mãe insistia em dizer que uma boa moça de família iria mudar sua concepção doentia sobre o amor.
Ah, amar, em uma hora parecia algo tão bonito e puro, delicado e doce como quando os braços de Hwang rodeavam seu corpo magro de forma carinhosa, ou quando o mais velho distribuía longos selares pela pele de seu rosto alegando com infalibilidade que era o mais bonito que já viras, mas em outras horas, amar machucava, machucava por saber que está longe, machucava por saber que talvez aquele amor é errado ou até mesmo machucava por não ser apoiado.
Felix estava cansado e quase que simplesmente desistindo, mas tinha convicção de que Hwang ainda o iria ajudar de alguma forma.
Noite passada novamente ele havia chorado, e com os pulsos abertos vertendo sangue ele se perguntou por quanto tempo ele sofreria, por quanto tempo a dor habitaria seu corpo de forma devastadora, sua mãe como de costume o olhava com descaso ao que foi levar o café da manhã já Lee implorou para ir à escola apenas recebendo um "Para se agarrar com algum outro professor?" Como resposta, isso feria mais ainda seu coração já que sua mãe literalmente vinha tratando-o como "puta", "Por Deus Felix, eu não te criei assim! — A mulher exclamava — Desde quando você se agarra com professores para ganhar nota?! — Disse com cara de nojo enquanto encarava o filho que tomava um copo d'água — Meu filho, um pecador... O que eu fiz para merecer meu Deus, eu que sempre fui tão devota ao senhor Meu Deus!.", e assim eram os dias de Lee ouvindo as coisas dolorosas que sua mãe insistia em jogar em sua cara como se fossem verdades.
Mas naquele dia ele sentiu algo bom quando acordou pela manhã, uma sensação de que tudo talvez pudesse melhorar em questão de dias, era manhã e novamente sua mãe estava destrancando a porta de seu quarto levando seu café da manhã.
— Bom dia — Disse normalmente ao adentrar o quarto do filho com a bandeja em mãos fechando a porta com os pés.
— Benção mamãe... — O garoto disse de forma baixa e desanimada, enquanto sentia seus olhinhos levemente pesados pelo sono recente ainda que não fosse mais a escola -O que caso a polícia descobrisse seria de considerado crime- Sana o fazia levantar sete horas da manhã.
— Coma tudo! — A mulher ordenou sentando-se a cadeira da escrivaninha de seu filho o assistindo comer lentamente — Coma rápido — Brandou a mulher — Diferente de você eu trabalho...
Era sempre assim, destruía o dia do filho com poucas palavras lotadas de veneno.
— Sim mamãe... — O loiro disse enquanto apressava-se um pouco para comer, tendo ainda os olhos flamejantes da outra sobre si — Mamãe, quando poderei voltar a escola? — Perguntou inocentemente, apesar do bullying que sofria direto no local, lá pelo menos tinha Hwang e o conteúdo para o fazer esquecer de toda a dor e desconforto emocional.
— Você ainda não entendeu não é? — Ela Perguntou sendo grossa — Você nunca vai voltar a escola, nunca! — Riu debochadamente — Acha que vou deixar meu único filho pecar e ficar se agarrando com outros homens? — Negou com a cabeça tomando a bandeja que havia quase toda comida das mãos frias de Felix logo saindo do quarto e gritando ao lado de fora um simples "— Passe fome para pagar seu pecado".
Mas ela havia esquecido uma coisa, a porta do quarto de Felix ficará aberta. Destrancada. Era uma chance.
Eram oito horas da manhã quando o Lee mais novo ouviu o som da porta da casa fechando-se, ele sabia que aquele era o horário que seus pais iriam trabalhar então com os dedinhos cruzados foi até a porta de seu quarto rezando para o que estava pensando estar certo, e ao circular a maçaneta com as mãos gélidas a porta se abriu e seu peito pareceu aquecer.
A fome dominava seu pequeno corpo um tanto frio e sem ao menos ir a cozinha em busca de alimento foi diretamente a sala buscando o telefone fixo da casa. Após Alguns minutos em busca do objeto o loiro achou e sem demoras discou o número de telefone do namorado.
