Porque você realmente me machucou
Poderíamos ter tido um castelo, usar um anel. Mas não, você me deixou ir.
A arena era enorme; haviam-na escolhido pela facilidade de acesso para os dois países, além de estar em um ponto entre os dois territórios. Coberta pela neve branca em sua estrutura e ao redor dela, tudo parecia ir contra o que realmente aconteceria ali dentro.
Taehyung puxou o ar enquanto aguardava. Sua mente estava tão distante...
Apesar do dia frio, não nevava. Tudo que estava ali eram dos dias anteriores, praticamente uma semana. Ele tinha treinado arduamente desde então.
Fechando os olhos, seus pensamentos voltavam para o dormitório. Ele se lembra de ver Jeongguk encarar a janela enquanto a neve caia. Sobre como o cobertor que ele usou para não perder o calor da cama o tornava angelical, a coisa mais bonita que Taehyung viu.
Ele se pergunta porque tudo deu errado. Se eles ao menos tivessem permanecido no dormitório até que tudo isso acabasse, então ele não precisaria ir embora, então Jeongguk não precisaria vê-lo partir.
Taehyung não sabe o que pensar. O silêncio de Jeongguk quando ele foi embora poderia significar muitas coisas. Ele só conseguia pensar que queria voltar para Jeongguk. Mas se o mais novo decidisse que aquilo era o fim de tudo? Era difícil se concentrar com essa ideia na cabeça.
— Kim Taehyung, está preparado? — alguém perguntou. Taehyung assentiu, segurando a bainha da espada com força. — Estamos orgulhosos que você representará a tribo do Sul. Você é o nosso maior guerreiro. A tatuagem em você — Taehyung olhou para a localização dela, sentindo o coração apertar. — O Lobo Vermelho. Ele não está aí por nada. Você fez por merecê-lo. Contamos com você hoje. Boa sorte.
Taehyung assentiu, usando aquelas palavras como motivação. Ele só precisava vencer. Só havia uma única pessoa capaz de realmente derrotá-lo, e ela não estava ali. Podia fazer isso.
Ele saiu de onde estava, seguindo pelo corredor que levava até o centro da arena. Havia muito barulho, as pessoas acumuladas para verem a luta. Era estranho estar em uma situação daquelas. Taehyung já havia estado em lutas, muitas das vezes com Jeongguk, enquanto os países ainda estavam em paz. Lutar contra inimigos da pátria era fácil para eles, talvez até simples, mas porque estavam juntos.
Seus olhos seguiram a iluminação que vinha do centro ao ar livre. Ele rapidamente localizou onde estavam as rainhas das duas tribos, desejando finalizar aquilo o mais rápido possível. Escolhendo uma posição, do seu lado, ele parou e esperou.
Haviam murmúrios vindo dos Nortenhos, e Taehyung sabia que era sobre ele. Quem era ele. Uma voz alta e retumbante, então, anunciou.
— Essa luta contém o intuito de impedir que uma guerra com tantos guerreiros envolvidos aconteça. Os dois países, liderados por Vossas Majestades, assinaram termos de desistência caso o seu Campeão perca nessa luta de vida ou morte. A desistência do guerreiro está fora de cogitação. — o barulho aumentou. Taehyung pressionou os olhos com força, apertando a bainha da espada ainda mais. Eu te amo, Jeongguk, ele pensou, tentando acalmar a si próprio. A voz continuou. — Como guerreiro representante do país do Sul, temos Kim Taehyung, o Lobo Vermelho.
A surpresa alcançou a todos. A maioria deles o conhecia, sabendo de seus feitos em batalha. Como não sabiam quem seria o guerreiro do Norte, foi fácil perderem toda a fé que o país deles venceria.
A voz, aguardando o barulho amenizar, continuou.
— Como guerreiro representante do país do Norte, temos Jeon Jeongguk, o Lobo Prateado.
Taehyung prendeu a respiração, de repente, o corpo paralisado.
Havia um silêncio tão mórbido vindo de todos, que o barulho dos passos de Jeongguk no chão foi facilmente escutado. Lentos e confiantes, eles só pararam quando alcançaram o centro da arena, há dois metros de Taehyung.
Ninguém realmente acreditava que, ambos os melhores guerreiros de seus países, aqueles que estavam juntos antes, iriam realmente lutar um contra o outro. Cada país tinha um trunfo, e cada um deles estava confiante de sua vitória. Taehyung e Jeongguk, entretanto, não conseguiam pensar em mais nada além do próprio mundo deles. Tudo que enxergavam estava logo a frente, e infelizmente para seus corações enfraquecidos, carregavam espadas que só tinham um único propósito.
Jeongguk ergueu a bainha carregada em uma das mãos, segurando o cabo e puxando lentamente a espada. Ele jogou a bainha no chão, ajeitando a postura, dois dedos deslizando na lateral da espada com perfeição, até chegarem no final, juntamente com seu olhar fixo em Taehyung. Não eram frios, mas havia uma promessa implícita neles. Havia dor misturada a tristeza. Uma mistura de sentimentos que Taehyung conseguiu perceber facilmente.
Ele quase desistiu da batalha. Se Jeongguk realmente queria desestabilizá-lo, ele tinha iniciado bem.
Se já não bastasse a ideia de lutar contra quem ele amava em uma batalha de vida e morte, Jeongguk era um guerreiro melhor do que ele. Se era um guerreiro explêndido, Jeongguk era praticamente exímio. Eles já haviam lutado antes, em busca de testar suas forças, e estava mais que claro que, apesar de equilibrar a batalha, em algum momento, Jeongguk finalizaria tudo tão rapidamente que seus olhos só veriam o fim quando fosse tarde demais.
E eles sabiam disso. E talvez Jeongguk estivesse lá justamente porque sabia que, senão ele, ninguém seria realmente capaz de derrotá-lo.
Um sorriso tomou seus lábios enquanto Taehyung usou uma mão para segurar a bainha, a outra puxando a espada devagar. Havia tantas coisas no mundo pela qual ele facilmente desistiria. Mas havia apenas duas pela qual Taehyung lutaria até o fim. E agora, ele estava entre elas.
Apesar de que, a balança nunca ficaria em equilíbrio. Taehyung deveria saber mais.
— Está tentando se vingar de mim, Jeongguk? — Taehyung perguntou, tentando ser ouvido apenas pelo mais novo. Ele jogou a bainha longe, deixando que a ponta de sua espada encostasse no chão. Ele relaxou os ombros, olhando para Jeongguk com firmeza.
Jeongguk sorriu tristemente.
— Você realmente me machucou, Taehyung — ele disse com a voz mansa, mesmo que fosse perceptível a forma como ela parecia instável. Apenas um pouco, apenas em seu momento de fraqueza. — Indo embora, me deixando para trás. Eu esperei que você ficasse.
— Eu tive que ir, Jeongguk — Taehyung disse, dando um passo para frente. — Mas você está aqui agora. Se você pretendia que isso fosse uma última despedida, escolheu o pior momento.
— Não foi a melhor escolha, eu acho. Mas eu precisava te dizer algo — Jeongguk deu um passo adiante, abrindo um sorriso bonito. As mãos de Taehyung tremeram, e ele usou toda a sua força para controlar a espada. — Eu sempre vou amar você.
Taehyung sentiu o coração bater contra a caixa torácica desesperadamente. Ele estava suando, tentando controlar as reações do próprio corpo. Jeongguk realmente disse isso para ele. Ele veio dizer a ele isso, porque quando foi embora, foi a única coisa que Taehyung desejou ouvir, mas não conseguiu.
Ele se sentia tão estúpido por estar ali agora. Por que eles estavam nessa situação? Ele realmente tinha que escolher entre Jeongguk e seu povo? Isso não era um teste, entretanto, sabia bem.
A voz anunciou, de repente, o que ambos já estavam esperando.
— Lutem!
— Eu sinto muito, meu amor — Taehyung disse, arrastando a ponta da espada levemente no chão enquanto ia em direção a Jeongguk. — Nunca quis machucar você.
Jeongguk sorriu levemente, ajeitando a postura. Como bons guerreiros, cada um deles tinha seu próprio estilo e essência. Uma delas, estava no quesito inicial. Jeongguk esperava que Taehyung viesse, e Taehyung iria até ele. Um esperaria o inimigo, e o outro o atacaria antes.
— Eu sei. E eu perdoo você.
O choque das lâminas aqueceu o centro da arena. E então, eles haviam iniciado a luta.
Taehyung lançou o primeiro golpe, atacando de frente. A espada acertou na direção de Jeongguk, que aparou a investida com o dorso da própria espada.
Com isso, Jeongguk usa o movimento para empurrar Taehyung longe, atacando de repente ao ponto da primeira faísca do choque das espadas surgir. Então, juntando a velocidade e ataques ardilosos de cada um, é quase impossível ver a localização das parte cortante da espada até que elas estejam uma contra a outra.
Desde então, é quase impossível ver o movimento das lâminas, pesadamente arranhando o aço brilhante uma da outra.
Taehyung cede por alguns segundos, saindo do campo de ataque de Jeongguk. Ele sente uma dor aguda bem no braço, um corte leve, mas que ainda sim, prova que seria péssimo se Jeongguk realmente quisesse cortá-lo de verdade. Num ataque como aquele, era estranho até mesmo para ele que uma espada tão afiada só fizesse aquele estrago. Ele não tinha ido lutar com uma espada afiada?
Taehyung sorriu leve, negando antes de movimentar o pescoço para as laterais no intuito de aliviar a tensão. Ele segurou a espada mais seguramente, olhando para Jeongguk.
— Isso é tudo que você pode fazer, Jeonggukie? Estou sentindo falta de um verdadeiro guerreiro aí — ele provoca, atacando novamente, Jeongguk cambaleia para trás com a pancada pesada, mas deixa um riso nervoso escapar, equilibrando a lâmina para que ela não descesse para baixo, como Taehyung desejava. — Por que você não me mostra pelo que veio, hum?
Jeongguk desviou a espada para baixo, deixando que a de Taehyung perdesse o foco. Ele tentou acertar o mais velho com um golpe na barriga, mas Taehyung foi mais rápido, cortando abaixo da sua coxa. Um corte fino e profundo. Ele grunhiu enquanto organizava a espada novamente na mão.
Ele precisava terminar logo com isso. Adiantar essa luta mais do que deveria estava fora de cogitação. Taehyung não sabia de seus planos, e diferente da sua, a espada dele estava no ponto ideal para uma luta de verdade. Isso teria que acabar no próximo ataque.
Taehyung frisou o olhar, voltando a posição inicial. A lâmina arranhou o chão levemente, o suficiente para mostrar que ele já estava esperando pelo próximo movimento de Jeongguk.
Jeongguk aproximou a espada de si mesmo, mas ergueu a ponta na direção de Taehyung. Inspirando profundamente, ele disse:
— Quando cair, não ouse levantar — foi um aviso, em um tom conhecido apenas por eles, algo que fez Taehyung perder o foco por segundos cruciais. Jeongguk avançou, cruzando sua espada com a dele, o barulho das lâminas em choque cobrindo toda a arena. E então, Jeongguk deu o impulso para frente, ameaçando atacar pela esquerda de Taehyung.
Taehyung viu os segundos passarem lentamente na sua frente. Conhecer Jeongguk e seus métodos para derrotar o inimigo em uma luta era normal, mas ele nunca parecia preparado o suficiente para isso. A situação, entretanto, não esperava isso dele. Ele precisava dar um jeito, sem mais.
Entretanto, parecia que tudo estava contra ele agora. Sua cabeça latejou de repente, assim como seus olhos de repente estavam cansados.
Segurar a espada se tornou difícil, e por mais que tentasse, ele não conseguiu mantê-la na mão quando Jeongguk investiu contra ela, jogando-a para longe.
Taehyung já sabia o que aconteceria em seguida, mas ele não conseguiu acompanhar. Com um golpe rápido, Jeongguk pressionou a espada entre eles, arrastando-a contra a vestimenta de Taehyung até que chegasse ao outro lado.
A primeira gota vermelha caiu na neve que cobria levemente o chão da arena. Depois dela, as próximas. A tinta escarlate cobriu um único ponto na tela branca enquanto a respiração de Jeongguk tentava se regularizar.
O barulho de surpresa daqueles que assistiam vieram de repente, agudos e abismados.
Jeongguk olhou para Taehyung, vendo-o tremer enquanto pressionava as mãos contra o ferimento. Ele ajoelhou, as pernas perdendo as forças, caindo na neve branca em seguida.
Jeongguk ficou parado, esperando. O anúncio veio segundos depois.
— A vitória é da tribo do Norte!
O povo de seus país comemorou de forma estridente. Em contrapartida, Jeongguk jogou a espada longe naquele momento, ajoelhando onde Taehyung estava. Ele tocou o rosto do mais velho, sentindo o frio do inverno em todo seu corpo. Enquanto o barulho tomava de conta da plateia, Jeongguk chamou algumas pessoas que ele confiava para tirarem Taehyung de lá.
Depois disso, o tempo passou rápido. A neve que caia aos poucos novamente fez com que todos voltassem para suas casas. Foi uma tarde gloriosa para alguns, mas devastadora para outros.
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