Por Entre as Sombras
Sherlock e Watson seguem para o porto marítimo de Londres e aqui começaremos a ver o que os espera...
GO!
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O trem seguia veloz rumo a sua próxima estação, porém não havia velocidade suficiente para a ânsia de Sherlock Holmes. Ele e o doutor John Watson seguiam pensativos rumo ao que esperavam ser a última trilha deste caminho tortuoso no qual vinham seguindo há algum tempo.
A paisagem passava de vegetações escassas e às vezes secas, para um verde vivo e belo a medida que se aproximavam do litoral; Após chegarem à estação, deixariam o trem e seguiriam em algum barco de médio porte para o porto marítimo de Londres. Holmes havia adotado sua típica expressão compenetrada com as pontas dos dedos unidos a testa levemente enrugada, seus olhos fechados e uma expressão aparentemente tranquila, o que Watson bem sabia ser apenas aparência. Porém, por mais que respeitasse o momento do amigo, Watson precisou saciar mais algumas de suas dúvidas.
– Como sabe o caminho correto Holmes?
Sherlock demorou à responder e após alguns minutos, apenas abriu os olhos sem sequer mover-se em seu assento, mirando Watson:
– Estou com o mapa que encontramos no bosque do lago Mirror não lembra? – O detetive respondeu com certa arrogância por ter sido atrapalhado.
– Mas sabemos que pode estar errado. – Watson revidou o tom de voz.
– Não está. – Sherlock fechou os olhos novamente.
– Como assim não está?! É mais uma pista do Ruán Valdéz que como sabemos é falsa!
– Este mapa não é falso Watson. Não basta minha palavra?
– Não. Prove-me.
Sherlock abriu os olhos novamente encarando o doutor a sua frente.
– Hum, vejo que aprendeu bem minhas lições. Mas elas não cabem a mim mesmo!
– Seja claro Holmes. Será que isso é impossível para você?! – Watson respirava fundo contendo sua agitação crescente.
– Oh! Chegamos. – Sherlock avisou ao notar o trem diminuir a velocidade e levantou-se – Vamos pegar um barco.
– Ainda espero por uma resposta Holmes! – Watson o seguia pela estação próxima ao enorme rio Tâmisa.
Holmes fez sinal para um velho senhor dono de um dos tantos barcos ali presentes e fechou o negócio garantindo sua viagem ao porto.
Mais algumas pessoas já estavam no barco para seguirem o mesmo destino de ambos e assim iniciaram segunda parte da viagem.
Já estava a entardecer e Londres tornava-se mais fria e quieta acentuando o mistério, que para o doutor e o detetive, pairava no ar.
O Tâmisa estava calmo e suas leves ondulações ajudavam o barco a seguir cada vez mais a leste da cidade de Londres. O céu estava agora se tingindo de azul marinho e algumas estrelas apareciam tímidas, porém brilhantes refletindo nas águas do rio. As demais pessoas conversavam baixo durante toda a viagem enquanto Watson e Holmes novamente deram espaço ao silêncio. Watson vislumbrava a paisagem bucólica; aquele perfeito conjunto da natureza, e sentia o vento cada vez mais frio lhe acariciar o rosto. Pensava em como manter a segurança de seu amigo e sua. Pensava no que poderia acontecer; o que os esperava? Aquilo o afligia.
– Lestrade. – Sherlock falou de repente respirando fundo, ao mesmo tempo pesaroso, saindo de seu "transe". Estava a fumar seu cachimbo e a fumaça o encobria por inteiro, já se espalhando densa pelo barco.
– O que tem Lestrade? – Watson se dirigiu ao detetive franzindo o cenho, e também saindo de seus pensamentos.
– Ele me garantiu que o mapa está certo e me deu certeza de que poderíamos seguir por este caminho a leste, como diz a pista. – Deu uma breve pausa analisando o lugar ao redor - Este mapa aqui, caro Watson, - ergueu o mapa nas mãos - é um desenho tão autêntico de nossa Londres como a Mona Lisa é do Da Vinci e como a Nona Sinfonia é de Beethoven.
– Mas como... Como falou com Lestrade se você foi seguir o tal Greyk Pearce...?
– Deixemos isto para depois, caro amigo. Já estamos chegando. – Sherlock sussurrou diante da quietude do lugar. – Fique atento e com sua arma bem escondida. Preste atenção aos meus sinais Watson.
Apenas aves noturnas piavam tristonhas perante a noite. Corujas e corvos planavam de um lado para outro caçando suas presas e peixes mortos as margens do extenso rio Tâmisa, agora já próximo ao imenso Mar Norte, onde se localizava o porto de Londres; mar pertencente ao Oceano Atlântico e divisor de continentes e ilhas.
Minutos depois, o céu ainda mais escuro e o vento frio agora cortante, todos desembarcaram. Sherlock seguiu em frente com Watson logo em seguida.
– Holmes, portos são para a atracação de barcos e navios, carregamento e descarregamento de cargas, estoques... Apenas alguns possuem terminais para passageiros. – Watson falou analisando a situação.
– Muito bem meu caro. O que nos leva a conclusão...
– Aqui só há mais comerciantes e trabalhadores...
– Ou quem sabe contrabandistas...
– Como pode Holmes...? – Watson inquiriu surpreso.
– Watson, não estamos em nenhuma brincadeira. Ruán, para bolar tudo isso e esconder bem esta caixa, certamente não está sozinho; apenas foras da lei aceitariam tal proposta em troca de bom pagamento. Bem sabemos disto. Temos o Greyk Pearce como exemplo. Um porto marítimo é uma boa forma de se transportar coisas valiosas, escondidas de qualquer regra que seja, se feito com astúcia. E para ele nos ter atraído até aqui, é certo que tentará nos cercar, quem sabe sequestro ou atentado... – Sherlock expôs suas hipóteses lembrando-se do que ouvira mais cedo quando seguiu Greyk:
"Está tudo preparado e serão pegos logo, logo..."
Esta frase martelava na cabeça do detetive e ecoava em seus ouvidos atormentando-o; eles corriam perigo, mas teria que confiar em seu plano.
Caminharam cautelosamente pelo porto movimentado com o vai e vem de pessoas carregando cargas diversas de um lado para outro, máquinas de todos os tipos funcionando, trabalhadores supervisionando a movimentação e chegada dessas novas cargas e também de navios e barcos, contagem de mercadorias e o que mais se podia ver: construções de mais meios de transporte marítimo e ainda assim, em meio a tanta agitação os dois amigos estavam receosos de agir de qualquer forma mais brusca.
Toda aquela movimentação contrastava com segundos antes tão quietos quando ainda se dirigiam para o tal porto, porém este era o normal. Estava tudo aparentemente sob controle. Por enquanto.
– Ei! Quem são vocês e o que fazem aqui? – Um homem realmente grande cruzara os braços parando de frente ao detetive e ao doutor, ambos caminhando sorrateiros e desconfiados. Pretendiam adentrar as partes internas no local e procurar por possíveis pistas, porém infelizmente, foram barrados.
O homem parecia medir dois metros de altura e tinha as feições rudes com uma curta barba negra. Encarava decidido os dois a sua frente, agora temerosos.
– Não vão responder?! – O grandalhão gritava para os dois.
Sherlock então percebeu que eles caminhavam próximos a uma fila de pessoas que eram revistadas por este homem. As pessoas passavam pela inspeção e eram direcionadas para outra revista numa fila ao lado e assim recebiam uniformes e passavam a ajudar nos serviços pesados.
De imediato o grande homem barbudo, apalpou as vestes de Holmes, como se procurasse algo, mas nada encontrou. A não ser, a pequena chave dos bosques do lago. Holmes bufou com raiva, mas ainda assim, vibrando mentalmente pela sua precaução de deixar suas armas com Watson, carregando apenas a chave, mas que agora estava em mãos erradas.
– Sherlock! A chave...! – Watson sussurrou desesperado para o detetive que apenas assentiu também em pânico.
O homenzarrão semicerrou os olhos para Sherlock e logo em seguida para Watson girando a pequena chave nas mãos. Parecia ser o que procurava. Largou o trabalho que realizava e falou alto com uma voz gutural assustadora:
– Venham comigo! Agora! – Ordenou puxando ambos pelo colarinho.
– Não reaja até que eu faça algum sinal. – Holmes apenas bateu a boca formando a frase que Watson pôde compreender. Porém não entendia o que se passava. Watson na sua habitual praticidade, já teria disparado sua arma.
Foram puxados até um escuro e amplo compartimento onde eram organizadas as papeladas das cargas; era o almoxarifado.
Na verdade, era onde Sherlock pretendia chegar, mas não dessa forma agressiva. Entretanto, tudo corria como ele esperava. Agora à confirmação dos fatos. Holmes sentia o coração bater descompassado, respirava com dificuldade e um onda de ânsia percorria freneticamente pelo seu corpo. Podia sentir a adrenalina de mais um de seus casos quando chega ao fim. Estava com medo do plano eventualmente sair errado, mas igualmente excitado em resolvê-lo e agora estar, como já tinha plena certeza, cara a cara com o estopim de tudo.
O homem de barba negra largou-os de frente a um birô de madeira cheio de papéis empilhados e não somente Sherlock percebeu, mas também Watson, um vulto sentado por detrás do móvel. Estava impossível de reconhecer, tamanha era a escuridão da sala. Watson sentiu que o coração iria sair pela boca, sentiu-se tenso diante do perigo e involuntariamente tocou sua arma sob as vestes.
Sherlock deu um passo à frente e o vulto levantou-se da cadeira fazendo o detetive parar com a respiração suspensa.
– Bom trabalho Pierre. – O homem por trás do birô se dirigiu ao grandalhão que permanecia na sala de braços cruzados intimidador – Vejo que logo pegou os ratos na armadilha. Usar a chave como identificação das minhas caças foi uma ideia brilhante. – A voz era um tanto cansada, porém firme, grave e igualmente rouca.
O detetive olhou de esguelha para Watson que pareceu entender a real utilidade da chave. Apenas uma isca. Observou uma fresta de luz perpassando uma janela quadrada ao fundo da sala, às costas do vulto do homem que falava, e uma porta na outra extremidade lateral da sala, porém deveria estar trancada. Ainda em um pensamento vacilante entre otimismo e dúvida, Sherlock pensava:
"Meu plano tem que dar certo. Custe o que custar."
Uma segunda voz tomou conta do amplo espaço. Atrás do capanga Pierre, saiu da escuridão Greyk Pearce apontando uma arma para Sherlock Holmes. Ao falar, ele sobressaltou o doutor e o detetive que se virou para encará-lo.
– É bom vê-lo novamente detetive Holmes. – A voz de Greyk saiu sombria, sonora e cheia de frieza. Manteve a arma apontada para Sherlock.
Watson sem pestanejar, sacou a sua arma protegendo o amigo da mira do outro, porém Pierre também armado e rápido como uma raposa, apontou também a sua, com silenciador, para o doutor.
Uma sinistra gargalhada ecoou na sala.
– Mas que linda cena! Sugiro que abaixe sua arma doutor, se não quiser morrer agora mesmo. – O homem por trás do birô, entre as sombras, falou sarcástico.
– Só se o seu fiel cão abaixar a dele. – Watson revidou entre dentes ainda encarando Greyk que destravou sua arma desafiadoramente.
Com um sinal de mão, o homem ordenou que Greyk obedecesse e assim se fez. E então pôde finalmente sair das sombras que o escondiam dando um passo a frente na direção da fraca luz da janela permitindo assim, que todos o vissem.
Watson e Sherlock se viraram de volta, de frente para o birô. Watson esbugalhou os olhos com o que viu e aproximou-se do amigo sutilmente lhe passando uma das armas que levava enquanto Holmes falou num falso cumprimento:
– Prazer em conhecê-lo, finalmente – deu uma breve pausa esboçando seu mais irônico sorriso – Ruán Valdéz.
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Gente, o que estão achando? Sinto falta de vocês, vamos interagir! *-*
Estamos caminhando para a reta final .
Um beijo da Carol~
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