𖤍𖡼↷ 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
Eu não consegui dormir direito naquela noite. Por algum motivo, mesmo que tentasse desesperadamente adormecer, meus pensamentos sempre acabavam voltando para Yuta e me fazendo lembrar do que tinha acontecido entre ele e eu. Não conseguia deixar de pensar no toque suave de Yuta e no como ele tinha sido carinhoso. Não conseguia sequer esquecer da sinceridade tremenda em suas palavras enquanto dizia me olhando nos olhos que gostava de mim e eu sabia muito bem o que esse gostar significava, mesmo que eu tentasse a todo custo fingir que não. Mais que isso, eu não conseguia parar de pensar na sensação da boca de Yuta pressionada contra a minha (talvez eu devesse agradecer a todas as entidades divinas por Rika não ter aparecido para me estraçalhar nesse momento, mas tinha bastante certeza que ela agora me odiava mais do que nunca).
Mesmo com todos os meus medos e inseguranças, eu seria uma tola se dissesse que aquele selinho não tinha significado absolutamente nada, não quando eu sabia muito bem o que o bater acelerado do mdu coração significava. Por mais que eu quisesse mentir para mim mesma, era impossível enganar meu coração. Era como se meu cérebro virasse geleia quando eu estava com Yuta, toda e qualquer racionalidade sendo jogada no lixo. Sim, eu sabia que vivíamos em um mundo onde tudo poderia dar errado da noite para o dia. Se fosse ser honesta, eu não sabia dizer até que ponto chegaríamos de nossas vidas, mas sobreviver em um mundo recheado por maldições não era nada fácil. Era estúpido dar escopo para se apaixonar, mas também era inevitável.
Eu odiava ter que admitir isso para mim mesma, porque de certa forma, admitir o que eu sentia era como se eu tivesse perdendo. Cresci em uma família onde não poderia existir espaço para compaixão e sentimentos de afeto, e não sabia o que deveria significar gostar tanto de outra pessoa já que a vida inteira fui ensinada a viver em um ambiente hostil e repleto de sentimentos ruins. Era difícil gostar de alguém e dizer para mim mesma que estava tudo bem ser apaixonado por Yuta e seus olhos de coitadinho. E era extremamente difícil deixar que ele entrasse desse jeito dentro do meu coração, mesmo que eu soubesse que já era tarde demais para evitar isso.
Talvez se Yuta e eu tivessemos nos conhecido em outra vida, tudo poderia funcionar entre nós dois. Talvez em uma vida onde não fôssemos feiticeiros jujutsu, onde ele não tinha que carregar a maldição de Rika e onde eu não tinha que carregar toda a dor por ter ocasionado a morte da minha irmã mais nova. Um mundo onde eu sequer saberia o que eram feiticeiros jujutsu ou maldições, um mundo onde poderíamos ser dois adolescentes normais. Talvez nessa outra vida eu tivesse dado uma chance para Yuta. Nessa outra vida, eu definitivamente me permitiria amá-lo e deixaria que ele ficasse comigo. Mas a vida que nós tínhamos não era essa, e eu não podia deixar isso acontecer, mesmo que me machucasse profundamente no processo.
Não sei dizer em que momento acabei pegando no sono, enrolada nos cobertores e agarrando com força o travesseiro que eu tinha usado como apoio emocional enquanto segurava as lágrimas que queriam cair. Era uma verdadeira droga todo esse sentimento dentro de mim. Mas acho que depois de tamto tempo reprimindo tudo o que sinto, uma hora se torna impossível continuar. Uma hora, você apenas coloca para fora.
Nada de bom jamais aconteceu na minha vida antes. Pela primeira vez na vida sinto como se tivesse um pouco de paz. E era uma merda admitir que boa parte disso era graças a Yuta e a tudo o que ele me fazia sentir. Não era só pelo fato de eu estar apaixonada por ele que tornava tudo tão intenso para mim, mas sim o fato de que Yuta havia sido meu amigo quando ninguém mais foi, tinha sido a pessoa a ficar do meu lado e me mostrar que eu podia ser quem eu quisesse ser. Juntos nós havíamos mudado e melhorado, e eu sabia que isso era algo bonito e saudável. Era grata por cada momento ao lado dele, e talvez fosse por isso que a simples ideia de perdê-lo era tão angustiante que me impedia de tomar qualquer decisão que pudesse tornar o inevitável ainda mais doloroso.
