Rebis
Alguns momentos se passaram desde a pequena batalha que custou a vida de um deus, os olhos entrecerrados de alguns reis poluíam o ambiente o tornando pesado, um clima nada exemplar. Pan reparou que todos estavam quietos, um silencio sepulcral que atravessava a espinha e o fazia suar. O receio de dar uma ideia em segundos o fez ficar aflito.
A cabeça de Fenrir o fazia esquecer os planos que fluíam de sua mente, ao perceber que o clima poderia eclodir em uma batalha mais intensa do que o que acontecera. Se sentiu acorrentado pelos olhos de Luís e intoxicado ao reparar no semblante sem vida de Lyssa. Que agora não passa de um ser estranho. Observou os olhos, num aspecto de um lamentável rubi, Artêmis que em nada se agradara em matar o grande lobo. Se convenceu da confusão ao perceber que o deus mais arrogante e que aspirava ser o mais sábio estava se lamentando em pequenas vogais, balbuciando algo em um idioma que não conhecia. Malditas terras distantes, Zoe não adorava os idiomas que alguns filhos se convenceram em ter. Mas Pan, começou a perceber que som das palavras de Tyr aumentaram, aumentando de uma forma engenhosa. Queria causar impacto. Pan começou a sorrir de si mesmo. E as mãos espasmódicas que estavam machucadas pelos socos sem sucesso ao solo. O insucesso pairava em sua expressão de uma forma constante, sendo substituído por pânico e agora, por segurança.
- Isso, seres que podemos manipular ao nosso prazer. Sem mortes diretas. Puro entretenimento. – disse como por uma obrigação que lhe fora dada. – Assim podemos canalizar nossas frustrações em um universo diferente do que presenciamos em nossos reinos. – Pan sentia a coragem lhe encher os pulmões. Como uma droga que lhe libertara de qualquer lucidez. Estendo os braços. Gestos que foram vistos pelo povo que estava a poucos metros de distância da mesa onde os deuses se colocaram sobre uma posição que inspirava respeito. Uma reunião com planos que poderiam garantir uma paz. A utopia das manhãs. Dos cânticos dos bardos e das promessas dos governante. Dos alicerces dos que se colocavam a construir. Os olhos foram de um lado a outro, encarando cada ser majestoso.
- Mas não vai ter regras nesse mundo? – questionou Hades.
- Claro que vai haver, podemos criar uma serie de dispositivos. Irei fazer alguns testes. Por isso peço um tempo para que o experimento ganhe molde.
- Pan, você acha que isso realmente vai solucionar os problemas que temos. Essa diferenças gritantes... – colocou a sobre os lábios. – Eu temo que talvez não seja o suficiente. – Disse o deus Memento, que traçou o caminho para os habitantes de Tirio, conhecidos como grandes arquitetos, a encontrarem uma paz semelhante à de Harmonia.
- Por isso que peço um tempo... – deu pequenos socos na testa encharcada pelo nervosismo. – sinto que podemos fazer coisas grandes com isso aqui.
- Parece interessante, Pan. O deus queridinho de nossa mãe, que abandonou todos do seu reino antigo e que misteriosamente esta vivo. – disse Tyr em tom zombeteiro.
- Tem ideia melhor? – questionou Hades.
- Não. – respondeu Tyr.
- Então cale a porra da boca! -e sugeriu que Pan continuasse. A expressão de ódio que nasceu no rosto de Tyr acusou que as palavras o haviam cravado, o cobrindo de tamanha vergonha, mas ninguém. Absolutamente ninguém. Se importou com isso.
- Pensei na ideia dos animais que já existem no planeta, eles estão evoluindo constantemente. Como uma fase de sobrevivência. Quanto mais difícil é a situação maior é a evolução. Os humanos podem ser parecidos conosco.
- Isso é um ultrage. – disse Tyr
- Isso é diferente do que pensei. – disse Memento
- Isso é engraçado. – disse Jotun.
- Isso é maravilhoso! – expressou em um tom bem mais alto que os outros Morpheus.
- Você é muito emocionado para um deus. – disse com um sorriso macabro. – Mas eu também gostei muito disso. Fazer o humano nossa imagem e semelhança. Parece que os da a possibilidade de ter alguma opção. A elementar diferença entre um deus e um humano é a possibilidade de não permitir que o destino o afete. Deuses controlam o destino. – disse Hades.
