Capítulo 27
Matteo
Eu passei uma semana de merda, cheia de serviço e problemas.
O sobrinho de Don Collalto se mostrou bem maleável após termos assassinado seu tio e deixado evidente que fomos nós. Claro que nos primeiros dias após a morte de Collalto, alguns integrantes da máfia Calabresa tentaram investir contra nós, coisa que não permitimos porque fechamos o cerco contra todos eles. Éramos mais fortes, mais organizados e mais letais tudo isso sob o meu comando.
Papai foi impiedoso nas negociações, não mais exigindo nossos limites pré-definidos como o controle de áreas antes tomadas por eles, isso tudo tendo várias famílias deles sob a nossa mira. Foi então que o novo Don se viu obrigado a negociar.
Papai tinha anos à frente da liderança, Fernandes estava assumindo aquilo pela primeira vez, mesmo com uma vasta experiência como braço direito do tio. E como prova de trégua, recebemos os homens responsáveis pelo assassinato dos membros da nossa família, e seus parentes mais próximos o eliminaram da face da terra.
E durante toda aquela adrenalina eu estava bem, mas quando a coisa passava, era a risada, a conversa, a emoção de Rebeca que me vinham à mente.
A quinta-feira chegou e mesmo que ainda estivéssemos sob fogo cruzado, eu senti que faltava algo e então me dei conta que era ela. Claro que esse dia eu sempre o tinha reservado para mim: era o dia que eu relaxava na fazenda, ou não, a depender do que estava acontecendo, e mulheres eram levadas para me saciar. E mesmo que eu estivesse ido à fazenda e tivesse feito tudo que eu geralmente fazia, nada me tirava as lembranças daquela morena. Até as mulheres que haviam ido ao meu encontro não puderam me satisfazer como eu queria. Depois do sexo eu tive raiva.
Meu corpo resolveu me sacanear ao ansiar por ela. Meu corpo desejou a presença dela, o beijo dela, a risada dela. Inclusive tentei abafar suas lembranças ao sair com Graziella na sexta e no sábado. E mesmo que ela tivesse me excitado na troca de carícias ousadas, era o rosto da Rebeca que eu via.
Era ela quem eu queria.
Busquei informações à respeito dela e por mais que eu buscasse, não encontrava nada. E foi aí que eu me dei conta que aquilo era o modus operandi da máfia.
Mulher bonita, gostosa, jovem, virgem, pobre e oriunda de países subdesenvolvidos era o principal alvo de grupos de tráficos. Mas de qual? Qual facção a havia trazido? Será que era algum dos nossos inimigos ou de algum grupo nosso? Como não havia qualquer registro dela de quando chegou, onde ficou hospedada, por quanto tempo, por onde andou, eu não sabia nem por onde começar.
Nada.
Por isso o medo, o fato de se esconder, de mentir.
Sorri com a ideia de ver uma garota fugir, de burlar todas as nossas diretrizes de segurança quando temos tudo em nossas mãos.
Ela estava conseguindo.
Por isso a venda nas ruas, sem conta bancária, sem registro. O lugar onde ela mora não tem qualquer contrato, e todas as contas vem em nome do Mattia – o amigo travesti. O único lugar que conseguiu um emprego foi justamente em um bordel onde não se faz a menor questão de qualquer vínculo empregatício.
Rebeca era uma fugitiva da máfia. Estava óbvio.
Contei para o meu irmão que apenas sorriu dizendo que eu estava ficando obcecado pela garota, e que se ela fosse realmente uma vítima de alguma corporação, mais cedo ou mais tarde ela seria pega e que o melhor era ou entregá-la, ou esquecê-la.
Dispensei Graziella depois de um almoço em família no domingo, voltei para minha casa, peguei a porcaria do carro do Marco emprestado já que eu mandei dar fim no Fiat que ela quebrou o para-brisa e fui ao seu encontro.
Juro que eu queria somente conversar e confirmar o que havia descoberto, mas ao passar por uma tenda de flores no caminho, lembrei-me do meu irmão:
"...vai atrás dela com um enorme buquê de rosas, um bicho de pelúcia do tamanho de seu arrependimento e pede desculpas." Eu não estava arrependido e muito menos desejando pedir desculpas, pelo contrário, ela é quem tinha que me pedir desculpas se quisesse minha ajuda para livrá-la da enrascada que se encontrava, mas tinhosa como era, eu precisava de algo para me aproximar, tanto que comprei o mais insignificante arranjo que vendiam.
Acontece que ao bater à sua porta, vê-la em sua simplicidade e com os olhos brilhando ao receber aquela coisa medíocre, eu lamentei.
Lamentei o dia que eu a vi pela primeira vez.
Eu a queria tanto que meu pau, somente ao olhar para ela em seu avental sujo de chocolate, um cacho solto em sua vasta cabeleireira presa em uma touca horrível, e seus olhos verdes encarando-me, ficou duro.
