Algumas horas antes da colisão

As costas de Louis tinham grandes marcas de unhas. As minhas unhas. Me arrependia disso? Nenhum pouco.

A luz da rua batia de uma forma bonita sobre o seu corpo enquanto ele observava estante que tinha livros e alguns funkos. A visão dele só de cueca era uma benção.

Eu sou muito sortudo! pensei.

─ Você não vem deitar comigo? Perguntei.

Já tinha percebido que eu ficava sonolento depois de transar. Louis sempre demorava mais para se desligar. Costumava ficar elétrico.

Estávamos no meu quarto. Ele tinha vindo ficar comigo nas últimas horas. Sua família havia decidido tomar remédio para dormir para garantir que ninguém estivesse acordado quando a colisão ocorresse em algum momento da madrugada. Minha mãe e irmã fizeram o mesmo.

─ Eu só estava reparando nos detalhes. Conhecer um pouco mais de você, ele respondeu se aproximando, logo se deitando junto a mim.

Segundo as notícias o mundo acabaria em poucas horas. Eu evitava olhar para o relógio o tempo inteiro. A perspectiva do fim me deixava ansioso.

─ Eu fiz algo de errado? Perguntei encarando a imensidão azul de seu olhar.

Louis sorriu. Se formavam ruguinhas ao redor dos seus olhos quando isso acontecia.

─ Você não fez nada de errado Haz, ele falou. Secretamente eu amava esse apelido. ─ É só... Tem tantas coisas que eu queria fazer antes do fim, e agora... Só restam algumas horas.

Eu conseguia entender o sentimento. Era uma mistura de frustração com tristeza. E talvez uma pitada de melancolia.

─ Já jogou quem é mais provável? perguntei.

Louis franziu a testa. Ele era lindo até fazendo careta.

─ Como?

─ Aquele jogo "Quem é mais provável?", tipo, de nós dois, quem é mais provável ser preso por exemplo, falei.

─ Claramente a resposta certa para essa pergunta é eu, você não seria capaz de cometer um crime, Louis respondeu rindo.

─ Você já cometeu idiota: roubou meu coração! falei dramaticamente.

Logo o quarto foi preenchido pela risada de Louis. Eu preferia ele assim, sorrindo, nem que fosse das idiotices que eu falava.

─ Nesse caso então, vamos ter que ser presos juntos porque você roubou o meu também, ele falou enquanto acariciava o meu rosto.

Me movi ficando deitado completamente em cima dele o beijando de forma suave.

─ Pelo visto vamos ter que dividir uma cela juntos então? falei sorrindo enquanto apoiava meu queixo em seu peito.

─ Exatamente! Condenados pelo crime de amar demais, ele falou.

Agora a minha risada escandalosa ressoava pelo quarto. Se havia algo que eu ainda não havia me acostumado era com a facilidade com que Louis era capaz de arrancar sorrisos meus. Na verdade, de todos a sua volta. Ele iluminava a vida de todos com quem convivia.

─ Então, colega de cela, vamos jogar "Quem é mais provável?" ou não? perguntei.

─ Vamos, pode começar, ele respondeu.

─ Ok! Quem é mais provável... sobreviver a um apocalipse zumbi? foi a coisa mais aleatória que imaginei na hora perguntar.

─ Eu obviamente, você se não morresse ia tentar fazer amizade ou se apaixonar que nem naquele filme Meu namorado é um zumbi, Louis falou com convicção.

─ Ei! Não é bem assim, falei fazendo bico.

─ Você sabe que é sim admita, disse enquanto fazia cócegas na minha cintura.

─ Tá bem, tá bem, TALVEZ você tenha razão, falei. ─ Sua vez de perguntar.

Louis ficou alguns momentos em silêncio. Até que mandou uma pergunta que eu não esperava dele.

─ Quem é mais provável participar de um ménage?

─ Como? Perguntei franzindo a testa.

─ Fazer sexo a três, quem de nós dois é mais provável, Louis explicou.

─ Espero que nenhum de nós dois, falei de maneira onde claramente expressava o meu ciúmes em relação a isso.

E mais uma vez a gargalhada de Tomlinson preencheu o meu quarto.

─ Você é uma criaturinha muito ciumenta Harry Styles, falou enquanto novamente fazia cócegas em mim.

─ Não gosto muito da ideia de dividir você, falei baixinho enquanto escondia meu rosto no seu pescoço.

Tudo entre nós tinha acontecido de maneira rápida e com a iminência do fim cada vez mais próximo. Mas mesmo que longo anos estivessem à nossa frente, a ideia de compartilhar Louis com outro alguém não era algo exatamente confortável.

─ Eu tenho uma pergunta melhor para você: em que lugar seria o nosso primeiro encontro se você me chamasse pra sair?

Fiquei pensando algum tempo. Na minha cabeça, aquela ida a cafeteria quinzes dias atrás era o nosso primeiro encontro. Não havia parado para pensar no que fazer se tivesse uma nova oportunidade.

─ Acho que um piquenique no Cusworth Hall... Muito brega? perguntei incerto.

─ Na verdade não, eu adoraria ir em um piquenique lá com você, disse sorrindo.

─ Tenho direito a devolutiva: onde você me levaria para um primeiro encontro Tomlinson? perguntei em desafio.

─ Eu gostaria te levar para a Limited 2 Art Gallery. Adoraria te ouvir falar sobre arte, confessou enquanto beijava as minhas bochechas.

Ficamos em silêncio. Ali naquele momento eu desejei que tivéssemos mais tempo um com o outro.

Tempo de sair mais para encontros por de Doncaster. Tempo para brigar por coisas bobas. Tempo para que toda a minha breguice pudesse se tornar declarações bregas de amor. Tempo para que o cheiro de Louis ficasse impregnado nas minhas coisas.

Nós não teríamos esse tempo. E o pouco que tinha estava se esgotando.

─ Amo você, Louis falou suspirando enquanto encaixava o rosto no espaço entre o meu pescoço e meu ombro.

Seus olhos estavam fechados e sua respiração estava mais lenta. Aquela conversa boba o tinha acalmado de alguma forma e logo ele estava dormindo.

─ Também amo você, falei baixinho.

Mas meu coração estava aquecido com a visão que eu tinha: Louis dormindo calmamente em meus braços. Se o mundo ia acabar eu não desejaria estar vivendo em outro momento que não fosse o presente.

Fechei meus olhos e suspirei. Comecei a me concentrar na respiração de Louis e na minha própria. Ali no meu quarto, junto dele, era o melhor lugar que eu poderia estar agora.