Don't Touch Me - Capítulo 1
Capítulo 1 - Begin;
Levitsky foi o primeiro a definir o cariótipo... como o que mesmo? Era alguma coisa dos cromossomos somáticos. Levitsky você está deixando tudo cada vez mais difícil, e eu nem ao menos tenho uma foto sua como referência. Aliás, qual é seu primeiro nome? Da onde você é? Considerando o fato de que essa sua descoberta foi depois de 1888 acho que nosso relacionamento nunca daria certo. Vamos lá Levitsky, me dá uma forcinha vai.
Suspiro passando a mão pela minha boca, sentindo algo viscoso que me faz franzir o cenho. Mas o que?! Eu to babando? Limpo minha mão na folha de papel e logo em seguida esfrego meus olhos. Pera ai, meus olhos estão fechados! Eu to dormindo?
Me levanto da cadeira num salto com o som incessante da campainha tocando. Não era nada escandaloso, mas era a terceira vez que eu ouvia aquele "din don" irritante. Olho para o relógio pendurado na minha parede e finalmente me situo, correndo para abrir a porta do meu apartamento. Não acredito que peguei no sono enquanto estudava. Levitsky virou literalmente o homem dos meus sonhos.
- Hey Kookie! – abro a porta arrumando o óculos de grau no meu rosto amassado – Desculpa a demora eu acabei cochilando em cima dos livros.
- Não tem problema noona – abre um sorriso segurando a alça da mochila gigante que carregava nas costas.
- Me desculpa mesmo, queria ter te esperado no aeroporto, mas passei a noite estudando e acabei dormindo sentada – saio da frente do garoto pra que ele possa entrar na minha casa.
- Seu irmão me avisou que você estaria ocupada noona, me programei pra vir de táxi.
Ele para no meio da sala e espera que eu tranque a porta novamente. Meio desnorteada ainda, nem me importo de estar com a calça e a blusa do pijama e provavelmente com o cabelo mais descabelado do que se tivesse acabado de sair de uma briga. Mas aquilo não fazia diferença porque era Jeon Jungkook ali. O melhor amigo do meu irmãozinho, que frequentava minha casa desde os doze anos de idade. Ele já havia me visto descabelada várias vezes.
- Você deve estar cansado do vôo, melhor ir descansar um pouco antes de ir conhecer a faculdade – cubro minha boca, escondendo um bocejo – pode colocar a mochila no sofá, ou no quarto, ou no chão. Onde achar melhor.
Jungkook tira a mochila dos ombros e deixa no chão ao lado do sofá. O garoto parecia um peixe fora d'água que não sabia como se mexer.
- Na verdade eu dormi o vôo inteiro – da de ombros – treze horas. Não teve escalas.
- Mesmo assim, em avião a gente nunca descansa. Deita um pouco na minha cama e estica as pernas enquanto eu me arrumo e arrumo alguma coisa pra gente comer. Podemos ir até a faculdade depois do almoço. Tenho esse final de semana inteiro pra te mostrar o campus então não precisa ter pressa.
- Na sua cama noona? – pergunta surpreso.
- É, eu infelizmente só tenho um quarto nesse apartamento minúsculo. Você vai ter que dormir na sala.
- Eu posso esperar aqui no sofá agora.
- É um sofá-cama, mas prefiro abrir somente de noite. E você precisa se esticar antes que acabe como eu depois de dormir a noite inteira numa cadeira. Faça o que eu estou dizendo kookie, está sob minha responsabilidade e não quero que volte com um desvio de coluna.
- Não estou sob responsabilidades – responde ofendido - Eu já fiz dezoito.
- Me desculpa – dou risada empurrando-o pelos ombros ao longo do corredor – Mas, por favor, faça o que eu estou mandando e descanse um pouco. Vai ser melhor pra você.
Ele andava sob alguns protestos, tentando se virar para me responder alguma coisa. Podia sentir seus músculos tencionados sob minhas mãos.
- Ah é! Deixa eu te mostrar o apartamento antes – exclamo completamente perdida e certa de que jamais seria uma boa anfitriã – A sala você já conheceu e não é nada de mais. Aqui nessa primeira entrada do corredor é a cozinha, tipo um balcão pra cozinhar e o balcão pra comer, tudo bem compacto. Mais na frente a segunda porta a esquerda é meu quarto e a porta em frente é o banheiro – o arrasto enquanto abria ambas as portas pra que Jungkook vislumbrasse rapidamente cada cômodo - Ali atrás é a área de serviço – aponto a direção – você não precisa se preocupar com aquela parte. É pequeno, mas pelo menos eu tenho uma banheira que dá pro gasto. Agora venha ao quarto, quero que descanse.