Era como ele quisesse terminar o que não havia conseguido da primeira e única vez.
Tentei conversar, abrir o jogo para ela, mostrando-me o mais racional possível. Eu não era mais um adolescente, eu era um homem, ou ao menos eu deveria ser porque tudo ali levava à vontade de possuí-la, cheirava a sexo. Até a calda de chocolate era um convite.
E foi ela quem desmantelou tudo ao me beijar quando a coloquei pressionei. Se tudo já estava errada, se eu já não raciocinava direito, se eu não conseguia ser o homem que geralmente sou, então resolvi me aproveitar daquilo que sentia falta.
Só que dessa vez eu queria ser diferente. Somente minha prima-namorada, aos quinze anos, conheceu esse lado meu. O lado carinhoso que geralmente eu não mostrava para nenhuma mulher.
Achei uma graça vê-la envergonhada por sua roupa íntima quando eu pouco me importava. A sensação que eu tinha era de alguém que vive em hotéis de altíssimo luxo, mas sonha em voltar para casa e deitar na cama mesmo que fosse bem mais simples; ou sentar à mesa diante de banquetes de altíssimo luxo, quando o que se quer é somente aquela massa caseira preparada do jeito que adora.
Rebeca era isso - minha cama simples, minha massa caseira.
Isso era algo confuso até para mim.
― Não me chame de puta. Nem de nada... ― Como eu poderia depois de descobrir que somente eu tive acesso irrestrito. Rebeca não tinha a menor frescura, ela se entregava sem medo, sem restrição, isso me dava a certeza de que outros não tiveram a chance que eu tive.
Aquela boceta só tinha conhecido um pau – o meu. E dessa vez eu a levaria ao máximo do prazer antes de tomá-la. E como um faminto, eu me lambuzei daquela baba, brincando em sua entrada com a língua, bebendo do seu líquido como se pudesse matar minha sede, enchendo-nos de prazer, preparando-a.
E ela gozou em minha boca, escorrendo sua umidade por entre meus dedos que a tomavam enquanto eu a chupava.
Me preveni mesmo que minha vontade fosse entrar nela e sentir na pele sem barreiras, e devagar, olhando em seus olhos, eu a fiz novamente minha.
Simplesmente, minha.
Ela fechou os olhos como quem sentiu alguma dor e a lembrança de sua primeira vez, da camisinha suja, do seu grito e seu corpo retesar veio a mente.
― Machuquei? ― pergunto.
― Só um pouco, nada comparado com a vez anterior ― responde e eu lamento.
― Será que você não poderia substituir o sexo de hoje com o da primeira? ― questiono entre beijos no pescoço, aumentando sua excitação, tentando fazer esquecê-la.
Sugo seu seio, brincando com a língua até vê-lo se arrepiar e endurecer
― Não, até porque não foi ruim a primeira vez. ― Sua voz grave me excita e eu a penetro mais um pouco. ― Claro que hoje está sendo bem melhor.
Mais um pouco e ela geme.
― Na próxima vez ainda será melhor ― eu estava todo dentro dela, desfrutando daquele canal apertadinho. ― Porra, Rebeca, você é uma delícia.
Ela ri.
― Eu sei ― a sem-vergonha brinca, fazendo-me graça no meio do sexo.
― Eu também sou ― contesto, começando a me mover, aumentando meu prazer. ― Mas você é mais... muito mais.
Eu queria ser um tanto cauteloso, mas quando se está perto de gozar, a racionalidade começa a escorrer pelo ralo. Rebeca já não se mostrava dolorida, muito pelo contrário, abrindo-se mais a mim a ponto de colocar suas pernas em volta da minha cintura.
Era algo diferente.
Único.
E pela primeira vez na minha vida, eu gozei olhando nos olhos da mulher.
Minha.
***
Agora nós estávamos sentados naquela cama pequena, dura, comendo uma massa que Rebeca, mesmo não sendo italiana, havia preparado, isso depois que ela me obrigou a picar os tomates e provar até que estivesse do jeito que ambos gostávamos.
― Os raviólis estão maravilhosos ― elogio a perfeição de sua culinária.
A garota tinha todo um jeito de cozinhar.
― Obrigada, mas não posso negar que tive um bom ajudante ― e me beija os lábios, brincando, jogando charme.
― Pois fique sabendo que eu não cozinho nem ovo ― confesso ―, e só o fiz porque você me obrigou.
Ela faz gestos de quem está vibrando por ter conseguido algo único.
E tinha.
― Agora, que tal conversarmos um pouco mais sério ― digo enquanto passo o pão no molho que sobrou no prato. ― Antes de você me agarrar e me usar para seu prazer.
Ela soltou uma gargalhada e eu me pergunto quando foi que eu tive senso de humor.