Feiticeiros jujutsu não foram feitos para serem felizes; eu sabia muito bem disso quando havia escolhido esse caminho. A vida era como um sopro, e para nós, era como a chama de uma vela que facilmente seria apagada. Ter consciência disso me levava apenas a um caminho, e não era o de viver uma paixão. Se fosse ser honesta, eu havia focado tanto em me tornar uma feiticeira forte que jamais deixei espaço para outro tipo de sentimento. Mas o universo parecia estar zombando de mim naquele momento, e foi com isso na cabeça que eu adormeci sem perceber.
Quando acordei, era como se um caminhão tivesse passado por cima de mim no mínimo três vezes; meus olhos estavam vermelhos por culpa das lágrimas e meu rosto estava inchado. As bolsas roxas embaixo dos meus olhos já deveriam ser características, mas pareciam ainda piores depois de uma péssima boite de sono. Era como se eu fosse uma morta viva, isso sim, até mesmo msu cabelo tinha perdido totalmente o brilho e o vigor, assim como eu tinha perdido a vontade de viver (isso se eu sequer a tive em algum momento da minha vida).
Não era como se tivesse muita coisa que eu pudesse fazer agora para resolver, motivo pelo qual apenas ignorei minha imagem no espelho enquanto escovava os dentes e depois penteava o cabelo em um rabo de cavalo, uma tentativa de fazer ele parecer menos pior do que de fato estava, pensando em tudo e mais um pouco enquanto tentava evitar pensar no que eu mais queria pensar: em Yuta e no como eu tinha sido totalmente impulsiva ao beijá-lo.
Não sabia dizer ainda se eu tinha me arrependido completamente do que havia feito ou não. Na verdade, era complicado. Eu tinha muitas inseguranças e mesmo que eu gostasse de verdade de Yuta, era difícil aceitar isso. Não depois de tudo o que havia acontecido na minha vida, conseguindo adquirir uma culpa que jamais iria sair de dentro do meu peito. Suspirando, eu apenas coloquei meu uniforme, me preparando para mais um treinamento com o insuportável Gojo e um dia tentando evitar a todo custo os olhos de Yuta. Era apenas nisso que eu conseguia pensar naquele momento.
Pulei o café da manhã. A verdade é que eu não estava sentindo um pingo de fome e com um total de zero vontade de ver Maki percebendo o clima estranho entre Yuta e eu, pois eu sabia que ela definitivamente ia notar algo, sempre parecia que a Zenin era capaz de ver até minha alma, o que me deixava um tanto quanto desconfortável às vezes. Aquilo não era algo que eu queria que Maki ficasse sabendo, na verdade, não queria que ninguém ficasse sabendo, já bastava ter que aguentar o clima estranho que ficaria entre Yuta e eu.
Apenas me dirigi ao local onde Gojo tinha marcado de nos encontrarmos. E dai que eu estava meia hora adiantada? Não me importei com isso enquanto usei a minha espada para treinar, aproveitando para esquentar meu corpo naquele dia gelado. Não era nem oito horas da manhã ainda, mas eu já sentia todo meu sangue ferver e os nós dos meus dedos doerem tamanha era a força que eu me segurava ao cabo da espada, como se minha vida dependesse disso. Bem, podia até não depender, mas aquele desconforto era o que me impedia de deixar minha mente divagar demais, indo para locais que eu definitivamente não queria que ela fosse.
Mesmo assim, eu estava distraída. Não estava nem mesmo perto de estar tão focada assim fazendo meu aquecimento, claramente apenas repetindo os golpes por já sabê-los de cor, sem exatamente aplicar algum tipo de dedicação a cada movimento. Eu nem mesmo notei alguém se aproximando de mim até sentir uma mão no meu ombro, me fazendo dar um pulo e me virar, abaixando a espada para não acabar assassinando alguém acidentalmente. Sabia muito bem que não seria nada demais, afinal, a escola jujutsu era protegida, mas fiquei definitivamente desapontada ao ver que era Gojo com as mãos na cintura e um sorriso idiota no rosto. Nem mesmo contive meu revirar de olhos enquanto o fitava.
-Caiu da cama, Alexys? - ele zombou e eu nem mesmo fiz questão de dar moral a ele, apenas dando as costas para meu incrivelmente chato sensei, voltando a fazer a repetição de movimentos que eu estava fazendo antes de ser interrompida por um idiota. Aquilo fez Gojo rir e eu tinha bastante certeza que toda minha insolência com ele apenas o fazia se divertir, pois Gojo era um irritante e adorava pessoas irritantes que nem ele. -Eu tô sabendo que você e seu queridinho Okkotsu saíram de fininho no meio da noite. Deveria me preocupar?
Aquela frase de Gojo me fez vacilar, parando no meio de um golpe, a espada quase escorregando pelos meus dedos. Apenas prendi a respiração, não ousando me virar para fitar Gojo, sabendo que, independente de qualquer coisa que eu pudesse vir a inventar, ele já sabia toda a verdade. O que era bem irritante, se eu fosse ser sincera, porque tudo o que eu menos precisava era um insuportável enchendo meu saco, mas lá estava ele, bem atrás de mim, dando risada.
-Quem é que beija alguém e logo depois foge? - ele zombou e, ah, sim, eu não me importei nem um pouco com o fato de ele ser meu sensei quando me virei para ele e joguei a espada em sua direção em uma tentativa de assassinato.
Claro que aquilo não ia acertá-lo. Ele era Satoru Gojo, no final das contas, e existiam poucas coisas capazes de o machucar de verdade. Eu definitivamente não era uma das pessoas capazes de fazer isso, mas minha atitude rebelde parece ter divertido ele enquanto Gojo pegava minha espada caída ao seus pés e abria um sorriso.
-Se eu soubesse que precisava apenas disso para fazer você reagir, teria feito antes! - Gojo riu, se aproximando e colocando o cabo da espada nas minhas mãos. -Sabe que não precisa de uma arma, né, Alexys? Estou esperando o momento que vai parar de ser uma grande covarde e trazer uma maldição de nível especial para trabalhar para você.
Escutar aquilo foi como tomar um soco bem no meio do estômago. Eu estava ciente de que era bem capaz de fazer aquilo, e também sabia que, por pior que sua frase fosse, Gojo não estava exatamente errado. Eu era uma grande covarde, com tanto medo de reviver o que tinha feito com minha própria irmã que me fechei para todo o restante do mundo e suas possibilidades. Não era por isso que eu me apegava tanto a aquela espada, afinal? Eu sabia que seria mil vezes mais forte usando minha técnica amaldiçoada do que uma simples arma embuida em energia amaldiçoada. Eu sabia que podia fazer muito, muito mais do que aquilo. E pelo jeito que Gojo estava ali parado na minha frente, me dando um sermão, ele também sabia.
Não precisa ser um escroto, gesticulei em língua de sinais, sabendo que ele não ia entender. Mas para minha surpresa, Gojo sensei entendeu muito bem, porque claro que ele teria passado meses fingindo não me entender apenas para ser um babaca irritante.
-Não estou sendo escroto, estou sendo realista. Está na hora de você começar a reagir. - ele retrucou de forma séria, mas, então, abriu um sorrisinho. -Mas até que Okkotsu conseguiu tirar o melhor de você! Só não sabia que ia terminar com vocês dois dando beijinhos, mas acho que tudo bem esse efeito colateral.
Queria matá-lo por ser um lixo. Mas me contentei em usar todas as minhas forças para chamar uma maldição, ficando surpresa com o como ela apareceu atrás de Gojo apenas com um pensamento meu, esperando por um comando.
Gojo a notou instantaneamente, dando um assobio ao se dar conta que aquela não era uma simples maldição, mas forte o suficiente para fazê-lo sorrir. E eu fiquei absurdamente chocada. Sabia que estava treinando arduamente para conseguir aquilo, mas não havia imaginado que iria funcionar! A raiva fazia coisas muito interessantes, eu precisava admitir isso. E sinceramente, não me importei nem um pouco quando apertei ainda mais minhas amarras naquela maldição e ordenei que ela atacasse Gojo.
Ele era absurdamente forte, eu sabia disso. Acabaria com aquela maldição em dois palitos, mas minha intenção nunca foi fazer com que a maldição o machucasse de qualquer forma. Pois enquanto Gojo estava com toda sua atenção focada em destruir aquele monstro invocado por mim, eu corri na sua direção, usando todas as minhas habilidades para que Gojo não notasse minhas intenções. E no exato momento em que ele destruiu a maldição, eu choquei meu pé com força bem no meio de suas costas, empurrando meu incrivelmente irritante sensei com tudo para o chão.
Gojo estava surpreso, eu sabia disso. A força que eu apliquei no golpe o fez se desequilibrar completamente, caindo em direção ao chão.
Sorri de forma satisfeita ao ver Satoru Gojo com a cara afundada na neve, me sentindo finalmente bem. Foda se todo o resto, naquele momento, eu estava absurdamente feliz, mesmo que também estivesse ofegante por todo o esforço que fiz para conseguir manter a maldição no meu controle e tentando me ofuscar do radar de Gojo. Mas tinha valido a penas, apenas para ver ele ali no chão. Não durou muito, mas foi o suficiente.
-Meu Deus, Alexys, você fez nosso sensei parecer um idiota. - a voz de Maki chamou minha atenção, fazendo eu me virar o suficiente para ver ela se aproximar na companhia de Panda, Inumaki e Yuta. Eu fiz uma careta antes de gesticular na direção dela:
Mas ele é um idiota.
Aquilo a fez rir.
E eu definitivamente não deveria ter me distraido, pois no segundo seguinte, quem estava caída no chão que nem merda era eu depois de ser atacada pelo meu próprio sensei. Aquilo era injusto! O golpe de Gojo doeu muito mais do que o que eu tinha aplicado sobre ele! Senti todo o ar sumir completamente dos meus pulmões enquanto tentava falhamente me levantar.
-Nunca dê as costas para seu inimigo. - Gojo disse dando risada. Ele mais parecia uma criança mimada se vangloriando de sua vingança do que um adulto e um sensei, mas tudo bem!
Não tive outra opção que não aceitar a ajuda de Yuta quando ele se aproximou de mim, me segurando pelos ombros e me ajudando a levantar. Tive que reprimir uma careta sentindo as mãos de Yuta pressionadas na minha cintura enquanto ele me mantinha de pé, me fazendo respirar fundo e mandando para longe a lembrança da noite anterior.
Cometi o grande erro de olhar para os olhos de Yuta; podia ver que mesmo que eu não quisesse pensar na noite anterior, aquilo era tudo o que ele estava pensando. Me senti péssima por isso, e mais, me senti péssima por ter dado a ele esperanças de que um dia poderíamos ser algo que eu sabia que jamais poderíamos ser. Eu não era a escolha certa e jamais seria. Mesmo que quisesse, eu não podia mudar algumas coisas, e aquela era uma delas. Yuta iria acabar percebendo em algum momento que era um erro.
Mas ali, me olhando, Yuta não pareceu perceber nada disso. Muito pelo contrário, suas bochechas ficaram vermelhas enquanto me fitava e eu sabia muito bem que nada tinha relação com o dia frio. Tive ainda mais certeza disso quando Yuta abriu um sorriso tímido o suficiente para me fazer ter certeza que, assim como eu, ele não tinha dormido absolutamente nada pensando em tudo o que havia acontecido entre nós na noite passada.
-Muito bem, vejo que vocês dois já são meio que uma duplinha! Ótimo, vocês vão se dividir no treinamento de hoje. Yuta e Alexys podem ficar juntinhos do jeitinho que gostam! - a voz de Gojo tinha um certo tom de provocação e eu tive vontade de matá-lo por isso, mas apenas fiz uma careta. Pela primeira vez, desejei que ele me tivesse deixado fazer parte do trio, e não ficar de dupla com Yuta, porque, bem... As coisas entre nós não estavam exatamente nos melhores termos. Mas também não tive sequer tempo de protestar antes de Gojo mandar Maki, Inumaki e Panda treinarem em outro local, pois mais tarde faríamos um exercício de luta e estratégia uns contra os outros, o que me deixou com ainda mais vontade de surtar.
Tentei ignorar todos esses sentimentos enquanto ficava cara a cara com Yuta, assumindo uma posição de luta, meus dedos apertando com força o bastão de madeira deixado por Gojo. Mas Yuta sequer fez menção de pegar seu próprio bastão, ocupado demais em me fitar, parecendo perdido dentro dos próprios pensamentos.
Eu não sabia o que deveria fazer, mesmo que minha vontade fosse a de afundar meu bastão na cabeça de Yuta para ver se assim seu cérebro voltasse a funcionar. Não tínhamos tempo a perder e o tempo de aulas e treinos eram valiosos demais para mim. Mesmo que eu estivesse bem inclinada a fugir do treino daquele dia.
Suspirando, abandonei o bastão de madeira e dei apenas um passo na direção dele. Não sabia se era uma boa ideia ficar tão perto de Yuta, principalmente levando em consideração tudo o que tinha acontecido entre nós dois no dia anterior. Eu não confiava mais em mim mesma para tomar decisões, essa era a verdade.
