Capítulo 25
Matteo
Eu poderia pensar (como pensei) em todas as possibilidades para Rebeca ser daquele jeito – traumatizada, burra, fingida, mentirosa, atriz -, mas nunca, jamais eu imaginaria que aquela morena safada e fogosa fosse virgem.
Por isso ela é tão ingênua afinal, nunca teve qualquer experiência. Por isso sua revolta ao receber uma proposta. Mas também ela é uma mentirosa tão filha da puta que mente até para a amiga. Porque aquela criatura tampouco sabe a verdade sobre Rebeca.
― Por que caralho você não me avisou, porra? ― Repito, indignado tanto com as mentiras quanto pelo fato de ter tirado a porra de uma virgindade daquela forma.
Ela se senta mostrando levemente o incômodo que eu estupidamente provoquei. Mas porra! A culpa era toda dela.
― Eu tentei, lembra? ― argumenta. ― Mas todas as vezes que eu pensei em falar, você mandava eu me calar.
Mas é mesmo burra.
― Isso não é um motivo plausível. ― Ou era? Ainda estava zonzo.
Já Rebeca solta um suspiro impaciente, olhando-me de lado.
Vou até o banheiro me limpar já sem o menor tesão. Eu estava irritado com o tamanho da burrice daquela garota e quando eu volto, já a vejo se vestindo.
― Para onde pensa que vai? ― Ela iria me contar tudo sobre ela. Expor toda a verdade que está por baixo de tanta mentira. ― Não acha que devemos conversar?
― Agora quer conversar? ― Ela abre um sorriso irônico, quase que caçoando de minha cara. ― Eu não sei o motivo da sua agressividade se a virgem era eu. ― Ela só deve estar brincando mesmo. ― Porque eu esperava que doesse, mas o que eu não esperava era a sua estupidez durante o ato e depois nas palavras. Você trata a todas assim?
Não, só as burras e as putas.
― Claro! Todas são putas. ― Puta merda! Rebeca mudou, mas como eu não sou de me desculpar por nada do que eu faço, ignorei.
Observei seu olhar e vi a mesma expressão que ela fez ao ouvir a proposta de Martinelli. Raiva versus ironia.
― Vai tomar no seu cu, Matteo ― Como? ― Vai se foder, filho da puta.
O ódio subiu para cabeça. Mesmo que eu tivesse sido um grosso ao tirar sua virgindade, ao não medir as palavras, aquilo não justificava sua atitude.
― Peça desculpas! ― Exigi.
E ela? Ela me ignorou e saiu caminhando em direção a saída.
― Volte agora, Rebeca!
Pensei que precisaria usar de subterfúgios violentos para fazê-la me ouvir quando ela parou e se virou em minha direção.
Só que o que ela fez foi totalmente inusitado e que me causou mais raiva ainda – ela me mostrou os dois dedos médios e ainda gritou:
― VAI SE FODER, BABACA! ― e saiu.
A ideia de matá-la e mandar dar um fim ao seu corpo já estava preconcebida em minha cabeça, ainda mais quando eu ouvi um barulho de vidro se estilhaçando do lado de fora.
De cueca corri e vi quando o para-brisa do carro estava todo quebrado e uma grande pedra no banco do motorista.
Ela quebrou o vidro do carro?! Definitivamente, eu a mataria. A raiva que eu a puxei pelo braço e segurei seu pescoço transpassava minha sanidade. Queria apertar como quem aperta uma galinha e a estrangula, contudo não consegui. Não havia medo em seus olhos, não havia... nada.
― Se vai me matar, faça logo ― diz como se aquilo fosse algo tolo, simples. ― Você não é o primeiro mesmo que quer isso. Quem sabe até seja mais rápido.
Como assim?
Soltei seu pescoço mas não seu braço. Eu queria saber o que ela me escondia.
― Rebeca...
― Solte-me! ― e puxa o braço se afastando de mim. ― Se não vai me matar, solte-me.
― A gente pode conversar? ― Rebeca tem o dom de me deixar sem reação diante de suas atitudes.
― Conversar o quê? Eu não tenho nada pra falar com você ― Ela tinha raiva, muita raiva. ― Estava bom, sabia? Estava gostoso seus beijos, seus amassos e tudo mais. Mas você estragou tudo. TUDO!
― Eu só não esperava que você fosse virgem. O tipo de garota que eu...
― Que você está acostumado a trazer para cá, para seu matadouro. Todas elas são fáceis, não é? Todas putas, não? ― Completa. ― E eu seria só mais uma na sua lista, não seria? ― Sim.
Ela solta um sorriso diante do meu silêncio.