- Já disse que estou bem noona, e você parece que anda comendo muitos doces pra estar tão agitada assim. Sabe que sua mãe proibiu.
- E sei que você não irá contar – estreito os olhos em sua direção.
Nos encaramos com o mesmo olhar divertido até que ele abre um sorriso largo.
- Tudo bem, não conto.
Por alguns minutos Jeon fica parado ao lado da minha penteadeira enquanto eu arrumava as cobertas e travesseiros na cama, deixando meus ursinhos de pelúcia jogados no chão. Faziam uns bons três anos desde que estivemos pessoalmente no mesmo ambiente e naquela época ele não era tão... largo quanto agora. O menino havia crescido bastante de uns tempos para cá e isso me dava uma sensação estranha. Me fazia sentir saudades. Sentia falta de toda minha vida antes de mudar de país. Afastando meus pensamentos aleatórios, corro até a janela e fecho as cortinas deixando a luz do sol entrar bem fraca por entre os panos estampados com flores de sakura.
- Pode ficar a vontade Jungkook. Quando o almoço estiver pronto eu venho te chamar.
Ele não me responde, apenas continua parado onde estava olhando meu quarto e evitando meu olhar. Dessa vez espalmo uma mão em suas costas e dou um leve empurrão nele em direção a minha cama. Sem dizer mais nada apenas saio do cômodo encostando a porta atrás de mim.
(...)
Mesmo tendo alegado várias vezes que não estava cansado ou com sono, quando fui chamá-lo para almoçar Jungkook estava dormindo abraçado com um dos meus travesseiros. Com muita dó o acordei e depois de tomar um banho rápido ele se juntou a mim no balcão da cozinha e almoçamos macarrão com queijo. O prato mais americano e prático que eu tinha aprendido a fazer, o qual ele repetiu três vezes dizendo que a comida do avião era horrível.
Antes que saíssemos de casa apenas calço um tênis, uma camisa de mangas cumpridas e permaneço com a minha calça justinha de moletom. Não estava com a menor vontade de me arrumar apenas para andar pelo campus quase deserto de uma faculdade com alguns garotos esperando o próximo rabo de saia passar pra aproveitar uma ereção. Era melhor continuar com meu coque e meu óculos de grau mesmo, e não é como se eu fosse muito de me produzir também. Depois de orientar Jeon a levar pelo menos um suéter, pois o tempo poderia mudar, saímos de casa.
- Então, aliviado por ter terminado a escola? – pergunto enquanto caminhávamos pela calçada lado a lado.
Meu apartamento era estrategicamente perto da faculdade e ao lado de uma república mista. No raio de 30km havia tudo que eu precisava e até o que eu não precisava também, como por exemplo, algumas fraternidades bem irritantes e tradicionais do campus.
- Acho que sim. Eu não via a hora de completar logo dezoito, mas é meio assustador agora. Não sei muito bem o que esperar.
- Bom, não espere nada. É sempre melhor se surpreender do que se decepcionar, não é?
Imediatamente ele concorda com a cabeça, sempre educado e cordial exibindo seu sorriso.
- Eu estava tentando convencer seu irmão a vir comigo pra cá enquanto sua mãe tentava me convencer a ficar por lá – ele ri coçando a nuca.
- Minha mãe iria pirar se meu irmão fizesse o mesmo que eu.
- Ele não tem coragem, o hyung é muito medroso.
- E o que te faz ter tanta coragem de vir?
- Sua coragem noona – responde me surpreendendo – você sempre me inspirou muito.
- Uau! – arregalo os olhos em sua direção – Eu não sabia que poderia ser um bom exemplo pra alguém, de verdade.
Deixo que um minuto inteiro de silêncio constrangedor recaia sobre nós dois. Ambos encarando nossos pés que davam passos ridiculamente sincronizados.
- O que estava estudando quando eu cheguei? – se esforça para quebrar o gelo que se instalou.
- Citogenética – dou risada de sua cara confusa assim que ouve minha resposta.
- Parece bem difícil.
- Na verdade tem mais a ver com cromossomos. Não é tão ruim quanto parece – dou de ombros.
- O que a levou a estudar ciências biológicas?
- Além do fato de ser uma verdadeira nerd que sempre curtiu estudar formas de vida, pesquisar a origem, a evolução e o funcionamento dos organismos? – rio sarcástica e ele apenas me acompanha, afirmando – sempre quis trabalhar num laboratório, eram minhas aulas preferidas na escola. Pretendo seguir em biologia molecular e trabalhar com análises e diagnósticos de doenças.
Olho-o de soslaio, vendo uma leve careta se formar em seu rosto, o que só me faz rir ainda mais. Eu tinha plena consciência de que as pessoas achavam estranho alguém querer trabalhar com qualquer coisa relacionada a doenças.
- É algo super interessante e útil. Não tão perigoso ou nojento quanto parece – o cutuco levemente – Na verdade é um pouco perigoso sim, mas juro que é interessante.
- Você vai ser tipo uma cientista? – sorri de canto, me olhando com a cabeça um pouco baixa devido a nossa diferença de altura.
- Depois que eu conseguir tirar meu PhD, com certeza serei uma doutora – estufo o peito com orgulho.
Seu sorriso cresce ainda mais, mas ele não responde mais nada. Aquela cabecinha de adolescente de dezoito anos estava era pensando coisas bem safadinhas. Uma mulher, doutora, PhD, dava margem para vários estereótipos. A cientista sexy peituda turbinada. Todo o tipo de adjetivo que eu não tinha.
- Ei! – seguro seu braço levemente, chamando sua atenção – ali tem um Just Eat. Sério, melhor lugar pra almoçar aqui por perto quando se está no meio do período e com muita pressa. Comida boa e pronta entrega. Se quiser rapidez e correr de volta pro campus Just Eat é o lugar. Se você se mudar pra cá com certeza vai frequentar mais essa avenida do que sua própria casa.
Agora enquanto andávamos eu ia apontando todos os meus lugares favoritos, lugares úteis e lugares cheios de universitários.
- Aqui tem todo o tipo de fastfood e junkiefood que você possa imaginar. Pessoalmente eu como mais sanduíches do que pizza como a maioria, então vivo no Jimmy John's – aponto para o restaurante do outro lado da rua – ou na Wendy's – aponto novamente para a placa grande dois estabelecimentos depois – Mas, se você tiver vontade de comer comida de verdade pra variar um pouquinho o GrubHub é o meu preferido – paro em frente ao local que indiquei como se estivesse fazendo uma propaganda. Jungkook ri – Você vai se acostumar a andar por todas essas ruas que interligam uma avenida na outra, nessa próxima esquina tem uma livraria bem pequena, mas acredite é a melhor descoberta que eu já fiz nessa cidade até hoje. Claro que temos uma biblioteca bem grande e com tudo que precisamos na própria faculdade, mas se seus professores forem como os meus é sempre bom mostrar um pouco mais de interesse, entende? – olho-o assentir com a cabeça – e nessa livraria tem só os clássicos. Livros antigos e raros, científicos, artísticos, enfim... é perfeita e muito útil.
Depois de demorar quase trinta minutos para andar dois quarteirões, chegamos à universidade. Trinta minutos onde ele ficou praticamente em silêncio só prestando atenção nas minhas explicações. Eu estava falando demais. Chin Bae por favor aprenda a respirar, assim as pessoas poderão te responder ao menos uma vez.
- O destino tão esperado – brinco ao atravessarmos a rua – mas antes de entrar – seguro mais uma vez o braço de Jeon – Ta vendo aquele letreiro ali escrito JJ's Get Away? – mais uma vez ele afirma com a cabeça – É onde lota de universitários todo final de semana. Você vai viver ali de quinta a domingo se estudar aqui.
- Você mora lá de quinta a domingo? – pergunta desviando o olhar para mim.
- Morei por um tempo – rio acanhada – não saio mais como costumava, depois de um tempo acaba perdendo a graça. Sempre a mesma coisa, sabe?
- Tem outros bares por aqui. Eu vi pelo caminho. Porque sempre esse aqui?
- Não é sempre esse. Algumas pessoas vão para os outros também, mas o JJ é bem mais perto e acessível. Você vai ter que tomar cuidado com todas essas distrações no primeiro semestre. Lugar novo, pessoas novas, agitação toda noite especialmente no dormitório da universidade.
- Experiência própria noona? – sorri de canto.
- Eu quase bombei em quatro matérias no primeiro semestre – ele arregala os olhos, mas acaba rindo baixo – meus pais nem sonham em saber disso, senão eu nem estaria mais aqui. Por favor, guarde meu segredo.
- Sempre Bae-noona.
Na portaria eu passo normalmente pelo leitor magnético com a minha identificação de estudante, enquanto Jungkook era recepcionado por um dos seguranças apresentando alguns documentos e alegando ter agendado uma visitação neste final de semana. A burocracia não demora muito, o segurança da uma pulseirinha com informações dele e libera sua entrada logo em seguida.
- Onde você tem curiosidade de conhecer primeiro?
- Hm, não sei, talvez as quadras esportivas – ele enfia as mãos nos bolsos, olhando sobre a minha cabeça o corredor a sua frente.
- Achei que você tivesse dito que iria estudar artes – franzo o cenho.
- E vou. Artes cênicas – encolhe os ombros – mas me interesso muito por esportes. Queria saber se vou poder usar alguma das quadras mesmo não sendo meu curso.
- Poxa, eu não sou uma pessoa muito esportiva então nunca me interessei em utilizar as quadras. Vamos ter que verificar essa informação com alguém, mas se mudando pra cá você ficaria no próprio dormitório da faculdade?
- Provavelmente sim.
- Acho que pelo menos aos finais de semana as quadras são liberadas para os alunos do campus. Não deve ter nenhum problema quanto a isso.
Começo a caminhar pelo corredor longo cheio de portas. Mostro a entrada principal, a sala do orientador, a secretaria e a sala do reitor da faculdade. Todos os lugares mais importantes para um novato que precisaria de muitas orientações em seus primeiros dias. Seguindo para a parte externa do campus decido levá-lo até o estacionamento para pegarmos um daqueles carrinhos elétricos que pareciam de golfe, eles eram alugáveis e tornariam a visita mais fácil e divertida. Ninguém precisava saber que eu iria deixá-lo dirigir, a não ser que fôssemos pegos, é claro!
- Se você se interessa por esportes porque escolheu artes cênicas?
- Na verdade me interesso pelos dois igualmente. Era difícil escolher um esporte específico, mas também é difícil escolher uma área só em artes, como música, dança, pintura. Acho que ainda estou um pouco confuso, mas gostei mais do programa de dança da sua universidade do que educação física. Eu realmente fico muito entediado dentro de uma sala de aula, todas as outras matérias me incomodam bastante e eu não consigo aprender coisas que não me interessam. Educação física tem muita teoria, sistema nervoso e coisas que com certeza iriam me fazer preferir estar dançando. Por onde agora? – pergunta parando o carrinho elétrico em frente a uma pequena faixa de pedestres.
- Esquerda. Sabe, é uma pena...
- Como assim? – me olha brevemente antes de voltar a atenção no caminho, animado por estar dirigindo.
- Se você não ficasse entediado com essas matérias eu poderia te ajudar se tivesse escolhido educação física.
- Ahhh... – responde, deixando os lábios separados por alguns instantes. Suas mãos grandes segurando o volante com firmeza – Se eu soubesse que a noona me ajudaria eu teria escolhido educação física.
Seu tom de voz soa um pouco mais baixo e grave do que de costume e a partir daquele momento não hesito em prestar mais atenção em todos os detalhes daquele menino crescido. Ele tinha mudado bastante em muito pouco tempo.
Demos a volta pelas quadras menores de vôlei e tênis sem sair do carrinho, aquela parte foi bem rápida porque eu achava que o campo de futebol americano e atletismo eram mais legais. Dava pra ficar de bobeira nas arquibancadas também, aproveitando a lanchonete que tinha nas proximidades.
- Dá a volta por trás da arquibancada, quero te mostrar uma coisa.
- Com o carrinho? – pergunta receoso – pode fazer isso?
- Não, mas não tem ninguém olhando agora – sorrio abertamente lhe passando confiança.
Olhando por todos os lados ele faz o que pedi e dirige com todo o cuidado até que eu mande ele parar e estacionar sob uma das construções inacabadas da arquibancada. Desço do carrinho e faço sinal para que me acompanhe pelo gramado um tanto quanto mal cuidado naquela parte. Um pouco mais a frente a única coisa utilizada para separar a propriedade da faculdade e a propriedade vizinha eram arbustos bem altos que pareciam formar uma parede bem grande.
- Esse é o grande segredo entre os alunos que estudam aqui – sussurro mesmo que estivesse somente nós dois ali – os moradores dessa casa atrás da faculdade quase sempre estão viajando e bem aqui tem um tipo de passagem – coloco meu braço entre os dois últimos arbustos mostrando que tinha uma falha e que os dois poderiam ser separados, abrindo espaço para o outro lado – eles tem uma hidromassagem que fica no quintal de trás. Praticamente todos os alunos desse campus já se aproveitaram disso. É como se todo mundo guardasse um grande segredo da direção e dos reitores, inclusive alguns dos seguranças nos ajudam.
- Os donos da casa não desconfiam de nada? – pergunta com os olhos arregalados.
- Acho que não, ninguém nunca veio reclamar ainda. E nenhum aluno nunca se meteu em confusão por isso. Já procuraram por câmeras pelo quintal da casa, mas nunca acharam nada então todo mundo continua vindo aqui.
- Você também já fez isso?
- Até onde eu sei é uma coisa proposta a todos os novatos, tipo um trote sabe? Você não é obrigado a fazer nada, mas vão te mostrar isso logo nos seus primeiros dias aqui. É melhor que saiba antes.
- Está sendo bem melhor fazer essa visita com você noona. Se fosse com alguém da própria faculdade não teria nenhuma graça.
Jungkook me olha de perto e sorri abertamente na minha direção. Um sorriso que parecia bem inocente e que me transporta daquele momento por alguns instantes. Era como se eu saísse do meu corpo e olhasse a mim mesma completamente perdida nele. Se eu continuasse o encarando daquele jeito era capaz de acabar virando uma pedra. Pisco os olhos devagar, sentindo que aparatei de volta para meu corpo. Sinto minhas bochechas queimarem porque tinha certeza que ele percebeu meu momento "Justin Bieber está bem na minha frente e eu não sei o que fazer". Seu sorriso inocente tinha se transformado em um meio arrogante.
Depois da minha reação vergonhosa achei melhor andar um pouco mais rápido com toda a visita. Levei-o para conhecer todas as salas de aulas práticas que seriam referentes ao curso de artes cênicas. Enchi o garoto de panfletos sobre vários eventos artísticos que a faculdade organizava. O levei até algumas das salas de aulas teóricas e ele me encheu de perguntas sobre como funcionavam os horários e o esquema de notas e atividade extracurricular. Percebi que conforme o tempo ia passando mais a vontade ele ficava e devo admitir, Jeon Jungkook era mesmo engraçado. Um lado dele que eu nunca pude ver antes, mais brincalhão, sarcástico e ácido. Sem mencionar suas dancinhas meio malucas quando ficava bem animado ou quando tentava me fazer rir novamente.
- Daqui a pouco escurece então amanhã te levo até a biblioteca, refeitório; como você pretende morar numa das residências estudantis veremos os dormitórios também – comento assim que saímos do carrinho elétrico e caminhamos pelo estacionamento em direção a saída do campus – sei que disponibilizam algumas coisas diferenciadas pra quem vive por aqui, tipo sala de jantar e salas comuns com algumas instalações para atividades acadêmicas. Tem lavanderia também, da pra morar aqui dentro sem precisar sair pra nenhum outro lugar.
- Então porque você preferiu morar num apartamento sozinha?
- No começo eu pretendia dividir o apartamento com uma pessoa, mas acabou não dando certo. Só que mesmo assim quis aprender a me virar sozinha, então arrisquei.
- Era algum namorado? – pergunta curioso.
- Não sei bem... acho que era, mas só deu certo a distância.
- Entendi. E não se arrepende da decisão de morar sozinha?
- É meio solitário as vezes, mas na maioria das vezes é bom ter um lugar só meu. Ei – o chamo assim que pisamos na calçada – não quer voltar aqui mais tarde pra conhecer o JJ's?
- Hmmm, acho melhor não noona. Mesmo tendo dormido o Jet lag ainda tá na minha cabeça e eu prefiro descansar – responde coçando levemente a nuca – talvez numa próxima vez.
- Ok, mas podemos pelo menos jantar fora? Assim você não precisa comer meu macarrão de novo.
- Você disse que vive no Jimmy John's, não é? Acho que eu posso experimentar.
Faço uma comemoração exagerada arrancando uma risada dele e seguimos com pressa até o restaurante com meus lanches preferidos.
