Vigésimo Capítulo.
(Alerta: Pode conter cenas de extrema violência explícita neste capítulo. Será marcada com um (*) no início e final da cena.)
[CAPÍTULO VINTE]
1922.
Verão.
20:00pm.
– O QUE??? – Gritou Lilith se levantando da cama. – Atacar a FILHA DO PREFEITO? – Se estivesse com algo na boca, com certeza botaria para fora. – Como assim, Noah?
– Não há o que eu fazer, Lilith. – Respondeu ríspido, de frente pro seu armário, escolhendo a roupa que ia vestir. – Você sabe a ligação que ele tem com o Morgan, eu não posso botar tudo a perder enquanto ele está fora.
– Mas você entende a gravidade que vai ser se eles ligarem esse ataque com a gente, com Shelter? Você vai preservar os negócios do papai com o prefeito, mas vai arruinar toda a reputação do nosso vilarejo.
– E é exatamente por isso que eu vou pessoalmente nesse ataque, com alguns homens. Para não os deixar com que percam a mão e façam da maneira mais sigilosa possível.
– Eu não sei não, Noah, eu estou com um mal pressentimento... – Disse preocupada com a mão sobre o peito. – Não acho que isso vai terminar bem.
– Não se preocupe, está tudo sob controle. Aliás, senti falta daquela garota nova, a Ravena, só a vi pela manhã e depois não a encontrei mais. Sabe por acaso aonde ela está?
– Não, e nem quero saber. – Rapidamente mudou de humor e cruzou os braços, desviando o olhar. Depois de uns segundos em silêncio, voltou a olhar Noah em sua frente. Ao fazer isso, viu ele lhe olhando com os olhos semicerrados, como se não estivesse entendendo aquela situação. – O que foi?
– Hummm... Nada, eu acho. – Suspirou, tentando decifrar aquela mudança repentina de humor, mas logo deixou para lá, voltando a olhar suas roupas a sua frente. – Não sei se confio nela, precisamos manter os olhos abertos. Vou mandar alguns homens atrás dela.
– Bom, não estou aqui para ouvir você falando daquela garota... – Revirou os olhos e caminhou até a saída do quarto. – Até porque, eu também tenho meus compromissos, vou sair essa noite. Boa noite, Noah! – Exclamou séria, abrindo a porta do quarto.
– Ei, você está be... – Antes que terminasse de falar apenas ouviu o barulho da porta batendo. Ele olhou para trás, percebendo que ela não estava mais ali. – O que deu nela?
Depois de escolher sua roupa, a tirou do armário e a colocou sobre a cama. Ao fazer isso, ouviu um barulho estranho. Ele olhou ao redor querendo entender o que era, mas não encontrou nada, até que ao olhar para a porta viu algo sendo empurrado por debaixo dela. Cerrou os olhos e foi até o local, era um pedaço de papel que passaram pela porta. Então, ao pegar aquele papel o desdobrou para querer ver o que tinha nele.
Assim que viu o que tinha naquele papel arregalou um pouco seus olhos, ficando muito, muito surpreso. Como não ficou há tempos. Aquele desenho feito por Erick... Não conseguia acreditar no que estava vendo. Recebeu mesmo um desenho dele?
Como era o desenho, deseja saber? De uma situação que aconteceu entre eles, há dois anos...
Há dois anos...
Mas não tinha o que pudesse fazer, não trouxe nada para aquela ocasião. Então restou aceitar e tentar dormir do mesmo jeito. Porém, eis que algo fino cai sobre si, assim que abriu os olhos viu que era um lençol, lhe cobrindo. Cerrou os olhos e levou a cabeça para trás, vendo que era uma das crianças, com no máximo dez anos de idade, vindo lhe cobrir. E após isso, a mesma criança deitou ao lado de Noah, também de costas para ele, mas deixando ambos debaixo da coberta, para se protegerem do frio.
Sem qualquer reação, o mafioso não conseguiu tomar uma atitude. Por que aquela criança foi lhe cobrir? Ou além, porque resolveu dormir ao seu lado? Noah não se via como a pessoa mais apropriada para lidar com crianças, tão pouco pensou que elas poderiam gostar dele. Era um sentimento muito diferente que corria pelo seu corpo, além de sentir aquecer seu próprio coração, coisa que não acontecia muitas vezes.
Mas, não conseguiu fazer nada. Apenas sentiu as costas daquela criança colidindo com as suas, como se a outra estivesse se afofando mais ao lado dele. Antes que percebesse, o frio que sentia foi passando e seus olhos foram se fechando.
Atualmente...
Um desenho deles deitados juntos, igual como ficaram naquele dia. Noah não soube como reagir perante aquilo, apenas fechou os olhos e abriu um pequeno sorriso. "Qual foi a última vez em que ele sorriu?" Seria uma boa pergunta.
20:40pm.
Já no tardar da noite, Eva Gonzales seguiu seu caminho por aquelas ruas a sul de Sheerground. Não sentia medo de andar sozinha por ali, pois sabia que ninguém ali lhe faria algum mal. Eles a amavam, a idolatravam. Não tinha o que temer. Mesmo que isso exigisse algumas "obrigações", como por exemplo ir à missa todo dia a noite, neste mesmo horário. Ela odiava, com todas as suas forças. Mas, tinha que ir, se quisesse que todos ali continuassem com o mesmo sentimento por ela. A contra gosto, ela passou a frequentar a igreja local do bairro, com o tempo passou a ajudar financeiramente a igreja e os moradores que residiam ali perto. "Deus está com você, minha filha" era uma frase recorrente do padre à Eva, que sempre agradeceu com um sorriso no rosto.
