Capítulo 30
Rebeca
Desde segunda-feira, depois da conversa com Alberto, minha cabeça não parou de repetir suas palavras.
Por que o tal do Lucca pagaria tudo para mim? Difícil acreditar em Matteo quando ele me garantiu que não fora Lucca que fizera a proposta.
Mas isso foi até eu me acalmar e deixar a razão falar mais alto, afinal, se ele tivesse feito uma proposta tão absurda, seu funcionário não estaria dormindo comigo.
Aí veio uma ideia pior. E se não foi Lucca mas o próprio Matteo? Já sei que Matteo ganha muito bem e quem sabe tivesse grana suficiente para bancar uma noite comigo (se bem que o carro dele não é essas coisas todas). E essa loucura parou no momento que eu olhei para o ursinho acomodado em minha cama.
Ele não precisava pagar como não pagou. E muito menos ele voltaria para me ver.
Se bem que nossa primeira vez foi um fiasco... Não, não foi. Ele te levou para conhecer a coleção de carros de seu chefe e ainda passeou com você.
Ele é um fofo, e homens fofos não fazem isso.
Por isso que quando ele apareceu com a garrafa de vinho na mão e uma pizza na outra, eu não pude deixar de sorrir e até brinquei.
E claro, nosso sexo tem sido cada vez mais prazeroso, até porque tanto eu quanto ele temos conhecido melhor nossos corpos, meu corpo já se acostumou com o tamanho dele, e o que fora agressivo da primeira vez, agora tem sido bom.
Matteo tem uma pegada firme, mesmo que eu sinta que ele ainda se segura quando me toma.
Tomamos um banho juntos no meu minúsculo banheiro. Ele diz que se sente uma sardinha dentro da lata e eu brinquei, apertando-o e esfregando meu corpo ensaboado nele, mostrando o quanto vale a pena um lugar apertadinho.
Não deu em outra coisa – sexo. Só não foi no chuveiro porque a camisinha estava do lado de fora e se é uma coisa que temos nos prevenido é com isso.
― O que você sente quando degusta, Rebeca? ― Agora, Matteo está me ensinando a tomar vinho como se essa coisa amarga fosse a melhor bebida do mundo. ― Feche os olhos e diga o que sente.
Faço o que ele manda, mas nada funciona.
― Amargor. ― Ele se irrita. ― Será que posso colocar um pouco de açúcar? ― Brinco.
― Pelo amor de Deus, Rebeca! Você não tem ideia do que está falando? Esse vinho foi premiado pela qualidade, sabor, acidez e você quer pôr açúcar?! ― Abro um sorriso enorme olhando para ele e pego mais uma fatia de pizza, que por sinal está maravilhosa.
― Não é ruim ― dou um gole no vinho e ele me olha feio porque não bebi água para tirar o sabor da pizza como se isso fizesse diferença. ― Eu não gosto de bebida alcoólica, Matteo. Eu não curto, será que você não entende?
Aquilo estava sendo um insulto pior do que xingá-lo.
― Vinho é diferente, a ponto de termos muitos profissionais para isso. ― Contesta. ― Há todo um procedimento desde a plantação dos vinhedos, ou melhor, vem de antes com a preparação da terra, passando pela fermentação até serem engarrafadas. A rolha, a adega onde eles ficam armazenados, posição da garrafa, temperatura do ambiente, tudo contribui para uma bebida espetacular como essa.
Abro a boca fingindo um bocejo e ele chega a trincar os dentes.
― Assim como há profissionais para preparar um bom uísque, uma excelente vodca, cerveja e tantas outras bebidas ― e dou um beijinho para tirar sua raiva.
Ele nega.
― Você é um caso perdido. ― Conclui.
― E você é um bobo por estar tentando me ensinar a gostar de algo que não me agrada. ― Como a coisa entre a gente estava em um terreno firme, entre beijos, brincadeiras e mau humor que não passava de uma brincadeira, eu achei a brecha que precisava para puxar assunto e tirar todas as minhas dúvidas. ― Matteo, eu preciso te perguntar algo.
― Pergunte. ― E pega a minha mão acariciando-me com o polegar.
― Eu já te fiz essa pergunta e até sei a resposta, mas essa semana eu soube de algo e preciso entender. ― Sua expressão não muda diante de minhas indagações. ― Eu fiquei sabendo que seu chefe, o doutor Lucca, pagou minhas despesas e a minha rescisão. Sabe dizer algo sobre isso?
Matteo parece que precisa de tempo para processar a pergunta ao me encarar.
― Você me disse que ele não fez a proposta... aquela proposta! Mas tem algo me matando: por que ele pagaria minhas contas?
Ele toca meu rosto, acaricia minha bochecha.
