Era uma vez, nós nos apaixonamos. Você segurando em sua mão as duas metades do meu coração.

Jeongguk inspirou profundamente quando o ar frio atingiu seu rosto. Pela janela levemente aberta, era possível ver a neve caindo lentamente, cobrindo as estradas de areia. O inverno havia finalmente chegado. Isso significava retornar para casa, rever a família. Abandonar as lutas diárias e cansativas.

Distraído, o calor que o inundou de repente foi suficiente para fechar seus olhos. Era aconchegante e extremamente marcante. A tatuagem do lobo vermelho foi a primeira coisa que seus olhos viram ao abrirem, localizada na parte interna do antebraço que o rodeava, automaticamente reconhecendo-a por seus detalhes ousados.

Uma respiração amena e um leve pressionar de lábios tocaram o seu pescoço, e Jeongguk não conseguiu controlar o suspiro.

- O que você faz acordado tão cedo, hum? - a voz rouca pelo recente sono fez os pelos de Jeongguk arrepiarem, pensamentos da noite passada atingindo-o com força. Já fazia tantos dias que tudo que ele precisava era disso. De seu companheiro ao lado.

- Você sabe que horas são, Taehyungie? - Jeongguk respondeu, deixando um riso fraco escapar. A monotonia desses toques e reações nunca deixariam de ser para ele exatamente tudo que queria.

- Sete horas, não? Ainda está tão escuro. Deveríamos estar dormindo... - Taehyung murmurou, ainda sonolento.

- Já são dez horas. E sinto informar para você que já perdemos o treino da manhã.

- Ah, que merda! - Taehyung bufou, afastando-se levemente de Jeongguk apenas para olhar pela janela o quão escuro o tempo ainda parecia. Jeongguk sentiu falta do calor que Taehyung trouxe juntamente dele. - Veja isso. Está tudo escuro ainda. Como pode ser dez horas? Não acredito que perdemos o treino por isso.

- É só um treino, Taehyung - Jeongguk disse, deslizando a mão contra o ombro descoberto do mais velho. Estava quente, como o calor que ele tanto ansiava. - Por que não voltamos a dormir?

- Pelo modo como você está apertando meu ombro, eu tenho certeza que não é isso que você quer fazer.

Jeongguk riu, os lábios apertando de forma sedutora. Taehyung olhou para ele naquele instante, abrindo um sorriso conhecedor. Sua mão deslizou pelo ombro de Jeongguk, unhas finas arranhando levemente a tatuagem do lobo prateado.

- Vamos acabar perdendo o treino da tarde também... - Taehyung disse, mas ele já estava tão colado ao corpo de Jeongguk que suas palavras saíram abafadas. Jeongguk deu de ombros, deixando sua mão subir até a nuca do mais velho, puxando levemente as madeixas dali.

- Eu só quero você - ele disse, pressionando um beijo leve nos lábios vermelhos de Taehyung. - Um treino não pode ser mais importante que isso. Você vai ficar aqui comigo.

- Huh, vossa alteza, hoje você está completamente mandão - Taehyung disse em provocação, mas suas bocas estavam unidas novamente. O calor inundou-os de repente. E era tudo que ambos desejavam. De repente, a neve lá fora não era nada comparada a chama existente entre eles.

❆

Haviam muitas vozes mescladas e barulhentas quando Jeongguk acordou pela segunda vez. Era o horário do treino da tarde, mas era sempre silencioso, o som das espadas em choque sendo os únicos sons notáveis. Mas naquela tarde era diferente, e estranhamente intimidante.

- Taehyung? - Jeongguk chamou, removendo o tecido macio de cima deles. O mais velho tentou puxá-lo novamente, mas Jeongguk manteve o cobertor longe o suficiente. - Taehyung, acorda.

- O que foi, amor? Pode falar, eu estou ouvindo - foi o que ele disse, mas pelo modo como parecia interessado na cama, Jeongguk tinha quase certeza que não.

Revirando os olhos, Jeongguk levantou da cama, o toque gelado dos pés contra o soalho fazendo um arrepio percorrer sua coluna. Ele levantou, procurando onde suas roupas estavam. Ele estava arrependido por tê-las jogado tão longe.

- Eu vou lá fora - Jeongguk avisou, terminando de se vestir.

