Capítulo 39
Matteo
― Mãe! ― Eu estava zonzo com tanta informação. ― O que meu casamento tem a ver com isso? ― Questiono-a novamente.
Sua expressão é de alguém com raiva, decepção, insegurança? Não conseguia entender como poderia ter uma série de sentimentos tão distintos sobre uma mesma coisa.
― Você conhece seu tio, Matteo. Ele é fraco, ou melhor, ele é inseguro. Andrea é frio, pensa muito antes de agir, sabe usar as palavras e até persuadir, mas não é alguém que toma decisões e luta por isso até o fim. ― Um covarde, como sempre pensei. ― Por isso ele nunca fez questão de ser o Don. Ele prefere ficar atrás de alguém forte, passando até por uma pessoa tola.
― Mas ele não é. ― Tolo não... Canalha, covarde.
― Não, não é.
― Ele é um filho da puta que sabe guardar informação e manipular a todos ― papai diz irritado e com razão.
Essa é a maior característica de tio Andrea. Até que eu o achava útil, mas não para ser um conselheiro, ainda mais o principal. Para mim, ele era bom em apaziguar as coisas, mas ouvindo essa história, ele guarda informações importantes para usar quando as necessitas. E o maior poder está no conhecimento que propriamente no dinheiro, está na informação que você tem do outro para usá-la a seu favor.
― Ele tem tudo nas mãos. As provas de Pietro, os vídeos dos acidentes, o laudo verdadeiro da autópsia do seu avô assim como o testamento de meu pai antes do filho morrer. ― Mamãe cita.
Que filho da puta! E o pior, ele foi beneficiado com a canalhice dos meus pais!
Não! Isso não é o pior.
― Ele os chantageou? Vocês estão me dizendo que meu casamento é o pagamento de uma chantagem?
Eu jamais aceitaria isso.
― Filho, seu tio não é mais nenhum menino, mas com a saúde de um touro. Fraco como é, ele precisa de proteção, isso sem falar da filha dele. Ele teme que ela meta os pés pelas mãos. Além disso, a fortuna dele é muito menor que a nossa. ― Mamãe inspira profundamente e olha para meu pai. ― Seu tio não confia em nós, afinal, como ele falou, uma mulher que mata o próprio pai é capaz de qualquer coisa.
Eu poderia até concordar se eles não tivessem acordado, não tivessem sido cúmplices.
― E aí ele quer que nos casemos? ― Eu ri negando.
Jamais.
― Sim. Essas provas são uma forma que ele achou para proteger a ele e a filha. Se algo acontecer a eles, essas provas virão à tona. E não só para os membros do conselho, mas também para a polícia.
― Não tem sentido isso, mamãe! ― Retruco sem entender porra nenhuma além da certeza que tio Andrea não presta. ― Por que eu preciso me casar com Graziella?
― Por quê? ― mamãe ri. ― Primeiro: como ele continuará a se manter onde está quando você se tornar Don? Seu irmão será seu braço direito assim como ele é, ou ao menos está, com seu pai. E se tem uma coisa que ele puxou ao meu pai foi o desejo de se manter no poder assim como eu. ― No fundo era uma quebra de braço entre meus pais e meu tio e eu estava no meio. ― E segundo: você defraudou sua prima. Meu sonho de unir você com Graziella morreu com a chantagem de seu tio, mas você fodeu tudo ao transar com ela.
Ri. Eu via jogada em tudo aquilo. Eu começava a ver armação em tudo.
― E? Vivemos em um mundo que virgindade não é mais garantia de casamento.
― Não, não é. Mas para seu tio manter viva a chama do poder que ele almeja e tem, ele faz o que quer.
― Filho ― papai me chama ― há muito que eu quero me desfazer de Andrea. Suas ideias, suas decisões, seus desejos são retrógrados e sem sentido. Quantas vezes eu permiti que você tomasse uma decisão sem consultar seu tio, e perdi as contas das vezes que ele reclamou por estar alheio às decisões. ― Quantos planos eu elaborei e contei ao meu pai em off por achar que meu tio era um traidor, e no entanto, papai aceitou por tudo isso, e não por achar que ele o traísse.
