Vigésimo Terceiro Capítulo.
[CAPÍTULO VINTE E TRÊS]
1922
Verão.
– Isso vai arder, já sabe, não é? – Perguntou Ravena, antes de aplicar aquele medicamento sobre a pele branca da loira.
– Eu odeio quando você fala isso, todas as vezes. – Respondeu Eva, sentada naquela cadeira com a cabeça para cima e de olhos fechados, enquanto a outra ia tratando dos seus curativos, devido aos machucados ainda recentes.
Em um riso abafado, a morena aplicou aquele líquido na bochecha da menor, enquanto a mesma recebeu aquilo apenas cerrando os olhos fechados e trincando os dentes, devido a ardência. Mas logo, Ravena fez o mesmo procedimento nos outros machucados pelos braços e pernas da mesma. Afinal, a surra que levou dos capangas de Noah a feriu bastante, mesmo que sua recuperação fosse boa. Porém, era um preço a pagar, para obter um resultado final no melhor.
– Até agora eu não entendi. Naquela noite, antes de você sair sozinha, eu te avisei que possivelmente os homens do Noah viriam te atacar. Ainda assim, você foi. – Após falar deu uma pausa, ouvindo apenas uma risada baixa de Eva. – Espera... Você quis levar essa coça deles... De propósito? – Cerrou os olhos, enquanto a loira continuou rindo baixo. – Céus, Eva! Você não acha que está levando muito a sério essa briga toda com o seu pai?
– Vai muito mais além disso, Ravi.
– É, eu imagino. – Terminou de aplicar o líquido nos ferimentos dela. – Aonde estão as gases? – Após perguntar, Eva apenas apontou para a pequena mesa atrás da amiga, na última gaveta. Então logo a Austin virou-se de costas e abriu tal gaveta. Achando enfim, uma pequena bolsa de gases. Assim que a pegou, reparou que havia um cartaz estranho ali. Com a mão livre, o pegou. – Eva? O que é isso?
– Hum? – Abriu devagar os olhos, mas ao ver a outra segurando aquele cartaz, se levantou de maneira rápida e correu até ela, tirando aquele pedaço de papel das mãos da mesma. – Outra coisa que eu odeio: você mexendo nas minhas coisas.
– Eles não são uma organização legal, Eva.
– Mas concorda que alguns pontos deles fazem sentido. Enfim, eu só estava estudando-os. Sem nenhum motivo ao certo. – Olhou para o relógio na parede ao fundo do quarto. – Melhor você ir, vai se atrasar e eles podem levantar suspeitas. Você bem no meio de dois núcleos importantes, não podemos vacilar.
– E os seus curativos?
– Não se preocupe, eu os termino sozinha. Obrigada, Ravi.
– Você não está me escondendo nada, não é, Eva? Um dos motivos que eu quis vir para Sheerground, foi devido ao seu pedido, naquela carta. E cá estou. Então por favor, não esconda nada de mim. Eu vou te ajudar, mas preciso que seja sincera comigo.
– Está tudo sob controle, não há com o que se preocupar. Agora, vá.
A relação entre elas não foi criada hoje, nem ontem... Nem anteontem. Periodicamente Arnold enviava Eva para um internato católico, ainda criança. Naqueles momentos em que estaria "ocupado com outras coisas". Mas Eva sempre odiou aquele lugar. As crianças eram chatas e nojentas, as freiras eram grossas e rabugentas. E a comida? Eva preferia passar fome. Foi por isso que durante sua infância teve dificuldades de se alimentar. Entretanto, ela não era a única que enxergou aquele lugar como algo horrível e decadente, mesmo sendo apenas crianças. Sendo lá que conheceu Ravena, quatro anos mais velha.
Antigamente...
Sendo enviada para aquele lugar ano sim e ano não, lá estava Ravena, outra vez, agora com seus dez anos de idade. Mesmo que já tenha ido para lá várias vezes, conhecia todas as crianças e detestava todas elas. Porém, a cada ida, ia reparando que muitas crianças pararam de ir e outras iam chegando. Era estranho, pois ninguém sabia que final tinha, aquelas crianças que pararam de ir. Foram adotadas? Talvez. Mas a liderança do local optou por não passar tais informações para as outras crianças. Então, qualquer uma daquelas crianças poderia simplesmente desaparecer, de um dia para o outro, e as outras não iriam saber o motivo daquilo.
– Eu não vou comer. – Respondeu friamente aquela pequena garotinha com madeixas longas e douradas, com os braços cruzados.
A freira em frente a ela apenas deu de ombros e se afastou, deixando aquele prato de comida na frente da menor. Ravena rapidamente olhou na direção do tal acontecimento, reconhecimento aquela menina. Ela já tinha ido para aquele internato outras vezes, havia crescido. Era curioso, que a loirinha sempre ficava isolada sozinha em algum canto, sem amigos, sem ninguém. O mesmo caso de Ravena. Porém, reparando-a naquele segundo com mais atenção, a viu retirando algo de trás de suas costas. Ao cerrar os olhos, abriu um pequeno sorriso. Era uma maçã.
