Capítulo 31
Matteo
Não consigo acreditar na enorme explanação que minha namorada fez tentando me convencer a algo que meu pai já decidiu.
― Papai já falou que não, Graziella ― meu domingo não está sendo nada bom. Além de ter sido dispensado pela minha morena - o preço de fingir algo que não sou, se bem que se ela soubesse, teria me deixado há tempos – estou aturando Graziella, mama e tia Paola que só falam do noivado daqui a duas semanas.
Agora, ela me trouxe num canto do jardim e fala sem parar sobre uma porra de uma rede de restaurantes que os subchefes já bloquearam depois de meu pai dar a eles o direito de decisão.
E se a decisão foi tomada, papai não volta atrás.
― Meu amor ― odeio esse meu amor quando eu sei que é puro fingimento. ― É uma filial de um dos melhores restaurantes da Itália.
E o que há por trás dela?!
― Don Carlo é o dono por trás desse nome, Graziella. Você sabe disso. — na verdade é uma rede de contrabando e lavagem de dinheiro.
Claro que Don Carlo é somente o homem por trás de laranjas.
― Só que cada restaurante é independente. E Alberto é um chef de primeira. — só mais um tentáculo para adentrar em nosso território, coisa que não conseguiu.
― Por que esse interesse em ajudar esse cozinheiro? Não estou entendendo essa sua atitude.
Ela faz uma cara de vítima, como se tivesse sido acusada de algo.
― Por que essa pergunta? Não posso ajudar um amigo? ― cruzo os braços esperando uma resposta convincente.
― Estou esperando... — digo porque a ideia de ela ser uma traidora é inconcebível. Seria um tiro no pé já que seu pai é o consigliere
― Droga, Matteo! Alberto fará nosso jantar de noivado e o que ele é? Uma pessoa sem qualquer nome que trabalhava em um puteiro que por sinal, você e seu irmão frequentavam. — Sua exasperação é digna de um Oscar de filme de quinta.
― E?
― Tem ideia do peso que será se eu disser que meu jantar foi fornecido pelo futuro chef do La Mama na Sicília?
Parei boquiaberto.
Eu já vi todo o tipo de futilidade em minha vida, mas essa bateu recorde. Ou Graziella é uma grande mentirosa?
Não importa.
― Não! ― assim termino essa conversa. ― Aliás, já que você gosta tanto desse chef, por que não abre um restaurante e o coloca como seu empregado? Ou fala com um dos nossos para associá-lo?
― Sabe que eu não tenho vocação para empresária ou qualquer coisa do tipo.
― E qual a sua vocação além de me encher o saco com sua voz irritante?
Agora eu a irritei, deixe-a chorosa em um papel de vítima tão nojento que se eu não desse um basta de forma estúpida ao tio Andrea, que ficou compadecido da filha mimada que tem, eu seria capaz de sacar a arma e meter um tiro bem no meio da testa.
Deus! A mulher chegava a dar nojo com a birra.
Já meus pais não falaram absolutamente nada. Se mantiveram quietos como se nada tivesse acontecido.
Mas, naquele instante, eu vi algo que me chamou a atenção profundamente: tio Andrea foi grosseiro com minha mãe por minha causa e ela somente abaixou a cabeça em sinal de submissão.
Que merda era aquela?! Mama não baixa a cabeça para ninguém.
O jantar fora servido e a conversa fora a mínima. Assuntos da máfia não eram discutidos diante das mulheres e com uma namorada amuada, não houve qualquer diálogo.
O que foi muito bem-vindo. Eu estava fervendo por dentro e a ponto de explodir.
Quando voltamos para a casa, eu a questionei por aquela atitude e o que eu ouvi?
― Ou você se casa com Graziella ou perde o posto que a ti está reservado ― diz baixo em um tom de ameaça velada como se ela tivesse esse poder.
E quando eu olho para meu pai em busca de auxílio, ele simplesmente confirma.
Confirma?!
Juro que naquele momento eu pensei em dizer adeus a tudo aquilo, mandar a todos para o inferno, mas como eu já disse que sou alguém bem racional, os deixei falando sozinhos na sala e voltei para meu quarto com meu irmão na cola mais perdido que cego em tiroteio.
― Por que isso? ― o questionei e ele só negou tão desacreditado quanto eu.
O que estava realmente por trás daquele casamento?
― Só posso imaginar que a palavra em nosso mundo vale mais do que todo o dinheiro. Era verdade, mas eu sentia que havia algo mais. — É tudo uma questão de honra.