Se bem que tudo isso é uma grande traição.
― Só uma coisa que me incomoda: se isso vir à tona, ele também será preso. Ele foi cúmplice.
― Não, filho, não é bem assim ― papai responde. ― Se você tem um monte de provas, você mostra aquilo que tem, filtrando a informação, tirando o dele da reta. E o que seria a minha palavra contra a dele que tem tudo em papel e em vídeo?
Claro, estou tão atônito que sequer me atentei a isso.
― Já ouviram a expressão "você pode enganar poucos em muito tempo, e muitos em pouco tempo, mas nunca muitos em muito tempo"? ― Estou tentando achar algum furo nesse emaranhado de merda.
― Claro que já. A questão é que não sabemos o que Andrea sabe de cada um, nem de quem, mas dado o apoio que aquele energúmeno tem de todos, e o quanto de coisas fazemos de forma ilegal, só Deus sabe o que ele guarda.
E só então me dou conta do meu relacionamento com Rebeca. Será que o desgraçado sabe que ela existe? E o quanto o filho da puta pode prejudicá-la?
― Resumindo, no fundo o senhor não manda em nada e se eu quiser me livrar desse casamento, só convencendo minha noiva a me largar.
Mamãe nega.
― Você está enganado, filho. Seu pai é como o CEO de uma grande empresa, onde ele manda e desmanda. Somente algumas atitudes é que precisa passar pelo dono dela que deu a ele total autoridade. Andrea só quer estar por dentro de tudo, receber tudo que tem direito sem se estressar com o andamento dela dia após dia. ― Numa empresa não é bem assim, mas entendo a incapacidade de Andrea. ― E com relação a convencer sua prima, esqueça! Além de ela ser louca por você desde a infância, ela sonha em se casar com você e o pai, como alguém que sempre fez todos os caprichos da filha, não consegue negar. Ela colocou como meta ser a esposa do Don. Poder, riqueza, status, domínio. Adoro minha sobrinha, mas reconheço que ela é muito ambiciosa.
― Então ela sabe? ― E eu, como um corno, sou o último a saber.
― Não! Ele jamais contaria que seu casamento está sobre um acordo tão esdrúxulo. Na verdade, preferimos esconder de vocês e deixarmos as coisas seguirem seu curso natural. ― Em cima de tanta mentira? ― Os filhos não deveriam saber dos erros dos pais e pagarem por eles. Você sempre gostou de sua prima, nunca se interessou por outra mulher. Graziella é para mim como uma filha independente do pai que tem. Claro que eu tinha adoração por Andrea até ele se mostrar o canalha que é, ou ao menos usar de sua canalhice em cima de nós.
Será?
"Claro que ele poderia passar a liderança para meu pai, seu sobrinho, e quem sabe fosse esse seu desejo, entretanto sabemos que papai é fraco demais para tomar determinadas decisões que somente alguém como seu pai, você, é capaz." Lembro-me das palavras de Graziella e do quanto ela fala mal do pai. Se ela soubesse o que o pai fez e ainda faz, jamais diria algo do tipo.
"Quero ser como sua mãe - forte, que é ouvida e respeitada pelas decisões mesmo que diante de todos, pareça ser uma mulher dominada e subserviente." Não, ela não sabe.
Ou ela é muito ardilosa? Não, sua futilidade logo a entregaria.
― E se eu não for o Don? ― Não que eu desejasse ter essa possibilidade. Eu serei o próximo na liderança de qualquer jeito.
Papai ri.
― Você sabe que não tem essa opção, salvo se essas provas vierem à tona, e até virão se você abdicar. E nem eu nem Andrea queremos isso.
― Nosso acordo inclui manter os herdeiros de Lorenzo, meu pai, à frente da máfia. ― Mamãe completa. ― E numa situação remota em que você desista de ser Don, nós quatro seremos jurados de morte. Perderemos apoio de toda a família.
Sim. Com uma traição dessas, nem os filhos sobrevivem.
Claro que se conseguirem nos pegar.
Não seja sonhador, Matteo. Seriam quatro contra todo um grupo.
