Vigésimo Quinto Capítulo.
(Alerta: Pode conter cenas pesadas e de extrema violência explícita neste capítulo. Será marcada com um (*) no início e final da cena.)
[CAPÍTULO 25]
1922
Verão.
19:00pm.
É o momento e a hora é agora. Depois de um longo dia, a noite chegou e com ela... A apuração dos votos. Todos os habitantes de Sheerground já tiveram seus momentos para efetuar o voto que iriam definir o próximo prefeito da cidade. Em uma noite levemente abafada, porém bastante iluminada pela enorme lua cheia no céu, o cenário já foi formado. Havia um grande palanque em frente a prefeitura, e sobre ele estavam alguns ministros e parceiros dos dois candidatos elegíveis, além de claro, os ditos cujos. Em frente e mais abaixo, estavam eles, os cidadãos da cidade que ansiavam pelo resultado das votações. Sem sombra de dúvidas, o lugar estava lotado de pessoas, possivelmente a maioria dos residentes da cidade estavam ali.
Arnold Gonzales ficou de um lado, sentado em uma cadeira ao lado de seus assessores, enquanto Eva sua filha permaneceu sentada em outra cadeira do lado oposto, também acompanhada pelos seus assessores. O lugar estava uma bagunça, era uma gritaria incessável além dos inúmeros flashs direcionados a família Gonzales; ah, os jornalistas.
– Espero que não ocorra nenhuma confusão esta noite... – Sussurrou Evan, tomando a frente de sua equipe de policiais cercando aquele grande palanque em frente a prefeitura. Todos os policiais estavam devidamente trajados a caráter, com uniformes especiais, coletes, escudos, capacetes e armas brancas e de fogo em sua cintura.
– Está com medinho, policial? – Em um riso debochado, Carl se aproximou e o assustou com a mão sobre seu ombro. – Nem parece um policial com patente alta.
– Senhor? – Evan olhou para seu lado, vendo seu superior parado ali comendo uma... Coxinha de frango? O menor e mais novo cerrou os olhos. – Não imaginei que o senhor estaria por aqui hoje, já que enviou tantos de nós para cá.
– E perder esse banquete de graça que o prefeito está dando? Nem pensar. – Riu, mordendo mais daquele salgado em suas mãos. – Vem cá, você viu a Melissa por aí?
– Hum-hum... – O outro coçou a garganta, se segurando para não socar a cara de seu superior. – Não, senhor, não a vi. E se me permite, farei uma ronda com minha equipe para checar o lugar, com licença. – Tirou a mão dele de seu ombro e deu passos em frente, não demorando mais que uns segundos para se afastar de Carl.
– Ué, o que deu nele? – Perguntou, terminando de comer aquela coxinha.
Sobre o palanque, Eva permaneceu atenta e observando com cautela todas aquelas pessoas. Assistiu aquela cena entre Evan e Carl e apenas revirou os olhos no final, para logo em seguida voltar com suas análises sobre o local e aquelas pessoas. Além de claro, tentar não pensar muito no que aconteceu mais cedo: sua visita ao KKK. Não que isso não estivesse em seus planos, muito pelo contrário, porém ainda não era o momento. Aquele era o próximo passo, depois que derrotar seu pai naquela eleição e pegar o cargo como dona da cidade. Então, inteligente como sempre, focou toda sua atenção no passo atual, no agora. Afinal, mal podia esperar para ver a queda de seu progenitor, esperou tanto tempo para isso, tinha certeza de que seria uma cena maravilhosa e ela estaria assistindo de camarote, literalmente.
Enquanto o outro candidato, Arnold e pai de Eva, ficou mais preocupado com aqueles inúmeros papeis em mãos. Haviam muitas coisas escritas nele e deveria decorar todos aqueles textos, para recitá-los em sua apresentação que ocorrerá em breve. Afinal, sabia que não tinha o tom de escolher as palavras certas, então aconselhado pela sua própria imprensa, decidiu se apresentar com textos prontos. Agora, é torcer para que ele se mantenha firme no personagem para dizer tudo que-... Espera, a quem estamos enganando? Isso possivelmente não dará certo. Mas, não temos nada a ver com isto, correto? O assunto é o combate entre pai e filha, aonde cada um usará de suas próprias armas e artimanhas, visando apenas a vitória daquela guerra.
Se levantando com postura e bem centrado, o primeiro ministro enviado diretamente pelo presidente para liderar aquela eleição, caminhou até o microfone principal. Todos o olharam com bastante respeito, afinal é um homem bem próximo do presidente, não era pouca coisa. Ele coçou a garganta e deu uns toques no microfone para testá-lo, em seguida olhou para a equipe de Arnold e logo em seguida para de Eva e concordou com a cabeça, ambos já sabiam o que fazer; todos se levantaram, assumindo a devida posição.
– Foi terminada a contagem dos votos, e já temos o resultado em mãos. – Anunciou o primeiro ministro, com aquele envelope pardo e fechado em suas mãos.
– Você está ouvindo? – Perguntou Charles, sentado naquela poltrona caríssima enquanto permanecia segurando seu charuto com uma das mãos.
– Ahn? O que? Não estou ouvindo nada. – Respondeu Beatrice, andando de um lado para o outro dentro do mesmo cômodo que Charles.
– Exatamente por isso, estúpida. Aquela multidão em frente a prefeitura parou de gritar, provavelmente foi anunciado que em minutos devem anunciar o resultado da eleição. Até que enfim vamos ter alguma animação por aqui. – Riu e deu mais um trago em seu charuto, com as pernas cruzadas, mantendo toda calma e elegância de sempre.
– Como você pode estar tão calmo, porra? Independente de quem ganhar, a cidade vai virar um inferno, porque ela foi dividida em dois lados. – Disse ainda bem nervosa, não parando de andar nem por um segundo.
– Por céus, Beatrice! Daqui a pouco você vai cavar um buraco no chão de tanto ir e voltar em um mesmo lugar. Sem contar que... Por quê eu não estaria calmo? Temos tudo sob controle, inclusive temos até respostas para o "ataque surpresa" da Alice e seu grupinho indesejado. Então, não temos como perder este jogo.
Beatrice e Charles eram bem diferentes um do outro, quase que na maioria dos sentidos. Enquanto o mafioso permanecia calmo e sereno com o que pudesse vir naquele dia, a cafetina já temia o pior, como sempre. Talvez, por conta de traumas e medos anteriores que moldaram suas respectivas personalidades. Beatrice sempre foi tratada como primeira opção a ser descartada, para que o outro lado pudesse se sair bem. Enquanto Charles, era o tipo de pessoa que utilizava dessas pessoas para nunca se sair mal. Bom, até então tal tática permaneceu funcionando.
Entretanto, Beatrice não deixaria aquela situação, de anos atrás, acontecer de novo. Ela foi deixada de lado, por duas pessoas que considerava suas melhores amigas e devido a isso passou longos anos atrás das grades. Enquanto elas? Livres e soltas. Nunca conseguiu superar aquela noite e desde então prometeu vingança, contra as duas, faria elas se arrependerem de terem a deixado largada lá. Ela confiou, em ambas, e foi traída. Mas o dia de sua vingança chegou, de uma já tinha conseguido se vingar, faltou a outra... E era questão de tempos até que ela viesse prestigiar aquele casarão com sua ilustre e essencial presença; ela aguardou ansiosa, como nunca antes.
Este era o motivo principal do nervosismo e ansiedade de Beatrice.
– Ei, você, Peter! – Exclamou Charles, sem sair do lugar, apontando para um daqueles de seus capangas em volta daquele cômodo. – Venha cá, menino.
Sem dizer uma palavra, o subordinado obedeceu e andou até seu chefe. Afinal aquela sala estava cheia de capangas de Beatrice e Charles, todos posicionados para qualquer movimento suspeito, isto sem contar com os escondidos e posicionados do lado de fora. Tudo para proteger aquilo que foram pagos para fazer. E o melhor, estavam recebendo por hora, então Charles queria mais que aquilo pendurasse pela noite inteira que não iria ligar. Pois no final seus bolsos estariam ainda mais cheios, ou acham que para que ele aceitasse o trabalho do prefeito acabou sendo por um preço pequeno? Logicamente não, Charles pediu uma alta quantia, a qual Arnold nem pestanejou em pagar, tadinho, não era uma das pessoas mais inteligentes para fazer contas. Talvez fosse por isso que nunca tenha lidado diretamente com a parte financeira de seus negócios, Mary era a responsável por trás disso.
Estranhamente, ela sequer tentou negociar com os mafiosos. Dinheiro sobrando?
– M-Meu nome é Patrick, senhor.
– Que seja, eu te pago pra você trabalhar, não pra saber seu nome, já se dê por satisfeito de que eu não te chamei de aberração a julgar pela sua cara feia. – Deu de ombros e riu baixo. – Enfim... Vá agora dar uma ronda pela casa e me traga os relatórios das outras equipes, de como está a situação. E leve dois colegas com você, por precaução.
– S-Sim, senhor. – O capanga logo concordou com a cabeça e saiu dali.
– Aliás, você não chegou a comentar, seu velhote. – Beatrice finalmente cansou e se sentou no sofá em frente a Charles, pegando uma taça de vinho sobre a mesa entre eles. – Você trouxe quantos capangas para espalhar pelo casarão?
– Duzentos. – Disse, abrindo um sorriso malicioso.
– Q-QUE?
– Ué, porque a surpresa? Eu sou um homem precavido, Beatrice. E precaução nunca é demais. Mesmo que Alice traga seus amiguinhos nojentos, não conseguirão passar por todos os homens que espalhei pelo casarão, e iremos assistir nossas visitas morrerem lentamente. Sim, eu pedi para que dessem a cada um daquele bando uma morte bem lenta e dolorosa, quero meu entretenimento da noite.
Sem precisar dizer mais nada a dupla começou a rir, enquanto iam bebendo e fumando mais, como se estivessem em férias em Paris, esquecendo-se por um segundo de que estão escondidos num porão do enorme casarão que é a prefeitura, e lar do prefeito e sua família. Alguém precisa lembrá-los, ou...?
– Todos lembram do plano, não é? – Perguntou Alice, escondida atrás de umas árvores, com todo o seu grupo ao redor. – Caso tenham uma dúvida, digam agora.
– E-Estou com medo, m-mãe... – Sussurrou Nina, com as mãos juntas a frente do peito.
– Para de se agir como uma garotinha, Nina, que saco! – Mia deu a bronca, irritada. – Bethany é uma de nós, nossa irmã e precisamos salvá-la.
– Ela está certa. – Disse Alice, olhando para a mais irritada, mas depois olhou para Nina. – Mas não se preocupe, meu bem, vai dar tudo certo, apenas confiem em mim. Então, vamos recapitular. Chris, você cuida da entrada e das laterais da casa, vigiando quem entra e quem sai, ok? Eu não sei quantos deles nos aguardam, você tem certeza que consegue sozinho? – Ao perguntar aquilo, o moreno apenas cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha, arrancando uma risada da mais velha. – Perdão ter subestimado você por um segundo.
– Eu com as meninas, não é, mãe? – Perguntou Luna, atenta para as informações.
– Sim, minha filha. Todas vocês – olhou para as outras garotas que tinham ali envolta – obedeçam a Luna e sigam o que ela dizer, ok? E não se preocupem, vocês não precisarão lutar nem nada do tipo, a Luna ensinará vocês a como apagar um grupo de inimigos em questão de segundos, antes mesmo deles verem que chegaram.
– Certo, mãe, eu já dei umas breves aulas para elas, todas mandaram muito bem. – Sorriu Luna, esperançosa. Mas logo tirou o sorriso do rosto, levemente preocupada. – Mas... E quanto ao Evan? Não era para ele estar aqui?
– Não, minha querida. Evan irá nos ajudar, porém ele virá depois.
– Ué, eu lembro de a senhora ter dito que seu sobrinho iria nos ajudar com o primeiro ataque. E, o Evan é seu sobrinho, que nos contou, não é?
– Você está certa. De fato, ele é como se fosse um sobrinho pra mim, mas... Ele não é o único que eu tenho. – Ao terminar de falar, ouviu uns passos logo perto, de alguém se aproximando. – Falando nele, acabou de chegar.
Passando por aquelas árvores, um homem alto e de cabelos negros foi se revelando por trás das sombras da noite. Seus olhos eram azuis e suas roupas pretas, iguais a sua boina e sapatos largos. O tal homem parou a uma curta distância daquele grupo com as mãos sobre os bolsos de seu sobretudo, fazendo com que todo o grupo de Alice olhasse em sua direção. Ele, por sua vez, permaneceu frio, sem expressar uma emoção sequer, apenas tirou uma mão de seu bolso, acompanhando seu relógio dourado. Ele olhou as horas e em seguida tornou a fitar Alice logo a frente.
– Sete e meia, em ponto. Estou aqui, como pediu, Alice. – Ele murmurou friamente.
– Eu sabia que podia contar com você, Noah. – Abriu um sorriso ao vê-lo ali. – Imagino que não tenha vindo sozinho. Trouxe o que eu pedi?
– Eu sempre faço minha parte do acordo. – Ele levantou a outra mão para o alto e estalou os dedos. Segundos após, inúmeros capangas, dezenas, começaram a surgir de trás daquelas árvores ao redor, fazendo todo o grupo de Alice arregalar os olhos. – Cinquenta, pode contar se quiser, caso não confie em mim. Estão todos aqui.
– Eu confio, você e seu irmão não puxaram o lado mentiroso do pai de vocês, e sim a sinceridade dela. – Ao falar aquilo, os olhos de Noah semicerraram. – E não se preocupe, depois da noite de hoje, eu cumprirei com a minha parte do acordo.
20:00pm.
Não tem mais para onde fugir. Os votos já foram encerrados e devidamente apurados. Há exatos trinta minutos o primeiro ministro anunciou que em breve anunciaria o resultado, mesmo que este em breve tenha demorado alguns longos minutos, o que acabou deixando os habitantes da cidade mais impacientes e eufóricos do que antes. Mas, pudera, todos já estavam em seu clímax e aguardando ansiosamente pelo resultado final. Sheerground ficará nas mãos de Eva ou continuará nas mãos de Arnold? De fato, a cidade havia se dividido, ou você torcia para um ou para o outro, sem meio termo. Além de que ambas as torcidas não eram muito empáticas uma com as outras, brigas, tumultos e confusões eram bem frequentes de se ver pela cidade um pouco depois que as eleições tomaram um rumo mais sério. Quem era de um lado não conseguia aceitar de bom grado quem era do outro lado, e vice versa.
Afinal, para aqueles cidadãos aquilo não era uma eleição comum. Apoiar Arnold significa apoiar coisas que vão mais além, como as ideologias e padrões que ele seguia. Enquanto o mesmo também servia para Eva, apoiá-la era assinar embaixo de seus pensamentos e projetos para a comunidade. Outrora, eram bem diferentes.
Não há como coincidir.
– Peço desculpas pelo atraso, mas enfim retornei com a notícia que todos esperam. – Anunciou o primeiro ministro sobre aquele palanque e indo para a frente, parou em frente ao microfone principal. – O resultado está aqui em minhas mãos. – Disse levantando aquele papel pardo em suas mãos. – O rumo de Sheerground... Está aqui. Então, sem mais demoras. – Ele abaixou o papel e começou a abri-lo.
Naquele instante Arnold e Eva se entreolharam, ela com um sorriso debochado e um ar de superioridade e ele com raiva, muita raiva. E ao lado do mais velho, estava Mary, acompanhando seu marido. Todos, incluindo a assessoria dos dois candidatos estavam de pé, aguardando a notícia que iria definir o futuro de Sheerground pelos próximos anos. Arnold claramente permaneceu bem irritado, não deixando de tremer por nenhum instante. Enquanto sua filha ficou apenas observando aquela situação, achando graça em vê-lo naquele estado, pois sabia que até ele já estava contando com a própria derrota e a garota ficava ansiosa para vê-lo lidar com o fracasso.
– Vocês decidiram... – O primeiro ministro tirou aquele papel timbrado do envelope pardo e leu o que tinha escrito nele. – E quem ganhou foi... – Releu mais algumas vezes antes de anunciar o nome, mas logo virou aquele papel para frente, para que todos pudessem ler o que tinha escrito nele. – Eva Gonzales, é a nova prefeita de Sheerground, com mais de setenta por cento dos votos.
Pronto, naquele instante tudo virou de cabeça para baixo. Entre gritos, risos e choros a multidão de Sheerground entrou em um estado de êxtase absoluto. Os fãs e eleitores de Eva gritavam muito, em apoio a ela, que apenas agradecia sorrindo e acenando. Enquanto a minoria que foi a torcida de Arnold começou a xingar alto e fazendo movimentos obscenos com as mãos, enquanto o próprio ex-prefeito permanecia brigando com sua assessoria, se negando a acreditar naquele resultado. Mesmo em menor quantidade aqueles cidadãos permaneciam bem irritados e nervosos, também não aceitando a derrota de seu candidato. Toda a equipe policial entrou em ação, para que ninguém saía do controle e acabe arrumando confusões que descumprem a lei.
Mas o jogo ainda não acabou, Eva não deu sua última cartada para acabar de vez com seu pai. Ganhar as eleições e ser prefeita de Sheerground foi apenas mais um passo, o xeque-mate ainda estava por vir e ninguém esperava por essa.
– Por favor, senhorita Gonzales, nos dê um pouco de sua atenção. – Disse o primeiro ministro chamando a loira, que se aproximou em passos elegantes, assumindo a posição em frente ao microfone. – Com vocês, sua nova prefeita eleita, Eva Gonzales!
– Obrigada, obrigada a todos. – Ela começou a dizer, com um enorme sorriso no rosto, acenando para todos os seus eleitores. – Eu fico realmente muito grata e lisonjeada em ver que tenho o apoio de todos vocês, isto é muito importante para mim. E eu prometo a todos vocês que Sheerground irá trilhar um novo e melhor caminho e estamos nessa juntos, todos nós, sem excluir ninguém! – Exclamou confiante.
– Chega dessa palhaçada... – Murmurou Arnold e em passos furiosos foi até a frente do palanque e arrancando o microfone de Eva. Mary "tentou" impedi-lo, mas sem sucesso. – Você é só uma pirralha, garota! O que pensa que está fazendo? – Com o microfone em mãos, o abaixou, para que pudesse brigar com sua filha.
– Senhor, entendo os seus sentimentos, mas... – O primeiro ministro tentou intervir, se aproximando dos dois, mas logo tomou um forte empurrão de Arnold, caindo no chão. – E-Ei, guardas! – Exclamou no chão, pedindo ajuda dos policiais mais perto.
– Ainda há tempo, Eva. – Sussurrou para que apenas sua filha, a uma curta distância de si, pudesse ouvir. – Pare com essa merda, já deu. Você não sabe o que está fazendo, nem no buraco que está entrando.
– Senhorita, está tudo bem? – Indagou um dos policiais que se aproximou.
– Sim, está tudo bem. – Ela botou a mão no ombro do policial ao seu lado, significando para que ele não se aproximasse. – Está tudo sob controle, policiais. Agradeço o serviço de vocês, mas acredito que este é o desfecho da nossa relação familiar.
– EI, VOCÊ NÃO PODE TRATAR A SENHORITA DESTA FORMA! – O público começou a ficar ainda mais irritado e eufórico, exigindo que as autoridades tomassem as devidas providências. Mas Eva continuou negando.
– Não vê, papai? – Eva sussurrou de volta. – Eles me amam e você... Perdeu. – Abriu um sorriso de canto. – Na verdade, ainda não terminei. Como presente de consideração para o senhor, por ter perdido para mim, preparei uma surpresinha. – Ela botou a mão dentro de seu vestido, mais exatamente dentro do sutiã e dele retirou um pequeno controle, que tinha apenas um botão. – Quer fazer as honras? – Esticou a mão com o controle para ele.
– Q-Que merda é essa, Eva? – Gritou, já sem mais paciência nenhuma.
– Não? Ah, tudo bem, eu mesma faço. – Sem demorar mais, apertou aquele botão vermelho no controle em mãos.
De início nada aconteceu, mas segundos após uns barulhos estranhos foram se aproximando da prefeitura. Sons que pareciam ser de... Algo do céu. Conforme todas aquelas pessoas foram olhando para cima foram vendo alguns helicópteros rondando a prefeitura. Ninguém obviamente entendia nada, mas logo coisas foram sendo jogadas daqueles helicópteros. Papeis, muitos, mas muitos papeis. Não demorou para que todos aqueles pedaços de papeis fossem ao encontro do chão e todo mundo pegasse um, para ver sobre o que se tratava. Mais espanto criou-se ali.
– O que significa isso? – Perguntou um cidadão, ao pegar o papel no chão.
– Que merda é essa? – Indagou um segundo.
Não eram papeis normais, eram fotos, das mais diversas, mais especialmente fotos de Arnold em situações não muito favorecedoras. Arnold traindo sua esposa, aceitando dinheiro ilegal, investindo dinheiro público em vida pessoal, roubando a maior parte do dinheiro daquelas pessoas, Arnold assinando contratos duvidosos com pessoas duvidosas e tinha umas mais duvidosas que eram de pessoas mortas no chão; que ligação aquelas pessoas tinham com Arnold? Ele havia matado pessoas também?
Antes que todos pudessem assimilar o que estava acontecendo, alguns carros de som começaram a entrar naquela rua, cercando-a e assim... Liberando o som daqueles carros. Não um som qualquer, também era dele, a voz do prefeito.
"– Aquele pessoal do sul? Mata, é pra matar mesmo, porra!"
"– São um bando de indigente, da um teco na cabeça e desova o corpo que ninguém dá falta, nem isso vocês conseguem fazer caralho?"
"– Fala pra ele que eu compro a mulher dele, fala quanto ele quer, que eu pago, tudo pra comer aquela putinha."
"– Chama a filinha dela para bater um papo comigo, diz que o titio tem um presente especial para ela."
Estas foram algumas frases que foram ecoadas daqueles carros de som, na voz do prefeito, sendo daí para pior. Possivelmente conversas privadas de Arnold, que não estavam mais tão privadas assim. Além destes áudios vazados, também tinha outros de Arnold concordando com contratos absurdos, que envolvia matar pessoas, em pró de lucros financeiros. Dessa forma, a foto daquelas pessoas mortas, foram a mando dele, tudo causado a ele. Incluindo, o próprio descaso com o sul da cidade e o número de habitantes que ainda residiam lá ia diminuindo cada vez mais, misteriosamente.
A população estava completamente furiosa, todos mais vermelhos que um pimentão, de tamanha raiva. Enquanto os assessores, tanto de Arnold quanto de Eva permaneciam sem saber o que fazer. Já o tal pai e a tal filha...
– Eu vou matar você, era para aquela puta ter te abortado, eu ainda avisei a ela. – Ainda em sussurros, disse encarando Eva nos olhos, jogando o microfone no jogo.
– Eu lhe disse, papai, que um dia eu ainda veria você cair deste pedestal que sempre se colocou por todos estes anos, e este dia, adivinha só, é hoje. – Abriu um sorriso ainda maior, enquanto levou sua mão delicada até o rosto de seu pai, dando um leve tapinha na bochecha dele. Não conseguindo aguentar, Arnold tentou pular para cima da filha, mas foi impedido pelos policiais que lhe seguraram. – Fim de jogo, papai.
Sem dizer mais nada, ela virou-se de costas, caminhando para a descida daquele palanque, sendo protegida pelos policiais para que ninguém tentasse algo contra ela. Enquanto Arnold ficou se debatendo, querendo se soltar daqueles policiais, soltando inúmeros xingamentos contra a própria filha, alto o suficiente para todos em volta pudessem escutar, o que só ia piorando cada vez mais sua própria situação; isso é possível? Pelo visto sim. Depois de tanto se debater, Arnold se soltou e pegou o microfone do chão e assumiu a posição principal sobre aquele palanque.
– Que que vocês estão aí falando, caralho? – Gritou no microfone, finalmente enfrentando aquela população enfurecida.
O grupo de assessoria de Arnold tentou se mexer, mas Mary os parou, e eles concordaram, não seria a melhor opção. Era impossível limpar a barra de Arnold, se tentassem defendê-lo iria só piorar a situação deles também.
– COMO VOCÊ PÔDE TRATAR SUA FILHA ASSIM?
– VOCÊ É UM MONSTRO, SEU ASSASSINO, BANDIDO!
– EU CONFIEI EM VOCÊ, AGORA QUERO VOCÊ MORTO!
Eram alguns gritos daqueles cidadãos que passaram anos sendo enganados e ludibriados pelo ex-prefeito, Arnold foi xingado de tudo que é nome, alguns que até nem sabia que existia. Mas ele, furioso do jeito que estava não conseguia recuar, não depois de tudo. Fora consumido por todos aqueles sentimentos, raiva, ódio, dentre outros, já grudaram em seu coração que não conseguia pensar em outra ação a não ser ofender aquelas pessoas de volta. Mesmo que policiais tentassem pará-lo, era inútil, ele continuou empurrando tudo e todos, não iria recuar mais.
– Fiz tudo isso mesmo e aí, vão fazer o que? Seus bundões, só não fazem o mesmo porque são covardes, porque se tivessem a grana que eu tinha fariam também. VOCÊS SÃO UNS ESCROTOS FROUXOS, SEUS MERDA-... – Algo o fez parar de falar.
Antes que terminasse de falar, sentiu sua visão ficar levemente embaçada, começando uma tontura. Como se tivesse acertado por algo, levou uma mão até sua testa e confirmou, era sangue, sangue escorrendo de sua testa. Ele olhou para o chão e viu uma pedra ensanguentada no chão a sua frente; então foi isso, lhe jogaram uma pedra. Mas, não parando por aí, antes que voltasse a si, recebeu outra pedrada na cabeça, fazendo-o ficar mais tonto, com a visão cada vez mais turva. Naquele instante a equipe policial conseguiu tomar a frente, entrando na frente de Arnold, protegendo-o, enquanto a outra parte da equipe foi tentando desarmar aqueles cidadãos.
Tonto, e sem saber o que fazer, Arnold ficou ali parado, com sangue escorrendo de sua testa, mal conseguindo ficar em pé. Logo sentiu uma mão sobre seu braço, lhe segurando e uma voz feminina, bastante conhecida, no pé de seu ouvido. Era Mary, sua esposa. Com ele pelo braço, ela logo tratou de tirá-lo dali, como foi orientada pela assessoria e os policiais responsável. Eles fugiram pelos fundos, escoltados por alguns policiais, mas devido a tanta confusão, os mesmos acabaram perdendo Mary e Arnold de vista. Agora, desprotegidos e sozinhos, para onde Mary levou Arnold?
– Ei, quem está aí? – Perguntou um dos capangas de Charles, com a lanterna apontada na direção da onde ouviu tal sons de passos.
– Tu tá ouvindo coisa, porra? Não tem ninguém aqui, estamos sozinhos, há horas, enquanto o pau tá torando lá na frente. – Respondeu o outro capanga.
– Eu sei o que eu ouvi, vacilão. – O primeiro então retrucou e deu uns passos em frentes, sem abaixar a guarda. Eis que o tal som aconteceu de novo, agora aquele capanga conseguiu identificar da onde veio. Então logo se abaixou e pegou uma pedra do chão e jogou no tal lugar que achou que vinha tal barulho. – Peguei você.
Mas, o que saia daquele mato era apenas um rato.
– Um rato? Puts, que susto. – Suspirou e se levantou. – Ei, você não vai acreditar. – Virou-se de costas, para seu aliado. – Acredita que era um rat-.... QUE PORRA É ESSA? – Exclamou ao ver seu parceiro ser nocauteado bem na sua frente. – Quem é você, caralho?
– Seu pior pesadelo, amore. – Debochou Chris e logo correu na direção dele, conseguindo acertar um forte soco em seu estômago, o suficiente para desacordá-lo.
– EI, EU OUVI ALGUMA COISA! Preciso de ajuda aqui! – A voz de um terceiro capanga ecoou por ali, fazendo Chris rir baixo.
– É isto, finalmente vai começar, podem vir, seus bundões. – Botou as mãos dentro do bolso de suas calças, retirando seu soco-inglês, de cor rosa, e botando-os nas mãos.
Foi o tempo necessário para que mais capangas de Charles aparecesse aonde Chris permaneceu parado. Pareciam coelhos, pois não paravam de aparecer, todos eles logo formaram um círculo em volta de Chris, impedindo-o que ele pudesse fugir. Rapidamente, ele tentou contar para ver quantos tinham, dez. Haviam dez. Mas algo chamou sua atenção, nenhum deles tinha uma arma de fogo, seja ela qual for.
– A situação tá precária, é? Ou o chefe não está dando armas de fogo para a ralé feito vocês? – Debochou Chris, com um grande sorriso no rosto.
– Não precisamos de uma para derrotar uma marica igual a você! – Exclamou um deles. – Você é aquele viadinho que espancamos aquele dia! Veio para mais é?
– Espero que consigam entreter a maricona aqui, pois hoje o papai quer se divertir, e dessa vez não irão me pegar despreparado. Podem vir! – Assumiu a postura de ataque, chamando-os com as mãos.
Não foi preciso dizer duas vezes, aqueles dez homens começaram a correr em direção de Chris, que ficou no meio deles. Ele então apenas esperou o primeiro chegar perto e deu um salto, passando por cima do mesmo, mas antes que caísse depositou um forte soco na cabeça daquele capanga, o suficiente para desacordá-lo. Durante tal soco, reparou que mais dois estavam prestes a lhe acertar, tanto pela direita quanto pela esquerda. Então não pensou muito, com o punho sobre a cabeça do primeiro capanga ele apenas levantou as pernas o alto, levando uma para cada lado; não se tornando difícil acertar aqueles dois bem no rosto. O curioso era que as botas de Chris estavam cobertas com lâminas, então seus chutes não eram normais, eram cortantes e bem afiados. Assim, após cortar o rosto daqueles outros dois capangas, conseguiu inutilizar mais dois. Rapidamente fez as contas na cabeça, sete, era o que faltava.
Caiu com as pernas abertas no chão, sobre o corpo do primeiro capanga que nocauteou com um soco. Olhou ao redor e viu mais três capangas lhe cercando, querendo lhe atingir no chão. Mas, pobre coitados, Chris sabia inúmeros modos de luta e capoeira era um deles. Em um rodopio muito bem efetuado, ele conseguiu girar as pernas no ar, apoiando o corpo com as mãos, em um movimento circular de trezentos e sessenta, fazendo com que as lâminas de seus sapatos passassem exatamente em seus pescoços. De pé, ele olhou para os três no chão ao seu redor, com sangue jorrando de seus pescoços, com a vida esvaindo de seus corpos.
– Certo, restou apenas vocês quatro. – Ele suspirou, recuperando o fôlego ao ver que os quatro restantes recuaram por um segundo. – O que foi? A maricona aqui tá pegando pesado demais com vocês, não estão aguentando o tranco?
– E-Ele derrotou seis dos nossos... Em questão de segundos... – Falou um dos restantes, completamente apavorado. – Q-Que bicho ele é?
– P-Parem de ser covardes, porra! – O segundo tentou se manter confiante, para não desanimar os outros que restaram. Meio receoso, o tal capanga botou uma mão dentro do bolso de sua calça e segundos depois... – Ele não vai derrotar a gente!
– VOCÊ T-TÁ MALUCO? – Questionou o outro, surpreso e assustado ao ver seu colega segurando aquela arma e apontando para Chris. – O senhor Charles sabe que você tem uma dessa? Aliás, como você arrumou isso? Espera... Você ROUBOU?
– Aquele velho está pouco se fodendo pra gente, se a gente morrer não vai fazer a menor diferença, precisamos nos proteger. Agora, fiquem atrás de mim, vou acabar com isso rápido, andei treinando a minha mira. – Disse sorridente.
– Uma arma dessas na mão de quem não sabe usar se torna algo inútil, meu querido. E vou te mostrar o porquê. Tente me acertar com isso. – Chris finalizou.
Aquele mafioso armado não se segurou e logo destravou a arma, pronto para atirar. Mas antes que pudesse efetuar os disparos, Chris se abaixou e pegou o primeiro corpo já sem vida e o levantou, botando na sua frente, como uma espécie de escudo humano. Deste jeito, ele correu até os inimigos restantes, que apavorados responderam com mais disparos, o que tinha a arma em mãos. Porém, sem sucesso, os tiros iam ao encontro daquele escudo humano criado por Chris, que era o corpo de um dos capangas que ele derrotou há minutos atrás. Aqueles três não sabiam o que fazer, então aquele armado apenas continuou atirando, sendo inútil todas as vezes. Então, em questão de segundos Chris chegou neles e parou a uma curta distância daquele que tinha arma em mãos, em um movimento rápido jogou aquele escudo humano para o lado e pegou a arma da mão de seu inimigo, posicionando a arma bem debaixo do queixo dele.
– Você pode ter a arma mais forte do mundo, mas de nada adianta se você for fraco. – Com um sorriso de canto, Chris disparou a arma, matando aquele homem a sua frente. Os outros que sobraram apenas deram passos para trás, assustados. – E aí, respeitam a maricona aqui agora? – Se aproximou deles, com a arma apontada.
– N-Nos desculpe! – Em uníssono os dois exclamaram, enquanto se ajoelharam perante Chris, com as mãos em frente a cabeça abaixada, em sinal de perdão.
– N-Não nos m-mate, por f-favor, estamos apenas seguindo o-ordens! – Suplicou.
– Relaxe, eu não irei matá-los. – Respondeu alegre, fazendo os dois desesperados a sua frente lhe olhassem em volta, com os olhos marejados. – Exceto, com uma condição.
– Q-Qualquer coisa, só dizer.
– Ótimo. – Pegou um pedaço de papel dentro do bolso de sua jaqueta e uma caneta. – Um de vocês vai escrever para mim quantos de vocês estão localizados na área externa desse casarão e o outro vai me dar suas roupas. Como sou bonzinho e estou de bom humor, deixarei vocês tirarem no par ou ímpar pra ver quem vai ficar pelado e quem vai me fornecer as informações que eu pedi. – Jogou a caneta e o papel na frente deles, com um sorriso brincalhão entre os lábios. – Vocês dois são gostosos, então qualquer um de vocês que for ficar pelado já vai me deixar feliz.
Enquanto aqueles dois apenas se entreolharam, com mais medo do que antes, percebendo ali que Chris não era apenas um excelente lutador, mas também um grande e intenso depravado.
Ele não fazia ideia de onde estava ou para onde estava indo, sua visão turva colaborava para isso. Mas, ele sabia de algo, andou um bocado até que finalmente cessou os passos, sabia que era Mary ao seu lado, lhe guiando. Há de estar em um lugar seguro com sua "esposa", que lhe salvou da multidão enfurecida e com bastante sangue nos olhos com sede de vingança, ou algo assim. Arnold só estranhou as vozes dos policiais ao seu redor irem sumindo conforme iam avançando, mas sua cabeça doía tanto que não se prendeu a estes detalhes. Por fim, sentiu Mary lhe encostar contra uma das inúmeras árvores que tinham ao norte de Sheerground. Não apenas isso, reparou também que os gritos da população raivosa foram sumindo de vez; ele se foram, enfim?
– Estamos seguros, querido. – Mary sussurrou no pé do ouvido de Arnold. Foi a confirmação que ele precisava, de fato era sua esposa mesmo lhe ajudando.
– A-Aonde estamos, M-Mary? – Indagou, com uma mão na cabeça, para tentar parar o sangramento, tentando olhar em volta para ver se reconhecia o lugar, mas sua visão não ajudou, permanecia embaçada o tempo todo.
– Descanse, amor. – Em um tom baixo e suave, finalizou dizendo no ouvido dele.
– E-Ei, aonde vai? – Perguntou quando sentiu as mãos de Mary soltarem de seu braço e depois ouvir os passos dela se afastando. – Mary? P-Porra, Mary? – Gritou.
– AQUI, ENCONTREI ELE! – Gritou um cidadão aleatório, segurando uma tocha.
Poucos segundos após a saída de Mary, Arnold ouviu um grito furioso, seguido de mais passos se aproximando de si. Por mais que sua visão permanecesse turva, conseguia ver alguns semblantes, reparando que havia, no mínimo, umas dez pessoas ali. Todas com suas tochas em mãos, para que pudessem lhe guiar pela escuridão daquela floresta. Ora, o norte de Sheerground era conhecido por suas inúmeras árvores que apenas engrandeciam as paisagens, tanto para quem via de dentro, quanto de fora. Entretanto, para quem se aventurasse adentrá-las era um pouco perigoso, ainda mais a noite, por ser um lugar bem deserto, com pouca iluminação em volta.
– NÓS CONFIAMOS EM VOCÊ, ARNOLD! – Um outro cidadão gritou, raivoso.
– VOCÊ MENTIU E ENGANOU TODOS NÓS, QUE ESTÁVAMOS SEMPRE AO SEU LADO! – Os gritos enfurecidos não cessavam.
– Q-Que que vocês querem, caralho? – Meio tonto, ele tentou andar em frente, gesticulando com as mãos. – Vocês acreditaram porque são idiotas, eu podia cagar na boca de vocês que ainda sim iriam acreditar, seus merdas! – Gritou, gesticulando cada vez mais, se aproximando daquelas pessoas completamente nervosas.
(*)Mas, outra vez, conseguiram calar o ex-prefeito, da mesma forma de antes, ao jogarem outra pedra em sua cabeça. Naquele instante Arnold cambaleou outra vez, dando uns passos para trás e batendo novamente com as costas na árvore. Antes que pudesse se recompor, recebeu outra pedrada, mas agora no braço, seguida de outra bem no abdômen, acompanhadas de vários xingamentos e ameaças de morte.
Arnold não poderia ficar ali, então logo ele passou pela árvore atrás de si e tentou correr em frente, passando pelas próximas árvores, enquanto ia gritando por Mary e qualquer outro pedido de ajuda. Não que adiantasse, aquele grupo enfurecido continuou correndo atrás de Arnold, arremessando mais e mais pedras contra ele, acertando algumas e errando outras, se tornando cada vez mais difícil para ele prosseguir.
– NÓS VAMOS MATAR VOCÊ! – Alguns gritaram em uníssono.
– M-Merda... – Ele bufou, cambaleando por aquelas árvores, tentando despistar aquelas pessoas, com o corpo já cheio de marcas, devido as pedradas.
Mas, de nada adiantou, por mais que ele gritasse por socorro, nada e nem ninguém vinha ajudá-lo, não dessa vez. Arnold estava completamente sozinho, sem sua esposa, sem sua filha e atacado pelo público que sempre o defendeu. Antes que ele pudesse pensar em uma saída para escapar daquilo ou se fosse o caso de continuar fugindo, fora atingido outra vez, bem na cabeça. Porém desta vez, não aguentou e caiu de cara no chão. Ele botou as mãos sobre aquelas gramas e tentou se levantar, ao perceber que não conseguiria, tentou rastejar, com seu corpo já todo ferido e dolorido. Entretanto ele tentou, não parou de rastejar para sair dali, enquanto ia recebendo pedradas nas costas e pelo corpo inteiro. A cada ataque seus movimentos ficavam mais lentos, mas ele persistiu, criando aquele rastro de sangue debaixo de si conforme ia rastejando.
Afinal, além de tudo, já não tinha mais o corpo jovial de sempre. Ele agarrou aquela grama com todas as suas forças, tentando se rastejar em frente, enquanto ouvia os passos e gritos daquele grupo ensandecido. Era como se... Arnold estivesse com medo?
Eis que outra pedra foi acertada bem em sua cabeça, fazendo-o bater de cara no chão e não conseguir mais rastejar. Naquele instante viu um flashback de sua vida percorrer em suas memórias, como se estivesse vendo um filme de sua própria vida. Tão perdido em seus próprios pensamentos que quando se deu conta foi acertado outra vez, e outra, e outra e outra, pelo seu corpo inteiro. Sua visão foi ficando cada mais turva, conseguindo enxergar apenas aqueles semblantes a sua volta, lhe arremessando mais e mais pedras. Seu corpo já estava todo ensanguentado, com uma poça de sangue sendo formada embaixo de si. Sua cabeça escorria sangue sem parar, enquanto foi perdendo os sentidos dos braços e das pernas, depois de tantas pedradas que recebeu.
Mas aquilo não parou tão cedo, mesmo com Arnold já não conseguindo se mover praticamente, aquele grupo raivoso continuou a lhe jogar pedras, enquanto proferiam as palavras mais pesadas possíveis, desejando que o ex-prefeito ardesse no fogo mais árduo do inferno. Em uma última tentativa ele levantou um dos braços e tentou agarrar a grama bem na sua frente, para voltar a rastejar, mas antes que o fizesse...
– AAAARRRHH! – Ele gritou, muito mais alto que antes.
Afinal, um enorme pedregulho foi jogado bem sobre sua mão, com bastante força, sendo o suficiente para esmagar a mão de Arnold. O sangue da mão esmagada jorrou em volta, respingando bem no rosto do ex-prefeito, que continuou gritando de dor.
Ali ele percebeu, sua vida iria chegar ao fim... Daquele jeito? Apedrejado pelas pessoas que sempre o apoiaram e completamente abandonado por sua filha e esposa? Mas, não conseguiu chegar em uma conclusão a tempo, pois as pedradas continuaram sobre seu corpo, não demorando muito mais até que Arnold começasse a perder a consciência. Como se... A vida dentro de seu corpo começasse a lhe abandonar. Porém, ele olhou mais a frente, antes de ir dessa para melhor. Mesmo com a visão mais embaçada do que nunca, ele percebeu... Reconheceu aqueles dois semblantes mais ao longe. Duas pessoas, mais exatamente mulheres, com madeixas loiras, uma mais baixa e outra mais alta. Não... Não poderia ser... Elas estavam assistindo seu assassinato? Foi elas a última visão antes de Arnold perder a consciência e bater, outra vez, com o rosto no chão. Entretanto, aquele grupo não se daria satisfeito com tão pouco, então mesmo com Arnold possivelmente já morto, continuaram lhe apedrejando, mais, mais e mais.
Como um último ataque... Alguns daquele grupo se aproximaram, segurando uma grande rocha e ao chegarem bem perto do corpo de Arnold... Simplesmente jogaram aquela rocha sobre a cabeça do mesmo, esmagando-a no mesmo instante, respingando sangue para tudo que é lado, matando-a, de uma vez por todas, sem chances de retornar. (*)
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro