𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟒
Atualmente
Dizer que meu primeiro dia de faculdade foi difícil seria um eufemismo absurdo. Difícil? Não. Foi como tentar atravessar um deserto sem água, sem bússola, sem ideia de onde estava o horizonte.
No ensino médio, as coisas sempre pareceram mais fáceis. Eu tinha Hye e Mi-hi, meu porto seguro, minhas melhores amigas. Sempre que algo dava errado, elas estavam lá — uma com suas piadas sarcásticas e a outra com aquele sorriso brilhante que fazia tudo parecer menos complicado. Mas agora... Agora era só eu.
Suspirei, deixando meu corpo escorregar até que minhas costas tocassem a parede fria do corredor movimentado. As pessoas passavam apressadas, suas vozes se misturando em um burburinho indistinto, mas tudo parecia distante demais, como se eu estivesse assistindo a tudo debaixo d'água.
Um movimento ao meu lado chamou minha atenção, tirando-me brevemente dos meus próprios pensamentos.
Uma garota pequena, de pele clara, lutava contra uma pilha de livros que parecia prestes a engoli-la. Eles balançavam perigosamente em seus braços enquanto ela dava passos incertos pelo corredor. Era como assistir a um filme em câmera lenta, e antes que pudesse pensar duas vezes, me preparei para ajudar.
Mas então eu hesitei.
Algo nela me pareceu estranhamente familiar.
Meus olhos viajaram por sua silhueta. Os vários piercings que brilhavam sob a luz fluorescente, o cabelo preto cortado tão curto que mal tocava sua nuca. Cada pedaço do que ela usava parecia ter saído diretamente de um catálogo de roupas góticas — preto dos lábios às botas robustas que ecoavam contra o chão de azulejos.
Ela soltou um palavrão baixinho quando tropeçou em seus próprios pés. Eu estava prestes a sorrir, talvez até soltar uma brincadeira qualquer, mas então ouvi sua voz.
E fiquei sem ar.
Não. Não podia ser.
Ela ergueu os olhos naquele exato momento, e quando os nossos se encontraram, algo dentro de mim congelou. Olhos verdes brilhantes, familiares e penetrantes, se arregalaram em choque.
— Mi-hi? — A palavra escapou da minha boca antes que eu pudesse contê-la, um sussurro incrédulo.
Eu pisquei várias vezes, tentando conciliar a visão diante de mim com a memória da garota que conheci anos atrás. A Mi-hi que eu lembrava era vibrante, sempre rindo, sempre falando com entusiasmo sobre seus sonhos, seu futuro. Ela brilhava tanto que era impossível ignorá-la.
Mas esta Mi-hi... Esta garota à minha frente era completamente diferente. Sua postura, o olhar opaco, como se todo o brilho que um dia conheci tivesse sido drenado.
— Sung-min? — Ela finalmente disse, a voz rouca e hesitante, como se fosse um esforço acreditar no que estava vendo.
— Sim, sou eu... — Respondi, minha voz saindo fraca, como se o ar tivesse sido arrancado dos meus pulmões.
Por um segundo, pensei que talvez ela estivesse tão surpresa quanto eu, que talvez pudéssemos falar, rir sobre o acaso desse reencontro. Mas então sua expressão mudou.
Endureceu.
— O que você está fazendo aqui? — A frieza em sua voz me atingiu como um tapa.
— Mi-hi, eu... — Comecei, mas não cheguei a terminar.
— Cale a boca! Apenas cale a boca! — Ela me interrompeu, sua voz tremendo de raiva. — Você é um traidor, Sung-min. Um mentiroso! Você desapareceu. Você nos abandonou. Você não estava lá quando eu mais precisava.
Sua voz quebrou em um soluço, mas ela rapidamente o engoliu, apertando os punhos.
— Você não ousa aparecer aqui depois de três anos e agir como se nada tivesse acontecido. Como se pudesse ser meu amigo de novo. — Seus olhos brilharam com lágrimas não derramadas, mas o que dominava seu olhar era a raiva. — Você não é meu amigo. Na verdade, você está morto para mim, Lee Sung-min.
Ela passou por mim com passos firmes, desaparecendo entre a multidão, deixando-me lá, congelado, incapaz de reagir.
Por um longo momento, eu simplesmente fiquei parado. O corredor parecia girar ao meu redor, as vozes das outras pessoas se transformando em um zumbido ensurdecedor.
E então eu estava correndo.
Não sabia para onde. Apenas precisava fugir. Precisava respirar.
O ar parecia pesado, quase sufocante, enquanto as lágrimas nublavam minha visão. Uma dor incômoda apertava meu peito, e antes que percebesse, um grito escapou dos meus lábios. Meu pé se torceu de forma desajeitada, e eu caí no chão com um baque doloroso.
