Capítulo 26
Rebeca
― Você está bem? ― Cat me pergunta enquanto devora um punhado de biscoitos amanteigados que eu acabei de tirar do forno. ― Sua cara não está nada boa.
Eu não estava mesmo. Eu ainda estava chateada e ruminando como uma vaca gorda tudo que me aconteceu semana passada.
Sim, já passou mais de uma semana depois do ocorrido. Eu até pensei que ele me ligaria na última quinta-feira nem que fosse para cobrar...
Deus! Eu quebrei a porcaria do para-brisa do carro dele. Tenho que parar com essa mania de agir por impulso ou vou entrar cada vez mais em fria.
Ah, mas ele foi um idiota..., e eu também ao pensar que pudesse haver alguma coisa a mais.
"Você sabia que poderia acontecer algo do tipo, Rebeca. Eu te avisei. Eu te avisei que você iria se decepcionar". Minha consciência é horrível.
― Você está me escutando? ― pergunta-me enquanto estou perdida em lembranças.
― Desculpa, Cat. ― Dou atenção a minha amiga envergonhada por não estar dando a mínima para ela.
― Sabia que poderíamos ter ido a praia hoje? O dia foi agradável e você preferiu tirar o fim de semana para ficar em casa.
Verdade.
Estou que nem gato lambendo minhas próprias feridas.
― Só estou indisposta. Trabalhei muito durante a semana e resolvi descansar hoje. Amanhã eu volto para a labuta.
― Velha ― e abre um sorriso mostrando um vídeo de um show dela na boate.
E por mais que eu tente prestar atenção em sua performance, minha mente vagueia. Claro que assim que termina, eu bato palmas, incentivando-a, afinal, é para isso que amigos servem mesmo que fingindo porque eu não sei nem que música ela cantou.
― Gostou?
― Adorei. Quem sabe um dia eu vá te assistir. ― Ela assente toda serelepe, e como num passe de mágica, muda de expressão, perdendo o brilho de outrora. ― O que foi? ― Essa cara eu conheço e significa "preciso de você para desabafar". Não que hoje eu pudesse ser considerada uma boa ouvinte.
Ela coça o olho com cuidado por conta dos enormes cílios postiços antes de começar a falar.
― Ontem a tarde eu fui ver meus pais. ― Conta-me com pesar.
Sempre que ela sabe algo dos pais, fala com os pais, fica triste.
― Eles estão bem? ― Ela move a cabeça num mais ou menos. ― Te trataram mal? ― o mesmo movimento.
Solta um longo suspiro.
― Não, como tampouco me trataram bem. ― Cat baixa a cabeça. ― Sabe, Rebeca, eles me rejeitarem por minhas escolhas, me expulsaram de casa, mas ontem, ao levar os remédios que papai precisa para os vários problemas de saúde, eles aceitaram mesmo de malgrado. E eu não ouvi nem um obrigado, ou mesmo me ofereceram um café. ― Ela faz um bico segurando o choro. ― Para ser filho deles, eu não presto, sou uma vergonha, mas para receberem o remédio comprado com o dinheiro da vergonha, eu sirvo.
Que merda!
Eu sentia muito por ela. E é nessas horas que eu me sinto mal e até um pouco egoísta: eu estava triste com um babaca de um homem que me usou e depois jogou fora, e minha amiga é usada pelos pais que deveriam amá-la independente de sua orientação sexual.
― Sinto muito, amiga. ― Ela nega já se recompondo.
― Deixa pra lá. Somos duas mulheres maravilhosas que ainda seremos muito bem reconhecidas, desejadas e adoradas. ― É isso que eu mais amo em Cat. Ela não se deixa abater muito tempo pela tristeza. ― E você? Vai me contar ou não o que é que te deixou tão pra baixo desde a semana passada?
Sorrio porque eu sei que ela me conhece bem pra saber que eu realmente estou triste. E mentir dizendo a ela que foi TPM não rola em duas semanas seguidas.
― Eu conheci um cara ― Ela solta um grito como uma louca e ainda bate palmas.
― Quando? Onde? Já ficaram? Ele é bonito? Gostoso? ― Enche-me de perguntas de forma tão esfuziante que me causa tontura.
― Deus, Cat! Você parece uma maluca com tantas perguntas.
― Amore, quase dois anos convivendo com você e é a primeira vez que você fala de um homem. ― Porque ele foi o único homem que eu achei que valia a pena.
― É que, você sabe, eu não quero envolvimento com ninguém.
― E quem precisa se envolver? Beijar, agarrar, transar não necessariamente precisa de envolvimento.
Não sei se penso assim.
Ela pede para eu continuar e eu inspiro fundo antes de voltar a falar.