– Aí, hoje é dia da Margaret ir, não acredito... – Sussurrou para si mesma, revirando os olhos. – Aquela gorda feia, sempre vem me pedindo comida. Eu dou lanche, biscoito, e ela sempre continua com fome. Que Deus é esse que deixa ela continuar imensa daquele jeito? O meu não deixaria. Fala sério... – Continuou com os resmungos, caminhando pelas ruas.
Não era apenas Margaret o alvo de críticas de Eva, ela continuou sussurrando coisas ofensivas para todos os outros. Em principal, aquele padre. Eva simplesmente o odeia, o máximo que pode. Não conseguia entender como ele conseguiu chegar naquele cargo. Pois, além dele ter uma péssima dicção e mal da para entender o que sai de sua boca, o que mais lhe chamava a sua atenção era que o tal padre... Era negro. "Um padre... Negro? É pra rir mesmo" completou em seus pensamentos. Não conseguia entender, como alguém daquela cor poderia estar representando uma fé, uma religião. "Chega a ser uma blasfêmia, meu Deus não aceitaria aquilo" finalizou outra vez mentalmente.
– Bom, ainda bem que já estou chegando, conforme mais rápido começa, mais rápido termina e me livro daquela gente insuportável. – Em sussurros virou em um beco com pouca iluminação. Sempre fazia aquele percurso, para cortar caminho e lhe poupar tempo.
Entretanto, antes que pudesse continuar o seu caminho para o fim do beco, alguns homens saíam das sombras. Foi questão de segundos até que eles a deixasse encurralada. Naquele momento, Eva sentiu um frio na barriga, estaria ela... Com medo? Eva Gonzales, com medo? Em um lugar considerado "seu território"? Aquilo mesmo estava acontecendo? Ela reparou que eles ficaram em volta de si de propósito. Não dava para ver direito a fisionomia daqueles homens, devido a falta de iluminação daquele local. Reparou apenas em seus sobretudos pretos e boinas escuras.
– Q-Quem são vocês...? – Perguntou receosa, já colocando a bolsa pra frente, segurando-a com ambas as mãos, com medo de ser um assalto. – O que querem?
Os homens não disseram nada, apenas ficaram em silêncio, esperando a ordem para continuar com aquilo. Agora sim, assustada com aquela situação, Eva tentou andar para frente, para continuar seu caminho. Mas ao fazer isso, eles chegaram mais perto, em tom de ameaça. Ela então engoliu a seco e parou de andar. O que estaria acontecendo? Quem são aquelas pessoas? Porque estariam fazendo isso? A troco de que?
– Olha, não sei quem são vocês, mas sugiro que repensem o que estiverem pensando em fazer. Eu sou Eva Gonzales, filha de Arnold Gonzales e futura prefeita de Sheerground. Atacando a mim, estarão atacando uma cidade inteira que me ama. – Ao falar aquilo, eles deram um passo para trás. Ela sorriu; funcionou? – Menos mal.
Entretanto seu sorriso durou pouco pois logo foi pega pelas costas, por um novo homem que saiu das sombras. Ele a pegou por debaixo dos braços e levantando-a do chão. Os olhos esverdeados de Eva se arregalaram, não entendendo como aquilo estaria acontecendo. Completamente confusa, ela não sabia o que pensar, nem como reagir perante aquilo. Seus movimentos foram cessados por aqueles brutamontes, então pensou em gritar, porém não conseguiu fazer isto a tempo, pois logo um segundo homem correu até ela e botou um pedaço de pano dentro de sua boca, impedindo que gritasse. Naquele instante foi possível ver uma lágrima escorrer dos olhos de Eva. Apavorada, era o estado dela. "Eu vou... Morrer?" era algum de seus pensamentos perturbadores. Não queria morrer, não agora. Tinha muita coisa para fazer.
(*)Eis que um som de estalo de dedos foi dado, sendo o sinal necessário. Sendo pega completamente de surpresa, Eva arregalou tanto seus olhos que pareciam saltar a qualquer instante, devido ao forte soco no estômago que recebeu do homem a sua frente. Ela nunca havia apanhado, nem de seu pai. E agora, aquilo? Nunca sentiu tanta dor em sua vida. Mas antes que ela pensasse que aquele seria o fim... Outro soco. E outro, outro... O tal pano sobre a boca de Eva estava completamente vermelho, devido ao sangue que era espirrado de sua boca. Incontáveis lágrimas permaneciam escorrendo de seus pequenos olhos. Aquela dor... Parecia ser a morte. E talvez, fosse.
"P-Porque... Isso... Está acontecendo... Comigo?" refletiu quando seu corpo foi jogado direto ao chão. Rapidamente botou as mãos sobre a barriga, aonde recebeu os socos. Não conseguia ter qualquer outro movimento, seu corpo doía demais para tal ação.
Foi surpreendida, outra vez, com um chute nas costas, mesmo já no chão. Ela queria gritar, gritar muito, pedir socorro a quem fosse, ela não queria morrer. Não queria que a matassem, quando estava tão perto de chegar ao seu objetivo de ter Sheerground em mãos. Não demorou para que sua visão começasse a ficar turva, perdendo a consciência devagar, não antes de sentir mais três chutes nas suas costas.