Meu corpo inteiro tremia enquanto soluços silenciosos escapavam de mim. A dor da queda era insignificante comparada ao buraco que parecia estar se formando dentro de mim.
Eu não sabia o que fazer.
Eu não sabia como consertar isso.
O som agudo de pneus cantando rompeu o silêncio da rua, me fazendo virar instintivamente o rosto. Pelo canto do olho, vi uma motocicleta preta derrapar, o brilho metálico reluzindo sob as luzes da cidade, até parar a poucos metros de onde eu estava. A piloto desmontou com uma agilidade que parecia saída de uma cena de filme, e antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, ela correu até mim.
— Você está bem? — Sua voz era urgente, baixa, mas firme, como se estivesse tentando manter a calma enquanto avaliava a situação.
Senti seus dedos firmes tocarem meu queixo, levantando meu rosto delicadamente. Quando meus olhos finalmente encontraram os dela, fiquei sem palavras. Aquele par de olhos castanhos, intensos e inconfundíveis, me encarava com preocupação genuína.
Por que, em nome de tudo que é sagrado, Ye-ji tinha que aparecer nos piores momentos possíveis?
Eu me movi, tentando me levantar, mas assim que coloquei peso no tornozelo, uma onda de dor subiu pela minha perna, arrancando um grito que me escapou antes que eu pudesse segurar.
— Não se mova! — Ye-ji disse, segurando meu braço com firmeza enquanto me ajudava a ficar de pé. — Você está ferido.
— N-não, está tudo bem. — Minhas palavras saíram tropeçadas enquanto eu tentava me afastar dela, teimosamente mancando alguns passos.
Ela arqueou uma sobrancelha, claramente nada impressionada.
— Você não vai chegar em casa com esse tornozelo. — Sua voz era firme, mas ainda assim havia algo de gentil em seu tom.
Eu revirei os olhos, minha paciência se esvaindo. Quem ela pensa que é?
— Não me diga o que fazer! — Eu rebati, minha frustração transbordando.
Os olhos de Ye-ji se estreitaram em um misto de irritação e desafio. Ela soltou meu braço, respirou fundo, e sem dizer mais nada, se virou, caminhando de volta para sua Harley Davidson preta. A forma como ela subiu na moto, com aquela postura confiante, fez algo dentro de mim se agitar.
Ótimo. Ela finalmente vai embora.
Ou pelo menos era o que eu esperava. Ye-ji passou a mão pelos cabelos ruivos, aquele gesto característico que eu conhecia tão bem, o que só significava uma coisa: ela estava prestes a insistir.
— Só suba na minha moto. Nós moramos um de frente para o outro. Eu te levo. — Sua voz era mais baixa agora, quase um murmúrio, mas o tom era inegociável.
— Não. — A palavra saiu cortante, mas eu sabia que ela não desistiria tão fácil.
— Não discuta comigo agora. — Havia uma ponta de exasperação em sua voz, mas os olhos castanhos dela continuavam fixos em mim, determinados.
Eu cruzei os braços, desafiando-a com o máximo de teimosia que consegui reunir. Ye-ji suspirou, longo e lento, como se estivesse se preparando para perder a paciência.
— Ou você sobe nessa moto, ou eu te coloco nela. — Sua voz ficou ainda mais baixa, quase ameaçadora, e os olhos dela brilharam com um desafio que fez meu coração acelerar.
Tentei mais uma vez transferir meu peso para o tornozelo torcido, mas a dor foi tão aguda que um gemido escapou dos meus lábios, me fazendo cambalear. Não havia como eu ir para casa sozinha nesse estado.
Bufei, derrotado, e mancando de má vontade, caminhei até a moto. Subi atrás dela, sentindo o desconforto de ceder à ajuda.
— Use isso. — Ye-ji se virou parcialmente e me entregou um capacete.
Coloquei-o rapidamente, ajustando-o com dedos trêmulos.
— E você? Onde está o seu capacete? — perguntei, minha voz soando mais irritada do que eu pretendia.
— Você está usando. — A resposta dela foi casual, como se fosse óbvio.
O quê? Antes que eu pudesse protestar, ela acrescentou:
— Segure-se em mim. — Havia um sorriso evidente em sua voz, como se ela estivesse se divertindo com a minha relutância.
Lutei contra a vontade de bater nela ali mesmo, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a moto deu um solavanco para frente. Um grito involuntário escapou dos meus lábios enquanto meus braços, instintivamente, se fecharam ao redor da cintura dela. Eu podia sentir a vibração do motor, o calor de Ye-ji contra mim, e, por mais que odiasse admitir, naquele momento, eu não tinha escolha a não ser confiar nela.