― Então vou dizer uma coisa, Matteo. Você não foi minha primeira escolha. Longe disso ― Ela tenta me atingir com suas palavras, o que de uma certa forma consegue. ― Infelizmente o cara que eu escolhi depois de uns bons amassos veio para cá, e eu, a grande idiota, resolvi vir atrás. Infelizmente ele era tão babaca, tão merda quanto você.
― Rebeca, olha como fala comigo.
― Ao inferno como "olha como fala comigo"! ― Grita. ― Quem você pensa que é? Você é um merda que porque acha que tem um monte de gente que te obedece, acha que pode mandar em todos? Porque tem um emprego de sonhos cujo patrão é...
― Não é verdade. Eu...
― Não quero saber nada de você. ― Ela não me deixa concluir uma frase. ― Nada! ― ela nega, respira fundo. ― Obrigada, Matteo. Você me deu uma das mais belas lembranças seguida de uma das minhas piores decepções.
― Rebeca... vamos conversar, por favor.
― Não. Não há nada que precisemos conversar. Mas tudo bem ― não sei se ela fala para mim ou para ela. ― Eu só quero ir embora e esquecer o dia de hoje ― e vira as costas caminhando como se estivéssemos perto de qualquer lugar.
― Eu quero conversar com você ― continua caminhando me ignorando. ― Rebeca!
Inferno de garota. Volto para a casa, troco de roupa e pego meu melhor carro – minha Lamborghini - e saio chegando rapidamente do lado dela que continua a me ignorar.
Buzino e nada.
― Rebeca, porra! Você vai entrar nessa merda de carro ou vou precisar te colocar a força? ― Desci alucinado de raiva, abrindo a porta e a forçando.
E Deus, eu estava lutando com uma mulher para levá-la para casa? Porque sim, era uma luta. Rebeca parecia uma gata raivosa, usando de todas as suas armas para me afastar dela – unhas, pernas, braços.
― Que inferno, garota!
― Me solta ― e sai do carro pulando já que era um conversível. ― Não me levar em casa é mínimo depois de ter me comparado às suas putas, ou você as leva em casa?
― Eu não vou te pedir de novo!
― Então não peça porque eu não vou mudar. Agora, me deixe e esqueça que eu existo.
Por que meu peito encolheu ao vê-la continuar a caminhar indo embora? Por que eu sentia um incômodo quando autorizei de longe a abrirem o portão para ela sair?
Eu precisava esquecê-la. Era o melhor a se fazer. Ao menos eu posso acabar de vez com esse fascínio.
Já comeu. Pronto. Desejo realizado, e ela que vá para o diabo que a carregue.
Voltei para casa. Para minha casa e diante do bar, depois de tomar um copo de conhaque, eu joguei com força na cristaleira que minha mãe com muito esmero cuida.
― Foda-se, Rebeca!
Pego o celular tão irritado, sem saber sequer o que pensar.
Você não vai se rebaixar a tanto, não é, Matteo?
Ligo para Marco.
― Marco, eu sei que meu irmão te coloca para me observar mesmo que de longe, quando eu saio com a garota ― despejo toda minha raiva antes mesmo de ele atender o telefone. E conhecendo meu irmão como eu conheço, ele teme que algo aconteça comigo e coloca um soldado a me vigiar como se eu fosse tonto o suficiente para não perceber ― Rebeca vai chegar na rodovia a qualquer momento. Ofereça carona antes que um qualquer a pegue, e a leve para casa
― Sim, senhor
― Outra coisa: não quero você com intimidade, conversa ou qualquer coisa do tipo. Leve-a para casa e me encontre em meu escritório ainda hoje.
E bebo mais um copo.
***
Era tarde quando decidi voltar para casa. Na verdade, meu objetivo não era sequer voltar hoje, mas sim no dia seguinte depois que tivesse me aproveitado de Rebeca até não ter mais forças.
E tudo deu errado.
Voltei dirigindo como um alucinado, chegando em casa em menos de trinta minutos. A rodovia não estava tão movimentada e eu não estava com aquele projeto de automóvel.
Meu irmão, para variar, estava em meu escritório quando eu cheguei. Precisava fazer alguma coisa para usar a mente já que passei todo esse tempo pensando sem achar uma explicação para o que eu estava sentindo, e eu imaginava que ler algum dos relatórios fosse suficiente para me ajudar a sair da porra da situação em que eu me encontrava.
― O que você fez, Matteo? ― Lucca me pergunta assim que eu me sento em minha cadeira. ― Marco falou que a garota estava péssima, mesmo que não tivesse chorado.
― Cadê ele? ― A ordem era para me esperar chegar.
― Eu o liberei para que pudesse descansar. São quase duas da manhã. Queria que ele ficasse te esperando até que horas?
