O Não Controlável
Arthur embriagado quase a ponto da inconsciência, intoxicado e desanimado com a sua existência e suas escolhas, seu avô lhe dizia que quando tinha a mesma idade havia feito tantas coisas, e ele não ficava melhor após todas as conversas. Era como se a necessidade de ser grande, beirando aos seus vinte anos, fosse algo assustador. E não tão encantador quanto nas series e filmes. "Para o caralho vovô!" Não precisa de uma guerra para ver as coisas morrerem ao seu redor; assim como não é necessário morrer para ver o inferno. Arrastando pelas ruas, nem percebia que seus amigos, Luís e Leticia, estavam ao seu lado. A visão embaçada e o pequenos desconforto o fez sentir o gosto de bile que simplesmente o fez expressar caretas eloquentes. "Para o inferno com toda sua vodca!"
- Será que o Mark está bem? – disse Luís por meio de um sussurro próximo a Leticia, que simplesmente deu de ombros. Afinal, emprestar o ombro para Arthur a incomodava profundamente.
- Prussss Infernussss! - vociferava Arthur, que amplamente era o mais chato dos bêbados da cidade.
- Eu daqui a pouco vou mandar uma mensagem para o Mark, sinto que deve estar acontecendo alguma coisa.
- Sim, ele realmente não estava inteiro lá, senti como se alguma parte dele estivesse em algum lugar bem longe da gente. – e tomando o ar. – Nunca mais saio com o Arthur.
- Ele pisou na bola novamente... – olhou para a face débil do amigo que estava com os olhos semiabertos e pensou que qualquer esperança que houvesse para seu amigo com Leticia tinha ido para os ares.
- Oi, eu sou Mar... digo Marcos, minha mãe está aqui. – disse com os olhos marejados. A enfermeira percebeu a semelhança de uma mulher que havia sido levada para lá e logo deduziu, pediu as informações e o nome completo de ambos. E suas suspeitas realmente eram a realidade. Deu um leve sorriso para o rapaz, a sentido de tranquiliza-lo.
- Vai lá ver a sua mãe, ela está no quarto 23. – e sorriu para o rapaz, que foi recíproco. Embora se sentisse responsável pelo que houve com a sua mãe.
-Pan, você sabe onde foi parar meu controle? – questionou Artêmis, observando que havia mais de um controle na mesa de seu amado, que assim como todos os deuses não havia mudado sua aparência física, mesmo que os anos tivessem se passado, e a estranha garantia de que cada milênio fosse regido por um deus diferente no trono de pedra, fosse parar logo no primeiro escolhido, estranhamente os deuses que eram sugeridos abdicavam da oportunidade e rasgavam em elogios as escolhas de Hades. Que se sentia soberano. E assim o era.
- Eu peguei ele emprestado, estava vendo como eu poderia melhoras as funcionalidades, deve estar nessa bagunça aqui. – e logo tentou encontrar o controle, e nada. Os olhos corriam para cada canto.
- Eu não consigo encontrar. – falou preocupada. – será que alguém pegou das suas coisas?
- Impossível ninguém mexeu nas minhas coisas, eu lembro de estar com o seu controle no jardim e tê-lo colocado junto dos outros que eu estava modificando.
- Será que não caiu?
- Impossível! – disse em um tom mais alto, mas logo se questionou em silencio.
- Paaaan! É realmente impossível? – disse cravando os olhos no rosto que corava e que ao mesmo estava confuso.
- Eu não teria cometido esse erro grotesco.
- E se você cometeu?
- Logo alguém deve estar com ele. – e saiu para traçar o caminho que havia feito mais cedo.
- Os cientistas estão procurando o objeto não identificado, a localização é incerta, estamos aguardando por mais informações – era o comentário de um dos repórteres do jornal da madrugada. A tv do hospital servia apenas para passar o tempo dos entes queridos que estavam ansiosos para saber mais sobre quem eles amavam. A ansiedade fazia com que toda notícia fosse sem graça. E de fato eram. Porém alguns foram enfeitiçados com o objeto misterioso que caiu na Terra.
- Devem ser os ETs! – disse um garotinho de no máximo dez anos.
- Isso não é possível, você deixou cair o controle, Pan! – disse com a voz irritada, observando a expressão do rosto daquele deus que até então estava cheio de orgulho, agora sombrio e aflito.
- Agora eu vou ter que ver onde caiu. – falou indo em direção ao grande computador mudando a tela. A localização estava alertando a partir de pontinhos vermelhos que piscavam no grande mapa. Brasil!
- Quem pegou o controle é um controlável? – questionou Artêmis, torcendo para que sim. Mas a reposta foi o oposto daquilo que esperava. A residência era a casa de Marcos Aurelio Ricci, um cidadão que havia agredido a sua esposa, seu filho e mais alguns homens que estavam em um bar próximo a igreja Conciliação Divina.
- Deve ter sido pego pela mulher! ela está na casa? - impaciente com a descoberta, Artêmis estava em uma situação de ansiedade e apreensão. Escolheu pelos dois sentimentos e Pan, sem muito entusiasmo, apenas fez um gesto negativo com a cabeça.
- Tem alguém lá?
- Não, ninguém. Ambos estão no hospital, ela sofreu de um mal que ainda não foi descoberto pelos médicos.
- podemos ir para lá?
- Sim, podemos. Porém não devemos.
- Mas e se...- Artêmis pensou no pior cenário que veio em sua mente. – ele aperta algum botão de comunicação ou até mesmo de controle.
- Ele poderia controlar o presidente dos Estados Unidos.
- Estamos falando de algo desesperador. Pessoas com essa possibilidade poderá alterar fatos terríveis. O Neskus simplesmente transformou o próprio avatar na besta nefasta que era ideologia dele.
- Os humanos sentiram aquilo não é mesmo.
- Sim, milhões de pessoas morreram pela raça ariana patética que ele induziu o personagem dele a acreditar
- Ainda me pergunto se não demos poder demais ao povo. Os personagens terríveis de toda a história humana alterna entre os mais detestáveis aos que até então muitos admiravam, cidadãos honestos tendo os avatares mais infames, como se a verdade caísse pelas cortinas de uma simulação.
- Uma vez meu pai disse que alguns seres só são bons porque tem uma navalha chamada lei em seus pescoços, quando tirada os seres bons e honestos se transformam nos seres mais desprezíveis, corruptíveis e podres. – disse a deusa encarando o ponto que piscava, o pontinho vivido a fez suspirar inúmeras vezes, a levando para longe e escarnecendo os seus ouvidos, não possibilitando escutar as palavras de Pan, que foram lançadas ao marasmo.
- Mãe, como a senhora está? – se aproximou da cama onde sua mãe estava. Mark olhou para as paredes brancas e com os olhos aflitos.
- Estou bem, desculpa por hoje. Não está sendo dos melhores dias.
- Tudo bem. Ficarei com a senhora hoje – e a madrugada foi cruel, a hora não parecia passar e seus olhos gravados em sua mãe, se tornaram pesados, até que ficou distante e adormeceu.
Ao despertar em meio a batidas gentis da enfermeira, perguntou se ninguém o tinha alertado que ali não era ambiente para adormecer, deu uma leve queixa com os ombros, que não se estendeu. A preocupação de Mark era sua mãe, apenas. Nada, nem ninguém tinha o valor inestimável para o rapaz. Que pegou o celular e percebeu inúmeras mensagens de Luís, ele as ignorou. Decidiu sair do lugar, como já foi solicitado. Informado. Advertido e exorcizado. Se sentia meio ofendido. Mas precisava tomar um café. A barriga estava alertando. Aos céus agradeceu por não estar com dor de cabeça. "Acordar com dor de cabeça é um saco" tipicamente um jovem comum, sem ideia do que estava prestes a acontecer. Chegou em uma lanchonete que estava aberta e o cheiro de café lhe acariciou o rosto. E se sentindo hipnotizado foi até o balcão onde uma mulher estava com a cara mais patética e miserável que ele poderia crer que alguém ficasse em uma manhã.
- Preciso de um café, urgente. Minha barriga está nas costas.