― Não posso negar que você foi uma fonte de prazer indescritível ― ela fala cheia de autoridade como se fosse totalmente entendida do assunto ―, mas eu acho que foi bom para ambos, não foi?
Peguei o prato dela, o meu, coloquei no chão com cuidado e a puxei para meu colo.
― Você não tem ideia do quanto foi bom. ― E nem precisei mentir. Era como se eu tivesse ganhado um fôlego. ―Mas agora é sério. Eu preciso saber quem foi o homem que te trouxe para o Brasil e de que organização ele era. ― Direto e objetivo. Eu não deixei sequer margem para ela dizer que eu estava imaginando coisas.
Ela tenta sair dos meus braços, fugir, coisa que eu não permito.
― Matteo ― ela inspira profundamente. ― Se não quiser sair daqui agora para nunca mais voltar, é melhor não tocar nesse assunto. Eu não vou contar para você como, quem, quando, onde, nada desse episódio da minha vida.
Nego, sabendo que aquilo deveria ser doloroso, mas se ela quisesse minha ajuda, eu precisava ter todas as informações.
― Rebeca, eu preciso te dizer algo. ― Ela nega veementemente. ― Eu sou da má... ― ela põe a mão sobre minha boca, impedindo-me de continuar.
Ela estava quase entrando em desespero.
― Eu não quero saber detalhes de quem você é, para quem você trabalha, o que você faz, fez e fará. Eu aprendi que quanto menos você sabe, melhor para todos ― ela acaba de me confirmar aquilo que é uma regra em nosso mundo.
― Rebeca!
― É assim ou adeus, Matteo ― ela sai do meu colo e pega um roupão que estava na cara que deveria ter pertencido a amiga dada a estampa bem colorida.
― Você não entende? Você sequer me deixa falar. — Ela põe as mãos nos ouvidos como criança birrenta.
― Porque eu não quero saber ― grita irritada. ― Será que eu não posso viver, por um instante, um conto de fadas?
Conto de fadas?
― Você está louca? Acha que eu sou alguma fada madrinha ou que vivo nesse mundo de fantasia que você pintou? ― Voltou a ser a burra que eu conheci.
E ela abre um sorriso me desmontando.
― Transar com você, fazer raviólis, preparar um molho de tomate e depois jantarmos é meu conto de fadas ― puta que pariu! Aquilo me deixou sem palavras ― Não quero mais nada que viver isso de vez em quando. Nem compromisso eu quero. — Sem palavras. — É muito pra você?
Eu não estava acreditando no que estava ouvindo. Era uma situação perfeita para um homem como eu.
― A propósito, sei que está na ordem errada, mas eu preciso te perguntar: Você é casado?
Sorri sabendo que mesmo que eu fosse, não faria diferença para alguém que quer o que ela deseja.
― Não! ― Nego porque era a verdade e a vejo soltar um suspiro de alívio. ― Não sou casado ― só omito que estou comprometido.
Mas isso ela não precisa saber.
― Então ― ela abre um sorriso doce ― é muito difícil para você viver isso? ― Ter uma amante escondendo-a do mundo, vivendo uma felicidade que na verdade não existia, ou até existia, dentro de quatro paredes, como se nada mais importasse?
No fundo, ela propôs algo que eu, no íntimo, desejaria mais que tudo. Era como se ela tivesse invertido de lugar comigo. Acontece que eu sentia a necessidade de fazer mais.
Aproximo-me dela, puxando-a pela cintura.
― Eu só quero te ajudar ― ela nega, virando sua cabeça para o lado quando tentei beijá-la. Era seu modo de dizer ou é assim como eu digo, ou nada feito. ― Mas vou respeitar sua decisão. Isso não quer dizer que eu não procure um jeito de te tirar da situação em que você se encontra.
― Não faça isso! ― Ela me olha aterrorizada com a mão em meu peito. ― Por favor não faça nada. Sua ajuda não será bem-vinda.
Ela me abraça colocando sua cabeça em meu peito e eu só penso que tudo com Rebeca é inusitado.
Se ela não queria saber quem eu sou, ou o que eu poderia fazer por ela, eu poderia viver muito bem sendo quem eu não era, aproveitando de uma situação confortável para mim.
― Agora, dá pra gente viver novamente meu conto de fadas? ― Seu tom cheio de segundas intenções me diverte.
Mas seu rosto, mesmo que tivesse um sorriso estampado, não escondia a dor em seus olhos.
― Acho que eu posso conceder esse desejo. ― Ela ri. ― Até duas vezes mais ― e mostro as duas embalagens de camisinhas ainda fechadas.
― Obaaaaa ― diz, pulando e me empurrando na cama. ― Quero aproveitar esse tempo enquanto ainda posso ― E sem perceber ela se revela mais uma vez: ela fora jurada de morte.
E ambos só se enrolam cada dia mais
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