Sendo que eram proibidas lá dentro, "no momento em que Eva mordeu aquela maçã, no paraíso, tentada pela serpente, o mundo desabou em pecados". Histórias de Adão e Eva. Curioso que, nos bastidores, as freiras comiam sem o menor dos pudores.
– Ela... – Ravena cerrou os olhos.
Naquele outro instante, aquela outra, também denominada e chamada por Eva, mordeu aquela maçã. Diferente das histórias da bíblia, o mundo talvez não tenha caído em pecados, mas que um novo horizonte surgiu nos olhos de Ravena, isso surgiu. Sentiu que tinha algo diferente naquela tal de Eva. Ambas nem sabiam o que iriam aguardá-las no futuro e o tanto que aquela ligação ia crescer, incluindo segredos, até mesmo os mais obscuros, seriam compartilhados e guardados. Porém, é aquilo, o que acontece no internato, fica no internato. Prometeram, com o próprio sangue.
Atualmente...
Sem dizer mais nada, Ravena se levantou e pegou suas coisas sobre o sofá da sala e caminhou até a porta da casa. Parou nela e olhou para trás, olhando com preocupação em direção a Eva. Mas, estava atrasada, então não podia perder mais tempo. Abriu a porta e saiu dali, tinha que retornar a delegacia o mais rápido possível. Isso sem dizer nas obrigações que tem em Shelter, com Noah. Porém, tudo isso ela sempre tirou de letra, não era uma preocupação tão forte em sua mente. Agora, a situação de Eva sim, era bem preocupante. No caso, Ravena sabia do plano da loira, principalmente como aquilo vai terminar, mas... O que foi aquele cartaz que ela encontrou nas gavetas dela?
Além do fato de ser mais velha do que Eva, a morena já perambulou bastante entre os dois lados daquela mesma moeda, e sabia muito bem os riscos e a gravidade que tem em cada canto. Mas, se envolver com aquela organização? Ela entendia que Eva podia ter seus motivos, mesmo que não concordasse com eles, porém aquilo era demais. Sempre achou a amiga tão inteligente, tão culta e avançada no seu tempo, ainda mais em relação a sua idade. Não conseguia imaginá-la envolvida em algo daquele tipo, mas não descarta a hipótese pois sabe bem que Eva é capaz de tudo. Entretanto, no fim Ravena se sentia tranquila, pois ao menos agora está na cidade e perto dela.
– Nem você vai estragar os meus planos, Ravi. – Sussurrou Eva, após a saída de sua amiga. Com aquele cartaz em mãos, ela o colocou na frente de seu rosto, vendo-o outra vez. – Talvez seja hora de realmente nos colocarmos em nossas devidas posições, a de superiores em relação aos demais. – Ainda falando para si mesma enquanto olhava para o cartaz e lia em voz alta o que estava escrito...
"Junte-se a nós, Ku Klux Klan."
O cartaz continha um desenho colorido com três pessoas, trajando um roupão branco e chapéus cônicos da mesma cor, na intenção de serem aterrorizantes e o mais importante: proteger suas identidades. No topo da imagem continha um letreiro grande, em negrito, escrito "nós somos a supremacia".
O porquê de ela concordar com o posicionamento deles?
Ou, desde quando?
Ainda não é o momento para essa história.
No final da tarde daquele mesmo dia, a Oeste de Sheerground, o movimento ia voltando ao normal, como sempre. Ora, horas antes houve uma explosão em uma joalheria no quarteirão ao lado, não iam esquecer daquilo tão rápido. Tal acidente foi explicado pela polícia e bombeiros como um "incidente interno", problemas de afiação. Quem disse que dinheiro não move o mundo pode até ter razão, mas que move pessoas, em sua maioria, é um fato incontestável. Ainda mais se você for filho de um mafioso temido e conhecido por todo o país. Em todo caso, com tudo voltando ao normal, alguns dos habitantes continuaram com um certo medo, porém continuaram com seus afazeres e necessidades. Afinal, aquela parte da cidade era a mais movimentada se comparada a outras. Tanto que era comum ver pessoas que moram longe ir até aquelas ruas para apreciar o comércio dali.
– Gostou do lugar que eu escolhi para tomarmos um café? – Perguntou Charles, com um riso irônico, sentado na mesa daquele restaurante. Por fim, pousou aquele guardanapo sobre seu colo, com a postura reta, elegante.
– Você é um baita de filho da puta, sabia? – Bufando, Beatrice reclamou, sentada naquela cadeira sem elegância alguma. – Você faz essas merdas de propósito.