- Sim, mas as vezes tenho medo de ficar num ambiente fechado com você, cara. – disse Pan que permitiu-se sorrir.
- Eu posso dar uma ideia? – questionou Artêmis.
- Pode sim. – deu o lugar de fala para a deusa que ergueu os olhos para Lyssa, observando que ainda fluía algo de são. Ao ser questionada sobre a ideia, ela voltou para si.
- Podemos ter um número de jogadores e os substituir de maneira anual e estabelecer avatares não jogáveis. O que daria a possibilidade de podermos controlar apenas parte do jogo.
- Parece poético! – disse Morpheus.
- Sim, imagina. Você pode ter uma interação com uma humana de verdade! E ela pensar por si, sem ter a necessidade de estar sendo usada por alguém.
- Isso da margens a erros! – vociferou Tyr.
- Não, isso é genial. Aumenta a dificuldade de interação entre nós e essas criaturas. Jogos muito fáceis são chatos. – disse Hades, que se levantou e olhando para a multidão viu Rowan a poucos metros do chão circulando, aquilo era um sinal de missões concluídas e o apelo pela satisfação lhe fez expressar tamanha alegria que olhou novamente para Pan. – Você tem uma grande esposa, deus. Queria que esse privilégio não fosse apenas seu.
- Voltemos ao foco aqui. Por favor, quando você consegue nos entregar isso? – disse Mimir.
- Sete dias. – deu um sorriso, que esboçava nas laterais um desespero.
- Tenho certeza de que dará certo. – disse Artêmis se solidarizando para com o seu amado.
- Isso tem que dar certo. – disse Mimir se levantando. – acho melhor terminamos essa reunião. Estou cansado. – olhou para a cabeça de Fenrir e observou os nervos do cérebro do antigo deus. – Que dia horrível!
- Não entendo esses deuses, se eles não querem guerra por que sempre estão promovendo tantas? – Eliel expressou o pensamento em um tom que daria para ser escutado por quem estivesse ao seu lado.
- Porque eles são egocêntricos, gananciosos e poderosos. Isso nas mãos de alguém é motivo o suficiente para ser mal. – respondeu por um sussurro.
- Quem é você? - perguntou curiosa.
- Prazer, meu nome é Tybalt.
- O prazer é todo meu. – e mesmo sem ser questionada respondeu. – E eu sou Eliel. – e corou. Tybalt ignorou o efeito que causou na moça e levantou os braços. Rowan cuidadosamente chegou até ele.
- Que coruja linda, qual o nome dela?
- Rowan! – disse a coruja.
- Meu deus! Ela fala. – com os olhos altivos, um largo sorriso estampou seu rosto.
- Moça, um olhar desses com várias gotas de sangue salpicadas no seu rosto me dão um certo medo de você – disse Rowan. – ela parece ser doida, Tybalt. – sussurrou ao ouvido do rapaz.
- Precisamos ir. Até a próxima.
- Até a próxima... – e sussurrou. – príncipe.
- Então, amigos e irmãos. Iremos aguardar sete dias para saber sobre mais detalhes dessa simulação. Eu, como representante da onisciência, onipresença e onipotência da nossa Mãe, lhe dou a permissão necessário. – disse de maneira sucinta, Hades entendia que essa trégua era algo benéfico, ainda mais agora.
- Espero que não falhe. – disse Mimir que se retirou junto dos outros deuses que foram caminhando até os reis e os reis até o povo, ou o que sobrou do povo, que lhes reverenciou e entoou cânticos de glorias.
- Espero que tudo flua do jeito como esperamos! – disse Artêmis. – Eu não sabia que tinha algo presunçoso em mente.
- E eu não tinha. Foi um improviso, me lembrei dos meus tempos de garoto, em que eu ficava com as crianças sonhando com instrumentos mágicos e jogando. Os benditos jogos nos faziam passar um tempo que sempre mesclávamos com os sonhos de uma mesa farta em nossa mesa. Jogos podem enganar mentes doentes, famintas e simplistas. – deu um sorriso sem jeito ao ver que a deusa estava orgulhosa, a expressão falava por si. – Obrigado por estar aqui. Sei que o rei que tinha Fenrir como deus tem razão em te odiar, mas você fez o mais absurdo para encerrar algo que por si só tinha saído do controle.