Uma, duas, três, quatro(...) chamaram dez vezes e ninguém atendeu ao telefone, resolveu olhar os dias em um pequeno calendário já que pelo fato de ficar trancado desligado do mundo, perdera a noção do tempo e ao ver que era sábado percebeu que Hyunjin e ele nem ao menos tinham aulas esse dia, então novamente discou o número com os olhinhos apertados e os dedinhos cruzados sendo engolidos pelo grande moletom bege que o loiro usava, e após chamar mais algumas vezes uma voz claramente cansada atendeu ao chamado, era a voz que tanto quis ouvir todos esses dias.
— Alô? — A voz de Hyunjin ecoou pelo outro lado do telefone fazendo Felix pular e quase chorar de felicidade, e ele o faria mas nem ao menos forças para chorar seu corpo estava tendo, já que quando sua mãe o batia ficavam diversos machucados por sua pele sem cuidado algum já que não tinha ninguém para o ajudar.
— Hyunjinie?! — A voz falha e trêmula disse parecendo fazer o do outro lado da linha despertar.
— Felix?! — Ele disse exasperado com a respiração acelerada — Amor, como você está? Está comendo direitinho? Está machucado? Com frio? — Uma chuva de perguntas invadiu os tímpanos de Lee que sem mais forças pois-se a chorar copiosamente — Felix? Você tá bem? — Perguntou mais preocupado.
— Eu achei que você não me amava mais... — Disse entre lágrimas deixando um sorriso fraco e escasso fugir por entre os lábios machucados — Eu sinto tanto sua falta — Admitiu deixando o choro vir de forma mais intensa fazendo o do outro lado da linha sentir seu coração despedaçar lentamente com as palavras de seu garoto — Eu sinto fome, e frio também... Meu corpo está muito dolorido por causa dos machucados Hyun... — Prosseguiu sem conseguir esconder a verdade dolorosa pela qual está passando.
— Meu deus Felix — O maior disse enquanto arfava em surpresa e tristeza como se houvesse levado uma facada profunda, a raiva dominou cada pequena célula de seu corpo, haviam machucado Felix de novo — Bebê, olha eu vou te ajudar, vou te salvar, te tirar daí! — Ele falava agoniado pois afinal o que mais queria era ter seu menino ali consigo em sua cama enquanto estavam dormindo agarradinhos ao meio aquele frio intenso que fazia está manhã — O que eu mais queria era você agora aqui comigo! — Ditou baixo com a voz irritadiça — Quero que se mantenha firme até eu chegar ok? — Perguntou de forma firme ouvindo a voz embargada de Felix concordar — Eu juro que quando eu te encontrar você vai saber o que é a verdadeira felicidade, ok amor? — Falou e novamente o garoto concordou, ao olhar para o relógio Felix deparou-se com quase meio-dia o que o fez arregalar os pequenos olhos azuis.
— Jinnie... — O menino falou de forma triste — Eu preciso desligar mamãe e papai já vão chegar se eu não desligar agora algo... Algo ruim pode acontecer — Disse ele com a voz apertada e Hwang sentiu seu coração apertar.
— Ok meu amor! — O mais velho disse com dificuldade sentindo a borda de seus olhos molhados — Vou deixar você ir agora, toma cuidado eu vou te salvar! — Disse ouvindo a voz relutante de Lee concordar — Eu te amo.
— Eu também... — A voz tristonha de Felix disse antes de desligar.
...
Do outro lado Hyunjin ficou algum tempo sentindo o coração batendo irregularmente e sem demoras ligou para Chan exigindo uma reunião de urgência em sua casa dentre trinta minutos, e lembrou-se de mandar Bang trazer o advogado consigo. Em pouco tempo ambos já estavam lá e novamente eles discutiam sobre o caso de Felix.
— Então Senhor Hwang, o que deseja com uma reunião a esta hora? — Bambam Perguntou e rapidamente olhou para Chan que tinha grandes olheiras assim como Hyunjin deixando bastante evidente as noites em claro por culpa da insônia causada pela preocupação.
— Felix, ele me ligou — Hwang disse respirando fundo tentando não se abalar ao lembrar o quão quebrada e assustada a voz de seu menino parecia ao falar pelo aparelho telefônico.
— Como é? — Chan que estava quase dormindo por conta da insônia da noite pareceu despertar dando um salto e olhando com os olhos pouco vermelhos na direção de Hyunjin, já Bambam apenas franziu as sobrancelhas fazendo um gesto com as mãos pedindo para que o professor prosseguisse logo arrumando sua gravata vermelha formal em seu terno social.