― Por isso o acordo pré-nupcial, Matteo ― papai cita algo que até então eu não entendia. ― Quer nos sacanear, então vamos jogar com as peças que ele nos dá. Graziella não tem direito a nada caso vocês não tenham filhos. Se você morre antes sem deixar herdeiros, ela não tem direito a nada.
― E ainda me colocaria em uma posição de segurança contra as investidas do meu tio ― por isso ele me suporta.
― Exatamente. ― Mamãe sorri ― Não tenha filhos até termos tudo em nossas mãos, esse é meu conselho. Claro que eu sonho com netos e como eu desejaria um filho seu com minha sobrinha, mas nós precisamos tirar o pai dela da jogada.
― E esse é meu. Matarei com as próprias mãos assim que eu souber quem tem todas essas provas em mãos.
― Alguma pista? ― São anos tentando isso e pelo jeito, nada.
― Roma. ― Papai responde. ― Alguém que era de muita confiança de seu tio Pietro que Andrea confia. A questão é que chegamos a pessoas perigosas do círculo antigo dele. Pessoas infiltrada na máfia romana, na política italiana, na alta sociedade.
― Por isso, meu filho, recomendo que aguente calado até que tenhamos tudo em nossas mãos. Depois, se você quiser, pode se separar de Graziella. Uma mulher agora que coloque em risco nossas vidas não vale a pena. Pense bem sobre isso. ― Meu pensamento é garantir a segurança de Rebeca ― Seu pai tem feito o que pode há anos para ter o máximo de apoio, infelizmente a maioria da alta cúpula é do tempo de seu avô. E esses ainda estão na mão de Andréa.
Não quero confrontá-los com relação ao tempo. Se papai faz o que quer, pode ter se acomodado em deixar Andrea exercer sua posição de controle a ponto de aceitar sua chantagem. Mamãe, por ter sua nora dos sonhos dentro do esquema, também se acomodou a ponto de sequer me contar. Isso sem falar que matar o próprio pai é algo que pesa na consciência mesmo de alguém sem ela.
― Posso contar com você com relação ao sigilo? Seu irmão não precisa saber de nada disso.
Confirmo, mas não concordo.
― Pense bem antes de tomar uma decisão que ponha em risco nossas vidas.
― Pai, mãe. O que aconteceria se nós quatro morrêssemos? Para onde vai nosso dinheiro?
Mamãe sorri.
― Para a igreja, meu filho. Tudo será doado para a instituição mais antiga e uma das mais ricas do mundo cujo advogados não são pessoas tão preocupadas com herdeiros indiretos. Eu não tenho irmãos. Seu pai até tem, mas a herança é minha que a propósito, já está tudo passado para vocês na minha falta e vocês sequer têm filhos. Seu tio Andrea perderia mais com a nossa morte do que conosco em vida. ― A não ser que eu tenha um filho.
Mama sorri mais uma vez e me beija como se aquilo fosse um trunfo e eu só penso que tudo está errado. Eu não vou aceitar isso.
Eles saem do quarto deixando-me inerte, pensativo.
Passo um bom tempo esfriando a cabeça, pensando em como começou essa conversa e só então vou até o quarto do meu irmão. Meus pais que perdoem, mas eu não escondo nada de Lucca. Preciso dele como irmão, amigo, confidente e advogado.
― Irmão?! ― Entre no quarto e o encontro deitado na cama, assistindo TV, com o ar-condicionado na potência máxima e ele sem camisa desfrutando do frio.
― Veio apanhar de novo? ― Ironiza e eu olho para seu rosto inchado do soco que eu dei.
― Pelo que eu estou vendo, é você quem está de cara inchada ― Ele abre um sorriso de lado.
― E você inteiro porque eu tive pena de quebrar seus dois braços em três pedaços. ― Ri, aceitando a verdade. O desgraçado é forte e bom na arte marcial.
―Agora é sério, precisamos conversar.
― Se vai perguntar pela Rebeca, vou dizer que ainda não sei contarei o que ela me disse. Aliás, deixo claro que ela é muito especial para um merda como você e odeio o que está fazendo com ela. Rebeca não merece. ― Realmente ele virou advogado dela.
