Finalmente, Hogwarts.
Quando o primeiro de setembro chegou, Silena não poderia estar mais empolgada. Naquele dia, sua vida mudaria para sempre. Se assegurou, antes de tudo, que seu bloco de desenho estivesse em sua bagagem de mão, para poder desenhar cada detalhe do trem e da paisagem. Teria que arrumar um tempo para desenhar Hogwarts, mas isso ela poderia deixar para outro dia. Ela praticamente pulava enquanto colocava suas últimas coisas na mala.
Jade, sua gata, miou na jaula, afinal, era ela que iria para a escola com Silena. Guilly levava Snowflake, sua coruja, e o vô Harry não levava nenhum animal, mas um livro grosso e antigo, de capa preta e branca.
O Sr. e a Sra. Potter decidiram se despedir em casa, pois todos estavam atrasados. Imaginem o que pensariam de Silena se ela chegasse atrasada logo no primeiro dia?
A estação de trem não ficava muito longe de sua casa, mas mesmo assim não era bom que ficassem muito em cima da hora. Guilly parecia muito animado para voltar ao seu lugar favorito no mundo, enquanto assobiava o hino de Hogwarts e sorria para seu pequeno livro de poções. Eles tiveram que nos apressar para chegar até a pilastra entre a plataforma nove e a dez.
Um casal se despedia do filho na entrada. O menino tinha cabelos louros muito claros e olhos acinzentados, um nariz perfeito, lábios bem desenhados e uma postura imponente. Ele sorria para seus pais, e parecia ter a mesma idade de Silena.
Harry se aproximou do casal e os cumprimentou com um aceno de cabeça e um sorriso cordial.
-Professor Potter! É uma honra revê-lo depois de tantos anos!-Disse o homem, apertando a mão do avô de Silena.
-Lemus Malfoy. É um prazer rever um de meus melhores alunos.-Disse ele, devolvendo o aperto de mão.-Liliana, vejo que finalmente se uniu a este bonachão. Está pondo-o na linha, não está?
Silena desligou-se do papo dos adultos e olhou para o garoto a sua frente. Ele era mais alto que ela, e a olhava com uma expressão neutra. Silena logo lhe deu um pequeno sorriso.
-Sou Silena, e você?-Ela perguntou, oferencendo a mão para que o menino pudesse apertá-la.
-Diego. É um prazer. Você é neta do professor Potter?-Ele perguntou, olhando para o avô da menina logo depois de apertar sua mão.
-Sim, sou. E você é filho de Lemus Malfoy, um dos maiores aurores de nossa era.-Ela respondeu.
-Crianças, temos que ir.-disse o vô Harry. O Sr. e a Sra. Malfoy se despediram de seu filho uma última vez, e assistiram às três crianças e ao professor que entraram na plataforma, simultaneamente.
Guilly permanecia quieto, lendo seu pequeno livro. Ele foi o primeiro a deixar sua bagagem e correr para o Expresso Hogwarts. Enquanto os alunos se aglomeravam para entrar, Silena olhou bem para o trem, memorizando cada detalhe, para que pudesse desenhá-lo na viagem.
Diego e Silena entraram juntos no trem, e logo encontraram uma cabine vazia para se sentar.
-Você também tá no primeiro ano?- perguntou Diego, olhando para Silena.
-Sim. Meu avô me contou muitas histórias sobre Hogwarts, mas eu não consigo imaginar como é lá.-Ela respondeu, olhando pela janela. Ela começou a remexer sua bolsa em busca do bloco de desenhos e da caixa onde guardava sua pena e seus lápis. Deixou a bolsa aberta, do seu lado.
-Você desenha muito bem!- disse alguém na porta da cabine. Uma menina de cabelos crespos e dourados, com olhos verde esmeralda sorriu. Ela entrou na cabine e estendeu sua mão para Silena.-Sou Iris Doblehead. É um prazer.
-Silena Potter. O prazer é meu.-Respondeu a menina, tímida. Diego olhava aquela cena com a cabeça baixa. Provavelmente se sentia mal por não ter sido incluído na conversa.
-Meu Merlin! Você é uma Potter!-Disse Iris, animada.-Você deve se sentir tão sortuda!
Silena se retraiu um pouco. Sabia que Iris não havia dito aquilo por mal, mas todos sempre diziam o quanto ela era sortuda, o quanto devia ser poderosa. Para Silena, nada daquilo parecia ser verdade. Ela se sentia a pessoa mais azarada do mundo por ser neta de Harry Potter, e extremamente infeliz, pois a fama do Menino-Que-Sobreviveu a perseguia por onde quer que fosse. Talvez por isso ela não tivesse nenhum amigo.