— Ele me ligou, disse que estava machucado com fome e frio! — Hwang disse deixando a preocupação transbordar de seu corpo através de seus poros, Chan fechou os punho em raiva e Bambam fez um barulho com a garganta chamando atenção dos dois.
— Vocês podem os denunciar, tem mais de um motivo! — Exclamou e arrumou seus cabelos negros com as pontas dos dedos.
— Mas, e se a polícia não aceitar?! — O outro de cabelos negros Perguntou assustado e Hyunjin olhou para o advogado esperando também pela resposta.
— O código penal contra pais negligentes pode nos ajudar neste combate contra o caso de Felix — Bambam afirmou e os outros dois entreolharam-se sorrindo largamente — Afinal de contas, pelas informações que tenho eles também estão cometendo o abandono intelectual de Felix.
— Mas, o que é o abandono intelectual para o direito? — Perguntou Hyunjin com as sobrancelhas juntas em confusão, entendia um pouco de advocacia mas nada além do básico.
— Bem, o abandono intelectual é um crime cometido pelos pais em deixar de proporcionar aos seus filhos a instrução primária — Disse arrumando os óculos — Ou seja, acontece quando os pais não matriculam os filhos na idade escolar, nos estabelecimentos de rede pública ou particular.
— Mas Felix já tem dezoito anos! — Chan afirmou como se aquilo pudesse afetar o desenvolver do caso e das leis.
— Com a nova emenda constitucional houve profundas alterações no que pertine à "idade escolar" para se saber quando, em que momento, com que idade dos filhos poderíamos constatar que os pais estariam inclusos nas penas dos crimes de abandono intelectual — Explicou mas mesmo assim as caras dos dois a sua frente continuaram confusas.
— Prestem atenção — Pediu com educação — Vejamos o referido código — Levou os dedos esguios com unhas bem feitas até o copo d'água que estava em sua frente logo bebendo e limpando a garganta para começar a falar — Abandono intelectual, artigo duzentos e quarenta e seis: Deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar.
— Quanto tempo seria essa pena? — Perguntou Hyunjin curiosamente.
— A pena é uma detenção de quinze dias a um mês, ou multa! — Afirmou com simplicidade.
— Mas isso ainda não muda o fato de Felix ter dezoito anos e estar no terceiro ano! — Chan brandou irritado.
— Calma, temos também o código penal duzentos e quarenta e quatro, que seria o abandono de material! — Falou o advogado e Hwang o concordou respondendo para Bang que não havia entendido.
— Artigo duzentos e quarenta e quatro— Hyunjin começou — é quando os pais deixam de prestar os recursos necessários para os filhos... — Disse pensativo e Chan continuou sem entender logo sendo respondido pela voz de Bambam que voltava a explicar.
— O crime de abandono material se refere aos recursos para a sobrevivência — Bambam ditou com paciência — Entretanto, quando os pais não mandam os filhos em idade escolar, sem justa causa à escola, existe o crime de abandono intelectual.
— Mas de que forma isso tem a ver com a condição de idade de Felix? — Chan Perguntou insistente na questão fazendo novamente bambam ter a decência de explicar.
— A obrigação vem primeiramente do código civil, segundo ao qual em seu artigo de 1634 os pais têm obrigação de oferecer aos filhos: criação e educação! — O advogado levantou-se de onde estava indo até sua bolsa ao balcão voltando a sentar-se segundos depois com um livro de leis em mãos — O direito à educação não é só oriundo em nível legal, trata-se de uma exigência constitucional que diz: É dever da família, da sociedade e do estado garantir a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade o direito à vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão! — Disse lendo todas as palavras ao livro que agora tinha em mãos e depois ao terminar encarou Chan — Ou seja, os pais de Felix quebraram varias dessas regras como, a alimentação, educação, lazer, profissionalização, dignidade e respeito, liberdade a forma de manterem-no a salvo de algum tipo de perigo, a discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão! — O advogado riu de si mesmo — Pensando bem eles quebraram todas as regras — Deu de ombros.
— Mas, e se o fato de Felix já ter dezoito atrapalhar no caso — Chan falou.