― Eu sei. ― E doeu a verdade.
― E tampouco aceito que você desconfie de mim com ela, se bem que se eu tivesse achado alguém como Rebeca, repensaria sobre minha condição de solteiro convicto e amante de todas.
Respiro fundo.
― Todas menos Rebeca.
― Todas menos Rebeca e Graziella. ― Recorda-me do nome da minha noiva.
― Ok. ― Se bem que se ele quisesse Grazi... Não, meu irmão me irrita mas não merece aquela mulher.
― Agora, conte-me o que veio fazer aqui tão tarde. Foi macho o suficiente para contar a verdade para mamãe? ― Como eu o odeio às vezes.
Inspiro profundamente.
― Meu irmão, o que eu vim te contar é pior do que você imagina.
― Pior do que o que você faz com Rebeca?
― Muito pior ― e começo a contar toda a história que mamãe e papai contaram deixando-o atônito tanto quanto eu.
― Sabe, mano ― ele fala depois de um longo período me escutando ―, eu sabia que mama era gente ruim, mas sabendo disso, ela se superou.
― Pois é. Acontece que nesse instante, eu preciso pensar em como proteger Rebeca partindo do princípio que meu tio já sabe sobre nós. ― Meu irmão coça a cabeça totalmente desperto. ― Com relação ao noivado, tenho um ano pela frente para me desfazer dessa merda que meus pais se meteram e deixaram crescer ao se submeterem àquele energúmeno.
Meu irmão faz um bico.
― Você sabe que o ideal era você se afastar da vida dela ― nego.
― Não posso, Lucca. Não consigo.
― Cara, eu sei que você gosta muito dela, e até compreendo porque ela é linda por dentro e por fora, mas...
― Estou apaixonado por ela, Lucca. ― Confesso. ― Sabe quando tudo que você tem à volta perde valor? Quando tudo que você tem é nada perto da presença de alguém por quem vale a pena até seu último centavo, seu último suspiro. Ela me levou para uma realidade paralela em que tudo era uma mentira, e criou uma verdade absoluta onde o que importava era estarmos juntos. ― Encaro o nada lembrando das vezes que eu fui à sua casa depois de um trabalho exaustivo. ― No início, era somente pelo sexo, pelo orgulho ferido, entretanto mudou. ― Ri ― Adoro dirigir meus carros, mas há muito que não me excito tanto quanto pegar aquela porcaria de Fiat usado porque eu sei que ele só tem um destino.
Olho para meu irmão que está me encarando desacreditado.
― Tenho medo de trazê-la para meu mundo, em contrapartida, quero entregar o mundo para ela. ― Quando eu imaginei que sentiria algo assim por uma mulher? ― Você contou a ela quem eu sou?
― Não. Eu disse a ela que perguntasse diretamente a você qualquer coisa que lhe dissesse ao seu respeito. Mas ao meu, eu não só disse como mostrei quem eu sou.
― Eu soube da bagunça que você fez na porta da casa dela. ― Ele ri como se aquilo fosse nada. E era. ― Como ela ficou?
― Aterrorizada e quem sabe por isso abriu a boca e me contou tudo. ― Minha morena deve estar sem dormir. ― Mas ela é forte, Matteo, e nem se deu conta da força que tem dentro dela ― e me conta tudo que ela contou deixando-me triste e com muito ódio.
Vou fazer cada um pagar tudo que ela passou.
― E eu jurei que a protegeria, Matteo. Jurei que cuidaria dela e que nada nem ninguém a prejudicaria ― meu irmão fez o que eu deveria ter feito.
Estendo minha mão para ele.
― Juramos, meu irmão. Juro que estarei contigo até se precisar passar por cima da ordem do meu pai ou de qualquer outro membro do alto escalão da máfia. Rebeca estará protegida até de nós.
E como quando éramos crianças, meu irmão apertou meu antebraço como eu o dele.
― Ela é nossa protegida.
Meninas
2022 já está indo embora. Desejo a todas um novo ano próspero, cheio das bênçãos de Deus, alegria, paz, amor.
Recebam meu abraço de FELIZ 2023
Xêro
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