O Chapéu Seletor
-Lembrem-se, o Chapéu nunca erra.-Disse Minerva.
Aquela frase começou a irritar Silena. Como poderia se ter certeza que a escolha certa estaria sendo feita? Nada no mundo poderia ser tão exato assim. Um mísero chapéu esfarrapado ditando o destino de todos os bruxos de Hogwarts? {N/A: Ain, não acredito que tive que escrever isso. O Chapéu é tão divo...}Para a menina, aquilo não parecia certo. Aliás, muitas coisas não pareciam certas para a garota, afinal, em seu primeiro dia de aula ela estava sendo julgada. E então, de repente, Silena constatou que não amava Hogwarts tanto quanto achou que amaria.
Uma menina de cabelos cor de mel e um nariz absurdamente grande foi até o Chapéu e sentou-se no banquinho de três pés, assim que Minerva a chamou.
Mais que depressa, o Chapéu ganhou vida e começou a ponderar em voz alta.
-Hum... O que eu vejo aqui é lealdade, muita lealdade. -Começou o Chapéu Seletor.-Mas falta coragem. Falta ambição, e um pouco de inteligência não lhe faria mal... Hum... Vejamos... Lufa-Lufa!-disse o Chapéu, deixando a menina nariguda satisfeita com o resultado.
A casa amarela aplaudiu, enquanto a menina corria até à mesa de sua nova casa. E assim foi indo, até a vez de Diego chegar. Ele hesitou um pouco, antes de ir até o banquinho e se sentar, ligeiramente nervoso. Ele olhou para Silena antes que o Chapéu tapasse seus olhos.
-Oh, um Malfoy!-O Chapéu disse, logo que a cabeça do menino encostou em seu tecido esfarrapado.-Há muita coragem aqui, mais do que em todos os seus antepassados. Mas alguns costumes devem continuar existindo. Sonserina!-Ele disse, fazendo a casa verde e prata explodir em aplausos, juntamente com alguns dos primeiranistas, como Silena e uma garota de cabelos crespos. Diego recebeu olhares acusatórios dos alunos de outras casas, principalmente de Grifinória, mas fora bem recebido por sua própria.
No fundo, Diego não se sentia nem um pouco surpreso. Sabia que iria para Sonserina, assim como sabia que Silena iria para Grifinória, obviamente.
Poucos nomes depois, Iris Doblehead foi chamada para sentar-se no banco, exibindo ele enorme sorriso que parecia não desgrudar de seus lábios. O Chapéu nem precisou procurar demais para encontrar a casa na qual a menina se encaixaria perfeitamente.
-Lufa-Lufa!-Ele disse, fazendo o sorriso da menina aumentar e a casa aplaudir mais uma vez, enquanto assistiam a menina ir saltitando até sua mesa.
Depois de muitos outros nomes, finalmente chegou-se na letra de Silena.
-Silena Potter!-Disse McGonagall. Todos no Grande Salão se calaram e olharam para ela. Nem mesmo os professores se moviam. Não ouvia-se um mísero suspiro. Silena andou trêmula até um banquinho, olhando para seu avô antes. Ele assentiu para ela, antes que sua visão escurecesse pelo Chapéu.
-Hum... Potter... Engraçado... Eu vejo uma necessidade de fugir do inesperado. Uma determinação e ambição mais do que extremas. Sabe, seu avô, quando se sentou nessa cadeira tinha essas mesmas qualidades e decidiu negá-las. Mas você... Você é diferente de tudo que eu já vi. É extremamente corajosa, inteligente, leal e muito ambiciosa. Nunca enfrentei uma decisão tão difícil... -Ele parou por uma momento, antes de voltar a falar.-Grifinória está no ar, sabe? Todos esperam que você vá para lá. Sério, você não pode ver, mas eu posso. Os Grifinórios estavam sorrindo quando você sentou. Não se pode dizer o mesmo de agora, mas ainda sim...-O Chapéu estava enrolando. Silena podia o sentir, revirando suas memórias, suas decisões, em busca de uma solução para a equação em que a menina havia se transformado.
