Ânsias e Aviso
Enquanto Watson vislumbrava o que havia por trás da lareira, há alguns quilômetros da mansão, Sherlock Holmes ansiava por notícias...
– Watson, onde está você meu caro...? Preciso de dados! – Sherlock falava sozinho em seu quarto no hospital, mirando a janela.
Caminhava aflito e impaciente, hora saía pelos corredores, hora ia conversar com pacientes de outros quartos, mas logo era direcionado de volta. Estava agora de frente para a janela olhando o pouco movimento na rua e desejava mais do que nunca sair dali. O caso da caixa espanhola havia conseguido deixá-lo ansioso e vivo outra vez; já não era sem tempo um caso confuso como este pousar em suas mãos.
Pensava em tudo desde o início e também como conhecera Rita, aquela bela espanhola com todo seu jeito sagaz, sotaque e sedução que passara a admirar.
Unindo as mãos nas costas, Sherlock voltou a falar:
– Rita. O que houve com você, hein? Também não me manda notícias. Nenhuma carta, telegrama... – Virou-se de súbito ao ouvir que alguém se aproximava.
– Sente-se aí Sr. Holmes. – Ordenou o médico já de luvas entrando no quarto.
– Estou bem em pé. – Sherlock respondeu teimoso.
– Se não sentar não poderei ver como está a cirurgia. – O médico falava tranquilo com a voz arrastada.
– Quando sairei daqui? – Sherlock sentou-se no leito retirando a camisa.
– Deixe-me ver... – O médico desfez o curativo e analisou – Pronto?
– Pronto? – Repetiu Holmes sem entender.
O médico abriu a maleta que levara e puxou um dos instrumentos apontando-o para a região com os pontos. Sherlock falou então contendo a voz:
– Ah, não. Não, dê-me um seg-- - Um constate incômodo se apoderou dele e a frase foi perdida no ar. O médico puxava lentamente os pontos que uniam a pele cicatrizada enquanto Sherlock em meio a algumas caretas deixara-se ficar tenso, com o olhar parado mirando a porta a sua frente.
Assim que terminou, o médico retirou da maleta um pequeno frasco com um líquido transparente e respingou-o em um pedaço de gaze. Passou a gaze úmida sobre a cicatriz que ficara, onde a pouco havia os pontos e refez o curativo, porém agora com muito menos aparatos.
– Refiz o curativo apenas para que a fina camada de pele una-se mais rápido e com segurança. Não tardará a sair daqui, Sr. Holmes. – O médico falou por fim, pegando sua maleta.
– Ótimo. – Sherlock respondeu sério pondo a camisa, porém sem abotoá-la.
– Não retire o curativo ou coce o local. Irá pinicar um pouco.
– Ah, isso é perfeito! – Sherlock falou carregado de ironia.
– Continue se alimentando bem e tenha um bom dia Sr. Holmes.
Sherlock apenas agradeceu com um leve aceno de cabeça e o médico então, se retirou.
– Nunca gostei de hospitais! – Bradou Sherlock que não se conteve e levantou-se em seguida – Médicos. – Bufou desgostoso – São todos iguais. – E voltou a pensar onde estariam e o que estariam fazendo Watson e Rita neste momento; Quando teve a oportunidade, pediu algo que pudesse escrever e começou a armar hipótese e planos sobre o que está realmente acontecendo neste curioso sumiço da caixa espanhola.
***
– O que descobriu Greyk?
– Por enquanto nada senhor. Seguia Rita quando ela foi ao enterro do irmão, mas quase saio de lá morto!
– Imbecil! – O homem gritou – Quem viu você?
– Estava escurecendo, não viram meu rosto.
– O que você pretende?! Arruinar tudo?! Preciso ter a certeza de que estarei seguro!
– Garanto sua segurança senhor. – Greyk falava falsamente já cansado de receber ordens.
– É o que eu espero! – O outro falou e desligou.