— O direito é aos filhos menores de dezoito anos terem acesso a formação intelectual básica — Novamente o advogado trouxe o copo com água fria molhando os lábios finos — Ou seja, a criança e o adolescente estão até os dezoito anos sob' o poder familiar, que é exercido pelos pais — Completou ele fechando o livro.
— E qual seria a pena? — Hyunjin falou com curiosidade.
— Bom, dependerá do Juiz — Pensou um pouco — Mas provável que seja de um a quatro anos de prisão, além de uma multa fixada de entre um a dez salários mínimos — Terminou de falar vendo que tanto Bangchan quanto Hyunjin pareciam satisfeitos com a resposta, tudo parecia começar a dar certo, talvez fosse o jogo virando.
...
Felix estava em seu quarto deitado em sua cama fingindo que nada havia acontecido, que não havia falado com ninguém e que nem fazia ideia que a porta de seu quarto ficou completamente aberta para sair a vontade a hora que quisesse.
— Felix? — A mãe entrou ao quarto parecendo pouco irritada, mas logo ao que viu o filho deitado calmamente na cama já retirou os pensamentos do garoto ter "fugido".
— Sim mamãe? — Perguntou inocentemente fingindo uma calmaria falsa já que na verdade seu estômago borbulhava em nervosismo intercalando com o suor que descia lentamente pelo meio de seus cabelos loiros.
— Ah, você está aqui... — Disse ela olhando a volta pelo quarto tendo certeza que tudo estava igual — Bem eu... — Começou meio errada — Você, vai querer almoçar agora? — Perguntou sem encarar o garoto que apenas concordou já que ainda morria de fome — Okay, sente-se direito, vou buscar seu prato — Bufou ela logo saindo de dentro do local sem esquecer-se desta vez de trancar a porta.
Minutos depois sua mãe apareceu lá com um prato não tão cheio como deveria estar já que fazia poucas refeições ao dia, estava literalmente ansioso demorou um tempo longo para terminar de comer já que não conseguia parar de pensar que Hyunjin daria enfim um jeito naquele inferno vivenciado por si na pele.
Eram três da tarde, quando o soar agudo melodioso da campainha soou por toda casa e pelo fato de ser sábado o Sr e Sra Lee estavam em casa já que no período tardio nenhum dos dois trabalhava.
— Sim? — Perguntou Sana logo ao abrir a porta arregalando os pequenos olhos negros puxados analisando com confusão e raiva aqueles em sua frente, Hyunjin, Bangchan, um homem desconhecido por si completamente engravatado e... Dois policiais?
Bambam, ainda com seu semblante calmo e vitorioso puxou do bolso do terno caro um envelope entregando delicadamente nas mãos daquela que os olhava com bravura.
— Como assim?! — Brandou meio exasperada — Por que eu e meu marido estamos sendo denunciados? — Ela disse enraivecida.
— Vocês estão sendo acusados por abandono intelectual e material tendo entre, agressão e crueldade a menor de idade, sendo assim o menor ficará temporariamente na guarda de Lee Bangchan sendo considerado o parente mais próximo — Bambam a respondeu com leveza irritando a mulher que quase partirá para cima de si mas foi impedida pelos policiais que a seguraram pelos braços adentrando a casa abordando HioJyn que estava ao sofá.
— O senhores têm direito ao permanecer calados — Disse o homem enquanto parava na frente dos dois agora juntos, a mulher saiu aos gritos sendo arrastada para fora gritando o quão errado todos estavam por culpar uma mulher "devota" a Deus sem provas, já com o outro Lee as coisas foram diferestes, o homem saiu calmamente com um semblante cabisbaixo e ao passar por Hyunjin um simples "desculpa, cuide bem dele" abandonou seus lábios.
Sem mais perdas de tempo, com o coração disparado o rosto suado e as mãos trêmulas, Hyunjin subiu aquelas escadas esperando encontrar seu menino. Ao chegar ao quarto e abrir a porta com força chamando a atenção daquele que tanto amava seu coração explodiu em um misto de emoções, o corpo magro e machucado mas ainda bonito parecia fraco já os olhos azuis sem brilho pareceram acender quando viram Hwang, e o acastanhado apenas encarou os lábios vermelhos antes de tomar para si entorpecendo seu corpo com o misto de amor que invadia seus poros lentamente...
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