― Então, eu o conheci na boate... ― Cat chega a ficar branca com aquela informação. ― Tudo bem?
― Não, nada. ― Não sei se foi impressão ou ela ficou um pouco nervosa.
Que estranho!
― Então, voltando, eu o conheci por um acaso no dia que ele foi buscar o chefe na boate. Ele é segurança de algum grã-fino ― Cat solta um longo suspiro e volta a sorrir. ― Sim, ele é lindo, forte, sério, típico chefe da segurança de algum empresário fodão.
― Tipo Kevin Costner em "O Guarda-costas"? ― Eu já gostava de ver filmes antigos, mas depois que eu conheci Cat, minha lista cresceu vertiginosamente já que ela é uma cinéfila.
― Melhor. ― Ela começa a se abanar. ― Mais bonito e jovem.
― E desde essa época vocês...
― Não! ― Corto-a logo antes que ela faça suposições loucas. ― Tem o quê? Um mês que nos encontramos aqui perto. O pneu do carro dele furou na avenida e foi aí que nos vimos. Um acaso
― Ai meu Deus!― Começa a se abanar ― Um encontro das estrelas. Predestinados um ao outro. ― Começou a viajar.
― Não exagere, Cat. Foi só um encontro bobo. ― Ela faz logo uma cara de zangada. ― Aí nós nos encontramos, saímos, ficamos.
― Transaram? ― Curta, direta e objetiva.
― Então...
― Amiga, não me esconda nada. Eu nunca te criticaria por qualquer coisa.
― Não é isso, Cat. É que... sei lá. ― Como posso me fazer entender?
Ela solta um suspiro longo e desolador.
― Deus! Por que as mulheres não conseguem formular uma frase completa entendível? Sei lá não é nada... Nem sei por onde começar a imaginar.
Ri do jeito curioso e engraçado de ela falar.
― É que eu queria que fosse diferente.
― Diferente como? ― Só Cat para me fazer sorrir. ― Preciso entender, amiga. Ele beija bem? ― confirmo. ― Tem uma pegada do tipo Rhett Butler em Scarlet O'Hara no filme "E O Vento Levou".
Faço uma careta.
― Você foi longe, amiga... muito longe.
Ela solta uma gargalhada espalhafatosa.
― É um clássico, amiga. Mas não muda de assunto continue. Diferente... ― e para esperando minha resposta, coisa que eu nem sei como explicar.
― Diferente. ― Não disse nada. ― É aí que está. ― Ela faz uma careta de quem não está entendendo nada. ― Ele foi um idiota. ― Concluo.
― Querida, idiota e homem em uma mesma frase é redundância. Eu sou homem de nascença e continuo sendo um idiota porque estou apaixonada por um homem casado que só me procura quando quer foder.
Não posso deixar de rir.
― Entendi. ― Eu amo essa honestidade dela ― Foi isso. Era como se ele quisesse me foder somente. ― Não quero contar a ela que fora a minha primeira vez, porque senão, vou ter que desmentir uma mentira já muito bem alicerçada.
Ela me olha nos olhos, solta um longo suspiro, se encosta no sofá e pega mais um punhado de biscoitos.
― Ele é casado? Sabe que eu não faria qualquer julgamento em relação a isso.
Nego.
― Acho que não. Até porque ele não me beijaria em uma praça, ou me buscaria enquanto eu estivesse trabalhando. ― Eu acho
― E aí ele te comeu e disse tchau? ― Por isso eu não queria conversar.
O que vou dizer?
― Ele foi um grosso.
― Grosso no sentido de pegada dura, grosso porque tem um pau generoso ― gente do céu! ― ou grosso de estúpido mesmo?
Minha amiga não mede palavras.
― Grosso de estúpido. ― Ela para meio que pensando no que irá dizer.
― Então manda para a puta que o pariu. ― É isso que eu estou tentando fazer. Mas a primeira vez a gente nunca esquece. ― Não que eu ache que você deveria pensar em fazer planos de uma vida a dois assim, no início...
― Não. Jamais. Eu já disse que não quero me envolver com ninguém.
Ela tira um cacho do meu cabelo que caiu no olho.
― Tire uma coisa boa disso: você deu uma chance para novos relacionamentos, e isso é o primeiro passo para se encontrar alguém que vale a pena.
― Olha a mulher que está me aconselhando. ― Lembro-a que a situação dela não é nada boa.
― Eu estou com alguém que me faz bem, mas não ache que estou fechada para outros relacionamentos.
― Cat! Você é uma safada, sabia? ― Digo, coisa que ela já me ignora.
― Totalmente... e adoro. Agora me conta: como ele foi grosso?