O que foi? gesticulei em língua de sinais, esperando que Yuta se lembrasse do que aquilo queria significar. E pela careta que ele fez, Yuta sabia exatamente o que eu estava dizendo.
-Eu acho que a gente deveria conversar sobre o que aconteceu ontem, Alexys. - ele disse baixo, mas seu olhar era sério e determinado, o que fez meu estômago revirar inteiro, apesar de eu nem mesmo ter comido naquele dia. Eu respirei fundo, sabendo que não tinha uma escapatória para aquilo, e vendo o jeito como Yuta estava sem graça, não adiantaria fugir, pois hora ou outra, teríamos que conversar. -Eu só não entendo. O motivo de você se afastar e fugir. Não estava mentindo sobre o que eu disse, Lexy. Mas você fez... Aquilo e depois fugiu. Não sei o que pensar. - as palavras de Yuta eram suaves, mas havia uma certa dor nelas que fazia meu coração se encolher enquanto eu olhava seus olhos ávidos em busca de uma explicação para meus cortes a todas as suas tentivas. Me senti ainda mais covarde do que já me sentia, pois eu não era capaz de responder a pergunta que Yuta tanto queria saber.
Respirei fundo. Não sabia como explicar para Yuta tudo que estava guardado em meu peito, mesmo que no fundo eu soubesse que ele entenderia. Mesmo depois de tantas noites contando as coisas mais profundas dentro do meu coração, eu ainda não sabia como expressar para Yuta o turbilhão de sentimenros que ele me fazia sentir. Yuta foi paciente comigo desde o dia que nos conhecemos, desde o dia que decidiu tentar ser meu amigo, conquistando aos poucos minha confiança e meu coração, e por isso eu sabia que ele merecia mais do que palavras não ditas e evasivas. Ele merecia a verdade, mesmo que essa verdade me apavorasse, mesmo que eu tivesse medo de dizer em voz alta, mesmo que eu soubesse que tínhamos tempo contado dentro desse mundo repleto por maldições e tragédias.
Eu não quero te magoar, Yuta, gesticulei, minhas mãos tremendo ligeiramente. Vi seus olhos ficarem confusos e puxei meu celular para digitar. Não sei como ser o que você quer que eu seja. E não sei se estou pronta para tentar, porque não posso te prometer que vai dar certo.
Yuta deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós, parecendo ainda mais determinado, mesmo após minhas palavras que iam definitivamente contra tudo aquilo que ele estava esperando. Seus olhos, sempre tão gentis, agora estavam firmes, como se ele estivesse decidido a me convencer de que valia a pena tentar e de que eu estava profundamente errada. E eu queria tanto, tanto acreditar nele.
-Alexys, eu não preciso de promessas. Eu só quero que você me dê uma chance. - sua voz era um sussurro, mas carregava uma intensidade que fazia meu coração acelerar. Toda minha pele formigou quando Yuta estendeu a mão e segurou a minha. - Eu sei que você tem medo, e eu também tenho. Mas eu prefiro enfrentar esses medos ao seu lado do que te perder sem ao menos tentar.
Lágrimas queimaram meus olhos enquanto eu deixava as palavras de Yuta acertarem em cheio meu coração. Nunca, jamais, em toda minha vida, haviam me oferecido algo tão bonito quanto o que Yuta estava me dizendo. Nunca tinham me oferecido o carinho e a gentileza que ele me oferecia, e essas eram uma das muitas coisas que fizeram eu me apaixonar aos poucos por Yuta sem nem mesmo me dar conta disso.
Yuta estava me oferecendo tudo o que eu sempre desejei, mas que nunca tive coragem de aceitar e buscar. E eu sabia que tinha muitos traumas e muitos medos pesando nos meus ombros, eu não sabia o que era ser feliz, nunca soube. Mas ali, olhando para Yuta, eu soube que, mesmo que a ideia de permitir que alguém entrasse em meu coração fosse aterrorizante, a ideia de perder Yuta era insuportável.
Eu dei um passo hesitante em sua direção, minhas mãos se levantando para falar o que eu não podia dizer com minha própria voz.
Eu gosto de você, Yuta. Mais do que eu posso explicar.
Algo em seus olhos me fez ter certeza que ele tinha entendido cada mover das minhas mãos. Yuta pegou minhas mãos, segurando elas com firmeza contra as suas.