Taehyung bufou, virando-se na cama apenas para olhá-lo. Jeongguk sorriu intimamente, sim, ele estava acordado e o ouvindo.

- Por que você está indo lá fora? Ainda são dez horas e está frio.

- Já são quase duas horas, Taehyungie - Jeongguk riu da expressão surpresa de Taehyung, já fazendo esforço para levantar da cama.

- O treino-

- Nós perdemos também. É uma pena - Jeongguk fingiu tristeza, mas Taehyung sabia bem que ele não se importava mesmo com os treinos.

- Não acredito que perdi dois treinos porque um homem bonito me convenceu a ficar na cama - Taehyung reclamou falsamente irritado enquanto levantava também, ameaçando Jeongguk com um olhar quando ele começou a rir. - Eu preciso ficar longe de você para não perder o foco.

- Mesmo longe você acabaria perdendo o foco comigo.

- Você quer logo sair daqui e ir brincar na neve? - Taehyung disse enquanto tentava não rir, negando levemente com a cabeça e quanto procurava suas roupas.

- Ah, me sinto solitário sem você comigo, Taehyungie - ele reclamou. - Venha comigo.

- Não vou sair nesse frio, Jeongguk. Você nos fez perder o treino para ficar no dormitório e é isso que eu vou continuar fazendo até o fim desse dia.

- São coisas completamente diferentes! - Jeongguk tentou se defender, rindo. - Mas eu ouvi muito barulho lá fora até pouco tempo. Quero saber o que está acontecendo.

Taehyung terminou de se vestir, indo até Jeongguk apenas para beijá-lo nos lábios, um toque singelo e carinhoso que ambos estavam totalmente familiarizados.

- Vamos lá, então. Quero falar com o instrutor sobre não termos ido hoje - Taehyung disse, e Jeongguk concordou enquanto o seguia para a entrada do dormitório. Quando Taehyung abriu a porta e o vento frio adentrou o cômodo, ele quase se arrependeu instantâneamente. - É por isso que eu odeio o inverno.

- Não seja assim, o inverno não fez nada de ruim.

Eles pressionaram corajosamente os pés na neve acumulada. Até seus calcanhares tudo era branco, nenhuma estrada a vista.

Quando Jeongguk levantou o olhar, pode ver vários colegas de treino distantes, mas com as expressões assustadas. A enorme placa cinzenta também chamou sua atenção, assim como a de Taehyung. Eles caminharam silenciosamente até lá.

Quando estavam frente ao anúncio em letras minúsculas, seus corações aceleraram. Havia uma assinatura no final daquela enorme placa. A da rainha da tribo do Norte, o país de Jeongguk.
Na placa, em uma linguagem simples, dizia:

Guerreiros do Norte, há qual o país tanto se orgulha. A guerra finalmente chegou para nós. A tribo do Sul exige nossa submissão a ela, como exige de tantas outras tribos. O momento de provarmos nosso poder e autoridade é agora. Que nenhum país esteja contra nós e nossos guerreiros. Entre vocês, um único lutador poderá impedir que um massacre maior aconteça. Lutem pela sua pátria e protejam o que é nosso por direito: a vida. Seu esforço brilhará nas almas de todos os nortenhos. A rainha reconhecerá seu valor e dará todos os prestígios por sua vitória.

Mais abaixo, antes do texto finalizar, haviam informações essenciais para o alistamento.
Jeongguk engoliu em seco. Sua cabeça estava girando, tentando ligar todas as palavras e formar algum sentido entre elas. Tribo do Sul. Era onde Taehyung morava. Se um único guerreiro lutaria, significava que alguém do Sul também seria escolhido. Ele sentiu a ânsia, pressionando a mão na boca com força.

Ele mal conseguiu dizer algo quando a mão de Taehyung segurou seu pulso, guiando-o de volta para dentro do dormitório deles. O rosto de Taehyung, entretanto, mostrava o quão transtornado ele estava.

Quando seus pés atingiram o soalho e a porta foi fechada, o frio sumiu. Eles estavam, de certo modo, seguros e aquecidos agora. Tudo poderia estar bem se não fosse aquela notícia.

Quando Taehyung soltou seu pulso e se afastou, Jeongguk sentiu a razão daquele sentimento ruim que tomou conta dele ao ver a placa e sua mensagem. Ele abriu a boca para falar, mas Taehyung, sem querer, o impediu antes mesmo de tentar.

