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Vigésimo Oitavo Capítulo.


(Alerta: Pode conter cenas pesadas e de extrema violência explícita neste capítulo. Será marcada com um (*) no início e final da cena.)


[Capítulo 28]

1922.

Verão.

21:30pm.

Ensanguentado, mal conseguindo se manter em pé e sabendo que em breve sua visão ficará mais turva ao ponto de que poderá perder a consciência, Charles desceu daquele carro acompanhado de uns capangas, pois como dito não conseguia se manter em pé sozinho. O carro parou na frente da entrada daquele hospital, devido a hora as ruas já estavam mais desertas e não havia cidadãos perambulando por aquela parte da cidade.

Com os braços em volta dos dois capangas, foram em passos rápidos até a entrada do hospital, empurrando a porta principal com certa ferocidade. Devido aos seus ferimentos, Charles ia deixando um rastro de sangue por onde passou. Dentro do estabelecimento não demoraram para fitar a recepção mais ao longe, sem esperar mais um segundo, Charles se soltou de seus aliados e tentou correr até a moça da recepção. Com dificuldade, ele alcançou, jogou os braços sobre o balcão, com a respiração bastante ofegante e suando bastante.


– O-Onde... Onde ela está? – Indagou alterado.

– P-Perdão, senhor? – Respondeu a recepcionista, sem jeito e com medo ao ver os dois capangas do homem se aproximando dele, com feições nada amigáveis. – Como... Posso ajudá-lo? – Tentou se manter calma e não perder a postura.

– E-Ela... Cadê... Ela? – Perguntou outra vez, agora mais alterado e os olhos cerrados. – Eu n-não estou de bom humor, senhorita. – Disse com um tom intimidador, não deixando se abater pelos ferimentos. Segundos após, os capangas atrás de si apenas abriram seus paletós, revelando as armas de fogo que continham ali dentro. A moça do outro lado do balcão viu e arregalou os olhos, começando a tremer. – Não me faça... Perguntar de novo.


Sem saber o que dizer, ou como prosseguir, a tal moça não conseguiu dizer nada, sequer ter um movimento, devido a paralisia do medo. Mas logo uma mão salvadora pousou sobre seu ombro, fazendo-a relaxar. Ela olhou para o lado, vendo o doutor ali em pé, bem ao seu lado. Sentiu como se pudesse respirar tranquila outra vez, fez contato visual com ele e o homem apenas concordou com a cabeça. Ela entendeu, era sua retirada. Não querendo ficar mais um segundo ali, a recepcionista assentiu com a cabeça e correu para longe dali, deixando aqueles "visitantes" à sós com o doutor Morrison. Não é como se ela temesse por ele, todos o viam como um anjo, e como dizem, anjos não podem ser feridos.


– Não há necessidade para isso, senhor. – Disse Ethan, sério, olhando fixamente para o mafioso bem a sua frente. – Armas de fogo são proibidas dentro do hospital, peço por gentileza que seus homens esperem lá fora enquanto eu levo o senhor até ela.


Charles pensou por um segundo, tentando entender quem era aquele homem. Sabia que ela tinha seus contatos dentro do hospital, então era daquele homem bem apessoado de quem ela se referia? Depois de tantas emoções daquela noite, o mafioso decidiu não trazer mais problemas para si naquela altura do campeonato, então apenas fez um sinal com a mão direita, indicando para que aqueles seus dois aliados fossem para fora do hospital e aguardassem lá fora. Ora, Charles não era bobo. A última coisa que precisava era causar mais um tumulto dentro do hospital de Sheerground, mesmo que a polícia pudesse acobertar o seu lado não poderia contar demais com a sorte. Afinal, tal sorte já lhe custou três tiros só hoje, queria terminar vivo até ao amanhecer, nem que pra isso precisasse recuar uns passos, para posteriormente avançar o triplo deles. Era seu modo de jogar aquele jogo.

Sem mais uma palavra sequer dita por eles dois, Ethan concordou com a cabeça e começou a andar em direção aos corredores do hospital, enquanto Charles o seguia, analisando todos aqueles corredores. Ao chegar no elevador, foram até o último andar. O mafioso não entendeu naquele segundo, podendo achar que até seria um truque daquele doutor, mas descartou a hipótese logo depois quando se lembrou dela, e do plano que ela tinha para aquela noite.

O elevador subiu em um completo silêncio, Ethan olhando para a porta e Charles dando umas espiadas no doutor, checando seu porte, sua estética. Depois de analisa-lo por mais uns segundos, soltou uma baixa risada enquanto pensou em uma única palavra "safada", referindo-se a ela.

Ethan ouviu o riso, mas preferiu ignorar, sabia muito bem quem era aquele homem, Charles Hernandez, dono da enorme fazenda de Sheerground e um dos homens mais poderosos do país e um nome renomado na agropecuária e altamente envolvido com a máfia americana.


– Chegamos. – Falou de forma seca o doutor, assim que a porta do elevador se abriu.

– Deserto esse andar, hein? Nem parece com o primeiro lá debaixo. – Debochou Charles, saindo do elevador e vendo apenas um quarto com a luz acessa, saindo por debaixo da porta. Não precisou ser gênio para saber que ela estava lá. – Ele já acordou?

– O senhor pode perguntar diretamente a ela. – Friamente, respondeu. E juntos foram até o quarto que ela estava, Ethan foi na frente para anunciar a chegada de seu "colega" enquanto Charles foi mais lento, devido aos ferimentos. De frente para a porta do quarto, deu apenas três leves batidas e a abriu, entrando naquele cômodo. – Ele está aqui, e não está nada bem.

– Aí, que susto, Ethan! – Melissa se levantou da cadeira com uma mão sobre o peito, devido ao susto. – Eu estava tão concentrada no Sebastian, para não perder o momento de ele acordar, que desliguei minha cabeça por uns segundos. Mas enfim... Ele quem, você diz? – Cerrou os olhos. Mas logo os mesmos se arregalaram, quando viu aquele homem entrar no quarto e parando ao lado de Ethan. – V-Você...?

– Olá, "Melissa". – Charles debochou, com um sorriso no rosto.

– Então, como estava a água, senhorita Edwards? – Perguntou Eva, ao ver Alice sair da toalete em volta de uma toalha branca e outra envolvida em seus cabelos. Claro, sem tirar aquele seu sorriso levemente irônico entre os lábios.

– Já pode parar com este show, garota. – Passou por ela e andou até o quarto que Eva disse "ser seu" até segunda ordem. – Aceitamos o seu convite e viemos jantar com você. Eis que você nos oferece água quente, roupas novas e até uma cama para descansarmos... O que quer com isso tudo, hein? – Perguntou enquanto Eva lhe seguia logo atrás.

– Eu compreendo que tenha essa visão de mim, Alice. No seu lugar, eu também ficaria receosa. Porém entenda, nós vencemos. Mesmo que eu não vá com a sua cara e muito menos suporte aquelas... Garotas que trabalham com você, nós trabalhamos juntas. Nunca ouviu o ditado "o inimigo do meu inimigo é meu amigo"?

– Certo, e qual é a próxima parte? Matar todas nós, de um jeito que consiga enterrar tudo que aconteceu aqui nesta noite? – Entrou no seu quarto, seguida de Eva que logo fechou a porta. Andou até a cama, vendo aquela muda de roupas que Eva mencionou. – Vou te dizer, garota, se deseja matar todas nós você poderia ter feito isso de um jeito muito mais fácil.

– E qual seria a graça disso?


Naquele segundo, de costas para Eva, Alice gelou a espinha. Engoliu a seco, não esperando aquela resposta da mais nova. Mas antes que pudesse ter alguma reação, Eva andou até a mais velha e deu um tapinha em seu ombro, soltando uma risada baixa enquanto se sentou na cama. Ela brincou... Com isso? Que tipo de garota Eva é? Afinal, Alice não conseguia esquecer do que houve anteriormente, a forma que Eva lidou com os cães ferozes, fazendo com que eles colocassem os rabinhos entre as pernas com apenas uma palavra. Alice não sabia explicar ao certo, até porque não era muito religiosa, porém muito sensitiva, mas sentia algo... De diferente em Eva. Uma energia diferente de tudo que já sentiu antes.

Eva, por sua vez, apenas manteve seu riso irônico e pegou aquela muda de roupas para Alice, estendendo-a para ela. Ao reparar que a mulher ficou travada por uns segundos, largou as roupas na cama e foi até ela outra vez. Delicadamente, retirou a toalha que cobria seu belo corpo, deixando-a despida ali. O que não fez a menor diferença para Eva, que apenas pegou a toalha e de forma suave foi secando o corpo de Alice.


– Você tem um humor bem ácido viu, garota? Mais até do que o meu. – Alice tratou de se recompor, não perderia a compostura outra vez para aquela "pirralha". Então logo botou o seu melhor sorriso debochado, deixando que Eva lhe ajudasse com a toalha, gostando de ser secada pela garota. – Suas mãos são delicadas e seus toques são... Aveludados, não combina muito com o monstrinho que você é. – Riu, enquanto Eva apenas soltou outra risada abafada de volta.

– Já me disseram isso outra vez, sabia? – Ironizou, terminando de secar as costas da loira, mas logo foi subindo com as mãos, parando nos ombros dela, perto do pescoço. Aquele era o momento... Perfeito... Mas, arregalou os olhos, como se tivesse tido tele transportada para o passado, o que, nesse caso, não era o ideal...


Anteriormente...

– Eva! – Chamou a freira do internato entrando naquele quarto.

– Sim, senhora? – Terminou de arrumar aquela cama, que era da freira a sua frente. Seu semblante era distante, desprovido de qualquer emoção. – Terminei com as tarefas no quarto. O que quer que eu faça agora?

– Já vai dar cinco horas, é hora do meu banho de fim de tarde. Vá preparar meu banho! – Ordenou, passando por Eva e indo até sua própria cama. – Não se esqueça da massagem que fará em mim depois, você tem mãos delicadas e toques bem suaves. – Sorriu.


Mas antes que Eva pudesse seguir seu caminho, a freira lhe chamou de volta quando algo chamou sua atenção. – O que é isso...? – Cerrou os olhos e levou as mãos até debaixo do travesseiro, vendo aquela pequena semente de maça. Pegou aquilo em mãos e se aproximou de Eva. – Você comeu... Em cima da minha cama? – Eva não disse nada, apenas olhou a freira igual antes. Sem dizer mais uma palavra, aquela senhora depositou um forte tapa contra o rosto da garota loira, que cambaleou para trás. – Se eu ver você chorando, será pior. Ele nos deu a tarefa de educar vocês, para que no futuro vocês se tornem as próximas mensageiras da palavra Dele. E crianças fracas não estão adaptar para esta missão. Agora, vá preparar meu banho!


Eva concordou com a cabeça e tentou ao máximo segurar o choro, mesmo sendo apenas uma criança de sete anos. Em passos rápidos, saiu daquele quarto, batendo a porta. Infelizmente, já estava acostumada com aquele tratamento, afinal seu pai a manda periodicamente para lá desde os seus quatro anos. No início ela tentou contar para Arnold, sobre a forma que as freiras tratavam aquelas crianças, mas seu pai nunca a deu ouvidos. Pelo contrário, dizia coisas do tipo "elas estão lhe educando para serem as próximas mensageiras do futuro, servas Dele". Dessa forma, não demorou para que Eva desistisse de contar as coisas para seu pai. Não achou outro jeito a não ser ceder as ordens daquelas senhoras. Como se fosse uma doméstica, Eva aprendeu a fazer de tudo, lavar e passar roupa, fazer comidas básicas, manusear diversos alimentos e objetos. Mas... Pode estar se perguntando "o que iria acontecer se ela fosse contra as freiras?" Bom, Eva já viu casos parecidos e não queria aquilo para si. Foram cenas que a traumatizaram, talvez as únicas que foram capazes de mexer com o seu emocional, o que poderia explicar parte de sua frieza atualmente.

Desde pequena, sempre foi muito sábia, ora, ela sabia que não iria ficar ali para sempre, então teria que apenas aguentar. Além disso, ela também recebia seus mimos. Eva tinha uma fruta favorita, a maçã. Era completamente fissurada nesta fruta, sendo capaz de comer uma atrás da outra, sem parar. As freiras sabendo disso, recompensava a pequena Eva com maçãs, quando ela cumpria com todas as suas "tarefas" dentro do internato. A paixão de Eva para com as maçãs era bem demasiada, ao ponto de aquilo ser um motor para que ela conseguisse aguentar todo aquele tratamento abusivo das freiras. Pois no final ela sabia que teria sua fruta favorita, coisa que as outras crianças não tinham o mesmo direito. Podemos dizer que apenas Eva tinha direito a esta... "Fruta proibida", e era uma sensação instigante para a pequena Eva.

Atualmente...


– Falando nisso – disse Alice, depois que Eva terminou de ajudar a lhe secar. Mesmo despida, virou-se de frente para a pequena de madeixas douradas. – Eu estava pensando, que tipo de vida você levou até chegar aqui? – A olhou nos olhos, fixamente. – Alguém que é capaz de tramar a morte do próprio pai...

– Ele nunca foi meu pai, apenas vim do sêmen dele. Dessa forma, não pode dizer que tramei contra meu próprio pai, eu nunca tive um. Eu tramei contra um tremendo filho da puta. – Largou a toalha sobre a cama e pegou aquela blusa vermelha que separou para Alice, estendendo-a para ela. – Quer ajuda para se vestir?

– Tenho que admitir, para sua idade, você tem garra, garota. Mas, este joguinho de cinismo pra mim já deu. – Pegou aquela blusa da mão dela, com ferocidade. – Eu realmente não sei o que você planeja com este jantar de hoje. Porém, se acha que vai me matar tão facilmente, está terrivelmente enganada. Você não é a primeira a tentar, e tão pouco será a última. – Levou a mão até as bochechas de Eva, acariciando o local. – Então eu sugiro que pense muito bem no seu próximo passo. Pois quem tentou me matar, não está mais entre nós.

– Agradeço o seu aviso, Alice. Porém – tirou a mão dela de seu rosto – eu dispenso. Mas, já que me deu um conselho, sinto-me no direito de lhe dar outro. Sabe qual foi a ruína de Arnold? Sua arrogância e prepotência. Os tempos mudaram, este jogo não se joga como se jogava antes, aconselho a ter isso em mente. Ou você acompanha o jogo, ou o próprio jogo fará o trabalho de se livrar de você.


Sem dizer mais uma palavra, Eva girou os calcanhares para fora daquele quarto, deixando Alice sozinha ali. Antes de fechar a porta, apenas lançou um olhar misterioso e um sorriso malicioso em direção da Edwards, que retribuiu com um aceno sarcástico. Por fim, suspirou aliviada com a saída dela. Era como se Eva sugasse todo o ar do ambiente, deixando que aquela sua energia negativa e pesada controlasse o local. Alice não sabia explicar, mas tinha certeza de que tinha algo de muito diferente naquela garota. Algo... Realmente... Maligno.

– O que diabos você está fazendo aqui, Charles? – Indagou Melissa, após a saída de Ethan daquele quarto. – Você endoidou? Alguém te seguiu? Não podem nos ver juntos, não agora que estamos quase conquistando nosso objetivo.

– Você não vê, Cristal? – Apontou para os ferimentos em seu corpo. – Eu tomei três tiros, TRÊS FODENDO TIROS, Cristal! Deu merda na prefeitura, eu... Acabei subestimando a Alice.

– Como assim? O que aconteceu lá?

– Ela nos venceu, porra. Não só isso, como pegaram a bruxa da Beatrice. Provavelmente, nessa altura já a mataram, pois duvido que a deixariam escapar outra vez.

– Vocês perderam... Para a Alice? Como? Ela sozinha não seri-...

– Ela não foi sozinha – interrompeu a outra. – Ela teve ajuda, dos gêmeos. Irônico, não acha? – Sorriu debochado. – Ela foi mais rápida do que a gente, e colocou eles do lado dela. Eu te disse, esse seu plano era muito demor-...

– ERA A MINHA MÃE, CHARLES! – Gritou, dando um forte soco na parede atrás de si. – Eu tenho o direito de escolher sobre como irei me vingar. E não me olha com essa cara, já que tudo isso... Tudo... Desde o início... Foi ideia sua... – Cerrou os olhos, fitando-o.

– Você vai querer voltar nisso? – Charles revirou os olhos, se soltando numa pequena poltrona ao lado da maca que Sebastian permanecia desacordado.


Antigamente...

Ela não sabia o que fazer. Aquela chuva... Aumentava a cada segundo. Ela era só uma criança de dez anos, com dois bebês recém nascidos nos braços, seus irmãos. Além disso, sua mãe ainda não havia retornado. Pior, ela ainda estava viva? Cristal só sabia chorar enquanto fitava aqueles bebês com um olhar de raiva, de fúria. Ela só queria a mãe dela de volta, queria que nada daquilo tivesse acontecido. Queria que... Eles não tivessem nascido...

Tudo para Cristal começou a piorar depois que sua mãe anunciou estar grávida. Sendo filha única, Cristal sempre teve toda a atenção do mundo e todos os mimos que sempre quis de sua mãe. Eram melhores amigas, estavam sempre juntas. Afinal, já não tinha sua figura paterna, pois o mesmo abandonou sua mãe ainda grávida. Quando Sebastian decidiu ficar junto de Lauren, acolheu Cristal de braços abertos, como se fosse sua própria filha.

Mas... Ainda assim, não era isso que ela queria. Teve que começar a dividir atenção de sua mãe a partir daquele momento. Entretanto, Lauren sempre manteve Cristal no topo de suas prioridades, em todos os momentos. Como dito, a garota sempre teve tudo que queria, não só da mãe, mas de sua madrinha e melhor amiga de Lauren, Alice Edwards. Podemos dizer que Cristal nunca recebeu um "não", de nenhuma das duas. Então... Estes "não" começaram a aparecer... Principalmente após a gravidez de Lauren. Ser deixada de lado, mesmo com as tentativas de Alice de suprir a falta de Lauren em alguns momentos, nada adiantou, aquilo foi criando um sentimento... Ruim dentro da pequena Cristal.

A atenção, os mimos, não estavam mais sendo direcionados a ela, mas sim... Aqueles gêmeos que ainda residiam dentro da barriga de sua mãe. Eis que, tudo que aconteceu naquela noite... Foi culpa deles. Se eles não tivessem vindo, se sua mãe não tivesse conhecido Sebastian... Sua mãe... Ainda estaria ali. Todo aquele ódio e egoísmo que já vinha sentindo dentro de si, quando sua mãe anunciou a gravidez, chegou em seu ápice. 

Os bebês continuaram aos berros, devido a chuva torrencial sobre eles. Em um momento, Cristal pensou arremessar aqueles nenéns ao chão, com força e sair dali correndo em direção a sua mãe. E ela quase o fez, por muito pouco. Pois antes que fizesse tal ato, ouviu um som, como se fosse alguém lhe chamando. Ela olhou em volta, com dificuldade, devido a chuva, mas logo encarou um homem ao longe, lhe chamando. De início, ela ficou receosa em ir. Afinal, sua mãe lhe ensinou a não falar com estranhos. Mas, ao reparar com atenção... Não era um estranho. Era Charles, um amigo de Lauren, via sua mãe sempre se dando bem com ele. Então, que mal poderia haver em ir até ele, se era amigo de Lauren, também era seu amigo.


– Você está com raiva... Não está? – Charles indagou assim que Cristal se aproximou dele com os bebês, ficaram embaixo de um toldo, para se protegerem da chuva.

– Se e-eles... Não tivessem nascido... – Outra vez abaixou o olhar, fitando com raiva aqueles seres em seus braços. – Eu quero que eles sumam e que minha mãe volte! – Exclamou irritada, mas não segurando as lágrimas de seus olhos, começando a chorar.

– Eu te entendo, meu bem. Está certa em ter raiva, de tudo e todos neste momento. Aquela chata da Alice não compreende o que você está sentindo, mas eu sim. – Disse, fazendo carinho nos cabelos negros e molhados de Cristal, enquanto a pequena soluçava.

– T-Tio Charles... Eu quero... A m-mamãe... – Continuou chorando, em soluços.

– Eu sinto muito, Cristal. Mas... Acho que ela não vai voltar. – Disse fazendo uma feição triste, tentando disfarçar sua real intenção, que era provocar ainda mais o ódio dentro dela.


Ao ouvir aquilo, Cristal chorou muito mais que antes, começando a apertar os bebês com força em seus braços. Devido a força, os gêmeos começaram a chorar mais, sentindo dores. Charles foi vendo aquela cena e pensando no que fazer, pois sabia que ela poderia fazer algo com seus irmãos a qualquer instante, e pela sensibilidade dos nenéns não iriam aguentar algo muito forte; isso se fossem capazes de resistir por mais tempo debaixo daquela chuva. Completamente nervosa, Cristal ameaçou jogar seus irmãos no chão, com a intenção de pisar neles logo após. Mas antes que o fizesse, Charles interveio, botando a mão em seu ombro. Afinal, não queria que aquilo acontecesse, não daquela forma.


– Eu também não queria que – olhou para os gêmeos nos braços de Cristal  eles tivessem nascido. Eles são a prova de que eu fracassei com a Lauren, como homem. – A pequena não entendeu aquela frase, mas ele continuou para não perder o foco.  Mas... Podemos lidar diferente com isso, meu bem. O nascer dessas crianças marcou o pior dia de nossas vidas, mata-los agora seria simplório demais. Você não quer... Que eles sofram, tão quanto você está sofrendo agora? – Disse tentando manter um tom amigável, para não assustar a criança.

– S-Sim... Eu quero que eles sofram! Eu os odeio! – Bateu com o pé no chão.

– Isso, meu bem, não guarde estes sentimentos para si. Bote-os para fora, você tem mais do que razão em estar sentindo isso tudo. – Aquelas palavras foram causando um impacto cada vez maior em Cristal. – Diga-me, Cristal, o que você deseja? 

– Q-Quero... – Foi tentando encontrar as melhores palavras para usar dentro de sua cabeça infantil mas perturbada, derramando inúmeras lágrimas de seus olhos. – o pior, t-tio Charles, o... Pior... – Sussurrou, agora com mais raiva do que antes.

– Permita-me lhe ajudar com isso, eu tenho uma ideia. – Finalizou fazendo mais carinho nos cabelos de Cristal, conseguindo acalmá-la o suficiente para fazer um sorriso crescer entre seus lábios. – Este será o nosso segredinho, pequena Cristal.

Atualmente...


– Se você tivesse deixado eu jogar aqueles dois no chão naquela noite, nada disso estaria acontecendo! – Exclamou Melissa. – Mas... Admito que você tinha razão. Seria rápido demais para eles, eu quero que eles sofram o tanto que eu sofri. Mamãe morreu por causa deles!

– Exatamente, e você está quase conquistando a sua vingança.

– Uma delas, Charles. Naquela noite nós criamos juntos uma vingança em comum, mas... – Deu uma pausa, criando um silêncio de alguns segundos. – Eu tenho os meus pessoais. – Abaixou a cabeça e abriu um sorriso debochado. – Você estava ouvindo a conversa esse tempo todo, não é, seu velhote? – Levantou a cabeça e olhou para Sebastian, já acordado.

– Opa, ele acordou? – Charles indagou e se levantou com dificuldades, querendo fazer contato visual com ele. – Quanto tempo, velho amigo! Como tem passado? – Perguntou sorridente.

– Era você... Durante todos estes anos... – Sebastian ignorou Charles, continuando com seu olhar fixado em Melissa. – Você mentiu para mim, me enganou. A filha da Lauren...

– ETHAN! – Gritou Melissa, não demorando para que o doutor entrasse naquele quarto. – Leve este senhor baleado para a sala ao lado e cuide de seus ferimentos. – Disse, mas sem deixar de olhar Sebastian. Charles pensou em negar, mas ao reparar o olhar de ódio nos olhos de Cristal, percebeu que aquela não era uma luta sua. – AGORA! – Berrou, para serem mais ágeis.


Desta forma, Ethan ajudou Charles a sair daquele quarto, deixando que o mafioso se apoiasse em seus ombros, juntos foram para o quarto em frente para que Ethan pudesse tratar de seus ferimentos e fazer os curativos necessários; pois sabe-se lá como Charles permaneceu de pé por tanto tempo após tomar três tiros. Mal sabia o doutor de que já estava costumado com aquilo, pensou em até contar do episódio que tomou dez, mas que sobreviveu, mas resolveu se manter em silêncio para que o doutor pudesse cuidar de si com mais atenção e foco.

Sozinhos no quarto, Melissa e Sebastian continuaram se olhando por mais alguns segundos, criando um silêncio intimidador naquele cômodo. Antes que ela começasse a falar algo, ela foi até os quadros que havia colocado nas paredes e os virou, botando a imagem para frente. Depois foi até o interruptor daquele quarto e ligou todas as luzes do local, pois só tinha uma acessa, para que o chefe da polícia de Sheerground pudesse ver com mais atenção.


– Bem vindo ao seu show final, padrastinho. – Melissa abriu os braços e inclinou a cabeça, rindo debochada.

– O que... É isso? – Sebastian foi olhando em volta, reparando naqueles retratos nas paredes, ficando perplexo e chocado com todas aquelas imagens.


Tinha as mais diversas fotos possíveis; imagens de Sebastian e Melissa em relações amorosas, o que deu uma enorme angustia para o mais velho agora já sabendo que era sua enteada, fotos de Lauren, porém o mais bizarro não foi só isso. Haviam fotos de alguns crimes cometidos por Melissa, mais especificamente... Segundos antes de acontecerem. Sebastian reparou em uma foto aonde está Nathan Prescott em sua casa, conversando com o tal médico legista, percebendo que foi tirada de fora de casa. Na foto ao lado, era a fotografia de um carro em movimento, mas dando zoom na pessoa que estava do lado do passageiro: era Ryan Potter, reparando que ele estava segurando uma foto de Joana Aguiar e uma de Melissa Collins. Por fim, o último quadro era uma sequência de imagens de Melissa agarrada com um monte de garrafas e potes de medicamentos e venenos, simbolizando todos estes anos que passou envenenando o seu padrasto. Sebastian ficou em completo choque.


– Admito que você tinha bons homens no seu departamento, viu? – Melissa pegou uma cadeira mais próxima e se sentou ao lado do mais velho. – Quase fui pega, duas vezes. Pelo Nathan eu já imaginei que pudesse acontecer, afinal, o menino era um completo gênio, um talento nato. Fiquei surpresa quando foi com o Ryan, ora, ele sempre foi mais idiotinha, não é? – Indagou rindo, enquanto Sebastian não conseguia tirar os olhos daqueles quadros.

– Como você... Pôde...? Eu criei você como minha filha, e pensar que anos depois eu fui... Ter algum tipo de... Argh! – Negou com a cabeça, fechando os olhos. – Por quê, Cristal? Por que está fazendo tudo isso? Principalmente, com os gêmeos, eles não fizeram nada para você. – Abriu os olhos, fazendo contato visual com a mulher ao seu lado.

– ELES NASCERAM! – Gritou. – Eu tinha tudo, tudo! Por quê mamãe precisaria de mais filhos? Eu não era o suficiente? Mas isso tudo aconteceu graças a você, seu velho seboso! Se você não tivesse aparecido na vida da mamãe, ela não teria vontade de ter mais filhos!

– Você está completamente doente, Cristal... O que aconteceu com você? Foi aquele desgraçado do Charles que passou todos estes anos colocando essas ideias absurdas na sua cabeça, não é? – Tentou mexer seu corpo, para se levantar. – Ainda há jeito para-... – Parou de falar, arregalando os olhos, ao perceber que não conseguia sequer mexer um dedo.

– Finalmente percebeu, não é? – Saiu da cadeira e sentou-se na cama, ao lado dele. – O tanto de remédio de cavalo que eu injetei em você, vai ser o suficiente para que você não consiga se mover por horas, padrastinho. – Sorriu debochada.

– Cristal... Me escute, ainda dá tempo. Dá tempo de reverter tudo o que você fez! Digo, não dá para trazer o Nathan e o Ryan de volta, mas... Ainda dá para salvar os gêmeos, eles estão prestes a se matar, e você sabe disso.

– Mas é exatamente essa a minha intenção, velho idiota! – Bateu com força na cama. – Ver eles morrendo, pela mão um do outro, não é poético? Sem que eu tenha que fazer o trabalho sujo, e não importe quem mate quem no final, pois quem vencer vai passar o resto da vida mofando na prisão, e de um jeito bem infernal, garantirei isso. Afinal, eu já sou praticamente a responsável pela delegacia de Sheerground, e quando nos juntamos, tudo que é seu, se tornou meu. Ou seja, se um dia você... Bater as botas... Sabe o que isso quer dizer?

– E você acha que os supervisores vão aceitar uma mulher no comando? Não seja tola, Cristal! Estamos em 1922, os policiais se recusarão a aceitar ordens de uma mulher. Eu estou falando isso pro seu próprio bem, você não sabe no que está se metendo!

– Ora, eles aceitaram um homem velho, negro e alcoólatra, porque não podem me aceitar? Ainda mais quando eles virem o tanto que eu já contribui para a cidade, e o tanto que você deixou de contribuir. – Sebastian arregalou os olhos. – Ou você acha que depois de todos estes anos eu não fui capaz de copiar a sua assinatura?


Naquele instante, se pudesse se mover, Sebastian teve vontade de bater no rosto de Cristal. Ele não conseguia acreditar em tudo que ouvia da boca dela, aquela não era a Cristal de trinta anos atrás, a doce filha de Lauren que decidiu acolher de coração aberto. Depois que ouviu toda a conversa dela com Charles, conseguiu entender que eles tinham uma ligação. Possivelmente ele era o responsável por ter cuidado da Cristal durante o resto de sua infância e adolescência. Mas, seria Charles também responsável por fazer Cristal mudar tanto desse jeito? Ora, de uma criança fofa e delicada, se tornou uma mulher adulta psicótica e assassina.

Ela, por sua vez, procurou deleitar-se ao máximo daquele momento. Ver o homem que foi o primeiro pilar responsável a estragar a sua vida, ali diante de si, com os movimentos inertes, tendo a oportunidade de concluir a sua primeira vingança, uma sensação impagável.

Ora, primeira, é claro. Por mais que Cristal culpasse os gêmeos pela morte de sua mãe, não haviam só eles em sua lista de vingança. Existiam outros alvos. Pessoas que colaboraram para que tudo chegasse aonde chegou: a gravidez de Lauren. Por mais que já estivesse perto de concluir sua vingança referente aos gêmeos, tinha que se livrar primeiro de Sebastian. Poderia deixar seus outros alvos esperando, esperou anos, iria esperar mais.


– Então é isso? Eu sou apenas um da sua lista de alvos? Você vai me matar e depois irá para o próximo? E aonde você acha que isso vai chegar, Cristal? Que final você tem em mente?

– Com todos vocês mortos. – Deu uma pausa, encarando-o com um olhar mais fatal. – Só depois disso viverei em paz. – Ao falar, reparou Sebastian rindo baixo. Aquilo a irritou profundamente. – DO QUE ESTÁ RINDO, VELHO?

– Você acha isso mesmo? Não seja ingênua, criança. Mesmo que você mate todos nós, você nunca viverá em paz, principalmente consigo mesma. A cada passo que você dá em direção a essa vingança, mas fadada a viver sofrendo você fica. Não há co-... – Antes que continuasse a falar, sentiu uma lâmina passando seu rosto.

– Você acha que eu estou sofrendo agora? – Perguntou ela, rindo debochada, com aquela faca em mãos depois de fazer um pequeno corte na maçã do rosto de Sebastian.

– Então vá em frente, me mate. Conclua uma parte de sua vingança. – Fechou os olhos. – Saber que eu fui cúmplice e te ajudei nisso tudo, por todos estes anos, mesmo sendo enganado, é uma culpa que vou levar comigo. Essa, e o dia da morte de Lauren.

– Ainda bem que tocou neste assunto. Antes de te matar, eu preciso saber. O que aconteceu naquela noite? Você realmente matou a mamãe?

– Heh! – Ainda de olhos fechados, riu baixo. Deixando Cristal irritada outra vez.

– Tem alguma palhaça aqui? – Aproximou a faca da garganta dele. – ME CONTA LOGO, AGORA, MERDA! O QUE ACONTECEU NAQUELA NOITE? ANDA, ME FALA! – Sebastian continuou em silêncio e com os olhos fechados. Ela então o pegou pela gola da camisa e começou a sacudi-lo. – ME CONTA, INFERNO! ME CONTAAAAA!

– Eu não vou contribuir mais uma gota para essa sua doença, Cristal. – Abriu os olhos. – Você tem razão em ter dúvidas quanto aquela noite, pois ela não é o que parece ser. Mas de mim, você não vai arrancar mais nada. Eu não sei o que aconteceu com você nestes anos, para você ter se tornado este tipo de pessoa, mas eu lamento muito e peço perdão se não fui o melhor padrasto para você, sei que eu tenho problema com bebida e isso que possa ter atrapalhado as vezes a minha relação com Lauren e... Com você.

– Hah! – Ela se levantou, botando a mão livre na testa, rindo debochada. – Você acha que pedir perdão vai resolver alguma coisa? Vai apagar da minha memória as brigas que vocês tinham, com você totalmente bêbado? Ou, as vezes que você partia pra cima da mamãe? Você acha que pedir perdão vai apagar o fato de você ter sido um péssimo marido para ela?

– Não, eu sei que não. E me arrependo de não ter pedido perdão a Lauren enquanto tive tempo, mas não quero cometer o mesmo erro com você. Você pode não acreditar, mas eu realmente amei a Lauren, e a amo até hoje. Ela foi a mulher da minha vida. Eu só... Fui burro por não saber dar valor a ela. – Conforme disse, algumas lágrimas iam escorrendo de seus olhos. – E de fato, eu preciso pagar por isso.

– Como você tem... A coragem? De falar tudo isso, depois de todas as merdas que você fez? – Ela ficou andando de um lado para o outro, não acreditando na cara de pau de Sebastian, tão pouco naquelas palavras saindo da boca dele.

– Eu só te peço uma coisa, Cristal... Não faça nada com os gêmeos. Eles não têm culpa de nada, e você ainda pode evitar o pior em relação e eles. Se não quer fazer isso por mim, faça pela Lauren, tenho certeza de que é isso que ela que-...


Em um movimento rápido, Melissa se jogou na cama, pulando em cima de Sebastian e no mesmo instante encostou a faca, outra vez, na garganta dele. Aproximou os rostos, ao ponto de tocar as testas, foi capaz de sentir a respiração ofegante do homem; ele estava nervoso, e com... Medo. Ela conseguia sentir, e isso a motivou ainda mais.


– Não use mais essa boca suja para falar da minha mãe. – Sussurrou para ele, friamente.


(*)Não querendo que ele falasse mais nada, ela teve que agir. Com a mão livre abriu com força a boca de Sebastian e com certa dificuldade conseguiu pegar na língua dele, puxando-a para fora. No mesmo instante, Cristal passou a faca na língua dele, cortando-a fora, enquanto teve sangue jorrando para todo lado, inclusive no próprio rosto da assassina. Sebastian gritou de dor, porém Melissa não queria que eles gritos repercutissem pelos corredores. Então logo, com a língua cortada ainda na sua outra mão, a colocou bruscamente dentro da boca dele e a fechou com força, fazendo ele comer a própria língua cortada.

Vendo-o sofrer com aquilo, com os olhos debulhando em lágrimas e o rosto vermelho, devido aos ataques, ela continuou tampando a boca dele com uma mão e com a outra levou a faca até a garganta dele e lentamente foi cortando a pele negra do homem. Conforme ia abrindo a garganta dele, o sangue ia direto em sua roupa, em seu rosto, mas queria que aquele movimento fosse devagar, que ele sofresse o máximo possível.

Desta forma, não demorou para o pescoço de Sebastian fosse aberto por aquela faca de Melissa, deixando aquele cenário completamente ensanguentado. Ela então largou a mão da boca dele, vendo que toda a vida que tinha naquele corpo não existia mais. Ela ficou encarando o corpo de seu padrasto com um enorme sorriso de satisfação, reparando no trabalho bem feito que fez.(*)


– O q-que... Aconteceu... A-Aqui? – Indagou Ethan ao entrar naquele quarto e ver aquele cenário de filme de terror. Havia sangue para todo lado e quando olhou para Melissa, a mesma olhou em sua direção com um sorriso psicótico entre os lábios, coberta de sangue, da cabeça aos pés. – Você disse que seria algo mais... Singelo...

– É, doutor. – Ela saiu de cima de Sebastian, dando de ombros. – Às vezes as coisas saem do controle e precisamos improvisar, não acha? Vou usar o banheiro no final do corredor, pode avisar ao Chalres que ele já pode mandar os capangas dele virem limpar a bagunça. Não precisa explicar muito, ele já vai entender o que aconteceu. – Passou por ele e foi até a saída daquele quarto, mas parou ao ouvir ele falando alguma coisa.

– Você é completamente... Louca... – Sussurrou, ainda completamente sem reação sobre tudo que viu naquele cenário.

– Pense pelo lado positivo, doutor. – Olhou para trás, fitando-o, conseguindo chamar a atenção dele. – Seria ele, ou a sua irmã. Que bom que foi ele, não é? – Riu e saiu do quarto.

21:40pm.

Devidamente todas prontas, tanto Alice quanto as outras garotas, tanto do Pandora Box quanto as do The Queen, já estavam no salão de jantar. O cenário já estava arrumado, depois de toda confusão que houve no início da noite. Tinha uma enorme mesa de jantar no centro da sala, muito bem decorada inclusive. Todas as convidadas já estavam sentadas em seus respectivos lugares, deixando Eva na ponta e Alice na outra. A nova prefeitura de Sheerground não economizou no banquete, mesmo que tenha dito que seria apenas um simples jantar, enquanto o prato principal não vinha, posta a mesa tinha alguns aperitivos, umas entradinhas. As meninas dos bordeis estavam famintas, então já atacavam aquilo mesmo, pãezinhos, tortinhas, tinha de tudo e em grande quantidade. Apenas Alice permanecia ainda mais reservada, não comeu e bebeu nada, ficou apenas observando os garçons enchendo suas taças com um líquido alaranjado, possivelmente suco da própria fruta laranja.


– Depois de tantas emoções que tivemos esta noite, não está com fome, Alice? – Indagou Eva, do outro lado da mesa.

– Está muito gostoso, mãe! – Exclamou Nina, feliz com toda aquela comida.

– Esfomeada, vai envergonhar a mãe. – Disse Mia, cutucando a colega ao seu lado, mas sem deixar de comer também.

– Prefiro esperar o prato principal, filhas, mas aproveitem. – Disse Alice, sorridente para as filhas. Segundos depois, direcionou seu olhar para Eva, agora sem o sorriso no rosto.

– Deixe-me adivinhar, ainda acha que estou pretendendo matar vocês, não é? Hum, já sei. Você acha que eu convidei vocês para este jantar, para envenenar todas ao mesmo tempo? – Pegou sua taça e bebeu um pouco do suco de laranja. – Seria uma boa ideia, mas infelizmente não é este o caso, Alice. Se esta comida tivesse envenenada, o tanto que as meninas já estão comendo, o veneno já estaria fazendo efeito, afinal estamos aqui esperando prato principal há alguns minutos. Sinto em lhe informar, mas errou outra vez no palpite. – Bebeu mais um pouco do suco.

– Eu não disse nada, minha querida. – Alice sorriu debochada. – Não ouviu o que eu disse? Eu estou apenas esperando o prato principal, não sou mulher de aperitivos, sabe? – Pegou também sua taça e bebeu um pouco do líquido laranja, imitando os movimentos de Eva.


Mais alguns minutos se passaram e os garçons retornaram com as bandejas individuais, uma para cada pessoa, em seguida parando atrás de cada uma delas. Eva abriu um pequeno sorriso delicado ao vê-los chegando, juntou as mãos animada. Alice olhou para ela ainda meio receosa. Algo naquele jantar não estava certo, algo ainda iria acontecer, tinha certeza disso. Ela só tinha que ser mais esperta do que Eva para perceber o plano dela antes, e assim poder sabotá-lo, salvando suas filhas.


– Ah, finalmente, eu estou faminta! – Exclamou Eva, animada. – E não abram a bandeja antes da hora, hein? Eu pedi para prepararem um prato muito especial, é para todas vocês saberem juntas. – Comunicou a prefeita, enquanto os garçons iam terminando de posicionar aquelas bandejas fechadas na mesa, em frente de cada uma.

– Não vai me dizer que deseja fazer um discurso também? – Ironizou Alice.

– Mas é claro que vou. Esta é uma noite única, para todas nós! Eu quero começar parabenizando a todas nós, conseguimos derrotar o Arnold e abrir uma nova porta para o futuro de Sheerground! Eu posso não ter tanta experiência de vida quanto vocês, mas eu já entendo que o papel da mulher na nossa sociedade continua muito difícil. Então, ver que hoje, nós, em sua maioria, somos mulheres, conseguimos vencer, é um grande marco, não acham?

– Você viu o Chris e o Benjamin, filha? – De maneira discreta, Alice sussurrou para Mia ao seu lado, querendo saber do paradeiro dos dois homens.

– Benjamin ainda está atrás do Charles e o Chris disse que estava sem fome e foi passear... – Respondeu a garota, de forma discreta também.

– Afinal, vocês sabem – Eva continuou seu discurso. – Eu pretendo levar Sheerground a um novo patamar, a um novo futuro. Há muita coisa errada acontecendo em nessa cidade, precisamos livrá-la de todos estes erros. E também é por isso que estamos reunidas aqui hoje. – Alice cerrou os olhos ao ouvir aquela frase de Eva, achando meio suspeito. – Mas bom, sei que ainda estão morrendo de fome, então vamos logo para o que interessa, não é?

– Até que foi rápido, garota, imaginei que você fosse querer estender mais. – Disse Alice.

– Pelo contrário, Alice, eu sou uma mulher bem rápida no que eu preciso fazer. – Deu uma piscadela para a loira, mas logo direcionou seu olhar para os garçons. – Por favor, podem retirar a tampa da bandeja das minhas convidadas. – Ordenou para os garçons.


As meninas estavam eufóricas e famintas, então mal viam a hora de degustar daquele prato principal. Afinal, se os petiscos e entradas estavam maravilhosas, imagine o jantar em si? Mal podiam esperar! Então, obedecendo a Eva, os garçons começaram a retirar a tampa das bandejas, para que as convidadas pudessem apreciar o que tinha ali embaixo. Depois de finalmente mostrar o prato principal, todos não entenderam o que aquilo significou. Simplesmente não havia nenhuma comida debaixo daquela bandeja, apenas um pedaço de papel dobrado. Sem entender nada, todas as meninas pegaram aquele pedaço de papel, na intenção de lerem o que poderia ter escrito ali. Seria alguma espécie de pegadinha?


– "Pu... Ri.. Fi... Ca... Ção..." – As meninas leram em uníssono.


Alice olhou em volta, reparando que todos aqueles garçons posicionados atrás de cada uma estariam pegando uma faca. Ela arregalou os olhos e olhou na direção de Eva, que apenas sorriu e levantou sua taça, em sinal de vitória. Antes que Alice pudesse fazer algo, sentiu o garçom atrás de si lhe pegar pelo pescoço, impossibilitando seus movimentos. Sem poder fazer nada, antes mesmo que conseguisse sinalizar as meninas... Não havia mais tempo...

Todas foram pegas pelos cabelos, para em seguida terem suas gargantas cortadas. Aquela cena correu em câmera lenta para Alice, se recusando a acreditar que aquilo estaria acontecendo. Ela sabia que Eva ia tramar alguma coisa, mas... Aquilo, aniquilar todas as garotas, daquele modo? Alice não conseguiu segurar o choro e os gritos, sentindo uma dor imensa no coração e na alma, ao ver todas aquelas meninas serem assassinadas bem diante de seus olhos, enquanto aquele sangue ia jorrando para todo canto.


– Purificação realizada com sucesso. – Comentou Eva, bebendo mais um pouco de seu suco, enquanto os garçons jogavam as cabeças das garotas, já sem vida, em direção aos pratos na mesa. – Eu lhe disse, Alice, a forma como se joga o jogo muda de tempos em tempos. Infelizmente, você não acompanhou essa evolução...

– P-Por... Que... Por que você fez isso? – Com os olhos marejados, Alice indagou.

– Eu disse, eu vou levar Sheerground a num novo patamar, a uma nova evolução. Não é só o problema com a bebida alcóolica que precisamos lidar para melhorar as coisas. Você não vê? Não só Sheerground, mas o país todo, está completamente perdido. Mergulhamos de cabeça em todos estes pecados, e não é de hoje.

– "Pecados"? Desde quando você é religiosa?

– Desde quando eu passei a minha vida toda ouvindo o que é certo e o que é errado. Mas, eu cansei de ver os outros decidirem o que seria certo ou errado. Pois agora, sou eu quem decide isso.

– Você não é Deus, Eva! Não pode mudar o conceito de certo e errado! – Tentou se debater para se soltar dos braços daquele homem, mas foi em vão.

– Eu não quero mudar, Alice, eu quero inserir novos conceitos. E, a visão de Deus é um tanto relativa, não concorda? Praticamente a cidade toda já me ama, e é capaz de seguir tudo o que eu falar. Qual a diferença disso, para Deus? – Deu de ombros, para no fim beber mais um pouco do suco de laranja em sua taça. – As coisas precisam de ordem, e creio ser a pessoa capacitada para este trabalho.

– E o que... – olhou para as meninas mortas naquela sala de jantar – eu, ou, elas, melhor... Nós temos haver com isso? Você mesma disse, nós nos aliados, e vencemos juntas!

– Vocês, todas vocês, são putas. – Disse rispidamente, com a maior naturalidade do mundo. – Não se comportam como mulheres, então, não devem se nomear como uma. Seres como vocês mancham a reputação de mulheres, como eu, que sonha em um dia levar o nosso gênero para onde ele merece estar. Vagabundas, como vocês, não merecem respeito, tão pouco o direito de estarem vivas na nova era que tratei para Sheerground, quiçá para o país.

– Você não está sendo uma mulher, Eva, está sendo uma maluca assassina! O que você está fazendo é assassinato, e você não é melhor do que ninguém para decidir quem vive ou morre!

– Neste ponto em que você se engana. – Soltou um riso baixo, deixando a taça sobre a mesa e botando as mãos debaixo da mesa, voltando com elas, revelando uma pistola em mãos. Eva segurou aquela arma de fogo com ambas as mãos, mirando bem no rosto de Alice. – Eu decido sim, e infelizmente no seu caso e no da Cristal, vocês não merecem viver no meu novo mundo. – Destravou o gatilho.


Eva estava pronta, a arma mais do que nunca. Ela mirou com muita cautela, querendo acertar a testa de Alice, não iria errar o alvo. Mesmo manuseando poucas vezes, as vezes em que utilizou daquele instrumento nunca errou, e não teria uma primeira vez agora. Eva fechou um dos olhos para mirar melhor, já com o dedo no gatilho. O sangue frio ela tinha, o momento perfeito também, então ela só... Não, algo atingiu sua mão, forçando-a a soltar aquela arma enquanto soltou um grito de dor. Ela havia recebido um tiro na mão. Mas aquele não foi o único, o garçom que permanecia segurando Alice também tomou um tiro, porém na cabeça, morrendo no mesmo instante, livrando Alice naquele instante. Sem entender o que houve, uma bomba de fumaça era arremessada naquela sala, não demorando para ativar.


– M-merda! – Bufou Eva, colocando a mão que tomou o tiro na barriga, para tentar estacar o sangue. – Não deixem que ela saía daqui viva, vão atrás dela! – Ordenou, suando um pouco.


Os homens de Eva logo se posicionaram para irem atrás de Edwards. Enquanto a própria, não teve sequer tempo para pensar quando aquela bomba de fumaça estourou, até que logo uma mão surgiu e tampou sua boca, para que ela não gritasse. Com medo, ela já se preparou para morder aquela mão, ou chutar e socar as partes íntimas do cidadão, mas logo ouviu uma voz amiga.


– Calma mãe, sou eu, vou te tirar daqui. – Sussurrou Chris, no pé do ouvido de Alice.

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