-Eu sei que você tem medo, Lexy. - ele disse, baixinho, seu rosto tão perto do meu que fez meu coração dar um salto dentro do peito. -Mas eu estou aqui, Alexys, e nada em você me assusta. E eu não vou a lugar nenhum.
A sinceridade em seus olhos quebrou a última barreira que eu tinha erguido em volta do meu coração. Pela primeira vez, me permiti acreditar que talvez, apenas talvez, eu pudesse ser feliz ao lado de alguém que também gostava de mim. Gostava de mim de verdade.
Yuta gostava de mim de verdade. Não como uma arma, não como uma forma de sair da miséria, não como uma forma de trazer de volta um orgulho estúpido.
Yuta gostava de mim de verdade, e porque eu era eu.
Por isso, deixei que Yuta fizesse algo que eu jamais teria permitido se estivesse com a mente em seu devido lugar ao invés de deixá-la ser controlada pelo meu estúpido coração.
A neve tinha começado a cair suavemente sobre nós quando Yuta se inclinou na minha direção, estendendo uma mão para tocar meu cabelo, colocando uma mecha dele atrás da minha orelha e acariciando meu rosto de uma forma tão suave que me fez fechar os olhos por um instante. Ele se inclinou lentamente, me dando tempo para recuar se eu quisesse, mas eu permaneci imóvel, presa entre o desejo e o medo. Quando seus lábios finalmente tocaram os meus de forma suave, foi como se o mundo inteiro parasse por um instante.
Não um selinho desesperado, não aogo do qual eu fugiria no segundo seguinte, não mais. Eu estava cansada de mentir e me esconder, estava cansada de ter medo.
Gostar de Yuta era aterrorizante. A ideia de permitir alguém entrar em meu coração daquela forma me deixava com tanto medo que me fazia ter vontade de o tirar ali de dentro, pois sabia que se o perdesse, jamais iria superar isso, mas eu também sabia que já era tarde demais. Não podia mais fugir daquele sentimento e nem mesmo queria me esforçar para fingir não sentir algo que era tão forte que fazia meu coração doer.
E eu me deixei ser envolvida no beijo terno de Yuta, cheio de promessas e esperança, mesmo sem saber o que seria de nós dois no dia seguinte. Naquele momento, apenas me permiti ser feliz, apenas me permitir explorar cada canto da boca quente de Yuta contra a minha, ignorando completamente a neve caindo sobre nós e o vento gelado. Tudo o que eu menos sentia naquele momento, era o frio.
O beijo de Yuta era suave e hesitante, como se ele estivesse explorando um território desconhecido. Seus lábios eram quentes e firmes contra os meus, e o toque gentil enviou uma onda de calor através do meu corpo. Senti uma corrente elétrica percorrer minha espinha, fazendo meu coração acelerar ainda mais.
Ele trouxe uma de suas mãos até o meu rosto, seus dedos traçando uma linha delicada pela minha bochecha. Meus braços subiram, envolvendo seu pescoço, trazendo-o para mais perto, ignorando completamente toda a racionalidade dentro de mim mesma, deixando que ela fugisse de mim naquele momento enquanto cada movimento de nossos lábios tocando um no outro pareciam repletos de significado, uma dança silenciosa de emoções não ditas. Por um momento, tudo parecia certo.
Quando finalmente nos separamos, nossos olhos se encontraram, e eu vi o mesmo turbilhão de emoções refletido nos olhos de Yuta. Ele manteve sua testa encostada na minha, seu hálito quente se misturando com o meu, enquanto tentávamos recuperar o fôlego. Meu coração batia tão forte dentro do peito que pensei que fosse acabar saltando para fora.
-Lexy. - ele sussurrou, sua voz rouca.
Yuta não precisava dizer nada. Tudo o que eu precisava saber já estava escrito em seu olhar. Por isso, eu apenas sorri, apesar de todos os meus medos, traumas e inseguranças. Não sabia o que aconteceria no futuro, mas sabia que precisava viver o agora. E naquele momento, o que eu queria fazer, era beijar Yuta Okkotsu. E foi exatamente isso que eu fiz.
boa tarde povo bonito!
tudo bem com vocês?
espero que sim!
um big, big capítulo pra
vocês s2 compensar
os 50 mil anos
que eu fiquei fora haha
finalmente o momento que
todos aguardaram!
espero que estajm gostando!
vejo vocês no próximo
capítulo
bjs na bunda
~Ana
Data: 04/08/24
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