Capítulo 44
Matteo
Eu não conseguia entender como o tempo não estava ajudando a esquecer Rebeca. Um mês já se passou e nada de esse sentimento ser somente uma sombra. A falta que ela me faz ainda dói de forma tão intensa como se tivesse sido ontem que ela me expulsou de sua vida.
E se serve de alguma coisa, eu lamento o dia em que a conheci. Amaldiçoou o dia que fui àquele prostíbulo de merda, falar com o imbecil do Martinelli. Amaldiçoou até minha vida, que antes eu tinha adoração por ser o que sou, ter o que tenho. Hoje, eu queria ser mais um somente para eu ter o direito de escolher quem eu quero.
Quem eu amo.
Caralho! Eu a amo. E só descobri isso quando me dei conta que eu poderia perdê-la como eu a perdi.
Para apaziguar minha dor, eu passo pelos lugares que sei que a encontrarei e a observo de longe enquanto trabalha, quando volta para casa. Como nunca fui alguém sem muita paciência e muito menos de dar satisfação das minhas ações, eu sumo e ninguém me importuna.
E agora, para piorar tudo, me condeno pelo que falei a Graziela, quando eu tenho certeza que ela me drogou para ficar comigo. A culpa, que nunca me incomodou, hoje me acusa. Tenho medo de que algo de ruim aconteça com Rebeca e por isso, tenho tentado ter paciência com minha noiva, tenho tentado ser até agradável com ela para que ela esqueça o que aconteceu e deixe Rebeca em paz.
Por isso tenho me odiado cada dia mais. Odeio por estar me tornando esse homem fraco por causa de um sentimento que não consigo abafar. Odeio fingir que suporto meu tio quando tenho vontade de manda-los a todos para o inferno em uma viagem só de ida, mas me contenho porque preciso proteger meus pais, meu irmão.
Minha mãe.
No fundo, eu só sou uma marionete do sistema que eu ajudei a crescer, e ainda o mantenho vivo para meu próprio benefício – adquirir riquezas sem limites. E meu pai, o responsável atual por tudo isso, sempre me lembra das minhas atribuições, obrigações.
Ele estaciona o carro ao longe e eu saio a sua procura. Como não posso me aproximar de Rebeca, eu mando meu irmão ajudá-la com o que precisa. Peço que a assista em tudo aquilo que hoje eu não posso dar.
Continuo sendo o homem por trás de meu irmão assim como era antes. Isso não mudou, se bem que ele prometeu protegê-la antes mesmo de eu pedir.
― Você a viu? Falou com ela? ― pergunto, assim que entro em seu quarto, ignorando os bons costumes.
― Boa tarde, meu irmão. Posso entrar em seus aposentos particulares? ― Por que Lucca tinha que ser tão insuportável? ― Como foi seu dia?
― Não fode, Lucca. ― Ele ri. ― Como Rebeca está?
Não que eu goste que eles se encontrem, mas depois de ele ter me mostrado a foto dela ao sair do salão tão linda, de a ter levado para jantar em um restaurante digno dela, e a viu se alimentar, eu peço (mesmo morrendo de ciúmes) que ele adentre em sua vida para fazer aquilo que eu não tive coragem de fazer ante a minha covardia.
― Cara, juro que eu tenho vontade de dar uma surra naquela sua mulher ― Minha?! Como eu queria que ela fosse minha. ― Mas ao mesmo tempo, ela me faz rir muito. A garota é descarada, sem-vergonha, impulsiva e bruta.
Sim, ela é tudo isso.
― Ela está bem?
― A princípio, sim. Você teve acesso aos exames dela. ― Essa semana eu recebi em mãos o laudo do exame dela que, pelo médico, não tem nada de anormal.
― O médico disse que ela está saudável, só que eu passei pela rua ontem e a achei ainda mais magra e pálida. ― Ela não parece nada bem.
Meu irmão solta um longo suspiro.