― Honra? Não, não era somente honra. Eu sentia algo podre, sujo que me escapava as mãos.
― Eu não sei o que dizer, meu irmão. São nossos pais.
Tirei a roupa e entrei na ducha querendo esfriar minha cabeça que fervia. Eu sabia que papai suportava tio Andrea pela questão da família, afinal, ele era o verdadeiro herdeiro dos Mancini, não papai. Como também sabíamos que tio Andrea era um fraco, covarde. Um bosta reconhecido até pela filha.
Mas havia algo muito ruim escondido que eu não sabia, não entendia.
Saí do chuveiro com uma ideia fixa: descobrir o que havia de errado naquilo tudo.
Vesti uma bermuda, uma camisa simples, tênis, peguei uma capa e coloquei meu terno dentro além dos sapatos italianos e saí dali sem pensar duas vezes.
Eu começava a entender a necessidade de alguns homens terem outras mulheres. Rebeca estava sendo uma válvula de escape.
― Volto amanhã cedo ― comunico ao meu irmão que dessa vez não fez qualquer graça. Ele sabia que eu estava por um fio.
Dirigir até sua casa, colocando as ideias em ordem, até chegar à porta da sua casa.
E como sempre, ela me recebe com um sorriso nos lábios, só que dessa vez ela pulou em cima de mim, envolvendo suas pernas em minha cintura.
― Meu príncipe está com uma carinha de cansado. ― Enche-me de beijos enquanto eu só fecho os olhos aceitando seus carinhos tão espontâneos.
Ela era um conforto.
― E parece que minha gata borralheira está bem necessitada do macho dela. ― Seu sorriso safado confirma tudo.
Ela se solta de mim e coloca o cabide do meu terno na arara que tem no quarto com algumas poucas roupas penduradas.
― Você não está bem. ― Aquilo não era uma pergunta, era uma afirmação de quem me conhecia o suficiente.
― Problemas, estresse e muita raiva ― respondo e ela acaricia meus cabelos sem fazer perguntas, somente confirmando com a cabeça.
Claro que era estranha aquela atitude. Geralmente mulher é um poço de curiosidade e puxa assunto mesmo quando não é desejado. Mas Rebeca, no seu desejo de viver um conto de fadas, se abstém de entrar em minha vida, o que era um acalento à minha alma atribulada.
Deito-a na cama e como dois adolescentes, nos beijamos, nos despimos, nos acariciamos, nos buscamos lentamente.
Era algo realmente novo para mim. O prazer de estar com ela, transar com ela era diferente de quando eu saía com as meninas do clube. Era uma satisfação que ia além do físico.
Infelizmente, ao buscar a minha bermuda e procurar minha carteira, lembro-me que não a peguei na hora da raiva, e como eu nunca saio de bermuda, nem me atentei.
― Merda! ― xingo, irritado pela situação, excitado pela necessidade de ficar com ela.
― O que foi? — pergunta-me com aquela voz rouca de desejo.
― Tem camisinha aqui?
― Você não trouxe?
― Esqueci a porra da minha carteira ― e ela faz uma careta de decepção tanto quanto eu.
Já tínhamos passado do limite de parar onde estávamos. O prazer chegava a ser doloroso. Eu até poderia fazer sexo oral com ela e daria um puta orgasmo, mesmo que ela me confessasse que o que ela gosta mesmo é do meu pau duro dento dela, preenchendo-a, mas a safada montou em cima de mim.
― Nunca fiz isso com ninguém. Você foi o primeiro e único homem com quem transei. ― Ela diz sem sequer perguntar sobre minha condição de saúde, somente me informa sobre ela como se eu não soubesse.
E senta.
― Puta que pariu! ― xinguei ao sentir deslizar dentro dela.
Sem nada.
― Goze fora, Matt! ― pede e começa a subir e descer. ― Te proíbo de gozar dentro. ― Aquele movimento de ir e vir era enlouquecedor.
Beca não parava de se mexer em cima de mim. Eu fazia um esforço sobre-humano para cumprir com o seu desejo, afinal, assim como ela, um filho não seria nada desejado.
Seu quadril rebolando sobre meu pau, sua expressão de busca pelo alívio, seus peitos balançando com o movimento. Era tudo muito mais profundo, muito mais intenso.
Acontece que aquela era a segunda vez que eu transava sem camisinha na minha vida... não deu outra.
― Merda, caralho! ― xinguei quando vi que fora tarde demais.
Meu gozo foi dentro dela e tão forte que eu só fiz segurá-la para que não saísse antes de eu me esvaziar.