― Qual verdade você quer saber? A verdade verdadeira ou a verdade enfeitada para seu conto de fadas? ― Viu como ele era um fofo! Essa preocupação dele é o que mais me encanta.
― A verdadeira ― respondo, torcendo que fosse uma verdadeira para meu conto de fadas, por isso fecho meus olhos com medo de saber a verdade nua e crua.
Eu já sei mais do que eu queria saber e por isso eu tenho medo de adentrar nesse mundo escuro e sinistro que Matteo vive.
Ele aperta minha mão e eu abro os olhos, pronta para encarar a realidade.
― Lucca estava lá quando tudo aconteceu ― assinto, prestando atenção às suas palavras. ― Na verdade, Lucca tem aquele lugar como sua segunda casa e isso não é novidade para ninguém. ― E as meninas o adoram. ― Eu também posso garantir que ele não fez a proposta, mas ficou, digamos, indignado com o comportamento de Martinelli ao exigir algo de você, e não aceitar quando você negou.
Não sei o que pensar.
― E para piorar, você passou mal, caiu desmaiada pelo estresse, pelo pico de pressão alta diante de tanta porcaria que estava ingerindo, e como não poderia ser diferente, ele a ajudou. Já Martinelli, preocupado com o bem-estar do seu cliente poderoso, preferiu ignorá-la e Lucca, ao saber de tudo, sendo conhecedor das leis trabalhistas já que é advogado, não aceitou aquela conduta tão reprovável de Martinelli.
Tento colocar minhas ideias em ordem o que estava difícil.
― Mas eu estava ali sem qualquer direito.
Ele confirma.
― Por isso ele somente ajustou seu pagamento. Brigar com Martinelli por algo que ele sabe que é errado, mas não tem como provar, ou até tem mas as consequências são maiores que a indenização, não vale a pena.
Eu não sabia o que pensar. Há gente boa assim? Pessoas conhecidas pela má índole podem ser boas a ponto de ajudar outro sem pedir nada em troca?
― E por que ele faria isso por alguém que não conhece? ― Ele dá de ombros. ― Ele sabe quem fez a proposta? ― Seu silêncio é o suficiente para eu saber que sim. ― Quem?
Ele nega.
― Quem fez a proposta, Matteo?
― Faz diferença pra você saber quem foi? ― Eu queria dizer que sim, entretanto, para que saber um nome já que eu não vivo nesse mundo? ― Esquece isso, morena. ― E me puxa pela mão, colocando-me em seu colo e abraçando-me.
― Eu só queria saber quem foi o nojento, babaca, imbecil, que só fez foder minha vida ao me demitirem depois de eu passar mal ― sinto seus braços me apertarem.
― Pense que você está livre daquele lugar. Pense que você está longe daquele crápula que é Martinelli.
Verdade. Martinelli é um crápula assim como esse homem misterioso nojento. Provavelmente é feio, gordo, barrigudo, com um pinto pequeno e fino que precisa de remédio para subir.
― Você tem razão ― me aconchego em seu peito. ― Só que eu não sei o que pensar do porquê de um estranho pagar minha conta.
Ele beija minha cabeça, acariciando minhas costas.
― Pense que Lucca é quase que um sócio de Martinelli naquele lugar. Nada mais justo que pague também suas dívidas. ― Que tipo de sociedade um advogado teria com um dono de um puteiro?
É quase um sócio não exatamente é sócio. E ele já disse que Lucca tem aquele lugar como sua segunda casa. Só uma forma de se expressar.
― Acho engraçado como você chama seu patrão pelo nome ― comento ao ouvi-lo falar tanto Lucca sem qualquer pronome, ainda mais de um advogado.
Ele não comenta nada, somente sorri.
― Deixe-me perguntar: domingo pela manhã estarei livre. Posso vir te ver? ― A mudança repentina do assunto não me chamou a atenção tanto quanto aquele convite inusitado.
Como eu queria muito me encontrar com ele, passar mais um tempo com ele.
― Infelizmente, consegui um bico justamente nesse domingo. ― Lamento tanto quanto ele.
― Há algo que eu possa fazer para que não vá? ― nego.
― Não dá, Matteo. Eu preciso trabalhar ― ele revira os olhos como se aquilo fosse um detalhe superestimado. ― Mas você pode vir a noite dormir aqui comigo. Prometo que coloco o alarme para tocar bem cedo. Falando nisso, você não teve problemas, teve?
― Não, Rebeca. ― Ele acaricia meu rosto. ― Eu não tive problemas. Alguém resolveu tudo por mim.
Fico feliz. O pouco que eu conheço dos filmes e a rápida passada que eu dei por esse mundo me faz tremer somente com as consequências de uma falha.
Acaricio seus cabelos macios, grossos, olhando dentro dos seus olhos.
― Eu já te disse que adoro a cor dos seus olhos? ― Ele beija minha mão. ― Um azul puxado para o cinza. Diferente. Lindo.
― Você também tem olhos lindos, morena. Adoro esse verde.
― Mas o meu é comum. Eu acho ― ele nega. ― O seu não. Nunca tinha visto uma cor de olhos assim em alguém pessoalmente. Já vi muito azul, cada um mais belo que outro, mas os seus olhos...
― É a marca registrada dos homens da família. Meu irmão, meu tio, meu avô e o irmão dele tinham essa cor. ― Ele passa o dedo suavemente em minha sobrancelha. ― E seus olhos assim como você toda não tem nada de comum. Você é especial.
O abraço apertado, sentindo uma segurança que até então eu não sentia. A última vez que eu me senti tão segura e amada fora no meu aniversário de quinze anos, antes de vovô falecer.
"Você é muito especial, Beca."
― Posso te pedir algo? ― Ele assente, prestando atenção. ― Me chama de Beca.
― Beca?
― Beca. Mamãe detestava que meu avô me chamasse de Beca porque beca é a roupa dos formandos. Ela dizia que era muito brega.
"Além de feia, é cafona"
― Mas eu gostava quando vovô me chamava. Era carinhoso e doce. ― E você tem me enchido de carinhos, beijos mesmo que sejam diferentes dos dele.
Você me faz sentir mais que amada. Nem Cat, com toda a sua graça e sua ajuda me fez me sentir assim.
― Tudo bem, Beca ― ele brinca com um cacho de meu cabelo em seus dedos. ― Gosto de Beca.
― Eu gosto da forma como sai de sua boca, Matt ― Ele ri.
― Não sei se te responderei acaso me chame assim, dona Rebeca. ― Eu sorri.
Saio do seu colo e vou até a cama, tirando a camisa e a calcinha.
― Vem me fazer companhia, Matt ― Ele ri ruidosamente desacreditado. ― A cama está grande e fria. ― E ainda bato na cama mostrando o lugar que quero que ele fique.
― Safada! ― Ele caminha em minha direção, retirando somente a boxer que estava vestido, parando ao lado da cama. ― Isso não vale.
― No jogo da sedução, vale tudo, benzinho ― digo olhando em seus olhos que queimam de desejo.
― Garota, garota, não me provoque. ― Sua ameaça hoje me diverte.
E pensar que ele já apontou uma arma para mim.
― Não posso te provocar? ― brinco, colocando minhas mãos sobre seu pênis ereto. ― Mas assim pode? ― e levo minha cabeça para a altura de seu membro dando um beijinho na ponta. ― Posso brincar com ele, Matt? ― e passo a língua por toda a sua extensão. ― Ou não vai me responder, Matt?
― Você não vale nada, morena. ― abocanho somente a cabeça tirando um gemido dele ― Me chame da porra que você quiser... eu não me importo com... ― e solta um suspiro.
E eu lhe dei prazer a ponto de ele gozar em cima de mim, e aquilo foi extremamente gratificante.
Definitivamente, eu estava me apaixonando por esse projeto de mafioso.
***
O brunch estava de vento em polpa. Ontem, tínhamos mais gente no almoço depois de trabalharmos toda uma manhã começando ainda pela madrugada. Em compensação hoje, mesmo com menos gente, não estava sendo tão estressante tanto porque era um lanche altamente sofisticado, e menos pessoas a serem servidas.
A pedido meu, eu preferi ficar na cozinha com Alberto e mais um ajudante. Alberto, para me ajudar, mandou eu preparar brownies mesmo que eu os achasse simples para serem servidos em uma mesa para mulheres tão finas. Claro que havia crianças e até pensei que elas tivessem sido minhas principais clientes, mas não. Muitas mulheres apreciavam dessa iguaria americana que eu adorava fazer por ser simples e saborosa.
Os croissants eram outros que a medida que saíam do forno, eram servidos e sumiam rapidamente. Os sucos, cafés e chocolates quentes eram feitos na hora e todo tempo. Não dava tempo de esquentar ou esfriar, de acordo com a receita.
Claro que tudo fora muito elogiado assim como ontem quando o anfitrião agradeceu Alberto pelo almoço espetacular que lhe fora servido.
Já havia passado da hora do almoço quando todas começaram a se despedir. Essa foi a única hora que eu saí da cozinha para limpar a mesa.
― Senhorita Ricci, continua bela. ― Alberto cumprimenta a mulher mais linda que eu já vi pessoalmente.
― Obrigada, Alberto ― ela o cumprimenta de forma amigável e sem muita alegria.