- Você pode pedir ajuda, Pan. Você deixou de ser o jovem de harmonia que corria pelos campos e pelas falésias ondulantes. Procurei por dragões a minha vida toda e acabei ganhando o mocinho.
- Cristóvão está cheio de orgulho da mulher que você se tornou.
- A culpa é toda dele.
- Algum dia, eu prometo que serei tão forte quanto você.
- Acho pouco provável, sua maior qualidade é outra.
- Ah, bons guerreiros que levam os créditos nas histórias e nos cânticos dos bardos. Saudade que tenho da minha espada...
- Você sabe onde esta Excalibur? Queria vê-la
- O mundo se foi daquela vez, e nisso tudo, Excalibur foi apenas mais um objeto que se juntou as minhas lembranças.
- Então, o que nos restou foi isso – respirou. – precisamos trabalhar.
- Vamos. – e ambos foram até os jardim de Knets, onde os pássaros brindavam seus visitantes com uma bela canção, o orvalho brindava seus visitantes, lavando deles todo pensamento transgressor, inspirava os seres em poesias e em planos benéficos a toda uma raça.
- Tive um ideia sobre os humanos! Eles podem ter dois sexos. Encarecidamente podemos nomeá-los como Rebis. Tendo dois sexos podemos dar a eles a possibilidade de usufruir dos gêneros. – sugeriu Artêmis, que cheia de si concluiu. – Todos iguais, no nosso mundo real já tem tanta desigualdade.
- Eu tenho certeza de que você já viu toda sorte de desigualdade, gostei da sua ideia, podemos fazer assim, vermos como os humanos reagem. Eu e você controlaremos dois avatares. Você o... sou péssimo com nomes. Me ajude aí.
- Kael! – disse. Aparentemente Artêmis aguardava por essa oportunidade.
- Kael? Por quê?
- No momento que você pensou na ideia, o nome me veio como uma visão. Kael é o resumo de todo o sentimento que sinto agora. Então, Kael. – olhou atentamente para Pan que estava pensativo perante a sugestão. – Gostou?
- Perfeito! Gostei sim e o meu vai se chamar Narsio. – observou o narciso que estava em sua direção. – Gostou, né. Super original! – deu um riso condenável.
- Hora de pôr as sugestões em prática. A Mãe sempre foi cuidadosa com os seres da Terra, se tivesse mudado a direção do satélite as ondas explodiriam nos campos, se a posição fosse diferente dos graus do planeta no universo não haveria oxigênio e esses números que estou vendo. – abriu o pequeno aparelho que tinha uma enquete sobre o sistema que observava. – 0,0000007. Esse é o número da perfeição! Se houvesse uma pequena mudança. – passou com os dedos sobre a enquete e a pequena simulação mostrava o planeta se reduzindo a poeira. – Dona Zoe é a arquiteta mais incrível desse universo. Quero que isso funcione, Artêmis.
- E irá.
- Podemos fazer uma seleção natural do Rebis, teremos nossos dois avatares, mas colocaremos mais seis criaturas, e veremos como reagiremos a isso.
- Estou ansiosa. – disse Artêmis apenas observando os olhos engenhosos do ser que amava. – Nunca te vi assim.
- Com uma reponsabilidade do tamanho da de um Deus? Não estou acostumado. – deu um sorriso.
- Observe. Isso! 0,008, todo o hidrogênio vai se fundir e criar elementos pesados. Essa química pesada teria nos incapacitado de criar vida. Não teria água nesse planeta. Parece até um berço pronto para isso. – empolgado se pôs a continuar. – Será que é isso que Mãe sempre quis? Que colocássemos seres mais inteligentes para tomar conta? Tudo bem que o objetivo nosso não é bem esse, mas pense. Temos o planeta mais valioso em nossas mãos.
- E iremos usa-lo como subterfugiu de criaturas, reis e deuses irritadiços. Estamos beirando ao terrível.
- Eu sei, Artêmis, mas foi a única coisa que apareceu na minha mente. Talvez se eu lesse os livros de Tyr. Quem sabe. – ambos se puseram a rir.
- Chega de jogar conversa fora, temos algo grande aqui. – disse Pan. – preciso que você traga algumas coisas para mim. Porém preciso ver o número correto do que vou precisar.
- Pan, você é o deus da criação. Está se limitando muito. Você pode fazer isso sem material algum.