A tensão se espalhou pela sala, e logo os alunos começaram a cochichar quando o Chapéu se calou. Ele estava concentrado, procurando em cada canto da cabeça de Silena uma resposta. Até que uma memória recente brilhou na cabeça da menina.
-Ah! -Ele falou, de repente, assuntando a menina e os alunos ao seu redor.-Draco Malfoy? Essa é uma escolha estranha, muita gente ficaria horrorizada com isso. Tem sorte que eu sou só um mero Chapéu.-Silena já estava ficando nervosa. Porque o Chapéu simplesmente não dizia de uma vez?
Os cochichos logo se transformaram em conversas. Ninguém, nem mesmo os professores, entendiam o porquê do protelar do Chapéu. Apenas três pessoas em todo Salão estavam serenas. Harry Potter era uma delas. Ao seu lado, o professor de Poções, Draco Malfoy e a professora de Transfiguração, Hermione Granger, se mantinham calmos e equilibrados. Os três se entreolharam e então, já sabiam a resposta. Havia acontecido o mesmo trinta anos atrás.
-Pois bem, minha cara. Você é poderosa, e é uma Grifinória, Corvina, Lufana e Sonserina nata. Mas sua alma clama por uma das casas...-O Chapéu começou, fazendo uma pausa que irritara Silena profundamente. Já estava cansada de esperar.-Minha decisão está tomada!-Novamente, o Salão se silenciou completamente, olhando com expectativa para a menina pálida de cabelos negros trançados, que segurava algo com força na palma de sua mão.
Uma onda de determinação cresceu em Silena. Ela odiava ser classificada e julgada. Odiava que todos a pressionassem para ser a nova Harry Potter, a nova Gina Weasley, ou até mesmo a nova Hermione Granger. Odiava que tivesse que seguir um roteiro de perfeição absoluta e que um mísero pisar em falso já fosse um pecado. Odiava ser tratada como uma bonequinha feita pra ser adorada e santificada. Ela não seria Harry Potter e não seguiria nenhum roteiro pré-determinado. Ela faria seu próprio destino e ninguém poderia dizer o contrário.
Essas idéias se espalharam como veneno pelo sangue de Silena, atingindo cada espaço de seu pequeno corpo. Sua decisão estava tomada. Ela seria uma heroína por ela mesma, e não por ser uma Potter.
-Sua casa é Grifff-O Chapéu parou no meio de sua sentença. Ele sentiu a onda de raiva e determinação que recaiu sobre Silena.-Uou. Eu não sinto isso desde... Desde...
Silena quase gritou. O Chapéu lhe enviara uma imagem, a imagem de uma pessoa. A menina ficou estática, e não se moveria nem que precisasse.
-Muito bem. Eu volto atrás com a minha decisão!-Um silêncio cada vez mais mortal caiu sobre o Salão. Os alunos e professores se encaravam, sem saber o que aquilo significava. Afinal, o Chapéu Seletor nunca, nunca errava.
A expectativa cresceu e foi absorvida pelas paredes, pelo teto, pelo chão e escapava pelas vidraças. Silena prendeu a respiração, assim como todos na sala. Agora, apenas Draco Malfoy se mantinha calmo, observando a cena reenclinado em sua cadeira. Seus olhos pousaram em seu único neto, que o olhou de volta preocupado. Draco então sorriu para ele e pediu, com um gesto para que ele se acalmasse, porque tudo estava sobre controle.
-Sua casa definitivamente é... -O Chapéu parou por um momento e isso deu a Silena vontade de gritar para que ele dissesse logo. Ninguém mais naquela sala aguentava esperar. Ela sentiu que o Chapéu havia respirado fundo, e abrindo a boca para sentenciar de uma vez por todas, se Silena era mais corajosa, inteligente, fiel ou ambiciosa.
Ambiciosa. Esse era o termo que utilizavam para os sonserinos. Sinceramente, para a menina, aquilo parecia errado, já que todas as outras casas eram presenteadas com qualidades. Oras, quer dizer então que tudo que há de ruim vai para uma única casa? Isso não poderia ser verdade. Afinal, Merlin era de Sonserina e foi o maior mago da história, enquanto Morgana, a verdadeira ambiciosa, era uma corvina.