Enfim, a agressão cessou e os homens foram se afastando.(*)
– EI, O QUE ESTÁ ACONTECENDO? – Gritou a jornalista, entrando naquele beco e vendo aquela pavorosa situação. Logo gritou pro homem ao seu lado. – Liga isso, Roberto!
– Tsc, como eles sabiam que estaríamos aqui? – Sussurrou Noah, escondido naquela escuridão. – Recuar, rapazes. Nosso trabalho aqui está feito. Phillipe, a fumaça. – Ordenou para o capanga ao seu lado.
Após a ordem, seu subordinado o obedeceu e lançou uma bomba de fumaça dentro daquele beco. Não demorou para que Pamela e Roberto entrassem dentro daquela enorme nuvem de fumaça, mas que logo fora se dissipando. Depois disso, reparou que todos os outros homens foram embora, tinha apenas Eva desmaiada no chão. Desesperada, Pamela correu até ela, para ver se ela ainda está viva. Enquanto Roberto, ainda com a câmera ligada, correu atrás de ajuda, qualquer uma que fosse.
Enquanto isso, mais ao longe...
"O quão longe você vai para conseguir o que quer, minha amiga?" Pensou Ravena, escondida de forma impecável, vendo aquela jornalista socorrer a loira.
23:45pm.
– Você não precisava ter vindo, senhorita Luna. Aqui pode ser muito perigoso e está tarde. – Disse Evan, entrando naquela sala de segurança escura. Ambos tinham uma lanterna, para se guiarem ao menos um pouco. – Posso te levar para casa ainda, se quiser.
– O dia hoje foi longo, policial Evan. Não posso deixá-lo sozinho, ainda mais agora. Sem contar, que fizemos uma boa dupla naquele dia contra a Beatrice e os capangas dela. Por que não podemos repetir isso de novo hoje? – Brincou, abrindo um sorriso.
– U-Uma... Boa d-dupla? – Gaguejou, ficando corado.
– Vamos, se tudo o que você me disse for verdade, temos pouco tempo. – Com a mão livre, pegou na mão dele e continuaram andando com cuidado por aquela sala.
Afinal, na teoria, não poderiam estar ali. Invadiram a ala central de segurança responsável por Sheerground. Evan tinha autoridade para entrar ali quando bem quisesse, mas sabia que eles não iriam ser verdadeiros consigo sobre as suas perguntas. Então, tinha que fazer escondido, mesmo que isso arriscasse o seu emprego, ou pior, a vida de Luna. Ora, não sabia como iriam reagir caso fossem pegos. Não iria se perdoar nunca caso algo de ruim acontecesse com a ruiva, então quis logo terminar com aquilo. Além disso, tinha que ser no escuro. Pois se ligassem as luzes, poderia chamar mais atenção. E definitivamente não queriam isso, não podiam estragar tudo.
– Certo, pelo mapa que o Noah me deu... – Sussurrou, apontando a lanterna para o mapa em sua mão livre. – A marcação deve estar aqui perto. Mas, no escuro, vai ser difíc-...
– Ei, eu encontrei algo. – Disse Luna, não tão alto, mas o suficiente para que Evan escutasse. – Venha ver isso, policial Evan.
– E-Er... Talvez eu tenha a subestimado. – Coçou a nuca sem graça, mas logo andou até ela, para ver o que ela tinha descoberto. Ao chegar perto dela, viu para onde a lanterna dela estava apontando... Então arregalou os olhos. – Isso é...
– É a marca daquele tal de Noah, não? – Perguntou esperançosa, por ter conseguido ajudar. Olhou uns segundos para Evan ao seu lado, mas logo retornou a olhar a marca cravada ali no chão, atrás de uma mesa com várias caixas bem ao fundo da sala.
Era na verdade, uma numeração. 1, 9, 0 e 0. Mil novecentos. Evan então deu leves batidas sobre o chão debaixo daquela numeração e de imediato reparou que era um fundo falso. Então sem dificuldade, o levantou. Escondido ali tinha um pedaço de papel e uma chave pequena. Não entendeu, mas logo pegou o papel e o virou para que pudesse ver o que tinha ali. Ao ver, continuou não entendendo. Era uma lista, mas... Uma lista... de pulseiras? O que aquilo queria dizer?
– São... Todas as pulseiras fabricadas e registradas em 1900? – Perguntou, confuso.
– Elas têm que ser registradas? Não sabia. – Luna falou curiosa.
– Para fins comerciais e legais, sim. Mas eu não entendo. Por que ele me mandou essa lista?
– Olha, tem mais coisa, parece que tem uma página a mais... – Apontou.
Ele logo percebeu e concordou, havia uma outra página grudada atrás. Ao retira-la, tinha mais algo escrito "está na sua frente, policial", apenas essa frase. E nada mais. Quer dizer... Desceu os olhos pela página e tinha mais uma coisa "só há uma tentativa". Ao terminar de ler, começou a ouvir um barulho ecoar por aquela sala. Receosos, logo se levantaram e olharam em volta. Mas não tinha ninguém, nem nada. Segundos após enfim entenderam o que era aquele som, que parecia estar apitando.
– A BOMBA! – Exclamaram juntos e se olharam no mesmo tempo.