Passei horas passando e repassando nossos encontros, tanto que Cat voltou pra casa no final da tarde depois de me ouvir dezenas de vezes. Claro que eu não disse a forma como eu saí da fazenda, apenas que depois do sexo, ele me confessou que ali era o matadouro dele, e que só levava puta para aquele lugar.
Ela reconheceu que ele foi "indelicado" e sem qualquer tato, mas grosso ele não foi, e sim honesto.
Homens (mesmo Cat sendo meio - como ela se define) sempre defendem homens.
Prendi meu cabelo num coque, coloquei a touca, o avental e comecei a trabalhar em cima das diversas caldas para as trufas que eu pretendia vender no dia seguinte, mesmo que sem qualquer disposição.
Foi quando alguém bateu à porta. Claro que eu me assustei porque aquilo era algo raro de acontecer, mas conhecendo a maluca da minha amiga, ela deveria ter esquecido algo e voltou para buscar.
E qual não foi minha surpresa ao vê-lo na porta de minha casa.
― Matteo! ― Saiu num sussurro.
― Oi, Rebeca ― Cumprimenta-me ainda da porta. ― Posso entrar?
Nego já fechando a porta quando ele toca em minha mão, impedindo-me.
― Eu quero conversar com você ― foi nesse instante que ele me mostrou um pequeno buquê de flores agarrado a um ursinho de pelúcia.
Ai meu pai!
― Isso é um pedido de desculpas? ― Pergunto enquanto recebo seus presentes, e percebo o quanto aquilo era difícil para ele. Era claro o quanto ele não estava nada à vontade com toda aquela situação.
― Quero conversar com você ― não admitiu seu erro, mesmo assim o deixo entrar como uma besta só por causa dos mimos.
Não que eu fosse tão fácil e barata, só que era a primeira vez na vida que eu recebia flores e pelúcia de um homem, tirando vovô que não conta.
Ele, para variar, olha tudo em volta enquanto eu pego alguma coisa para colocar minhas flores, e ainda coloco o ursinho deitado em minha cama.
Era simples, singelo pequeno e bonito, assim como as flores.
― Obrigada ― agradeço enquanto vejo-o observar cada movimento meu. ― Eu estava um pouco ocupada, então se você não se incomodar, pode falar enquanto eu mexo as panelas.
Ele se encosta à parede, cruza os braços sobre o peito e somente aquilo tudo me causa um rebuliço, uma coisa dentro de mim.
Eu não queria ser a idiota que abre as pernas para o cara que foi um grosso, inclusive que me agrediu fisicamente.
Você quebrou o carro dele, Rebeca! Dá um desconto.
― O que você quer, Matteo? Veio me cobrar o conserto do carro? ― Ele solta uma risada pelo nariz, abrindo um sorriso de descrença.
― Não. Não foi por isso que eu vim aqui.
― E por que veio?
Ele tenta se aproximar, coisa que impeço mandando-o parar com um gesto na mão.
― Eu queria te ver.
Lógico que eu abri um enorme sorriso internamente. Minha consciência do lado bom revirava os olhos enquanto a outra saltava de alegria.
― Já viu? ― Claro que eu tentei parecer dura e firme em minhas decisões.
― Rebeca, por favor. ― Ele inspira profundamente ― Eu me senti mal por tudo que eu fiz com você. Era a sua primeira vez.
Ele parecia sincero mesmo que não estivesse à vontade.
― Sim, foi. Mas não dizem que tudo na vida tem uma primeira vez? Eu tinha consciência do que queria e até desejava. O que não foi legal foi a forma nada delicada de você me insultar.
― Porra, Rebeca. Eu te conheci num prostíbulo. Para mim você era que nem as outras.
Não respondo para não brigarmos, e me atenho em colocar uma bandeja cheia de doces na geladeira para que a calda endureça mais rápido e não apodreça a fruta que está no recheio.
― Já falou o que tinha que falar? ― Ele nega enquanto eu volto a banhar as trufas na calda.
― Eu preciso te contar algo sobre mim, mas antes, eu preciso saber sobre o "merda" do homem que você veio atrás. ― Como assim? ― Quem é ele?
Sorri. Isso eu jamais diria.
― Quem é ele, Rebeca? ― Pergunta novamente como se repetição mudasse alguma coisa.
― Ninguém que valha a pena. ― E era somente isso que ele saberia.
― Rebeca, eu conheço muita gente. Eu posso achar esse cara. ― Por que essa insistência?
― Não me importo quem você conhece. Não me importo com nada. Só que ele faz parte de um passado que eu quero esquecer, e nem você nem ninguém me fará mudar.
― Caralho, Rebeca. Eu posso...