Todos esses pensamentos quase fizeram Silena se distrair o suficiente para não prestar atenção no Chapéu Seletor e no seu julgamento final. Mas quase que como um golpe, aqueles pensamentos lhe sumiram quando os farrapos em formato de chapéu que estavam em sua cabeça finalmente falou.
-Sonserina!
Não houveram aplausos para Silena. Não houve nenhum tipo de reação. Silena quase pensou que todos estivessem congelados até a diretora McGonagall tirar o Chapéu Seletor de sua cabeça e a garota finalmente pode enxergar a situação de seus colegas. Nenhum deles falava, e os grifinórios se sentavam vagarosamente. Provavelmente, haviam pensado que haveria mais uma Potter em sua casa.
Silena finalmente soltou o ar que estava prendendo e levantou-se do banquinho. Ela viu o broche em sua mão começar a vibrar. Ela abriu a palma da mão e observou aterrorizada enquanto o broche tornava-se verde e prata, com a serpente de Sonserina de movendo preguiçosamente. Ela se moveu lentamente até sua mesa, não sem antes olhar para mesa dos professores. Seu avô não estava lá e os olhos de Silena acabaram se deparando com outra figura. Alto, com muitos fios grisalhos em meio aos cabelos louros mas olhos extremamente vivos, cinzentos e brilhantes.
Draco Malfoy. Silena pensou. Ele a olhou e sorriu de canto. Um arrepio gelado correu pela espinha da menina. Ele parecia ser tão mal quanto às histórias.
As conversas finalmente ascenderam e nem todos olhavam para Silena. Ela se apressou para sentar ao lado de Diego.
-Meu Merlin. Eu pensei que essas pessoas te queimariam viva. Foi muita tensão de uma só vez. -disse Diego, olhando para Silena.-E quanto ao seu broche? Deixe-me vê-lo.
A menina estendeu o broche para ele. Ele sorriu ao ver a cobra que sibilava, brilhante como pura Esmeralda.
-Sonserina. Sonserina. Sonserina... Eu sou uma sonserina...-disse Silena, encarando a comida que apareceu em sua frente. Ela não prestou atenção nos avisos da diretora e nem nas conversas ao seu redor. A comida lhe parecia insossa e tudo parecia embasado e sem cor.
Seu avô havia saído antes ou depois da sentença. Ela o decepcionara. Ela decepcionou a todos. Não havia um único ser naquela escola que não a desprezasse agora, exceto Diego.
-Ei. Calma. Vai ficar tudo bem. Coma alguma coisa, vai se sentir melhor. Tudo isso vai passar, você vai ver.-Ele disse, antes de oferecê-la um pedaço de frango assado.
Silena tentou sorrir para seu amigo e começou a comer. Sem querer a menina que estava ao seu lado derramou um pouco de suco de uva nela, deixando Silena encharcada.
-Meu Merlin! Perdão! Sou uma desastrada.-Disse a menina, ajudando Silena a se limpar.
-Está tudo bem. Qual o seu nome?-Perguntou Silena, tentando parecer simpática.
-Sou Ester Zabini. Você é a Silena Potter, né? Deve ser duro passar por toda essa pressão.-disse a menina.
Ela tinha cabelos crespos castanhos e pele morena, seus olhos eram intensamente verdes e ela sorria para Silena. Diego esticou-se para olhar quem era e sorriu ao ver sua amiga de infância na mesma casa que eles.
-Oi Ester!-Ele disse, acenando.
-Diego! É tão bom te ver! Como vai?-Ela perguntou, antes de tomar um gole de seu suco.
-Vocês se conhecem?-Perguntou Silena, antes de enfiar um cookie inteiro na boca.
-Sim! Ela é minha amiga desde a época em que eu usava fraldas.-Disse Diego.
-Não que isso tenha acontecido há muito tempo, não é mesmo Malfoy?-disse um garoto na frente deles, do segundo ano, de cabelos louros e olhos castanhos.
-Fica quieto aí Parkinson. Ninguém te perguntou nada.-disse Diego, mostrando a língua parar o garoto mais velho. Silena riu daquele grupo. Pelo visto seria um ano divertido.