― Matteo, ela está sofrendo ― fala, como se aquilo fosse óbvio.
― Ela falou alguma coisa? ― Por que não me permite me aproximar dela se está sofrendo? Por que não nos permite acabar com isso que nos consome devagar?
E o que vai fazer com a noiva, Matteo? Acha que ela vai aceitar ser a outra? E se Graziela descobre que vocês estão se encontrando, vai deixar barato?
Preciso, definitivamente, me livrar de Graziela.
― Ela e você são iguaizinhos. Você aqui amuado, irritado, intransigente em limites acima do normal, entretanto, lembra como foi para confessar que o "sem coração" havia se apaixonado? Ela, assim como você, está morrendo por dentro, mas não diz. Quer vê-la se transformar é citar seu nome. ― Não posso me esquecer do quanto Lucca gargalhou no carro ao me contar que ela derrubou de propósito os doces no chão para não permitir que trouxesse um para mim ― Na verdade, ela se arma até os dentes quando me vê, tentando esconder o quanto está péssima com tudo.
Solto um longo suspiro e resolvo sair do quarto antes de me sentir pior do que já estou.
― Se eu te contar que ela mandou eu me foder, você acreditaria? ― Ri sabendo que é bem a cara dela.
Cheguei a conclusão que me apaixonei por ela depois que a vi naquele vídeo quando me negou. Que a amei naquele instante.
― Nunca achei que ouviria isso de alguém e a deixaria de boa como eu deixo você. Na verdade, eu me divirto com a língua afiada que ela tem. ― Sim, ela era a única que dizia o que pensava de mim e eu deixava porque apesar de ser um insulto, era algo da personalidade que eu amava dela.
― Onde você a levou hoje?
― A levei para fazer compras. Ela precisava de roupas. ― Nunca me dei conta porque em nossa bolha, sempre estávamos nus. ― Rebeca emagreceu e as roupas que tem usado estão um pouco folgadas de mais.
― Ela aceitou?! ― aquilo era estranho.
― Acha que ela aceitaria um homem acompanhando-a? ― Nego. ― Mas aceitou o dinheiro que eu levei.
― Sério! ― ele assente sorrindo. ― Estranho, mas não posso negar que me deixa feliz saber que ela está se permitindo mimos.
― Mimos? Mimos seria se ela fizesse alguma gracinha com o gostosão aqui ― e aponta para si mesmo.
― Como é? Que conversa é essa!
― Estou te sacaneando, meu irmão. Aliás, adoro vê-lo com ciúmes. Se bem que ela é linda e sexy pra caralho. ― Encaro meu irmão sem gostar em nada desse comentário. ― Hoje eu entendo seu fascínio por ela.
― Que porra é essa, Lucca! Tá querendo morrer?
Ele cai na gargalhada.
― Ei, pega leve, fofinho. Eu só estou fazendo isso porque você mandou. Não a convidaria para sair se você não estivesse pedido. ― Até parece.
Ele abre um sorriso.
― Se bem que...
― Se bem nada! Se restrinja a oferecer segurança, atenção e dinheiro. E me alegra saber que ela tem aceitado?
― Tem. Mas sabe o que eu tenho notado?
― O quê?
― Que ela começou a me pedir mais. ― Aquilo chama muito a minha atenção.
― Pedir! Ela tem pedido dinheiro?
"Acontece que essa gata borralheira aqui vive em tempos modernos onde a mulher não aceita determinados benefícios de mão beijada. Ela quer conquistar seus objetivos. Alçar voos com suas próprias asas e venhamos e convenhamos, um homem não transa com uma mulher pela primeira e já vai pagando suas contas." Lembro-me de suas palavras tão decididas e estranho o fato de agora ter mudado tanto.
― Então, quando eu sugeri levá-la para comprar roupas e ela negou minha companhia, entreguei uma grana e ela, após ter contado, disse que era pouco. Que tinha vergonha de dizer, mas precisava também comprar algumas roupas íntimas e o dinheiro não dava.