-Sim, sou. Este é Diego Malfoy. Ele é do primeiro ano, como eu.-Disse a menina Potter, apontando para o colega a sua frente.
A expressão de Iris logo mudou. Ela se afastou alguns passos e seus olhos assumiram uma expressão cautelosa.
-M-Malfoy? Bem, a-acho que já vou indo para minha cabine.-Ela desferiu um último sorriso para a menina de cabelos escuros.-Nos vemos no jantar, Silena!-A menina saiu tão rápidas que não se pode ouvir seus passos.
Diego soltou um suspiro. Não parecia surpreso com a reação de Iris. Parece que sobrenomes não incomodavam apenas a Silena. Ela encarou o garoto a sua frente, mas ele evitava olhá-la nos olhos.
-Não ligue para ela, Diego. É uma idiota. Viu o tamanho do sorriso dela? Se eu sorrisse daquele jeito, minhas bochechas ficariam dormentes por dias!-disse Silena, fazendo graça.
-Teria que contratar um bom bruxo pra colocar suas bochechas no lugar!-disse Diego, rindo. Silena também riu, e sua bolsa acabou caindo no chão espalhando todo seu conteúdo no chão da cabine. As duas crianças começaram a catar o conteúdo e Diego foi aquele que pegou a caixinha preta onde estava o broche.
Silena viu quando ele abriu a caixa e olhou o conteúdo.
-O que é isso?-perguntou Diego, olhando o broche.
-É o meu broche das casas. Foi meu avô que me deu. Ele disse que qualquer um que tiver tido sua casa definida pelo Chapéu Seletor verá o símbolo de sua casa no broche. A minha casa ainda não foi definida, e por isso, ainda não tem nenhum brasão. Hoje à noite, o meu broche ganhará um brasão, após o jantar.-Explicou Silena.
-Eu sei o que é um broche das casas.-Disse Diego, ríspido.-Estou perguntando o que é essa silhueta, que parece uma cobra.
-Eu não sei. No dia em que meu avô me deu, eu mencionei o filho de Hermione Granger. Talvez a silhueta tenha se originado por falarmos de alguém que foi de Sonserina. A pessoa mencionada não chegou a tocar no broche, mas o broche reconheceu o nome.-Deduziu Silena, sentando-se ao lado de Diego, para observar melhor.
-Vamos testar. Pense em alguém de Grifinória.-Falou Diego, ponderando.-Harry Potter.
O broche continuou igual, com aquela silhueta de serpente.
-Já sei! Quando eu falei sobre o filho de Hermione Granger, eu não falei seu nome, mas a maneira como o chamavam. Vamos tentar.... O Menino Que Sobreviveu.-Disse Silena.
A cobra se moveu dentro do metal e outra forma se originou dela. Uma sombra se um leão.
-Funcionou!-disse Diego.-Vamos tentar outra pessoa... Hum... Você-Sabe-Quem?-Falou Diego, baixinho. O broche mudou de novo. A sombra-cobra voltou a aparecer.
Eles foram brincando com o broche até não terem mais apelidos para mencionar. Silena começou a desenhar a paisagem enquanto Diego ia se trocar.
Nenhum detalhe escapava das mãos habilidosas da menina. Ela sabia que seus desenhos não chegavam nem perto da perfeição, mas ela tentava cada vez mais melhorá-los.
Diego reapareceu depois de alguns minutos e foi a vez de Silena ir se trocar. As vestes negras caíam-lhe perfeitamente, e as tranças negras se misturavam com o tecido e seus olhos verdes claros se destacavam.
Ela saiu do banheiro e observou as outras cabines enquanto se dirigia até a sua própria. Os alunos mais velhos riam e faziam palhaçadas sobre alguns professores ou sobre outros alunos.
Silena notou que era difícil haverem pessoas de casas diferentes conversando ou até mesmo nas mesmas cabines. E quando haviam, era difícil que estivessem tendo uma conversa agradável.
A menina se perguntou o porquê disso. Por que as casas deveriam se evitar? Dessa pergunta, muitas outras vieram. Por que precisavam de quatro casas? Qual era o objetivo da divisão? Compatibilidade?
Aquelas perguntas confundiram a cabeça de Silena. Um monitor pediu para que ela fosse para sua cabine, pois, segundo ele, estavam prestes a chegar em Hogwarts. Uma onda de nervosismo passou pelo corpo de Silena ao entrar em sua cabine. Hoje, o futuro dela seria determinado.