Aquilo fora de longe a melhor trepada que já tive.
― Porra! ― Ela me olha com uma expressão grande de preocupação, desespero e sai de cima de mim, correndo até o banheiro e usando a ducha para se limpar como se adiantasse alguma coisa.
― Desculpa ― digo sentindo-me um adolescente inconsequente.
― A culpa foi minha também. ― Ela entra no chuveiro e eu somente a vejo baixar a cabeça.
― Beca ― entro no chuveiro para acompanhá-la. — Não vamos nos desesperar.
— Não estou. — Ela solta um suspiro. — Não é possível que em um vacilo aconteça uma gravidez.
É possível sim.
— Seria muito azar para um casal que ainda está se curtindo — comento, tentando tranquilizá-la. Sempre há um jeito de se livrar de uma gravidez indesejada. — Só fique calma.
Ela me abraça e eu a acalento em meus braços.
― Estou bem, de verdade. Só vou dar uma saída rápida para a farmácia.
Pensamos igual, mas não se faz necessário ser agora.
― Eu mando trazer amanhã. Não se preocupe com isso agora. — digo.
― Eu sei que a pílula do dia seguinte recomenda até 24 horas após o ato, mas você deve saber que quanto mais rápido, maior a eficácia.
― Eu sei. Acontece que eu não trouxe a carteira. ― lembro-a da minha patética situação humilhante. Tudo bem que eu poderia ligar para um dos meus homens e mandar trazer tudo que eu precisava.
― Eu tenho dinheiro, Matteo. Eu trabalhei hoje e recebi na hora. ― Era evidente seu receio, seu medo, em contrapartida, sua voz era calma de quem está consciente dos riscos e pensando friamente sobre tudo.
Ela sai do chuveiro, se enxuga e volta para o quarto.
― Você não me perguntou sobre minha saúde. ― Ela somente dá de ombros. ― Sabe que filho não é a única preocupação quando se faz sexo sem preservativo.
Ela dá de ombros novamente como se aquilo fosse algo tolo.
― Rebeca, eu estou falando sério.
― E se você tivesse uma doença, me diria? Acha que o sexo oral que nós fizemos não transmitiria algo de ruim acaso você tivesse? Eu confio em mim porque nunca tive qualquer tipo de contato se... ― ela se cala antes de terminar a frase. ― Eu fiz todos os exames antes de vir para a Itália, Matteo. ― Ela muda o foco e me deixa ainda mais convencido que ela veio traficada ou com a proposta de ser prostituta aqui, só assim para justificar esse exame antes de viajar.
Contudo não toco mais nesse assunto.
― Certo. Mas antes, você falou que não teve qualquer tipo de contato se... xual? ― completo sua frase com uma pergunta. ― Nunca perguntei como uma mulher tão linda e morando em outro país poderia ser virgem. Não tinha homens em seu país? — Mudo o foco.
Ela prefere se vestir a me responder.
― Beca, qual o seu problema?
― Eu pensei que os homens não gostavam de saber do passado de uma mulher.
― Honestamente? Eu pouco me importo, como tampouco desejo saber. É irrelevante para mim saber com quem ou quantos uma mulher transou antes de parar na minha cama.
Não é bem assim. Eu adoro a ideia de ter sido o primeiro e único dela.
— Verdade, Matteo? — Ela me olha de lado percebendo que há uma leve falta de verdade.
— Tá bom. Eu gosto de saber que fui seu primeiro e único, como também quero saber sobre seu passado mesmo que eu me irrite em ouvi-lo — confesso.
Ela abre um sorriso lindo.
― Que bom. — Brinca. — Bem, eu não tive mesmo experiências com outros homens. Até os quinze anos, eu estudava em uma escola de religiosa cujas freiras eram muito chatas. E ainda tinha o agravante que mesmo sendo religioso, eu era a pobretona da sala, a que morava em uma comunidade na periferia da cidade, isso meio que me afastava dos grupos compostos dos garotos interessantes.
― E depois dos quinze?
―Vovô faleceu. Eu perdi meu referencial, meu farol. Fiquei jogada ao léu com ninguém a se preocupar comigo. Realmente eu poderia ter virado uma doidinha, só que eu tinha uma dor que me impedia de buscar conforto no braço de alguém, além de um tio que... ― ela inspira profundamente ― não me permitia me aproximar de garoto algum.
Ela desvia o olhar e eu não entendo o que ela escondia ali.
― Esse seu tio deveria se preocupar muito com você ― comento, encarando-a e ela abre um sorriso cínico. ― Seu tio tentou algo com você, Beca?