- Mas isso não seria nada divertido. E o mais legal é que podemos fazer isso juntos.
- E sou surpreendida novamente. – levou as mãos ao cabelo. E sorriu para Pan e conseguiu encontrar os traços do rapaz de harmonia.
- Por você eu mataria e morreria. – disse e ao ver que as palavras haviam deixado sua amada tímida e lisonjeada, completou. – E lá vamos nós e começou a criar Rebis, fazendo exatamente como havia sugerido.
Em outro reino. Morpheus foi interrompido em sua caminhada pelos gritos de várias mulheres que clamavam por justiça. Um homem havia morrido em suas terras, um homem que compartilhava do sangue de seu conselheiro. Os olhos do deus marejaram e o cenho foi modificado em lamentações profundas. O reino se revestiu de um pesar que fez com que todos os turistas ficassem relutantes ao sair pelas ruas. E o dia se perdeu em uma escuridão.
- Então temos aqui 65% de oxigênio, 18% de carbono, 10% de hidrogênio. Com mais adicionais de 3% de nitrogênio, cálcio para os ossos, fósforo, potássio e enxofre, sódio, magnésio e cloro. – disse em voz solene, embora bem alta.
- Sim, Pan. Tudo esta certo. Hora de misturar?
- A melhor hora querida.
O grupo que estava entrando em Tarsus. Se esforçou para manter a compostura perante o povo que estava empolgado e animado para as mudanças, mas o semblante de Luís simplificava muito do sentimento, sendo seguido pelo corpo morto de Fenrir. O reino se prostrou, e com os rostos no chão das ruas em que Luís caminhava, as lágrimas escorriam. Dos olhos de cada Tarsuíta e aquela foi a noite mais longa de toda uma história. Os homens do reino que tinham a notícia do assassinato guardaram para si, as notícias ruins se acumulavam no colo de um rei que estava despencando em meio as ruinas.
- Pronta para controlar o seu avatar, Artêmis? – disse com o controle em mãos. Um dispositivo com dois botões e um formato oval.
- Pronto!
E assim desbravaram em jogar, observando que os avatares sem alguém controlando começaram a mostrar interesse um pelos outros.
- Olha, nem eles resistem ao sexo! – disse Artêmis com os olhos brilhando.
- Você está empolgada! Estou adorando ver isso.
Os Rebis que estavam sendo controlados pelos dois, mantinham a interação entre eles, porém foi se percebendo que aos poucos os dois começaram a serem rejeitados.
- Vocês são nojentos, não sabem que temos o princípio de escolhermos a quem queremos ter como companheiro. Vocês vivem mudando a aparência de vocês. – vociferou um dos não controlados. O que começou a impressionar os olhos de Pan. Eles estavam sendo hostis porque os dois estavam trocando constantemente de aparência, alternando entre os sexos. Enquanto os não controlados começaram a definir o sexo que mais lhes representariam.
- Isso não é certou, ou vocês serão do sexo masculino ou feminino. Sem discussões. – os olhos de Artêmis não acreditavam naquilo. Estavam se afastando porque os não controlados se sentiam certos por uma escolha, e ao definirem a verdade, excluíram o que para eles eram diferentes.
- Isso é muito triste, Pan. Fizemos os humanos com esse poder de escolha para transitarem com ambas as faces, livres e dispostos a serem completos por si só, mas aqueles... serezinhos perversos. Querem ter um sexo apenas, isso não me incomoda, mas rejeitar nossos avatares. Me dói.
- Então podemos concluir que este rascunho foi um fracasso?
- Sim, ele foi.
E então Pan mandou uma pedra que ao cortar o espaço se tornou algo poderoso que rompeu a troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera e destruiu as vidas que ali estavam. Apenas mantendo a vida de seus avatares. Que por um pensamento de amor, foram levados para o reino de Amour. Com uma pequena carta que enfatizava que eram os filhos de Pan e Artêmis e que mereciam todo o conforto que Amour poderia lhes conceder. Sendo lançado os controles no fogo. Pan bateu em sua testa de maneira assustadora.
- Eu disse que gostava de jogos difíceis, mas esse promete ser bem complicado.
- Eu suspeitei que seria. Mas ainda temos cinco dias para chegarmos no resultado ideal. – ergueu as sobrancelhas. – ou perto dele.
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