– Eu já estou tendo que sair na rua do seu lado, ainda vou bancar o nosso café, porque você não tem um puto no bolso, tenho que ter alguma diversão nisso tudo. – Pegou o cardápio sobre a mesa, vendo o que iria pedir. – Quer dar uma passadinha lá no trabalho da sua amiga? Aproveita que é aqui na esquina, estamos perto. – Debochou.
– Só se for para matar aquela vadia! – Botou o cotovelo sobre a mesa para apoiar o queixo, deixando a outra mão sobre o olho. Completamente enfezada.
– Tira o cotovelo da mesa! – Bateu no cotovelo dela, fazendo-a tirar dali. – Você não sabe nada sobre os bons modos, não é? Céus, que ninguém importante me veja aqui com você. Vai estragar toda a minha reputação.
– Não vem não, que a ideia de sair foi sua, seu velhote.
– Claro, agora que temos que ficar de guarda para aquele velho gordo e fedorento, entre você e ele, hum... Ao menos você cheira menos pior.
– Boa tarde, já sabem o que vão pedir? – O tal garçom gentil se aproximou com sua caderneta em mãos, para anotar o pedido.
– Por hora, vai ser dois cafés latte apenas. Depois vamos pedir algo para comermos. – Charles finalizou o pedido, fechando o cardápio. – O dobro daqueles biscoitinhos que vem com o café, por favor. – Mostrou um sorriso galanteador.
– Certo, irei trazer o pedido de vocês em b-... – Antes que o jovem garçom terminasse de falar, Beatrice pegou em sua mão, trazendo-o para si. – S-Senhora?
– Você trabalha aqui há muito tempo, garoto? – Perguntou Beatrice, olhando para mão dele e em seguida para o rosto dele. – Tenho a impressão de que já te vi em algum lugar. Esses olhos azuis me são bem familiares...
– E-Eu... Deve ser um engano, senhorita. – Trouxe a mão de volta para si. – Eu trabalho aqui já tem algum tempo, deve ser por isso.
– Não, é a primeira vez que venho nesse restaurante. Então, não é daqui que estou me lembrando de você. – Cerrou os olhos. – Tem certeza que já não nos conhecemos?
– Está tudo bem, garoto. – Charles interrompeu. – Ela claramente está afetada por coisas dos remédios que o médico passou. – Zombou. – Já pode ir, meu querido. – Finalizou, olhando para aquele jovem, que apenas sorriu sem jeito e se afastou. – Você realmente é maluca, não é? Que abordagem foi essa com esse menino?
– É, pode me chamar do que for, seu idiota, mas eu tenho certeza de que já vi antes aqueles olhos azuis, Charles. – Disse irritada, vendo o garoto atender outras mesas.
– Obrigado por ter vindo, senhorita Alice. – Disse Evan, ao recebê-la na porta da delegacia. – Eu sei que sua agenda deve estar cheia, mas é que... Acho que não consigo fazer isso sozinho. – Disse sem jeito, coçando a nuca.
– Não tem problema, meu querido. – A loira se aproximou dele, fazendo um carinho em sua bochecha enquanto abriu um sorriso. – Estou sempre as ordens para você. – Deu uma pausa e tirou a mão do rosto dele. E juntos, entraram na delegacia. – A situação então é aquela que me passou por telefone, não é?
– Exatamente. Não conseguimos achar o Noah, sequer um rastro dele.
– Entendo, talvez a essa altura ele já esteja em Shelter outra vez. Porém não é como se vocês pudessem invadir o lugar e prender o líder deles, sem provas concretas.
– Sim, por isso que eu estou tentando tirar alguma informação da irmã dele, mas ela não diz nada, só fica gritando e xingando os policiais, inclusive eu mesmo.
– E você acha que falando comigo, ela vai dizer algo?
– Eu pensei que por você ter uma ligação com o Morgan, e naquele dia, que ela veio te visitar também, não sei, eu imaginei que... – Desviou o olhar.
– Deixe comigo, meu amor. – Com o mesmo sorriso gentil, concordou com a cabeça. Porém, mesmo assim Evan não sorriu feliz, como se algo ainda o tivesse incomodando. – Ainda há algo que o preocupa, Evan? Pode conversar comigo, sabe disso.
– É que... Aconteceu algo estranho, que não comentei com a senhora pelo telefone. – Ele olhou em volta, antes de continuar falando. Vendo que não tinha ninguém, prosseguiu. – Antes do Noah sumir, ele falou algo estranho. – Deu uma pausa e subiu com o olhar, fitando a loira a sua frente. – Ele me chamou de "irmãozinho" e falou que iria me destruir. Eu não entendi e estou até agora com isso na cabeça.