― Que tal sairmos agora? ― Muda de assunto confirmando e eu só penso em matar o filho da puta. ― Eu sei que é perigoso, mas vamos até a praça. Lá é seguro.
― Rebeca...
― Eu estava pensando. Se eu tomar o remédio, a gente fica meio que seguro para transar. E depois, eu poderia até pensar em tomar remédio assim não precisamos passar por toda essa situação.
Ela não me responde, só segue até a porta, abrindo-a e me esperando.
Era mais uma conversa que ela jogava para o escanteio.
A praça era realmente perto, e até poderíamos ter vindo a pé. Havia vários grupos de jovens conversando, inclusive quando ela desceu do carro, chamou a atenção de alguns rapazes que só pararam de fazer graça quando eu me aproximei dela e a segurei pela cintura.
Minha arma ficava no carro quando eu me encontrava com ela. O príncipe encantado dela não saía com arma em sua cintura.
E aquilo era um risco. O risco que Lucca odiava. Para ele, eu brincava com a sorte. Para mim, eu era somente um cidadão que caminhava nas ruas da minha região e se algo me acontecesse, o dono daquela área pagaria com a vida.
Rebeca conversou com o farmacêutico, ouviu suas recomendações, e depois de pagar, caminhou em direção a uma barraca onde exalava um cheiro de gordura saturada que chegava a causar náusea.
Mais uma barraca de comida de rua que Rebeca se arriscava.
― Você não vai comer essa porcaria, vai? ― ela me mostra o prato com uma porção generosa de Fritullaro – uma iguaria a base de carne, cartilagem e banha. ― Veja as péssimas condições de higiene, Rebeca! — O lugar parecia o banheiro do chiqueiro de tão sujo.
Ela toma um gole de chinoto com o comprimido recém-comprado, e ainda fecha os olhos degustando com prazer daquele prato horrível.
― No dia que você tiver um problema sério gastrointestinal, você para de comer essas merdas. ― advirto-a e ela somente dá de ombros, ignorando-me e retornando ao carro.
― Já falei que você é muito besta, principezinho? ― às vezes eu me impressiono no quanto realmente eu sou tolerante com essa garota. ― Se soubesse o que eu já comi, sequer comentaria.
― E o que já comeu, morena? ― Dirijo calmamente até a casa dela.
― Deixa pra lá. ― e mais uma vez ela me escapa de suas respostas.
Um dia vou te fazer me contar tudo, moça bonita.
Ela termina de comer aquela porcaria, e com a cara mais sem-vergonha do mundo, menos preocupada por ter tomado o remédio, e já com uma cartela de anticoncepcional para dar seguimento ao tratamento após ter conversado com o farmacêutico, ela me convida até a cama já que naquele cubículo que ela morava não tinha tv.
― Acho que você pergunta coisas demais, Matt. ― diz, assim que eu me deito na cama, já em cima dela sem fazer peso. ― Não dá para simplesmente viver o momento sem cavar o passado?
― Eu vivo o momento, morena ― beijo seu pescoço ― mas quero conhecer o seu passado.
E mais uma vez eu posso desfrutar de seu corpo por inteiro, sem barreiras, sem empecilhos.
***
Acordei com um barulho de alguém vomitando fortemente. Olho as horas e não são nem duas da manhã.
― Rebeca! ― bato a porta do banheiro sanfonada. ― Morena, você está bem?
Ela não responde e o que eu ouço é somente o som de alguém que está vomitando até as tripas.
Eu só não digo "eu avisei" porque ainda não é a hora.
― Rebeca, abra essa porta, por favor. ― Peço e ouço mais uma enxurrada de líquido caindo dentro do vaso.
― Vá dormir, Matteo!
Com um pouco de força, rompo o lacre e sua cara é de alguém muito mal.
— Posso ter um pouco de privacidade? — E vomita mais.
— Beca — lamento sua situação, agachando-me junto a ela e a apoiando.
— Você falou tanto... Parece que eu não digeri nada do que comi. — Ajeito seu cabelo desgrenhado, suas lágrimas que caem por conta do esforço.
Força, engulho, náusea. Rebeca ainda ficou mais uns quinze minutos abraçada ao vaso sanitário antes de voltar para cama comigo.
E mesmo assim, eu vi o tanto que ela se mexeu na cama sem conseguir dormir.
A deixei não porque queria trabalhar. Eu percebi que ela queria ficar sozinha pelo mal-estar e seu constrangimento era notório. Exigi somente que me respondesse às várias mensagens que eu enviaria no decorrer dos dias.
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