Seria ela gentil, corajosa, inteligente ou ambiciosa? Ela não fazia ideia para qual casa seria selecionada. E sinceramente, ela não queria seguir os passos de sua família. Não que ela não amasse as aventuras de seus avós, ou gostasse dos princípios de Grifinória, ou não gostasse do sucesso de seus pais. Ela só não queria ser mais uma sombra do legado Potter. Ela queria ser mais do que neta do Menino Que Sobreviveu.
Ela olhou para Diego, no assento a sua frente. Ele olhava distraído para fora da janela. Quando ela o via, logo pensava em Draco Malfoy, e em todas as histórias terríveis sobre ele. O engraçado, é que nem Diego, nem seus pais pareciam maus como se descrevia nos livros e nos filmes. Silena ficou imaginando se na verdade, Draco Malfoy não fosse tão ruim assim. E, de qualquer maneira, não se deve julgar alguém por seus antepassados. A pessoa pode ser bem diferente de seus pais, ou avós.
O trem finalmente parou e Silena pode respirar. Diego e ela saíram correndo em meio às várias crianças que chegavam lá pela primeira vez.
Ela prestava atenção nas pessoas, para não esbarrar em ninguém (não que tenha funcionado) até Malfoy cutucá-la.
-O que houve Diego?-ela perguntou.
Ele apenas apontou para cima e Silena então viu. O castelo era imenso e a menina não conseguir evitar de ficar boquiaberta. A lua iluminava as paredes da escola, e podia-se ver cômodos onde a luz escapava pelas janelas. Aquele lugar, mesmo não estando cheio de alunos (ainda) parecia um organismo vivo.
-É mais bonito do que as histórias que meu pai contou.-disse Diego, ao pé do ouvido da amiga. Silena assentiu. Era mais do que maravilhoso estar ali. Significava para ela que não teria mais que viver à sombra de seus ascendentes. Poderia escrever sua própria história.
-Por aqui, alunos!-Gritou um homem alto, extremamente peludo e incrivelmente velho. Era estranho (apesar de vir de uma família de bruxos) ver pessoas tão velhas. Bruxos viviam por muito mais tempo que trouxas, ela sabia. Mas ainda sim, se aquele fosse quem ela pensa que é, o cara deveria ter mais de cento e cinquenta anos!
-Você é o Hagrid?-Perguntou Silena, correndo para alcançar o grandão, seguida por Diego.
O homem a encarou e logo sorriu.
-Ah! Eu reconheceria esses olhos em qualquer lugar. Você é neta de Harry, não é?-perguntou ele.-Eu sou o Hagrid sim. E você deve ser a neta mais velha. Ele fala muito sobre você.
-Meu nome é Silena. Esse aqui é Diego Malfoy, meu amigo.-Disse a menina. Diego a olhou nos olhos e ela lhe desferiu um sorriso.
-Malfoy, é? Seus pais eram grandes pessoas. Seu avô, no fim também foi. Quanto ao resto de sua família, não se pode dizer o mesmo. Mas acredito que essa pequena Potter vai cuidar de você.-Falou Hagrid, colocando sua mão enrugada na cabeça de Silena, fazendo-a sorrir.-Segundo seu avô, ela cuida de todos, mesmo que eles não queiram. Pode não parecer grande coisa agora, mas isso é algo muito importante.
Todos foram até os barcos, e lentamente se aproximaram da grandiosa Hogwarts. Silena percebeu que nunca se cansaria de admirar aquele lugar. E de tudo que queria fazer, o que mais desejava era ter tempo para desenhá-la.
Os alunos do primeiro ano foram levados até aonde seria servido o jantar. Silena não pensou que poderia melhorar até entrar por aquela porta. Os alunos estavam divididos em quatro mesas, uma para cada casa, e os professores e a diretora estavam sentados em uma grande mesa no sentido horizontal, de costas para uma grande janela. Velas flutuantes dançavam pelo ar, iluminando o grande salão, e o teto encantado mostrava os céu estrelado e a grande lua cheia que fazia com que as árvores lá fora ganhassem cor de prata.
A diretora, Minerva McGonagall se levantou e se pôs ao lado de um banquinho com um chapéu esfarrapado em cima.
Silena congelou onde estava e olhou para Diego, que estava ao seu lado.
-Eu sei que o Chapéu não vai errar. Venha. Vamos logo. Nós já sabemos para onde vamos, não tem escapatória.-disse seu amigo, pegando seu braço.
Ele a puxou para perto dos outros primeiranistas, e os dois esperaram juntos por seus destinos.
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