― A senhorita falou com teu pai? ― Ele pergunta e eu não posso deixar de me impressionar com a beleza dela: alta, magra, elegante, com uma vasta cabeleira negra, lisos e pesados.
― Falei, Alberto. ― Não que eu estivesse interessada em ouvir a conversa, mas além de torcer para Alberto, eu não conseguia deixar de admirar aquela mulher até... ― meu pai não teve tanto êxito, vou tentar reforçar com meu noivo. ―... que ouvi melhor a voz dela...
Jesus! Parece que eu estou num jardim de infância.
Comecei a rir ao lembrar de Felícia de Pink e o Cérebro.
"Eu amo os bichinhos."
― Sabe que eu tenho interesses em ter um La Mama aqui. ― Segurei a risada. ― Não só aqui como em toda a Itália.
Gente do céu. Como era difícil prender o riso diante daquela mulher.
Pare de rir, Rebeca!
― Imagina para mim, infelizmente a milícia disse que ainda está em fase de estudo se eu devo abrir uma filial aqui ou não.
― Vamos resolver tudo isso, Alberto. Meu noivo conhece gente grande desse meio e ele vai me ajudar. ― Pobre noivo.
Vai que ele gosta justamente dessa voz infantilizada... ou de amordaçá-la.
Mesmo que eu lamentasse aquela conversa, não era ela quem chamava a minha atenção. E eu já estava correndo para terminar de desmontar os arranjos antes que eu explodisse em uma gargalhada.
― Garota ― olho para um lado, para o outro e vejo que a Felícia está falando comigo.
― Pois não? ― Abri um sorriso tentando parecer amável, só achei que foi grande demais para tanta amabilidade.
― Vai ficar por quanto tempo mais arrumando isso? Perdeu alguma coisa aqui? ― Além de ridícula, era uma grossa.
Totalmente Felícia.
― Senhorita Ricci, essa é minha ajudante de cozinha Rebeca. ― Tentei parecer o mais profissional possível para não prejudicar Alberto.
― Desculpa, senhorita Ricci. Só estou fazendo meu serviço. ― Mordi meu lábio para responder aquela criatura tão detestável quanto a do desenho animado
― Suma! E quando eu sair, você volta, imprestável.
Que mulher nojenta, meu Deus!
Olho para Alberto porque aquele projeto de passarinho esganiçado não era nada minha, e Alberto gesticula para eu sair e deixá-lo a sós.
Bundão.
Pego as coisas que já tinha arrumado de cima da mesa e os levo para o carro bem irritada, e de longe, observo-a conversando com Alberto. Tá, que ela é linda ela é mesmo que tenha um nariz um pouco grande, bem característico dos italianos.
Quando a vejo se despedir, volto para a mesa para retirar o resto das coisas quando Alberto se aproxima.
― Desculpa a situação, Rebeca ― sério que reconhece que está errado. ― Graziella é um pouco mimada demais e até arrogante as vezes.
― Mimada demais? As vezes arrogante? Quanta gentileza, Alberto! ― Ele sorri sabendo que estou coberta de razão.
― Você sabe quem é ela, não sabe? ― Nego. ― Ela trabalhava como modelo, mas se aposentou das passarelas.
― Nunca a vi e agora menos vontade tenho. ― Ele abre um sorriso de tristeza. ― Para que precisa dela?
Ele meio que crispa os lábios pensando bem o que dizer.
― Eu te contei que há dois caminhos para abrir qualquer coisa aqui na Sicília.
― Você me falou: o legal e o ilegal.
― Exato. Quem está emperrando é a parte ilegal.
― Eu não entendo, Alberto, por que a máfia ― ele olha para os lados como se eu tivesse falado um palavrão ― se mete em uma abertura de um restaurante? Não é só pagar pela proteção ou sei lá o que eles querem?
Alberto abre um sorriso, faz um carinho rápido em minha cabeça.
― O negócio é mais embaixo, Rebeca, muito mais embaixo ― e me deixa sem entender.
Foda-se! Desse mundo eu quero distância.
Acho engraçado os comentários. Que Matteo está sendo um babaca, não tiro isso, mas há uma característica muito peculiar dentro da máfia que é a palavra, até porque eles não podem ter muita coisa por contrato. Matteo deu a palavra dele e aí já era.
Além disso, ele é como qualquer um abaixo do Don mesmo sendo filho e provavelmente o próximo na liderança, mas ainda não é. Vamos por partes.
Pretendo terminar o livro 1 ainda esse mês, no mais tardar na primeira semana de dezembro já que vou viajar. Se liguem no desfecho do primeiro livro.
Dica: as mulheres desse livro são piores. Não confiem em nenhuma delas (ups)
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