Após o jantar, as crianças começaram a ir para seus dormitórios e Guilly passou por Silena, lhe mandando um sorriso de encorajamento. Ela lhe retribuiu o sorriso e correu para a frente de sua fila, onde o monitor de cabelos escuros chamado Persival falava sobre a escola.
Eles desceram escadas até chegarem em um lugar escuro e frio, onde haviam alguns poucos quadros retratando guerras, e monstros destruindo vilas. Haviam algumas celas escuras aqui e ali, mas não era possível ver se havia algo dentro delas.
-Venham crianças, e não se aproximem muito das celas. Nem mesmo eu sei quais criaturas estão trancafiadas em cada uma delas. O Salão Comunal é no fim do corredor, sigam-me.-Disse o monitor, parecendo levemente incomodado.
Masmorras. Sonserina ficava em meio a masmorras. A raiva de Silena aumentou ainda mais. Ela era uma criança de onze anos que dormiria perto de trasgos e trolls. É tudo isso por que? Por que considerou-se que os sonserinos não eram confiáveis o suficiente para dormirem em um local mais seguro?
Silena afastou essas ideias da cabeça por saber que uma primeiranista não tinha nenhum tipo de poder. Era triste, mas ela sabia que por enquanto não podia fazer nada.
Todos chegaram até um grande quadro com um cara de aparência séria, mas que assim que viu os primeiranistas sorriu.
-A senha por favor.-Ele disse, olhando para o espelho na sua mão.
-Cauda de basilisco.-Disse Percival, em alto e bom som, para que todos os novos alunos pudessem ouvir.
Todos entraram no grande salão comunal, cheio de tapeçarias verde e pratas. As paredes eram de pedra e haviam muitos sofás e poltronas destribuídas pelo espaço. Haviam duas escadas, uma para esquerda e outra para a direita, que provavelmente levavam para os dormitórios.
-O dormitório das meninas é o da direita e o dos meninos o da esquerda. É proibido que meninos entrem no dormitório das meninas e vice e versa. Os uniformes estarão em uma cadeira ao lado de suas camas, assim como suas malas e seus bichinhos de estimação, se houverem trazido algum.-Instruiu Percival.-Agora, vão descansar, amanhã será o primeiro dia de aula de vocês. Estejam no Grande Salão no horário marcado e eu os acompanharei para a primeira aula. Não se atrasem. E boa noite para todos.-Falou o monitor.
As crianças foram para as escadas e Silena olhou para Diego, que esperava para subir para seu dormitório. Ele olhou pra ela e acenou.
-Até amanhã.-A menina disse, baixo, sorrindo e acenando de volta.
-Até.-Ele respondeu, com um pequeno sorriso.
A menina subiu com Ester até o dormitório, ficando feliz ao descobrir que a cama de Ester era ao lado da sua.
-Merricup? Você está aí?-perguntou Ester, olhando para uma jaula que estava tapada com um pano preto e bordado. A sonserina retirou o tecido de cima da gaiola, exibindo uma coruja orelhuda de penas vermelho-acobreadas e olhos verdes, que piou alto assim que a luz a iluminou completamente.
Enquanto isso, a gata de Silena, Jade, estava encolhida dentro da jaula, até notar que a menina havia chegado, começando a miar logo em seguida, fazendo a Potter rir um pouco.
-Calma garota, eu vou te tirar daí.-A garota disse, antes de abrir a pequena jaula. A gata desceu e se esticou, bocejando. O pelo negro da gata reluziu antes de ela entrar dentro das cobertas da cama de Silena.
Silena arrumou as suas coisas e analisou o uniforme verde e prata. Ela nunca pensará que vestiria aqueles tons. Para ela, seria um cachecol vermelho e amarelo dobrado na cadeira, e não um verde e cinza. Para ela, o broche em sua mão teria um leão que rugia incansávelmente, e não uma serpente verde e sibilante. Com esses pensamentos e a culpa crescendo dentro da menina, ela se aprontou para dormir e se jogou na cama macia, de cobertas verdes. Ela nem hesitou em dormir de uma vez, mergulhando em um sono isento de sonhos, que a fez esquecer de toda a decepção que conseguiu causar em um dia apenas.
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