Então logo olharam em frente da onde estavam e correram até aquela parede. Evan colocou o ouvido colado com aquele local e percebeu, vinha dali. A bomba estava escondida ali dentro. Mas, como iriam pegá-la? Estava do outro lado da parede.
– P-Policial Evan...? – Olhou para ele, preocupada. – Nós temos dez minutos.
– Ca-Calma... Vou dar um jeito. – Respondeu confiante.
Uma luta contra o tempo se iniciou. Tinha exatos dez minutos, antes da bomba explodir, de acordo com o mapa dado por Noah. Dez minutos para decifrar aquele enigma. Havia uma bomba programada para explodir em instantes, do outro lado da parede. Tinham que pensar em um modo de chegar lá do outro lado, sem muito barulho, além de não poder deixar rastros de que passaram por ali. Quebrar a parede com algo seria uma opção? Evan logo descartou essa hipótese. Iria fazer muito barulho e não teria como eles tamparem um buraco na parede, seria um rastro enorme deixado para trás.
Ir por cima, por uma saída de ventilação? Talvez, o mais sensato. Porém, não teriam certeza se aquela saída iria levá-los até aonde a bomba está, além do que demoraria um tempo que eles não tinham para perder. Então... O que fazer? Não poderia deixar aquela bomba explodir, afinal iriam morrer caso isso acontecesse. Não há como voltar agora.
– Estamos pensando da maneira errada... – Sussurrou para ela, olhando em volta.
– O que quer dizer?
– E se estivermos presos a uma ideia fixa, que pode estar errada? – Respondeu. – Tem algo que não estamos vendo, senhorita Luna. Por favor, aponte a lanterna para mim.
Se aproximou mais daquela parede a sua frente e passou a mão por ela inteira, tentando descobrir algo. Era uma parede lisa, normal, igual a outra qualquer. Então continuou deslizando suas mãos por ali, subiu, desceu, foi para os lados. Eis que algo estranho chamou sua atenção. Como se seus dedos tivessem passados por cima de algo, então logo trouxe suas mãos até o tal lugar outra vez. Luna reparou naquilo e se aproximou também, apontando a lanterna para aquele lugar, deixando a luz mais forte.
– Eu sabia. – Evan abriu um sorriso esperançoso ao reparar que aquele pequeno obstáculo era nada mais que um fio. – Ele possivelmente pintou este fio da mesma cor da parede e imaginou que viríamos no escuro, então seria impossível de se notar só olhando ao longe. Se o fio está aqui, então quer dizer que o objetivo do Noah...
– Está aqui fora. – Luna completou, surpresa com o raciocínio do outro.
– Exatamente. Ficamos preso a uma ideia de que teríamos que desarmar a bomba por dentro, quando a resposta está aqui fora. Só preciso ver aonde este fio vai dar.
Deste jeito, Evan pegou naquele fio e foi o dedilhando, para pegar todo o percurso dele. Enquanto Luna, fez o mesmo, mas indo para o lado contrário. Basicamente, um iria dar diretamente a bomba e o outro até o dispositivo que a mantém ligada. Não sabiam aonde cada um iria parar, mas tinham que ser rápidos. O tempo não perdoa, os ponteiros do relógio continuaram a passar. Tinham cinco minutos. Cinco minutos para achar o dispositivo da bomba e desarmá-la a tempo. Caso contrário... Todo aquele lugar seria explodido e eles morreriam, virariam cinzas. Não poderiam aceitar aquilo.
Focados em chegar em seus objetivos finais que mantiveram o silêncio, mas logo o policial ouviu Luna assobiar mais ao longe. Foi o sinal que combinaram; ao chegarem no final do fio, assobiar para sinalizar, de maneira discreta, para o outro. Mas aquilo não era o suficiente para Evan saber se ela estava na bomba ou no dispositivo dela. Porém não demorou muito para que tal pergunta fosse respondida pois ele chegou... No dispositivo daquela arma prestes a ser detonada. Concluiu que Luna estava perto da bomba. Reparou uma pequena caixa bem ao fundo da sala, ligada por aquele fio. Tratou de se aproximar daquele objeto e se agachou, após já ter afastado aquela poltrona que tinha no caminho. Mas, a pequena caixa estava fechada. Não demorou mais que uns segundos para que Evan se lembrasse da chave que achou anteriormente. Então, ao utiliza-la conseguiu abrir a mesma. Naquele instante, viu um relógio com os números em vermelho cronometrando alguns minutos bem no topo da caixa, por dentro. Aqueles minutos eram os mesmos que faltavam para a bomba explodir. E naquele instante, estava marcando três minutos e meio e diminuindo. Estava quase lá.
– O que é isso? – Sussurrou para si mesmo ao ver que dentro da caixa tinha três interruptores e um pedaço de papel. Ao pegá-lo para conseguir ler... – "Escolha um com cuidado, policial. A resposta está em você." – E terminou de ler o bilhete. Era claro, um daqueles interruptores seria para parar a bomba, enquanto os outros dois... Bom, não queria pensar nisso. Só não conseguia entender o final do bilhete.