O vento assobiava ao nosso redor, girando em espirais invisíveis que pareciam querer nos carregar junto. O mundo era um emaranhado de cores borradas, como se alguém tivesse passado um pincel molhado sobre uma pintura vibrante, desfazendo suas formas.
Uma sensação de euforia tomou conta de mim, uma que parecia consumir cada parte do meu ser. Era como se todos os meus sentidos tivessem despertado de um longo sono: o frio do vento na pele era mais cortante, o cheiro de terra molhada mais forte, os sons ao redor mais nítidos. Por um instante raro e quase inacreditável, minha mente ficou em branco.
Por aquele momento fugaz, esqueci que Seo Ye-ji estava comigo. Esqueci da Mi-hi, do olhar dela que sempre parecia me atravessar. Esqueci do noivado do meu pai e do peso sufocante das responsabilidades que mal cabiam nos meus ombros.
Eu sabia que não duraria. Era como segurar água nas mãos – a felicidade escorria rápido demais entre os dedos. Assim que o passeio acabasse, tudo voltaria. A dor. A angústia. Mas, naquele pequeno intervalo de esquecimento, abracei a leveza. Era melhor do que nada.
Quando paramos, uma pontada de decepção me pegou de surpresa. Eu não queria descer. Não queria voltar.
— Obrigado — murmurei, tentando mascarar o quanto minha voz estava hesitante enquanto descia do banco com cuidado.
O peso no meu tornozelo parecia ter aliviado um pouco, mas, quando dei o primeiro passo em direção à minha casa, a realidade me puxou de volta com força. Um grito escapou dos meus lábios antes que eu pudesse controlar, e desabei no chão.
Antes que pudesse me levantar, Ye-ji estava ali, me apoiando sem dizer uma palavra. Seus braços firmes e quentes me ajudaram a me recompor.
— Você esqueceu que eu moro na sua frente? — perguntei, tentando preencher o silêncio desconfortável enquanto ela me ajudava a andar.
Ela não respondeu. Apenas me conduziu, passos lentos e constantes, até a porta de sua casa.
Ye-ji abriu a porta da frente e me ajudou a entrar. A sala parecia uma cápsula do tempo, um reflexo intocado do lugar onde passei tantos momentos da minha infância. As paredes eram as mesmas, os móveis estavam no mesmo lugar, mas tudo parecia... vazio. Frio. Era como um fantasma daquilo que costumava ser, uma réplica que tinha perdido algo essencial.
Ela me ajudou a sentar no sofá e desapareceu na direção da cozinha. Minha cabeça se virou automaticamente para os quadros pendurados na parede. Meu coração deu um salto estranho quando vi uma foto antiga que parecia deslocada no tempo.
Era uma de nós três: eu, Mi-hi e Ye-ji, ainda crianças. Nossos sorrisos eram tão brilhantes que pareciam quase irreais, congelados em um momento que nunca mais poderia ser recuperado.
— Ye-ji… — comecei, mas minha voz falhou.
Minha respiração ficou presa na garganta quando senti algo gelado tocar meu tornozelo. Olhei para baixo, e lá estava ela, ajoelhada na minha frente.
Seus dedos frios seguraram meu pé enquanto ela cuidadosamente tirava meu sapato. Seus olhos analisavam o inchaço com seriedade, como se nada mais existisse. Por um segundo, a distância entre nós parecia um mundo inteiro. Mas, de alguma forma, seus dedos segurando meu tornozelo fizeram o mundo parecer mais pequeno. Mais próximo.
Aquele silêncio no ar parecia mais pesado do que qualquer coisa que eu já havia carregado antes.
— Não está quebrado — disse ela, sua voz firme, mas com uma gentileza que me pegou desprevenido.
Eu queria dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras simplesmente não vinham. Apenas fiquei ali, como se estivesse congelado no tempo, enquanto ela se abaixava e pegava uma bolsa de gelo.
— Aqui, coloque sobre o tornozelo. Vai evitar que inche — continuou, entregando o item com uma delicadeza que fazia meu coração se contrair de um jeito estranho.
Peguei a bolsa de gelo, mas minha mente estava a quilômetros de distância. Meus olhos, sem eu perceber, voltaram para a imagem pendurada na parede. Era antiga, desbotada, mas carregava um peso emocional que eu não sabia descrever.
— Aqueles eram bons tempos — murmurou Ye-ji ao meu lado, sua voz um eco suave. — Eu faria qualquer coisa para ter aqueles dias de volta.
Suas palavras me atingiram como uma onda. Fechei os olhos por um momento, tentando me proteger daquela verdade tão crua. Porque, no fundo, ela apenas colocou em palavras o que eu mesmo estava sentindo, mas nunca tive coragem de admitir.
Quando me virei para ela, esperando encontrar algum resquício de conexão, a atmosfera no quarto mudou. Não gradualmente, mas como um estalo de um interruptor.