O jantar transcorre leve e cheio de gracinhas do mais novo, que parecia realmente feliz e satisfeito ao provar a comida. Comemos com calma, a vontade na companhia um do outro e sem pressa de ir embora mesmo depois de terminar a refeição. Quando enfim resolvemos voltar para o apartamento Jungkook me agradece por ter insistido que ele levasse um casaco e nós vamos o caminho de volta inteiro com ele repassando o que se lembrava da avenida e me fazendo rir ao me imitar.
(...)
- Vou pegar as cobertas pra você se ajeitar melhor aqui no sofá...
Aviso assim que tranco a porta de casa e já atravesso a sala em direção ao meu quarto, afim de pegar cobertas e travesseiros. Porém, a voz de Jeon me para no corredor.
- Você dorme cedo assim noona?
- Sempre durmo tarde. Se não fico estudando fico vendo alguma coisa na netflix ou na tv.
- Não quero que mude sua rotina por minha causa.
- Mas você não queria descansar? Prefere deitar no meu quarto? Pode ficar com a minha cama, por mim não tem problema...
Ele automaticamente balança a cabeça em negativa e senta-se no braço do sofá.
- Só quero... ficar em casa... relaxar um pouco, sabe? A gente pode assistir alguma coisa? – pergunta encolhendo os ombros.
- Tudo bem – sorrio concordando – você assiste alguma série? Quer que eu pegue meu notebook?
- Já estou em dia com todas as séries que eu assisto, só tenho acompanhado game of thrones...
- Desde quando você assiste game of thrones? – cruzo os braços, olhando-o com uma cara debochada.
- Desde a primeira temporada – da de ombros.
- Quando got estreou você não tinha nem quinze anos ainda – acuso me jogando no sofá e colocando as pernas sobre o mesmo.
- Seu irmão também assistia escondido comigo – ri escorregando pelo braço do sofá e se sentando esparramado ao meu lado – mais um segredo que vamos guardar dos nossos pais?
- A lista só cresce – acompanho sua risada pegando o controle remoto da televisão.
Enquanto passávamos os canais discutíamos sobre o que gostávamos ou não. Qual programa de televisão ele já havia visto ou ouvido falar. Os programas que gostávamos em comum, os filmes que eram legais e os que não eram. Óbvio que os de romance não faziam parte dos favoritos dele, mas como uma garota eu era chegada num clichê e uma boa barra de chocolate pra ajudar nos dias vermelhos de cólicas. Para a sorte dele eu era uma garotinha que também gostava de filmes de zumbis e bem naquele final de semana estava passando uma maratona de filmes do gênero num canal Cult, então resolvemos deixar ali mesmo.
Era difícil para mim ficar parada num lugar só por muito tempo, então conforme o tempo foi passando fiz pipoca, peguei suco para nós dois, vesti um agasalho, guardei meus óculos de grau, usei duas vezes o banheiro e peguei uma coberta mesmo não estando tanto frio assim. Quando me aconcheguei de novo no sofá Jungkook inventou uma brincadeira onde tínhamos que encher nossa boca de pipoca toda vez que alguém fosse mordido no filme, o que acontecia a cada um minuto de cena. Aquilo foi pior que o desafio Chubby bunny e eu , claro, fui a primeira a desistir e tive que tomar de uma vez o restante do suco da caixinha.
Aos poucos nossa conversa foi se aquietando, nós dois prestando atenção de verdade no filme. Conforme uma certa preguiça foi tomando conta do meu corpo, fui me afundando cada vez mais no estofado, apoiei minha cabeça para trás no encosto do sofá e me encolhi como se estivesse me abraçando. Vez ou outra comecei a sentir o pé de Jeon roçar no meu sobre o chão, fazendo um carinho gostoso mesmo com ele estando de meia. Ele se arrastou para perto de mim tão sutilmente que eu só percebi quando sua cabeça já estava apoiada perto da minha e seu ombro completamente colado com o meu. Aquilo era novo e ousado, mas não reclamei nem quis me afastar.
- Está com sono? – murmura.
- Preguiça – rio baixinho, escondendo levemente meu rosto.
- Fica aqui só mais um pouco noona.
Qualquer outro garoto que eu já conheci que estivesse naquele sofá comigo naquele momento não hesitaria em tentar me apalpar de todas as maneiras. Mas me surpreendendo totalmente e me fazendo derreter por dentro - mesmo que eu não quisesse admitir - Jungkook segura minha mão cobrindo-a completamente com a sua. Seu polegar desliza carinhosamente pela minha palma e nós nos olhamos por um minuto inteiro em silêncio.
- Kookie...
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