Um fato curioso era que acima de cada interruptor tinha uma cor diferente. Dourado, verde e azul. Evan não entendeu o que aquelas cores queriam significar ou que diferença faziam. Mas não tinha muito tempo para pensar. Três minutos. Tinha que decidir logo. Porém, qual cor iria escolher? Dourado? Verde, ou azul? Como iria saber qual é a opção certa para desarmar aquela bomba? "Pensa, Evan, pense igual ao... Nathan" e foi isso que o motivou. Lembrou-se de seu amigo e o quão seu instinto era bom.
"Nathan, o que você faria...?"
Como um filme, as últimas cenas e pistas foram correndo pela sua mente, se lembrando de cada detalhe. Tinha certeza de que tudo estaria interligado. Então, repetiu os passos em sua mente. Entrou com Luna naquela sala, as escondidas e juntos procuraram uma pista. Conseguiram encontrar a marca sinalizada por Noah, encontrou uma lista de pulseiras e a marca de registro de cada uma, em seguida... "Espera!" Arregalou os olhos, ao entender de fato aquela situação. "Lista de pulseiras... A resposta está em você..."
– Céus como eu não percebi isso antes? – Rapidamente levantou sua mão direita até a frente de seus olhos e desceu a manga de sua blusa, conseguindo ver enfim a pulseira em seu pulso. – A minha pulseira... – Cerrou os olhos, vendo a cor dela. – DOURADA! – Exclamou um pouco alto, mas não o suficiente para que alguém de fora ouvisse.
Então, ele deu uma última olhada para aquele relógio dentro da caixa, marcando exatos dez segundos. Seus últimos segundos que poderia definir o resto de sua vida. Mas, ficou confiante, pois finalmente entendeu o enigma de Noah. Sem pestanejar, faltando cinco segundos agora, ele desceu o interruptor dourado. Por fim, esperando os segundos acabarem, para ver se tinha escolhido certo. Assim... Cinco... Quatro... Três... Dois...
– Um... – Evan fechou os olhos e trincou os dentes, torcendo para que tenha acertado em sua decisão. – F-Funcionou...? – Abriu os olhos alguns segundos depois. Não demorou para sentir alguém chegando por trás e lhe abraçando.
– Eu sabia que você seria capaz. – Disse Luna sorridente, agachada atrás de Evan e abraçando-o. – Você conseguiu, policial Evan!
– Não... Nós, nós conseguimos, senhorita Luna. – Abriu outro sorriso e pegou na mão dela envolta de seu pescoço.
"Eu não consegui parar a outra, que explodiu a sul da cidade. Mas, essa eu consegui. Faltam mais três. Mas, o que você quer com isso tudo, Noah? Qual é... O seu objetivo final?" pensou o policial, aproveitando os carinhos de Luna.
00:05am.
– Hum... Parece que aquele... Engomadinho conseguiu dessa vez. – Sussurrou Noah, olhando pela sua janela paisagem a fora. Não ouvindo nenhum barulho de explosão ou derivados, logo percebeu que Evan conseguiu desarmar sua segunda bomba.
"É estranho eu não conseguir vê-lo como... Meu irmão?" pensou ainda parado na sua janela, olhando o vilarejo de Shelter a frente. Desde que descobriu seu parentesco com Evan, não conseguia nutrir emoções e sentimentos positivos. Passou tantos anos sem saber da existência de um "irmão de sangue", que se acostumou com isso. Tinha raiva, sim, de todos que lhe esconderam seu passado. Porém isso não significou automaticamente que iria nutrir sentimentos pelo seu irmão gêmeo. Na verdade, não sabia ao certo como vê-lo, como encará-lo. Definitivamente não era mais um policial qualquer na cidade, não, não era. Mas, o que ele se tornaria para Noah, então?
– Eu e ele somos tão... Diferentes... – Pensou em voz alta. – E os nossos... Pais? Quem serão? Será que ainda estão vivos? E, por que fomos abandonados? Tsc! – Trincou e cerrou os dentes. – Morgan e Alice definitivamente sabem de algo, mas eles não vão falar nada. Não há outra opção. Eu vou descobrir a verdade, nem que pra isso... – Apoiou as mãos sobre a sacada da janela. – Eu tenha que destruir Sheerground.
– Ei, ainda acordado? – Indagou a mulher ao entrar naquele quarto ao ver a porta entre aberta. De imediato avistou Noah de costas, apoiando-se na janela. – Boss?
– Hum? – Voltando a si, olhou-se para trás e avistou a mulher de madeixas castanhas na porta de seu quarto. – Há quanto tempo está aí, Ravena?
– Eu cheguei agora. Por que?
– Por nada. Enfim, diga. – Virou-se de costas, botando as costas na sacada da janela e cruzou os braços.
– Eu cheguei em Shelter ainda pouco e logo vieram falar que você queria falar comigo. Aconteceu alguma coisa, boss? – Perguntou.
– Entra e fecha a porta. – Disse frígido. Ela logo obedeceu e entrou no quarto, fechando a porta em seguida. – Fiquei sabendo que você saiu de Shelter no final da tarde e sequer mencionou para onde foi. Você não está aqui para brincadeira, senhorita Austin. Eu exijo saber de antemão todas as vezes em que você for sair do vilarejo.
– Uau, não sabia que eu seria uma prisioneira aqui dentro. – Debochou.
– Você não é. Entretanto, está aqui com um propósito. É uma agente infiltrada que veio diretamente do presidente. Em outras palavras, eu não confio em você.
– Bom, errado você não está. – Sorriu irônica e deu de ombros enquanto abriu os braços. – Eu também não confiaria em mim, estando na sua posição.
– Desta forma, espero que esta situação de hoje não se repita. Quero ser sinalizado todas as vezes em que você colocar o pé para fora deste vilarejo. Entendido?
Ravena apenas riu baixinho e começou a andar lentamente até ele. Ele arqueou uma sobrancelha não entendendo aquela aproximação. Não demorou para que ela chegasse bem próxima e colocasse suas mãos atrás dele, também apoiadas na sacada. Ela o olhou bem profundamente nos olhos, encarando aqueles olhos verdes com muita intensidade. Enquanto ele, por sua vez, permaneceu a mesma coisa. Não esboçou uma reação sequer, a não ser cerrar seus olhos, querendo entender o propósito dela com aquilo. "Ela é uma daquelas que o Morgan paga?" pensou, querendo uma resposta.
– Digamos que eu odeie o fato de ter que obedecer a um homem... – Sussurrou, aproximando os rostos. – Mas, você fica tão sexy falando deste jeito que até me faz pensar duas vezes, booooss. – Disse com uma sensualidade a última palavra.
– O que você está fazendo, senhorita? – Retribuiu o olhar intenso.
– Não está com vontade de nada?
– Sim, estou. Vontade de mandá-la embora do meu quarto. – Após uns segundos, prosseguiu. – Imediatamente, senhorita Austin.
– Não precisa mandar duas vezes. – De forma sensual, ela levou seus lábios até a bochecha do mais alto e ali depositou um beijo. Em seguida, afastou os corpos e caminhou até a saída do quarto.
– Noah, ele já está-... – Lilith começou a dizer ao entrar naquele quarto. Mas parou de falar ao vê-la ali. – O que ela está fazendo aqui, essa hora da noite? – Perguntou nervosa.
– Tomando um puxão de orelha. Não se preocupe. – Respondeu Ravena, passando por ela, que liberou a passagem para que pudesse passar. – Boa noite, irmãozinhos. – Acenou e saiu do quarto, deixando os dois sozinhos ali dentro.
– Ei... Isso é... – Lilith andou até Noah em passos rápidos, forçando a vista em direção ao rosto dele. – Ela te BEIJOU, Noah? – Indagou mais alto ao ver a marca de batom na bochecha dele. – Eu perdi alguma coisa? Porque não estou entendendo nada.
– Você está ligando pra algo do tipo? – Esfregou as costas da mão em sua bochecha, para tirar aquela marca de batom. – Ela estava tentando me provocar, mas sem sucesso. – Terminando de falar, percebeu que pela feição de Lilith, a mesma estava mto nervosa. – Ei, por quê você ficou tão nervosa?
– Desculpa, Noah... Eu só... – Ela abaixou a cabeça e olhou pra o chão, desconfortável com aquela situação. – Acho que... Hum... Acabei sentindo ciúmes, dela... Com... Você...
– Ciúmes? – Ele pensou, ainda confuso. – Espera... Você achou que eu e aquela garota... Nós...? – Quando entendeu, revirou os olhos e botou as mãos na cabeça. – Céus, Lilith, claro que não. Eu já te disse, não estou interessado nestes assuntos agora.
– Mas você está percebendo que ela está tentando, não é? – Levantou o olhar para fitá-lo.
– Eu sou responsável por mim, Lilith, não pelos outros. Como eu disse, meu objetivo agora é descobrir a minha história, o meu passado. Não consigo pensar em mais nada além disso. – Passou por ela, indo até a porta do quarto. – E já te disse isso.
– Eu sei, eu sei. Me desculpe, deixei me levar. – Coçou a nuca sem graça. – Enfim, você me pediu para te avisar quando o Erick pegasse no sono. Já tem uns cinco minutos.
– Ótimo, obrigado. – Abriu a porta do quarto.
– Eu posso saber o que você vai fazer, Noah?
– Algo que ele já fez comigo. – Botou o pé para fora do quarto. – Boa noite, Lilith.
Despediu-se e fechou a porta do quarto. Não se importou em Lilith ficar sozinha em seu quarto, nunca ligou para essas coisas. Ainda mais que sua confiança em sua meia-irmã era completa. De qualquer forma, logo pensou em outra coisa: seu próximo caminho, o quarto de Erick. Desde quando saiu mais cedo, para efetuar o pedido do prefeito, não conseguiu tirar de sua cabeça, por um segundo sequer, o desenho que Erick lhe entregou por debaixo da porta. Aquela foi a primeira demonstração de afeto dele, depois de dois anos, quando a criança descobriu toda a verdade. Por mais que Noah quisesse saber o motivo que fez o menor ter essa mudança de humor, pensaria nisso depois. Aquele desenho de Erick também foi um pedido. E Noah entendeu.
Ao chegar no quarto da criança abriu devagar a porta, não queria acordá-lo. Em passos lentos entrou no cômodo e encostou a porta. Mesmo com pouca iluminação devido a luz do quarto estar desligada, o brilho da lua lá fora conseguiu iluminar o suficiente aquele ambiente. Noah devagar andou até a cama de Erick. Ao chegar, parou ao lado dele e ficou fitando-o por alguns segundos. Naquele instante percebeu como o tempo passou rápido... Erick cresceu, seus cabelos estavam maiores, até sua voz sofreu mudanças. Afinal, estava quase entrando na puberdade. Noah, sem conseguir explicar, sentiu um conforto dentro de si, de tê-lo ali em Shelter.
Depois de vagar em seus pensamentos, o mais alto tirou seus sapatos e sentou-se na cama ao lado da criança. Já com sua roupa de dormir – foi preparado para isso, deitou-se devagar de costas para Erick, mas ao lado dele. A cama de Erick não era uma qualquer, era uma de tamanho king size podia-se dizer, então tinha bastante espaço. Logo, sentiu suas costas encostar nas costas quentes do menor.
– T-Tio Noah... – Erick sussurrou, abrindo os olhos devagar, mas ainda de costas. – Você... – Foi fechando os olhos outra vez, pegando no sono. – Veio. – Sorriu delicado.
– Sim, eu vim. – Sussurrou friamente.
Naquele segundo sentiu Erick se afofar na cama, de forma que fizesse carinho nas costas do mafioso utilizando suas próprias. Noah sentiu de novo... Aquele sentimento, que sentiu da primeira vez. O que esse garoto tinha, para causar isso num dos mafiosos mais impiedosos do país? Podia passar um dia, uma semana, meses, anos... Noah não entendia. E cada vez foi ficando mais encucado com isso, pois queria entender. Além de Morgan e Lilith, ele foi a primeira pessoa que Noah sentiu uma vontade de... Ter perto.
– Oi, doooutor. – Ironizou Melissa, parada bem em frente a porta do médico.
– M-Melissa? – O mais alto suou frio. – Já é mais de meia noite, o que está fazendo aqui?
– Que grosseiro. Não vai nem me chamar para entrar? – Após a pergunta debochada, Ethan liberou passagem para que a outra entrasse. – Obrigada. – Sorriu.
– Ir-Irmão... – Gritou uma voz infantil feminina mais longe.
– Essa não é uma boa hora, Melissa. Eu estou cuidando da Julie.
– Ué, não seja por isso. Eu te ajudo. – Deu mais alguns passos para dentro da casa. – Ela está lá em cima, no quarto dela, não é? Vamos, de dois é sempre mais fácil. – Andou até a escada logo em frente e começou a subi-las.
– E-Ei, você não pode... – Parou de falar ao ver que era em vão. Melissa já estava no segundo andar e virando à direita, em direção ao quarto de Julie. – Droga!
Ora, Ethan não tinha outra saída a não ser aceitar aquela situação. Afinal, não era apenas ele e sua profissão que estavam em jogo. Sua irmã mais nova... Julie Morrison, de onze anos. Desde a morte de seus pais há alguns anos, em um acidente de carro, Ethan passou a cuidar dela em tempo integral. Não tinha outra opção. Eram a única família um do outro. Até porque, Julie era diferente. Pouco antes de seus pais morrerem, foi descoberto que a garota possui uma doença desconhecida, aonde, de acordo com os resultados médicos, fará com que a menina não sobreviva por muito tempo. Cinco anos, o máximo que deu nos últimos resultados feitos. Ethan tinha cinco anos para virar o mundo em busca de uma solução para o caso de sua irmã.
– V-Você... – Disse Julie com dificuldade, ao ver Melissa entrar em seu quarto. – É aquela amiga do maninho que vem as ve-vezes aqui. C-Cof! – Botou as mãos na frente de sua boca, para tossir. Sentindo seus pulmões doerem durante o ato.
– Boa noite, princesa. Sou eu mesma, Melissa, a amiga do maninho. – Deixou a bolsa em cima de uma mesinha mais próxima e andou até a menor.
Julie estava deitada, com a cabeça apoiada em alguns travesseiros fofos. Mas, seu estado, não era um dos melhores. Estava com uma sonda nasogástrica, para fins de alimentação, já que outros de seus órgãos não funcionam bem também e tinha bastante dificuldade para ingerir alimentos. Enquanto ao lado, um suporte para uma bolsa de sangue, a qual estava conectada pela veia do braço da menor. Afinal, um dos sintomas da tal doença misteriosa dela era que seu sangue funcionasse de maneira fraca, bem fraca. Então as transfusões de sangue fizeram-se necessárias para corrigir os distúrbios de coagulação e tentar, de alguma forma, melhorar a pouca imunidade que ela tinha.
– E-Ela veio nos fazer uma visita, Ju. – Disse Ethan ao entrar no quarto e se aproximar das duas.
– Seu irmão disse que estava cuidando de você, não é? – Com um sorriso gentil, perguntou. – Ah, deixa eu adivinhar... – Olhou para o suporte que tinha a tal bolsa de sangue e viu que a mesma estava em suas últimas gotas. – Trocar a bolsa, não é?
– Sim, mas Melissa, você n-... – Antes que terminasse de falar, a morena virou-se para ele e reparou que ele já trouxe consigo uma bolsa de sangue nova. Logo, pegou da mão dele. – Ei, espera, eu iria fazer isso agora!
– Deixa ela fazer, maninho. – Julie aumentou seu sorriso, contagiando-se pelo sorriso de Melissa. – Ela quer ajudar e eu gosto do jeito d-del... C-Cof! – Cessou as palavras, para tossir outras vezes. Sentindo novamente as dores no corpo.
– Julie! – Preocupado, ele correu até ela, parando em pé ao lado da menor, porém do lado oposto de Melissa. – Já falei para você não se esforçar tanto.