— Você sabe a saída — disse ela, com uma calma que era quase assustadora. — Feche a porta quando sair.
E, sem me dar tempo de reagir, ela se virou e saiu do cômodo, deixando um vazio tangível para trás.
Eu fiquei lá, parado, tentando processar tudo. Minha garganta estava seca, e meu peito parecia mais apertado a cada segundo que passava.
Com passos lentos e pesados, saí de sua casa, o frio da noite me envolveu, mas nada era suficiente para me distrair do redemoinho de pensamentos que se formava dentro de mim.
Quando finalmente cheguei ao meu quarto, minhas pernas pareciam feitas de chumbo. A ideia de me jogar na cama e fingir que nada disso havia acontecido parecia tentadora, mas havia algo me chamando. Algo irresistível.
Fui até a janela, meu coração batendo descompassado. Levantei a cortina com cuidado, e ali estava ela. Na janela do outro lado, Ye-ji, seu rosto parcialmente iluminado pela luz fraca de seu abajur.
Eu deveria desviar o olhar. Eu sabia disso. Mas meus olhos se recusavam a obedecer.
Ela me viu. Eu tinha certeza disso. Por um breve momento, nossos olhares se cruzaram, e foi como se o tempo parasse novamente.
Meu coração batia tão forte que achei que ela pudesse ouvir.
Minha respiração ficou presa enquanto eu esperava, sem saber o que ela faria em seguida. E, ao mesmo tempo, sem querer que aquele momento terminasse.
Três anos atrás.
Acordei de um salto, o coração disparado, como se algo me tivesse arrancado de um pesadelo. Mas, ao abrir os olhos e ouvir melhor, percebi que não era um sonho. A realidade era pior.
Demorei alguns segundos para entender o que tinha me acordado dessa vez. O som familiar de vozes elevadas ecoava pela casa. Estava acontecendo de novo.
Os gritos atravessavam as paredes finas como facas.
Mamãe e papai. Eles estavam brigando. Pela terceira vez naquela semana.
Fechei os olhos com força e pressionei as palmas das mãos contra os ouvidos, como se isso fosse suficiente para bloquear o som. Não era.
— Você poderia me ouvir pelo menos uma vez? — a voz grave do meu pai trovejou pela casa.
— Ouvir o quê, Min-jun? Mais mentiras? Eu não quero ouvir suas mentiras! — A resposta da minha mãe veio com ainda mais intensidade, cada palavra afiada como vidro quebrado.
Era sempre assim. Os mesmos gritos. As mesmas palavras. As mesmas feridas invisíveis que se espalhavam pelo ar e me sufocavam.
— Chega — murmurei para mim mesmo.
Minha garganta estava seca, e meu peito parecia prestes a explodir. Precisava sair. Precisava de ar. Não dava para lidar com aquilo agora, nem mais um segundo.
Desci da cama em silêncio e abri a porta do quarto sem fazer barulho. Cada passo foi cuidadoso enquanto atravessava o corredor escuro, como se temesse que um único som pudesse puxar a atenção deles para mim.
Quando alcancei a porta dos fundos, a empurrei devagar, e o ar frio da noite me envolveu como um abraço inesperado. Respirei fundo.
E então, corri.
Minhas pernas começaram a se mover antes que eu pudesse pensar em um destino. Era quase instintivo, como se meu corpo soubesse que correr era a única maneira de fugir do caos. A grama úmida sob os pés, o vento cortando meu rosto, tudo parecia tão intenso que quase doía. Mas era isso que eu queria.
Porque, quando eu corria, a dor era diferente.
Quando eu corria, eu não precisava pensar. Não precisava sentir.
Continuei até que meus pulmões queimassem e minhas pernas cedessem. Caí de joelhos, o corpo exausto, mas a mente aliviada, mesmo que só por um momento.
Deitado de costas na grama, encarei o céu. Estava escuro, salpicado de estrelas que mal brilhavam naquela noite sem lua. Ao meu redor, o som do mundo parecia tão distante que quase me fez acreditar que eu estava sozinho.
Mas eu não estava surpreso ao olhar em volta e perceber onde estava.
A clareira.
Sempre acabava aqui. Não importava o quanto eu corresse, de alguma forma, era como se meus pés soubessem o caminho de cor. Este era o lugar que Ye-ji e eu tínhamos encontrado anos atrás, quando ainda éramos crianças. Um lugar que mantínhamos só para nós, como se fosse um segredo precioso que ninguém mais podia descobrir.
O som de passos suaves no meio do mato me trouxe de volta ao presente.
Não precisei me virar para saber quem era.
— Ye-ji — sussurrei, quase como uma confirmação para mim mesmo.
Ela estava lá, como sempre. Como se soubesse que eu precisava dela, mesmo sem eu dizer uma palavra.
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