Tem alguma coisa errada.
― Mandarei o dinheiro por Marco em seu nome ― digo. ― Mas vou pedir para observar se ela tem comprado o que diz.
― Calcinhas?
― Não, idiota! ― Ele sorri. ― Lembra que ela pediu pra comprar panela, sei lá o que mais? Quero que você a visite e veja se ela realmente comprou.
― Sério isso? Ela quer dinheiro como toda mulher quer. E agora que achou um homem que pode bancá-la, tá aproveitando.
Nego.
― Por isso! Ela não é aproveitadora, Lucca. Há algo que ela está escondendo e que nós não estamos sabendo.
Ele nega.
― Cara, na boa. Enquanto ela não pedir algo que realmente faça um furo na minha carteira, tanto faz. Se bem que eu gostaria de vê-la de calcinha... ― saio do quarto batendo a porta com força para não brigarmos.
Odeio o senso de humor de Lucca.
***
Eu estava fora de casa há um bom tempo quando li a mensagem de texto de Lucca pedindo para eu voltar para casa com urgência.
Urgência! Se fosse urgente, papai teria me ligado sabendo que nunca recuso uma ligação dele.
Volto sem pressa para casa, vendo a paisagem passar devagar. O clima estava cada vez mais fresco e eu penso em Rebeca e a sua moradia. A casa dela é fria, se bem que ela pediu dinheiro para consertar o aquecedor.
Ao menos ela está aceitando ajuda de Lucca, o que me deixa mais tranquilo.
Encosto meu carro na entrada principal e vejo o carro do tio Andrea na porta.
Merda! Que porra esse cara quer aqui hoje se nos vimos ontem à noite?
Entro em casa e me deparo com papai, mamãe, tio Andrea e a esposa. Lucca, mais afastado, conversa com Graziela que assim que eu chego, vem me receber toda sorridente.
― Oi, amor. ― Cumprimenta-me, beijando-me rapidamente os lábios. ― Estávamos à tua espera.
Olho para meu irmão que pelo olhar diz que vem merda. E das grandes.
― Filho, senta aí! ― Papai aponta para uma poltrona em frente a todos. ― Precisamos conversar com você.
Olho para minha mãe que tem uma expressão de decepcionada e eu não entendo. Na verdade, a única com uma feição de contentamento é Graziela que grudou em mim como carrapato, sugando minha paciência.
― Veja isso, meu amor ― Graziela me entrega um envelope que eu abro sem entender o conteúdo. ― Leia!
Era um exame qualquer.
― O que significa isso? ― Leio até chegar nas observações.
Não!
Que merda era aquela?!
― Vamos ter um bebê, amor. ― Ela diz, saltitando de felicidade enquanto eu estou vivendo um pesadelo.
― Não! Há algo errado nisso. ― Eu não me lembro de ter transado, o que dirá sem camisinha sabendo que tudo que essa família quer é um herdeiro. ― Não! Isso está errado.
Só assim para tirar o sorriso idiota daquele rosto que eu achava tão perfeito e hoje tenho horror.
― O que você está querendo dizer com isso, Matteo? Que minha filha engravidou de outro homem noiva de você? ― Andrea se exalta. ― O que acha que minha filha é?
Uma cadela que precisou me drogar para me levar para cama. Claro que eu olho para meu pai pedindo que me apoie e ele nega.
Merda, Matteo. Todo mundo viu sua noiva saindo daqui pela manhã depois de supostamente ter transado com você.
― Eu estou justamente hoje aqui para resolver essa irresponsabilidade. Soube hoje pela manhã. ― Andrea continua a falar completamente exaltado. ― Faço questão que o casamento seja adiantado o mais rápido possível antes mesmo que a barriga comece a aparecer.
Não. Não mesmo.
― Não! Não me caso sem fazer o teste de DNA. ― Meu tio parecia que ia explodir do tanto que ficou vermelho. Seu ódio por mim nunca fora tão evidente.