- Bom dia para o senhor também. – a moça estava olhando fixamente para o semblante do rapaz, isso não diminuía a rispidez do seu tom de voz, que embora perceptível, foi ignorado pelo rapaz que completou com um "vou sentar ali" e apontou para uma das mesas vazias.
- Digamos que o erro foi todo meu.
- Sim. Pan. O erro foi inteiramente seu, agora como poderá pegar o controle na casa do humano? – questionou Hades que se levantou na mesa, que por sua vez estava farta de toda sorte de alimentos possíveis.
- Eu irei até a Terra e pegarei o controle, sem alardes.
- Eu espero que seja mesmo. Você vai só? – perguntou relutante, observando o semblante dos deuses que estavam ao seu redor.
- Vou com Artêmis. Por quê?
- Leve Tybalt contigo, ele precisa relaxar um pouco, além de que se acontecer algo imprevisto ele pode ajuda-los.
- Eu não sei se seria uma.... – refletiu no curto tempo que tinha. – Tudo bem, toda ajuda será bem-vinda.
- Eu suspeitei que diria isso. – disse com o ar de ímpeto. A reunião estava terminada e todos comeram até se fartarem e irem embora. Pan não conhecia Tybalt. Tybalt conhecia Pan.
- Obrigado! – disse Mark admirando as curvas da mulher que o servia. Não gostava de ser indiscreto, mas com o brilho dos olhos da moça se sentiu vivo. Ela conseguia em poucos segundos mudar a feição de um jeito engraçado. Deveria ser atriz. Ele enrijeceu o ombro quando sentiu uma mão no seu ombro.
- Luís? – era o companheiro que estava chegando, um pouco áspero, porém sem tirar conclusões perguntou ao amigo sobre o sumiço na noite anterior.
- Minha mãe passou mal, eu dormi no hospital com ela. – e tomou um gole do café que ainda estava bem quente, formando caretas que refletiram num riso desengonçado de Luís.
- Mas, ela está bem? – perguntou o jovem que levantou a mão à fim de pedir um café acompanhado por um bolo.
- Está sim... foi apenas um susto. – e tomou mais um gole do café.
Uma ripa com um prego torto na ponta raspou em seu braço e fez escorrer gotas de sangue. O corte convenientemente não foi profundo. Abriu maior sorriso em seu rosto que no braço. O ser era um macho com uma barba espigada e axilas manchadas de suor. Guerreiro de camisa branca chamam a atenção. Foi quando Ankrarth, percebendo a distância de ambos recitou a magia e fez com que os pulmões daquele ser explodissem, fazendo o pobre cuspir litros de sangue em sua frente. Sorriu novamente e observou a feição nada contente de Tybalt que estava ao seu lado.
- Agora eu entendo o porquê de ninguém gosta de fazer missões com você.
- Inveja?
- Não. É que você é louco. Dá medo.
- Eu sei que você gosta dos meus feitiços. – disse sugerindo que iria dar pequenos tapas no ombro de Tybalt que recuou dois passos.
- Por que será que Pan chamou Hades e os outros deuses?
- Deve estar se exibindo com a simulação.
- Possivelmente.
Mark chegou em sua casa, se jogando no sofá, quando escutou um som que vinha de cima, suspeitava que poderia ser no seu quarto. Um misto de curiosidade com cansaço permeou o seu ser, que decidiu subir as escadas, e a cada degrau o som se tornava mais alto. Era uma serie de vogais, como um teste. A curiosidade se transformou em um pavor que correu como uma lebre por todo o seu corpo.
Ao abrir a porta com todo o cuidado que tinha, se deparou com a pedra aberta e exibia em seu interior botões. Parecia que queria se comunicar. Mark se aproximou e viu que o som era uma espécie de comunicador. Aproximou suas mãos do objeto que realmente era diferente de tudo que já havia visto.
- O que é você? É dos alienígenas? Meu Deus! O que diabos é isso? – o espanto permeou seus olhos que em choque exibiam a sua aflição. Que aumentou ao escutar um som que não lhe lembrava idioma algum. Seu imaginário percorreu todas as referencias que tinha em mente. E engolindo em seco sentiu que aquilo que estava na sua frente não havia sido feito por humanos.
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