– Espere sentado. Não estou me lixando com sua segurança! – Greyk continuou e pegando sua arma mais uma vez, saiu porta afora, agora rumo ao Hotel Alas.
Chegando perto do hotel, Greyk parou escondido no beco próximo e procurou, com os olhos atentos, alguma janela em que estivesse Rita. Poucos minutos depois pôde visualizar a sombra da esguia mulher por trás de uma das janelas e levantou os braços com a arma em mãos preparando-se para no momento certo, disparar.
Sem que ele percebesse, um pequeno e magro garoto passou apressado seguindo direto para o hotel e parando bem em frente, falou alguma coisa com o porteiro que assentiu com a cabeça e fez uns gestos rápidos com as mãos para dentro do hotel, um minuto depois, a sombra da espanhola parou de súbito dentro do quarto e no que pareceu ter se virado, saiu do campo de visão de Greyk ao mesmo tempo em que o garoto passava de volta igualmente apressado.
Vendo que Rita demorava e temendo ser descoberto, Greyk com sua feição mais animalesca, com os dentes a mostra e o cenho carregando unindo as sobrancelhas em uma única linha, saiu exasperado do beco de volta para sua casa.
Dentro do hotel, de frente a porta de seu quarto, Rita falava com um de seus seguranças que tinha um pedaço de papel em mãos.
– ...Veio a pouquíssimo tempo Srta.
Rita pegou o papel.
– Gracias y no ficou esperando...?
– Não. O garoto veio, entregou ao porteiro e voltou tão apressado quanto chegou.
– Nada más?
– Falou ao porteiro que voltaria.
– Habló apenas esto?
– Sim Srta. Apenas isto.
– Muy bueno. Te llamo se precisar, sí?
– Às suas ordens. – O segurança falou e saiu. Rita fechou a porta e sentou-se em sua cama abrindo o bilhete que dizia em letras desenhadas:
Rita,
O que houve? Aguardei sua vinda, mas foi em vão... Sinto muito pelas minhas atitudes.
E preciso alertá-la. Tome cuidado! O tal homem que a segue não desistirá e temo que esteja lhe vigiando enquanto fica em seu quarto; Sua janela fica em um ângulo na diagonal para um beco extremamente discreto. Por favor, seja prudente.
P.S: Alguns fatores ainda estão fora de ordem e talvez mais algumas explicações suas me sejam de bastante valor.
Espero pela sua chegada.
Atenciosamente,
Sherlock.
Assim que terminou de ler, Rita foi para a janela a fim de encontrar o beco que Sherlock se referiu na carta e viu-o prontamente na diagonal, escuro e realmente discreto. Mas não havia ninguém lá. Não agora. Porém Sherlock ao enviar esta carta, mais uma vez, mesmo sem saber, salvou a vida da espanhola.
Rita assustou-se com este aviso, mas assim preferiu, pois caso contrário, ficaria à mercê do perigo, dentro de seu próprio hotel. Estava decidida a não ir ver o detetive pelo menos por uns dias, pois ele lhe parecia muito indeciso e isso não a agradava, mas sendo assim, talvez fosse melhor ir o quanto antes. Além disso, ele mostrou-se maleável, será que sentira sua falta...? Passada uma hora, o garotinho voltou apressado e o porteiro lhe devolveu o papel agora com uma resposta. E assim, o pequeno seguiu para o Hospital Stº Tomerson.
O pequeno garoto parou de frente para uma janela um pouco alta para ele e esticando o braço, deu três batidas. Sherlock logo apareceu abrindo-a de dentro de seu quarto no hospital pegando o papel. Agradeceu-o prometendo pagá-lo por isso assim que saísse dali e tornou a fechar a janela.
Tomado por uma onda de ânsia, Sherlock desdobrou o papel e leu as poucas palavras em resposta:
Iré verlo.
R.V.
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O que acharam?
P.S: Próximo capítulo vocês saberão o que Watson encontrou!
Até breve.
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