― Até a hora que eu chegasse já que eu dei uma ordem ― praticamente rosno.
― Pois eu o dispensei mesmo com ele sendo reticente em me obedecer. Quer brigar, que seja comigo ― odeio meu irmão às vezes. ― Agora me responda: o que você fez com ela?
― Não é da sua conta.
Ele bufa irritado.
― Você não chegaria a essa hora, nesse estado... ― ele se aproxima ― Você bebeu? E ainda veio naquele carro? ― Sim, eu peguei mais de duzentos quilômetros por hora em alguns trechos.
― Não fode!
― Não fode? ― Eu sei que eu e ele somos mais que irmãos, somos amigos. Mas naquele instante eu queria ficar sozinho ― Que merda aconteceu?
Curioso como era, ele não iria sair daqui sem eu contar.
― Nada. Não aconteceu nada. Só estou com raiva. ― Respiro profundamente antes de pegar mais uma dose de conhaque. ― Quero que você mande investigar a vida de Rebeca. Eu quero tudo sobre ela, desde a hora do nascimento até o que ela veste quando sai de casa.
Exijo.
― Não ― e ele responde na cara dura.
― Não? ― Por que meu irmão não me obedece como os outros?
― Não vou fazer isso. ― Já disse que odeio meu irmão?
― Então eu mando.
― Não vai mandar. ― Contra-argumenta. ― Primeiro, toda essa parte sou eu quem controla, e honestamente, já tínhamos chegado à conclusão de que ela não vale o esforço; e segundo, você já conseguiu o que queria, agora trate de deixar tudo isso para trás e se concentrar em seu noivado e futuro casamento.
Nego.
― Ela mentiu para mim ― digo.
― Assim como você mentiu para ela. ― Lembra-me. ― Contou para ela quem você é e por isso a raiva dela?
Nego mais uma vez.
― Não, Matteo?! E ainda está com raiva porque ela mentiu para você? ― Parecia algo um tanto estranho olhando por esse ângulo, mas eu posso - pelos meus interesses, pela minha segurança, pela minha vontade. ― Não mesmo.
― Ela esconde algo ― chamo sua atenção.
― E daí?
― E daí... ― Era curiosidade minha ou havia algum interesse a mais?
Não sei responder.
― Você broxou, ou ela tem um pau entre as pernas para que você chegasse nesse estado em casa? ― Aquela pergunta era totalmente absurda.
― Não seja idiota, Lucca.
― Conseguiu o que queria, não conseguiu? Transou com ela e disse tchau, gatinha, mas eu sou noivo e vou casar. E ela ficou triste, decepcionada...
― Ela era virgem, porra! ― paro aquela conversa sem sentido. ― Ela nunca teve ninguém antes de mim. Eu fui a porra do primeiro homem dela.
Ele me olha meio incrédulo.
― Bom, vai ver que ela é dessas que permite tudo menos...
― Não, não, não. ― Corto-o. ― A inocência dela é verdadeira. ― E é isso que me deixa irritado. Como eu não vi?
Ele solta um longo suspiro.
― Caralho, cara. Eu vivo buscando uma virgem só pra ter o prazer de dizer: eu fui o primeiro e você já é a segunda que pega. Se eu soubesse disso, não teria passado ela pra você.
Como eu tenho vontade de mandar Lucca para o inferno numa passagem só de ida.
― Não enche, Lucca. ― Passo a mão na cabeça procurando um rumo. ― Estava na cara. O jeito que ela sorria, brincava. Precisava ver o brilho nos olhos quando viu minha coleção de carros.
― Você mostrou para ela?
― Sim. E ela adorou. Parecia uma criança brincando com o brinquedo da outra. Os olhos brilhando, o sorriso fácil quando passeamos no meu Giulia. ― Meu irmão me olha estranhamente, de forma quase incrédula. ― O que foi?
― Nada. Só nunca te vi fazendo isso com alguém. Aliás, nem comigo ao lado você dirige um dos seus velhinhos.
Ele tinha razão. Eu nunca compartilhei dessa minha paixão com meus familiares. Só quem é colecionador de algo é que sabe o sentimento de apego que se tem pelo objeto colecionável.
― É que ela disse que amava carros antigos ― meu irmão sorri, olhando-me de lado. ― E eu queria fazer uma surpresa, mostrar minha coleção que ela pensava que era sua. ― E eu sorri ao lembrar da felicidade dela.
― Minha? ― aponta para si mesmo e eu confirmo, lembrando-me dela.
Lucca me encara sem falar nada e eu não entendo sua cara de chocado, idiota, bobão.
― Oh, não! ― por fim fala.
― Oh não o quê? ― Ele ri como se aquilo fosse engraçado.
― Nada ― Nega ainda rindo. ― Só achei engraçado a coincidência. E por que você veio de Lamborghini?
Isso me irrita.
― Porque a desgraçada, na raiva, quebrou o para-brisas do fiat. ― Meu irmão cai na gargalhada.
― Antes o do fiat ― Se fosse um dos meus carros, eu a matava, se bem que ela achava que eram de Lucca.
― Por que ela ficou com raiva? ― Pergunta consumido pela curiosidade ― O que você disse, fez para ela ter tanta raiva assim?
Nunca tive vergonha do meu irmão, mas por um instante senti certo constrangimento em contar.
― Eu a tratei como se ela fosse mais uma, como eu imaginava que ela fosse. E quando eu confirmei que eu só levava puta para ali, ela ficou com raiva.
Meu irmão não me julga, até porque ele é assim também.
― Isso explica muitas coisas.
― Sim. E por isso que eu gostaria de saber quem é ela. Ela me falou que houve realmente alguém, mas ele fora um... ― eu sei que ele vai rir ― um merda como eu ― meu irmão tenta segurar o riso, coisa que não consegue, explodindo em uma gargalhada.
― Adorei essa garota. ― Brinca, quebrando um pouco a tensão. ― Te xinga, quebra teu carro e ainda sai de lá da fazenda quase do outro lado da ilha de carona para não vir com você, e você não a matou?!
Não consegui
― Aí é que está. Eu juro que tentei matá-la com as próprias mãos, estrangulá-la, mas ela disse que eu não seria o primeiro, e quem sabe fosse até melhor eu eliminá-la. ― Meu irmão debochado continua sorrindo, encarando-me como se tudo fosse uma piada.
― Meu irmão. Na primeira noite de sexo de vocês, você já quis matá-la, o que dirá o cara com quem ela namorava ou sei lá o que ela tinha. ― Ele coloca a mão no meu ombro ― Ou você a esquece como planejado, ou você vai atrás dela com um enorme buquê de rosas, um bicho de pelúcia do tamanho de seu arrependimento e pede desculpas. ― Ironiza.
― Está me estranhando? ― Que sandice era aquela?
― Exatamente isso - estou te estranhando. Você quer continuar fingindo quem não é, nada mais justo que faça coisas que normalmente não faria. E há quem diga que isso funciona. ― Ele abre a boca num enorme bocejo. ― Agora eu vou dormir já que amanhã temos um trabalho a fazer. Boa noite, mano.
E me deixa perdido nas lembranças durante toda a noite – o cheiro dela, os beijos delas, os gemidos de prazer seguido da dor da decepção dela por mim.
***
― Como faremos? ― Um dos meus soldados me pergunta.
Quando agimos, eu e Lucca sentamos e planejamos, e somente na hora de agir é que passamos todas as diretrizes. Nem papai fica sabendo. Ele dá a ordem e nós executamos.
De tocaia, nós esperamos Don Collalto aparecer. Toda sexta-feira, depois de uma reunião, um encontro, uma negociação, ele vem ver a amante.
Sabemos que é cuidadoso com a saída, deixando sempre seus soldados protegendo sua retaguarda, mas para vir até a casa dela, ele baixa a guarda.
O portão é eletrônico e está fechado quando o carro dele encosta. Nós, de dentro da casa, já demos fim na mulher, uma aliciadora de crianças há muito na mira da polícia, e em seus poucos empregados.
Ele entra chamando por ela. Velas estão acesas por todo um caminho assim como pétalas de flores e incensos que perfumam tudo. E ao abrir a porta, Lucca já o coloca sob a mira da arma enquanto eu, sentado em sua cama, acompanhado da mulher morta, o espero.
― Filho da puta! ― xinga-me ao me ver ali.
Sorrio.
Uma coisa boa disso era que ele conseguiu me colocar no foco e esquecer a morena. Porque sinceramente, eu não a tirei um segundo dos meus pensamentos a ponto de cogitar comprar uma porcaria de uma pelúcia.
― Eu disse para não invadir nossa área, não disse? Mas você não só invadiu como matou gente nossa.
Ele abre um sorriso cínico.
― Matei e matarei muito mais. Matarei cada um dos seus associados, Matteo. ― O idiota ainda me ameaça mesmo sabendo que vai morrer.
― Só se for do inferno, desgraçado ― E meu tiro foi certeiro - bem entre seus olhos.
― Caralho, Matteo! Podia ter me dado espaço ― reclama ao se ver todo sujo do sangue inimigo.
― Eu gosto de fazer bem sujeira, e você sabe disso. ― respondo, sentindo uma onda de prazer momentânea.
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