― Para! ― Eu estava cansada daquele poço de soberba, autoridade, ego inflado. ― Chega de eu posso, eu faço, eu quero, eu mando. Quando eu saí com você eu queria fazer sexo. Eu queria que me abraçasse e me beijasse para eu me sentir somente um pouco desejada como você me fez sentir. ― Ele para diante da minha revelação tão honesta. ― Acha que eu te obrigaria a casar comigo por que você foi meu primeiro? ― Ele fica rígido. ― Não sou tão careta assim, imbecil.
― Não gosto quando me xinga. ― Diz entredentes.
― Que coincidência. ― Ironizo. ― Eu não suporto quando você me trata como se eu fosse sua empregada, sua puta, sua qualquer coisa que seja inferior a você.
O silêncio chega a ser constrangedor.
― Vá embora, Matteo ― peço, enquanto caminho em direção a porta, o que me obriga a me aproximar dele. ― Por favor.
E ao passar por ele, seu braço enlaçou minha cintura, puxando-me para perto dele.
― Rebeca ― seu rosto encosta em meu cabelo. ― Eu devo estar louco por tolerar coisas que só você faz. ― Tenho vontade de rir. ― Mesmo assim eu quero te ajudar. Eu quero te tirar dessa situação, mas para isso eu preciso saber mais sobre você.
Pela proximidade, evito olhar para ele.
― Eu não quero sua ajuda, Matteo. ― Michele é da máfia, algo que vai além da segurança de um empresário.
― Mas eu quero ― sussurra, tocando seus lábios em minha orelha. ― Como também quero fazer sexo com você, e sabendo de sua inexperiência, quero muito mais. ― Me arrepiei. ― Quero explorar seu corpo ao máximo, ouvi-la gemer sabendo que só eu te fiz gemer assim.
Eu já estava molhada somente com suas palavras.
― Matteo, por favor.
― Não. Eu quero apagar aquele dia da sua memória e trazer outra lembrança da sua primeira vez ― Sabe quando você sente seu uma pressão levemente dolorosa lá embaixo? Sabe quando seu coração acelera tanto a ponto de achar que vai explodir? E quando você segura suas mãos para não o tocar, abraçar e beijar. ― Senti sua falta essa semana.
― Não. ― Nada convincente. ― Você me magoou, me machucou.
Ele crispa os lábios assentindo.
― Eu sei e lamentei. ― Acaricia meu rosto. ― Esse cara é da máfia, Rebeca? ― pergunta-me como se aquilo fosse natural? ― Sabe de qual organização? Qual o nome do filho da puta?
Eu não queria falar, eu não queria mentir, eu não queria sair dali, mas queria desaparecer. E diante de tantas dúvidas, colei meus lábios aos seus, calando-o como uma desesperada. E a reciprocidade daquele ato foi avassaladora.
Nada mais importava.
Éramos mãos que se tocavam, se despiam em um desespero gostoso, apressado. Meu avental já tinha desaparecido. Minha touca jogada em algum lugar com suas mãos puxando meus cabelos de uma forma deliciosamente agressiva.
Fui jogada na cama cuidadosamente enquanto ele se despia rápido, mostrando toda sua virilidade.
― Não me chame de puta ― peço quando ele arranca meu sutiã, abocanhando meu seio, levando-me ao céu. ― Nem de nada...
Gemi com o movimento de sua língua em meu seio.
― Eu... — já não sabia o que falar quando ele foi descendo entre beijos até chegar entre minha pernas e dar um beijo ali, mesmo comigo de calcinha.
Minha cabeça processa rapidamente a vergonha por estar com uma calcinha horrorosa e velha - amarela de bolinhas vermelhas?! Tanto que quando ele tirou, eu a puxei de suas mãos,jogando embaixo da cama.
E ele sorri mostrando que tinha entendido.
— Morena, morena, você é linda de todo jeito — o homem para quem eu queria ter me entregado, voltou.
Depois dali, eu me perdi em sensações. Matteo se acomodou entre minhas pernas e o que ele fez ali era indescritível. Nunca pensei que uma língua pudesse ser tão prazerosa. Nunca sonhei que pudesse haver tanto prazer.
Eu gemia alto, me contorcia até que senti algo vindo, algo como uma avalanche de sensações. Meu corpo parecia que ia explodir.... E explodiu quando Matteo, depois de brincar com a língua em meu clitóris, me chupou.
Eu sei que sumi.
Infelizmente estou passando por algumas situações que me colocam longe do computador. Estou atarefada com novos objetivos e desafios em minha vida o que me impedem de escrever mais. Mas não quero deixar vocês na mão.
Perdoem-me essa falta de pontualidade.
Eu,. com certeza, pretendo terminar esse livro.
Xero e obrigada pela confiança e compreensão
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