– Ele está certo, princesa. – Disse Melissa, começando a trocar a bolsa de sangue. – Eu não sei tanto quanto seu irmão, mas o básico ao menos eu sei.
– O-Obrigado... – Disse Ethan, ao ver que ela não demorou muito para efetuar a troca. Em seguida, abaixou e beijou a testa de sua irmã. – Agora durma, está bem? Já está tarde e eu preciso ter uma conversa com a nossa amiga ali. – Abriu um sorriso.
– Está bem, maninho. Obrigada, tia Melissa. – Olhou para a mulher e agradeceu.
– Por nada, meu bem. Durma bem. – Botou as mãos nos cabelos dela e fez um leve afago.
Julie era uma bela criança. Com suas madeixas acastanhadas, indo até abaixo de sua cintura, seus olhos azuis, iguais ao de seu irmão e a pele tão branca quanto a dele. Na verdade, era mais branca que Ethan, devido aos problemas de sangue que tem.
Após se despedirem, Ethan e Melissa foram para do quarto e o homem desligou a luz do cômodo, então Julie se afofou na cama para que pegasse no sono mais rápido. Do lado de fora, ele apenas apontou para a escada a frente, sinalizando que eram para descer. Afinal, não queriam fazer barulho bem ao lado do quarto de Julie.
– Eu já te falei para não vir aqui tão tarde, Melissa. – Disse Ethan depois de ter descido as escadas. – Se alguém te seguir, te ver? Não quero problemas pro meu lado.
– Não se preocupe, doutor. Eu sei andar por essas ruas a noite. – Falou sorrindo, parando ao lado dele. – Sem contar, que esse é o único horário que eu estou livre, sem aquele velho babão em cima de mim.
– Essa relação de vocês dois não faz senti...
– Não estou aqui para falar sobre isso, meu querido. – Interrompeu ele e andou até a sala de estar, com Ethan vindo logo atrás. – Do meu relacionamento cuido eu.
– Então fale logo o que você quer dessa vez. – Falou parando na entrada da sala, vendo Melissa sentando-se esparramada no sofá. – Eu já estou fazendo tudo que você me pediu. – Encostou com as costas na parede atrás de si e começou a pontuar alguns fatos, levantando seus dedos. – Passei a medicação errada para ele, estou superfaturando as consultas e ainda, na última consulta, dei a sentença de vez para ele, falando para ele ficar parado, invés de fazer uma fisioterapia. Sabe o que isso quer dizer?
– Que você é um homem inteligente, ué. – Ela disse com a maior naturalidade.
– Não, que estou botando todos os meus anos de carreira, tudo que eu estudei até hoje, em risco, pelas suas ameaças! – Gritou, levemente irritado.
– Na verdade, pelas minhas ameaças não. – Levantou o dedo indicador, negando com ele. – Está fazendo isso tudo – apontou para cima, na direção que fica o quarto de Julie. – por sua querida e doce irmã. – Abriu um sorriso sarcástico.
– Como você pode sorrir, falando essas coisas, usando uma CRIANÇA, ainda por cima doente, como arma de ameaça? Eu já lidei com todo tipo de gente, mas essa é a primeira vez que eu lido com alguém que tem um coração tão podre assim. Isso, se você tiver algum dentro do seu peito. – Disse com um ódio dentro de si, cerrando os olhos.
– Para quem está, praticamente, assinando a sentença de um homem negro e velho, que lutou taaanto – debochou – pelo bem dessa cidade, está exagerando um pouco, não acha? – Naquele instante, Ethan engoliu a seco. – Você até pode ser um anjo, igual todos dizem, doutor. Mas, até o mais puro anjo pode ser corrompido.
– EU NÃO-... – Aumentou ainda mais sua voz.
– Shhh! – Exclamou com o dedo em sua própria boca. – Não vai querer acordar a Julie, não é? – Brincou e retornou com aquele sorriso... Maquiavélico. – Tarde demais para voltar atrás. Tanto aquele velho, quanto a sua irmã estão com a corda no pescoço. Um deles vai morrer no final, e a decisão está em suas mãos. Mate um, para salvar o outro.
Aquilo fazia o sangue de Ethan ferver de raiva e ao mesmo tempo... De medo. Nunca fez mal a ninguém, nem mesmo a um inseto. Mas, nos últimos anos, o que ele tem feito com Sebastian Miller? Estava mesmo... O matando, lentamente? No que estaria se tornando? Seria de fato um assassino? "Mas se eu não fizer... A Julie..." era o pensamento recorrente em sua mente. Melissa foi muito clara quando tudo começou "faça o que eu mando e sua irmã sobrevive, caso contrário, ela morre, e caso aconteça comigo, ela morre da mesma forma" foi a ameaça da secretária de Sebastian.
Basicamente, mesmo que quisesse voar no pescoço de Melissa... Não poderia fazer isso. Já percebeu que ela era uma mulher perigosa. Caso tentasse algo com ela, sua irmã... Pagaria por isso. Conseguia imaginar o tanto de aliados que Melissa conseguiu para ficar vigiando Julie vinte e quatro horas por dia. Tinha conhecimento destes aliados pois todo dia que sai e volta do trabalho vê carros e pessoas rondando sua casa. "Estão sempre de olho, em mim e nela" concluiu enquanto fitou Melissa na sua frente.
– Está com você, doutor. – Abriu os braços e riu baixo. – Faça a sua escolha.
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