- Eu preciso voltar para casa.

- O-Oque? - Jeongguk pensou não ter entendido direito. Ele queria que fosse apenas sua cabeça atordoada confundindo as palavras.

- É apenas um guerreiro. Se essa mensagem chegou até aqui para avisar vocês, também chegou para a minha tribo. Eles precisam de mim lá - Taehyung disse seriamente, encarando a tatuagem do lobo vermelho no interior do antebraço. Parecia chamá-lo. - Não posso ficar aqui enquanto nossas tribos entram em guerra.

- Mas, mas, é- Não precisa ser você! Eles não chamaram ninguém! Qualquer um pode ser esse guerreiro, você não precisa ir - Jeongguk tentou dizer, seu corpo tremendo sem ele perceber. Ele quase enxergava onde isso terminaria, e ele não queria. Não, era demais para ele assimilar.

Taehyung sorriu, mas era algo triste.

- Você sabe que eu estive aqui todo esse tempo por sua causa, Jeongguk. Porque eu te amo. Mas... Eu não posso abandonar minha tribo quando eles mais precisam de mim. Eu sou o melhor guerreiro que eles tem.

- Eu sei que é! Mas não quero que você vá. Não quero que seja você! É uma luta, Taehyung, entre dois guerreiros! Está claro que alguém não vai sair vivo dali e eu não consigo nem pensar se algo der errado e... Por favor, você não precisa ir. Não tem que ser você.

Taehyung voltou lentamente até Jeongguk, seus lábios frisados em um sorriso singelo, que acalmou o coração de Jeongguk por instantes que ele queria que durassem para sempre. Mas quando a mão de Taehyung tocou sua bochecha, ele sabia que era diferente.

- Fico feliz que a tribo do Norte tenha me acolhido aqui. Fico feliz que conheci você e não me arrependo de nada. Você é minha vida, Jeongguk. E mesmo se eu morrer nessa batalha, você vai ser a única coisa que eu vou pensar até meu último suspiro.

Jeongguk sentiu coração apertar, a primeira lágrima escorrendo dos seus olhos marejados. Os lábios de Taehyung pressionaram sua boca com carinho, a dor implícita naquele toque fazendo seus olhos fecharem. Ele estava com tanto medo agora. Desde que se conheceram, era a primeira vez que Taehyung estava indo embora, indo para longe dele.

- Taehyungie, tenho certeza que há guerreiros na tribo do Sul com pontecial parecido ao seu. Deixe que seja eles. Deixe que, o guerreiro que quiser lutar, lute. Mas não se ofereça para isso. Por favor. Por mim, não me deixe aqui.

Quando a mão de Taehyung deixou seu rosto, toda a expressão de Jeongguk caiu com ela.

- Eu sinto muito, Jeongguk. Mas não posso. Não consigo ignorar essa situação.

Jeongguk sabia desde o início do patriotismo de Taehyung. Ele o conhecia mais do que qualquer um, e sabia que o mais velho nunca abandonaria seu povo. Era por isso que, quando os primeiros sinais de uma possível guerra chegaram, ele temeu por todos os dias que chegasse até eles. E chegou.

Ele não conseguiu dizer nada quando viu Taehyung recolhendo seus bens, apenas o suficiente para sua viagem de volta pra casa. Seu corpo parecia tão frio quanto o inverno atrás daquela porta.

Taehyung voltou, parando em frente a ele com suas coisas. Seus olhos carregavam a mesma dor que Jeongguk sentia, mas sua motivação mantinha-o desperto. Uma lágrima escorreu de seus olhos quando ele beijou a testa do mais novo que estava com a cabeça baixa, seu coração doendo por ter que deixá-lo.

- Eu amo você, Jeongguk - Taehyung disse, esperando por alguns segundos que Jeon dissesse algo. Um sorriso triste escapou de si quando ele percebeu que o mais novo estava triste demais para lhe responder.

Ele foi até a porta e a abriu, pisando na neve gelada. Com um rápido olhar para trás, ele viu Jeongguk virar um pouco em sua direção, ainda esperando que ele ficasse. Taehyung fechou a porta, caminhando entre o frio daquela tarde escura.

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tatuagem do taehyung: apenas a parte esquerda seria da cor vermelha

tatuagem do jeongguk: apenas o centro seria prateado