Alice gelou, com os olhos arregalados. Ela já imaginou que Lilith teria contado a verdade para Noah, mas... Ele contou para o Evan? Não, ainda não era o momento. Ainda mais agora, que encontrou Cristal e está se dando bem com ela. Como iria explicar aquela situação para o outro gêmeo, bem na sua frente? Toda aquela verdade do passado vindo à tona, não poderia fazer uma jogada ruim naquele momento. Mesmo que estivesse com a cabeça bem atordoada com a situação de Sebastian, que aconteceu mais cedo, não poderia transparecer suas verdadeiras emoções e sentimentos naquele momento. Ainda mais que depois do ocorrido não teve mais notícias de seu velho amor depois do "acidente".
– Alice? – Evan a chamou. Mas ela continuou em silêncio. – Ei, senhorita Alice? – Obtendo outro silêncio dela, a cutucou para chamar sua atenção.
– D-Desculpe, meu querido. – Chacoalhou a cabeça, voltando a si. – Aonde estávamos?
– Eu te contei que o Noah me chamou de "irmãozinho" e disse que queria me destruir. A senhora sabe algo sobre isso? Será que tem alguma ligação com a tal verdade que ele disse que iria me contar, no final disso tudo?
– Eu entendo que esteja confuso, e não irei mentir mais para você. – Suspirou. – Mas, preciso que me dê um tempo. Deixe essas eleições passarem que eu te conto tudo, eu prometo. É que tem tanta coisa acontecendo agora, não é o melhor momento para termos essa conversa. – Deu uma pausa e continuou, com uma expressão meio entristecida. – Pode me dar esse tempo, querido, por favor?
– Hum... Já estou dando esse "tempo" para tanta gente, não tem mal eu dar esse tempo a senhorita também. Certo, Alice, quando as eleições passarem, eu exijo saber toda essa verdade. – Disse sério, com uma expressão séria também.
– Claro, você saberá. – Com um sorriso de canto, ela mudou de assunto. – Agora, vamos tratar de outro assunto, a Lilith?
– Certo, vamos.
Dessa forma, ambos começaram a andar por aquela delegacia, em direção a sala que Lilith aguarda. Devido aos últimos acontecimentos, principalmente envolvendo o dono daquele lugar, era visto muitos policiais conversando pelos cantos, mais do que era comum de se ver. Entretanto, Alice começou a sentir que todos aqueles olhares e cochichos eram para ela e sobre ela. Mesmo que no fim, não fosse, pois ninguém chegou a suspeitar dela. Mas Alice sentia isso, sentia mesmo. Começou a soar, de nervoso. Então abriu sua pequena bolsa e retirou um lencinho vermelho bordado e começou a passá-lo suavemente pelo seu pescoço, em seguida a testa, para tirar um pouco do suor. Ela havia matado Sebastian? Ele agora está... Morto? Culpa dela?
Enquanto Evan, diferente de Alice, permaneceu com a cabeça tão perturbada com tantas coisas que nem reparou naqueles policiais cochichando e olhando em sua direção. Ele não entendia o porquê de sempre as pessoas lhe pedirem tempo, para contar a verdade. Primeiro foi Luna, que pediu que esperasse, para que lhe contasse a verdade. Em seguida, Melissa, a mesma coisa. E agora, até mesmo a Alice? Até quando vão ficar pedindo para ele esperar, enquanto todos sabem a verdade menos ele?
– Chegamos, senhorita Alice. – Evan quebrou o silêncio ao chegar na sala de visitas, parando na porta. A loira deu uns passos em frente e tocou na maçaneta da porta, mas antes de abri-la, parou seus movimentos ao ouvir a voz de Evan. – Não sei se a senhora ficou sabendo, mas, chefe Sebastian está no hospital. Parece que ele foi atravessar a rua na cadeira de rodas, mas não viu um carro vindo, que acabou o atropelando.
– Ele... – Com o olhar fixado na porta a sua vez, ela apertou a maçaneta com força e engoliu a seco. – C-Como ele está? – Perguntou nervosa, mas não querendo transparecer muito. Afinal, se Sebastian ficou vivo depois daquele acidente, significa que... Ele vai acusá-la como tentativa de homicídio. Isso não poderia acontecer!
– Ele está vivo. – Falou, mas ainda com um tom triste. Alice ouviu aquilo e gelou, arregalando os olhos, ainda bem que permaneceu de costas para Evan. – Mas, ainda está desacordado. Os médicos acham que ele entrou em um tipo de coma, eu não entendi direito. Porém, não apresenta mais risco de morte. Menos mal, não é?
– É-É... Claro, meu amor. – Gaguejou, ainda nervosa. Ele ainda ficou vivo! Ela não conseguiu... Matá-lo? Quando ele acordar, ele vai denunciá-la e o pior, antes de empurrá-lo para os carros, Alice falou de Cristal. Ele vai querer entender o que ela sabe, ou o que ela quis dizer. Para ela, Sebastian não podia acordar. – Presumo que a Melissa esteja com ele, não é? Imagino que ela não iria deixá-lo sozinho.
– Sim, ela está lá até agora. Mas bom, deixarei a senhora à sós com a Lilith, acho melhor. Estarei lhe aguardando aqui fora, tudo bem? – Brandou.
– Por quê você não dá um pulo lá fora? Alguém quer te ver. – Respondeu com um pequeno sorriso e abriu a porta daquela sala, entrou e fechou a porta.
Evan apenas arqueou uma sobrancelha, sem entender. A viu entrando naquela sala, pensativo no que foi dito. Depois que Alice fechou a porta, o policial girou os calcanhares em direção a saída da delegacia, curioso. Afinal, quem iria vê-lo? De início pensou em Luna, mas logo descartou a hipótese, pois a julgar pela hora a mesma estaria já se arrumando para o show a noite. Também pensou em Melissa, mas como dito, a mesma não se encontra ali, permaneceu com Sebastian no hospital. Realmente não fazia ideia de quem seria, porém queria ver quem era. Então com passos um pouco mais ligeiros, não demorou para chegar na entrada da delegacia. Ele olhou em volta e não encontrou nenhum conhecido. Então, sem entender, deu o primeiro passo saindo do local, dando mais alguns passos em frente.
– Pensei que iria me dar um bolo. – Brincou, aparecendo atrás dele.
– Hum? – Com os olhos semicerrados por estar lembrado daquela voz, Evan se virou para ver a tal pessoa. – Ei, eu me lembro de você! – Apontou, abrindo um sorriso. – Chris, o líder da segurança do The Queen, não é? Nos conhecemos naquela noite.
– Que honra você lembrar de mim. – Colocou as mãos atrás da cabeça, rindo abobalhado. – Até porque, eu também me lembro bem de você.
– E-Eu só não... Entendo. – Coçou a nuca, meio sem jeito. – Há algo que queira conversar comigo? – Subiu o olhar, fitando-o.
– Ué, eu não posso vir te fazer uma visita esporádica? – Evan apenas ficou em silêncio, com a boca entre aberta. – Sei que tem uma barraquinha de sorvete aqui do lado, você... Aceita tomar um sorvete comigo? – Aumentou seu sorriso. – Claro, se não quiser, não tem problema. Eu juro que vou entender.
– Cla... C-Claro. – Retribuiu o sorriso, mas ainda meio sem graça.
Se entreolharam por mais alguns segundos antes de começarem a andar em direção a tal barraca de sorvete, que de fato era bem próximo da delegacia. Apesar de ter aceito o convite, Evan não entendia o propósito daquilo. Afinal, só o viu uma vez, e foi naquela noite, acompanhado de Melissa. Não sabe muita coisa sobre o rapaz, só que ele é um segurança, luta bem e que... É gay. "Será que ele...?" pensou o policial, começando a achar que aquele outro homem poderia estar com segundas intenções. Se fosse o caso, como iria falar não para ele? Ele iria reagir bem, iria brigar?
– Relaxa, não vim aqui dar em cima de você. – Chris quebrou o gelo, enquanto iam andando. – Mesmo que você faça completamente o meu tipo. – Brincou, deixando Evan sem graça. – Mas você é namorado da minha amiga, Luna. Não sou fura olho desse jeito.
– N-Nós não somos... Na-Namorados! – Tentou corrigi-lo, mas não conseguiu esconder seu rosto avermelhado, sem graça naquele assunto. – E eu não a-achei que-...
– Veja, você é bem amigo da Lisa e é "quase-namorado" da Luna, então achei que seria legal a gente se conhecer um pouco. Afinal, elas duas sempre me falaram tão bem de você, queria ver se você é realmente esse amorzinho todo que elas falam. – Falou rindo baixo, parando de andar quando chegaram em frente a tal barraca de sorvete. – Uma de baunilha, por favor. – Pediu para o moço, levantando um dedo.
– Não crie muitas expectativas, elas são mais exageradas. – Coçou a nuca outra vez, rindo sem graça. Em seguida olhou para o moço da barraca. – Vou querer uma de baunilha também, por favor.
– Aqui, chefe. Tira as duas casquinhas daqui, e pode ficar com o troco. – Retirou do bolso uma nota de cinco dólares e entregou para o dono da barraca, que foi preparar os sorvetes.
– Que? Não era para ter pago o meu, Chris.
– Nunca ouviu o ditado? Quem convida, é quem paga. Relaxa, pô. – Riu descontraído, dando um tapinha no ombro dele. – Qualquer hora você me paga um cachorro quente para me recompensar então.
– Uou, você não vai querer me ver comendo cachorro quente. – Botou as mãos em frente a corpo, em forma de defesa. – Não mesmo! Eu pareço uma criança comendo, me lambuzo inteiro, é uma vergonha. – Riu de forma alegre, com seu belo sorriso.
– Ai... – Chris olhou para ele por uns segundos e suspirou. – Sorte que eu gosto muito de você, Luna. – Sussurrou, olhando para o céu. – Deus, me dê forças para não fazer nenhuma besteira, não quero chatear minha amiga.
– Hum? Disse algo, Chris? – Perguntou, não entendendo o que ele disse.
– Ah, nada! – Abaixou o olhar, tornando a fitá-lo. – Apenas falei que a Luna é uma moça de sorte, mas ora, você também é um cara de sorte, hein?
– Aqui está. – Disse o sorveteiro, entregando as duas casquinhas de baunilha.
– Olha só, recorreram até a você? Devem estar desesperados para que eu fale algo mesmo, hein. – Lilith riu debochada e cruzou os braços, sentada naquela cadeira.
– Admito que está um pouco interessante ver que os papéis aqui estão trocados. – Delicadamente, sentou-se na cadeira de frente para Lilith e abriu sua pequena bolsa, retirando seu maço de cigarros e o isqueiro. – Lembra da última vez que ficamos, juntas, nessa sala? Só que eu estava aí e você aqui. – Tirou um cigarro e levou o maço até a loira a sua frente, oferecendo. – Irônico, não acha, pirralha? – Ironizou.
– HA, HA, HA! – Pegou um cigarro do maço que ela ofereceu. Em seguida, Alice o acendeu. Com o cigarro aceso, levou até os lábios, dando o primeiro trago. – Você deve estar adorando, não é? Vale lembrar que logo depois da nossa conversa eu fui atrás e descobri a verdade, que o Noah e o Evan são irmãos. Será que quando sair daqui você vai descobrir algo também? – Assoprou a fumaça do cigarro na outra.
– Eu não preciso descobrir nada, querida. – Mostrou-se indiferente quanto aquela fumaça em seu rosto, continuando a fumar seu próprio cigarro, de pernas cruzadas. – Todas as respostas estão comigo, não com vocês.
– Para quem veio até aqui na tentativa de me fazer falar algo, já te adianto, está falhando miseravelmente. – Levantou as pernas e as jogou sobre a mesa que havia entre as duas. – Eu não sei que artimanha você usa com meu pai, que funcionou durante todos esses anos, mas não vai funcionar comigo, Alice.
– Você se acha muito mais inteligente que seu pai, não acha? – Com o mesmo tom sarcástico, continuou. Aquele jeito irritava Lilith, demais. A loira fechou a cara. – Acha que você estar aqui agora, vai conseguir se aproximar mais do Noah?
– C-Cala boca! – Ela tirou as pernas da mesa e bateu com as mãos ali. – O que você quer dizer com isso?
– Ah, não me faça rir, criança. Morgan parece que nunca quis ver, mas eu já sabia, há muito tempo. Desde aquele dia, que vi vocês se beijando, ainda adolescentes. – Naquele segundo Lilith arregalou os olhos, surpresa. – Oh, vocês acharam que não tinha ninguém vendo, não é? Sempre tem alguém vendo, meu amor. Aprenda isso.
– V-Você não pode contar para o papai! – Gritou, agora com os olhos marejados e as mãos sobre a mesa. Bem, mais bem irritada. Não conseguia imaginar a reação de seu pai, caso ele soubesse que sua filha era apaixonada pelo meio irmão.
– Viu? – Riu baixo. – Ainda não sabe como eu levei seu pai nas minhas artimanhas, por todos esses anos? – Lilith trincou os dentes ao ouvir aquela provocação. Mas logo a mais velha suspirou. – Mas, não vou fazer isso. É muita covardia usar o amor que sente por alguém, como ferramenta de ameaça. Fizeram comigo, e é uma sensação horrível.
– E-Espera... O que você?
– Eu não vou julgar seu sentimento pelo Noah, pirralha. O amor é uma coisa estranha, não tem explicação. E, mesmo de longe, eu acompanhei sua adolescência. Vi a dificuldade que você sempre teve para se relacionar com os outros garotos, e o quanto sofreu por guardar isso dentro de você, por tanto tempo. Mesmo que isso seja... Diferente para mim, não estou em condição de julgá-la, já fiz muita coisa "diferente" durante a minha vida também. Porém, uma coisa é fato, você realmente o ama, de um jeito ou de outro, o ama. E está tudo bem com isso.
Naquele instante, ouvindo aquelas palavras, que não eram julgamentos, os olhos de Lilith se encheram d'água. Ela sempre achou que todos iam julgá-la, apedrejá-la, e talvez fizessem isso mesmo. Mas, Alice não o fez. De uma certa forma, Lilith sentiu-se amparada, de um jeito que nunca se sentiu antes. Até o dia de hoje e a todo instante, sempre se culpou, por ainda ter esse sentimento por Noah, porém naquele momento aquela culpa cessou. Ela sentiu seu coração ficar aquecido. Sendo o estopim quando sentiu a mão lisa de Alice pousar sobre a sua. Não foi necessário dizer mais nada. Elas apenas continuaram com aquela troca de olhar, e Alice viu... Aquelas lágrimas escorrerem pelos olhos da mais nova. Alice apenas abriu um sorriso, fazendo carinho na mão dela. Enquanto Lilith fechou os olhos e desabou em lágrimas e soluços.
19:00pm.
– Senhor Noah, tem certeza de que não quer comer nada? – Perguntou Phillipe, na porta do quarto de Noah. Porém seu líder permaneceu sentado, mexendo naquela papelada sobre a mesa a sua frente, não disse uma palavra. – Senhor?
– Eu só quero ficar sozinho, Phillipe. – Respondeu friamente, sem sequer virar a cabeça para trás, para fitar o outro. Continuou focado nos papeis a sua frente.
– O senhor não comeu nad-...
– SOZINHO, PHILLIPE! – Noah gritou. Espera, Noah... Gritou? – Só me deixe sozinho. – Voltou a abaixar a voz, mas ainda de costas. Phillipe só arregalou os olhos, nunca vendo Noah gritar daquele jeito. Então, não quis mais testar a paciência dele, o deixou sozinho outra vez. – Droga. – Bufou, batendo com as mãos sobre a mesa, largando o lápis que usou para escrever. – Como eu não contei com aquela jogada dele?
Noah ficou olhando todos aqueles papeis, fazendo e refazendo planos, suas rotas, envolvendo até números, mas nada chegou até a resposta que queria. A resposta de que seria Evan quem sairia vencedor daquele embate. Na verdade, Noah estava mais irritado não pela derrota em si, mas sim por ter envolvido Lilith nisso. Ele arquitetou um plano cautelosamente e por isso, apenas por isso, aceitou envolver sua meia irmã nisso. Pois tinha a total certeza de que não iria colocá-la em perigo. Mas no fim, não apenas a botou, como a entregou de bandeja para seu oponente. Lilith confiou nele, e ele falhou. Logo em um momento crucial, aonde não poderia falhar. Ela acreditou cegamente e agora... Não resta nenhum sentimento em Noah se não culpa.
– Phillipe – começou a dizer depois de uns minutos ao ouvir o barulho de sua porta abrindo, mas agora virou a cabeça para trás. – eu já te disse que-...
– Tio Noah? – Indagou Erick, botando apenas a cabeça para dentro do quarto. Noah cessou as palavras, surpreso por vê-lo ali. – Eu posso... Entrar?
– Cla... Claro, Erick. – Respondeu e voltou com a cabeça para frente, voltando a fazer anotações naqueles papeis, em busca de uma resposta para saber aonde exatamente ele falhou, por não ter cogitado com aquele contra golpe de Evan.
A criança de madeixas amareladas não disse mais nada e foi até a cama de Noah, sentando-se nela. Botou as mãos sobre o colchão e ficou balançando seus pezinhos, que por pouco não alcançaram o chão. Erick ficou olhando em volta daquele quarto, fazia algum tempo desde que não entrou ali. Os quartos eram claramente diferentes, enquanto o de Erick tinha uma decoração mais infantil e deveras colorida, o de Noah era bem simples, com cores preto e branco, com nada grudado nas paredes. Havia apenas sua cama, seu armário e a mesa com cadeira que fazia suas anotações. E ah, uma mesa menor com um abajur ao lado da cama.
O silêncio reinou naquele quarto. Noah continuou focado em obter uma resposta para seus erros e problemas, enquanto Erick ficou apenas olhando o quarto e o quanto ele era diferente de seu. Com vontade de quebrar o gelo, o menor desceu da cama e caminhou até o maior e parou ao lado dele. Queria ver o tanto que ele escrevia ali. De início Noah não reparou sua aproximação, por estar extremamente focado.
– Não foi culpa sua. – Disse baixo, a criança ao lado de Noah. O moreno virou o rosto em sua direção, com tamanho susto de sua aproximação repentina.
– O q-que? – Perguntou, ainda se recuperando do susto.
– Eu ouvi você e o tio Phillipe conversando, sobre o que houve mais cedo.
– Não é certo ouvir a conversa dos adultos, Erick. – Repreendeu Noah, trazendo a cabeça para frente, apoiando-a com as mãos, deixando os cotovelos sobre a mesa.
– Me desculpe. – Disse, abaixando a cabeça. – É só que... Não queria ver você triste. – Ao falar aquilo, Noah olhou para ele, surpreso. – E eu acho que a tia Lilith também não está triste com isso. Na verdade, ela me disse uma vez, que você é tão importante para ela, que ela faria de tudo por você. Então – Abaixou a cabeça, procurando um jeito de falar. – Por favor, não fica mais triste não. Tia Lilith está bem. – Levantou a cabeça, com um sorriso alegre entre os lábios.
Noah apenas arregalou os olhos, completamente surpreso com o apoio de Erick. Mesmo que tivesse dificuldades em demonstrar, sentia seu corpo ir aquecendo com aquelas palavras do menor. Ainda sem reação, Erick tirou o lápis da mão dele e o pegou pela mão, em seguida, o puxou para que levantasse da cadeira. Sem entender, Noah não fez resistência, foi puxado pelo menor até a saída do quarto.
– Agora vamos, que você tem que comer algo. – Tentando esboçar uma cara séria, disse Erick – Eu também ouvi o tio Phillipe falar que você não comeu nada o dia todo. – Disse bravo. – Não pode ficar sem comer, tio Noah!
Por fim, Erick abriu a porta do quarto, saindo dele, ainda puxando Noah pela mão. Enquanto o mafioso, por sua vez, permaneceu surpreso a todo momento. A julgar pelas últimas atitudes de Erick, ele estava enfim... O perdoando, por tudo que fez no passado? Enfim, estaria criando uma relação com a criança? Sem perceber, o semblante de Noah mudou, dando lugar a um singelo sorriso de canto.
No mesmo dia, mais tarde, os movimentos pelas ruas de Sheerground permaneciam os mesmos, quiçá até mais. Afinal, a vida noturna, em alguns pontos da cidade, rendia bem mais se comparada a diurna. Porém ainda sim, cada um tinha seu respectivo trabalho, alguns tinham até dois trabalhos. Ninguém disse que viver na cidade do pecado seria fácil, hein? E aqueles que emendavam a saída do trabalho para badalar na noite? Isso era bem mais comum do que se pensa. "Querida, tive que ficar até mais tarde no trabalho" e por aí vai. Além de claro, daqueles completamente livres e desimpedidos, estes sim, faziam e aconteciam. Em todo caso, para ter a adorada vida noturna, há aqueles que ainda tem que trabalhar.
– Até amanhã, chefe. – Falou o jovem garçom saindo daquele restaurante pela porta dos fundos, após se despedir seu patrão. O mesmo tinha cabelos negros e curtos, uma estatura pequena e o corpo magro, e claro, além daqueles olhos azuis, que pareciam refletir o mais belo céu. Com um sorriso no rosto ele foi caminhando para longe do restaurante, com uma mochila, também preta, nas costas.
– Eu vou descobrir da onde eu te conheço, seu safadinho. – Sussurrou Beatrice escondida, observando aquele rapaz do outro lado da rua.
A rua estava bastante movimentada, que mais um ou menos um aquele jovem nem ia perceber a diferença. Então, Beatrice logo tratou de atravessar a rua, seguindo aquele garoto, de uma forma precavida, sem chamar muita atenção. Como dito, com a rua movimentada tornou aquela tarefa mais fácil do que seria. Mas, como nada é fácil o tempo todo, Beatrice rosnou baixo ao ver que estraram na rua do The Queen. Andando por aquela calçada, a morena não tirou os olhos dele, por um segundo sequer. Até que... Algo chamou sua atenção. Pouco antes de chegar perto do The Queen, o tal garoto parou de andar. Naquele instante, Beatrice tratou de se esconder atrás de um poste, com medo dele descobrir sua localização.
O garoto olhou em volta e sem chamar muita atenção, entrou num beco sem muita iluminação. Beatrice logo tratou de segui-lo. Afinal, o que um garoto magrelo igual a ele iria fazer num beco escuro e deserto? Sorrateira, ela seguiu por onde ele foi. Mas ao entrar naquele beco, procurou em volta e não encontrou mais o garoto. Até aquele momento. Pois logo um barulho de porta abrindo foi ecoando por ali. Beatrice levou o rosto na direção do som e viu que era o tal garoto, abrindo uma porta de um estabelecimento, julgou ser a saída dos fundos daquele lugar. Entretanto, o curioso disso, é que aquele não era um estabelecimento qualquer...
– Ele entrou pela porta dos fundos... Do The Queen? – A Florence sussurrou.
Ainda mais curiosa do que antes, Beatrice continuou o seguindo. Porém não iria entrar no bordel de Alice, ali todos a conhecia, não iria deixar com que ficasse ali. Não, tinha que ter outra forma. Então, ainda pelos fundos, a mulher foi procurando por janelas. Encontrou algumas, em sequência, uma do lado da outra. Sem ser pega, tentou ver o que tinha do outro lado da janela. Nas primeiras, nada de útil. Apenas algumas das garotas de Alice se arrumando em seus quartos, se alimentando etc. Quando chegou na última janela e Beatrice viu o que tinha por trás dela, seus olhos se arregalaram. De tudo que imaginou, aquilo definitivamente não estava nas opções.
– Tchau Luck e... – Disse o garoto, sentado de frente para um espelho. Mas não sendo possível ter visão da janela dali. Com aquela peruca em mãos, ele se olhou no espelho e sorriu. – Olá, Luna. – Finalizou, botando a peruca vermelha.
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