― Olha, seu moleque, seu canalha. Não basta ter desonrado minha filha aos quinze e agora mete um filho em sua barriga e alega que não é seu? ― Sim, esse bebê não pode ser meu. ― Eu mato você, desgraçado ― e vem em minha direção pronto para me bater.
Eu queria. Juro que eu queria que ele tivesse ao menos tentado para eu acabar de vez com tanta hipocrisia e mentiras. Infelizmente papai se coloca entre mim e ele.
― Não precisamos chegar a isso, Andrea. ― Papai diz. ― Não criei um filho que não assume seus erros.
― Eu assumirei, com certeza, se provar que ele é meu.
― Lucca! ― papai o chama. ― Leve seu irmão para esfriar a cabeça ― diz enquanto tenta acalmar meu tio que parece que vai infartar.
Que morra!
― Não preciso esfriar a cabeça. ― Não sou um menino para ser tratado como tal. ― Estou ciente de minhas atitudes e tenho certeza de que eu não tive nada com Graziela.
Tia Paola chora enquanto minha mãe só me encara completamente desapontada.
Meu Deus! Eu e Graziela somos dois adultos. Quantas mulheres engravidam hoje em dia sem qualquer compromisso?
― Meu amor ― Graziela se aproxima, colocando suas mãos sobre meu peito. ― Naquele dia, lembra? ― Como vou esquecer o único dia que supostamente eu transei com essa víbora. ― A gente não se cuidou ― sussurra.
Não!
Eu não seria tão burro, seria? Como caralho eu deixei isso acontecer? Eu nunca transo sem camisinha.
Você estava transando com Rebeca sem se cuidar, Matteo. E se você chamou Graziela pelo nome de Rebeca, qual a possibilidade de ter transado com ela usando camisinha se seu subconsciente via a outra?
Nego, desacreditado em ter cometido tanta idiotice. Parece que eu virei adolescente novamente movido pelos hormônios.
― Mas se você quiser, nós podemos fazer o exame de DNA assim que o bebê nascer. ― Quero saber antes. ― Eu sei que é seu porque você foi o único homem que eu tive qualquer coisa em toda a minha vida, mas se deixa você mais tranquilo ― começa a choramingar como uma criança mimada ― eu assino o que for pedindo a anulação do nosso casamento.
A ideia de adiantar o casamento era algo que me enojava.
― Eu amo você, Matteo. ― Chora. ― É lógico que eu não queria casar assim, rapidamente. ― Ela falava e eu não conseguia processar nada. Meu objetivo era levar esse noivado em banho-maria até eu ter provas contundentes que acabasse de vez com Andrea e sua família. Mas tudo fora por água a baixo.
― Acho que poderemos acertar tudo para que esse casamento saia no mais tardar próximo mês ― próximo mês?
― Eu pensei em casarmos próximo mês, dia vinte e dois. ― Graziela completa o que a mãe sugeriu. ― Assim, teríamos tempo de arrumar tudo e minha barriga ainda não estaria aparecendo.
Ela passa a mão na barriga assustando-me com a ideia de eu ser pai.
Não! Não é a ideia de ser pai que me assusta, é entrar em um casamento cujo objetivo da esposa é me eliminar para ficar com tudo que pertence a mim.
Desde quando você tem medo de alguém, Matteo?
Se ela quer fazer da minha vida um inferno, então vamos ver quem inferniza mais.
― Que seja, minha noiva ― digo, olhando em seus olhos. ― Mas você o tenha na data prevista para nascer, e ainda na maternidade, quero o exame de Dna ― sussurro só para ela ouvir. ― Terei o prazer de matá-la e ainda ganharei o apoio da família diante da traição.
Naquele instante, ela tremeu diante da minha ameaça. Eu somente sorri porque eu teria o apoio de todos, e seu pai não poderia intervir.
Traidor é passível de morte.
Próxima semana - epílogo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro