Primeiro Capítulo. (parte 2)
(Alerta: Pode conter cenas de violência explícita nesta postagem. Será marcada com um (*) no início e final da cena.)
— Ow merda, hein... — Bufou, fechando os olhos por uns segundos. — Por que gente velha sempre chega na hora marcada? Não conhecem a regra dos quinze minutos? — Tirou as pernas de sua mesa e se levantou, indo até a parede aonde lançou os dardos, para pegá-los do chão. —Pode mandá-los entrar, boneca. — Abriu um sorriso malicioso em seu rosto. — Não se esqueça do sorrisão, hein? Esses velhos ficam loucos só de verem garotas lindas que nem você sorrindo para eles, e você sabe, não é? Quero eles bem animados aqui.
Terminou de pegar os dardos do chão e se levantou, colhendo os que havia atirado na parede. Rachel apenas concordou com a cabeça e esboçou um enorme sorriso contagiante entre seus lábios, saindo da sala. Antes de sair, Morgan conseguiu dar uma breve olhada naquele sorriso e logo em seguida desceu o olhar para os seios avantajados da mulher.
— Porra, que homem também não ficaria feliz vendo uma coisa dessas? — Sussurrou o líder, mordiscando o lábio inferior enquanto voltou para sua mesa.
— Venham, por favor. — Disse a bela secretária, abrindo a porta da sala de Morgan, para que os cinco senhores vestidos de forma elegante entrassem na sala. — Fiquem a v-... — Assim que Rachel olhou na direção de Morgan – que estava prestes a se virar de lado para sentar-se em sua mesa, arregalou um pouco os olhos, ficando com as maças do rosto coradas.
— Mas o que é isso? — Indagou bravo um dos cinco senhores, olhando para Morgan.
— Hm? — Sem entender, o de madeixas pretas conseguiu entender para onde estavam olhando, não demorando para perceber que era para o meio de suas pernas. Logo, ao abaixar a cabeça, soltou uma risada e esboçou um sorriso pervertido. De fato, havia ficado excitado.
— É assim que você nos recebe, Morgan Rodriguez? — Mais bravo do que o anterior, perguntou o segundo senhor.
— Ah, deixem de ser maricas. Nunca ficaram de pau duro na vida de vocês? — Perguntou Morgan, ainda rindo baixo enquanto se soltou em fim. Após uns segundos de silêncio, o líder olhou para aqueles cinco homens, já com a idade avançada. — É, já deve fazer algum tempo mesmo. Enfim, vocês não vieram até aqui para falarmos do meu pau, certo? Então, por favor, sentem-se. — Deu uma última risada debochada, colocando as mãos atrás do pescoço.
— Os s-senhores aceitam alguma bebida? — Questionou Rachel, para tentar amenizar o clima. — Café, água, chá, ou-...
— Traga-nos o da casa, boneca. — Morgan a interrompeu, a secretária assentiu no mesmo instante e se retirou da sala. Não demorou mais que alguns segundos para que aqueles cinco homens se sentassem nas poltronas em frente ao líder. — Primeiramente, agradeço por virem. É uma honra para mim ter em minha sala representantes de famílias tão importantes de Nova York. — Olhou devagar para cada um dos cinco. — Família Genovese, Bonanno, Gambino, Lucchese e Colombo. Vamos então ao que realmente nos interessa? — Jogou as mãos na mesa, rindo de forma bastante sádica, enquanto foi observando cada um deles e suas expressões.
— Com licença. — Disse o capanga abrindo devagar a porta do quarto de Noah, após dar três batidas. — Senhor Noah, está na hora.
— Ok. — Sem dizer muita coisa, o homem de madeixas pretas apenas se levantou de sua cama e pegou sua boina de cima da cadeira ao lado da cama. — E já lhe disse para parar de me chamar de "senhor", Phillipe. Meu nome é Noah, só... Noah. — Disse seco e desprovido de qualquer emoção facial. Botou a boina sobre a cabeça e passou pelo seu capanga, indo para fora do quarto.
— Noah, espere! — Gritou Lilith, correndo em sua direção. Noah apenas suspirou e fechou os olhos por uns segundos. — Você não vai fazer o que ele mandou, vai?
— E por quê eu não faria? — Perguntou de volta, olhando para sua meia irmã ao seu lado.
— Porque você não precisa! — Deu uma pausa, recuperando o fôlego depois de tanto correr. — Veja, você já mora aqui, sempre morou, e sabe disso. Ainda mais que, depois desse tempo todo que você ficou sem sair-...
— Eu não passei no teste, Lilith. Mas desta vez eu vou passar. — Ajeitou a boina em cima sua cabeça, interrompendo a loira sem o menor pudor. — Vamos, Phillipe. — No mesmo instante virou-se de costas para a meia irmã e seguiu caminhando por aquele corredor, com o capanga mais alto ao seu lado, para juntos irem até sua missão.
— Merda! — Bufou, apertando os punhos. — Até quando ele vai fazer tudo que o meu pai quer? Ainda mais depois do que ele foi capaz de fazer consigo... — Olhou o chão por uns segundos, enquanto seus olhos iam se enchendo d'água. — Ele não teve o mínimo de pudor, seus olhos eram de maldade. Para com o Noah, que sempre o chamou de filho. Ainda sim... Foi capaz de... — Eu lembro perfeitamente... Como se fosse ontem...
Cinco anos atrás...
(*)— Olha só, finalmente ele veio! — Exclamou Morgan, feliz em ver seu "filho" caminhando em sua direção. — E o mais importante, respeitou a regra dos quinze minutos. Venha, meu filho. Morgan abriu os braços, esperando enfim Noah chegar até ele.
Era uma noite fria e já era tarde, mas Morgan resolveu chamar todos os moradores de Shelter para aquele pequeno evento. Estavam na entrada da vila, mas foram abrindo caminho para Noah passar, enquanto Morgan permanecia parado um tanto mais longe, atrás de uma fogueira. Alguns não faziam ideia do que estava acontecendo e/ou o motivo do líder ter feito aquilo tudo, outros, poucos, sabiam perfeitamente o que iria acontecer e por isso se debulhavam em lágrimas. Lilith, meia irmã de Noah e filha de Morgan, era uma delas. Ficou ao lado de seu pai, negando com a cabeça para aquele que vinha lá, para que ele não fizesse aquilo.
Mas, Noah, como sempre, seguiu firme. Não demonstrou uma emoção sequer, foi andando reto como se nada estivesse acontecendo, permaneceu centrado, frio e bastante determinado a seguir em frente. Afinal, se estava ali foi porque mereceu. Tinha a consciência disso.
— Pai, por favor, não faça isso! — Vendo que Noah estava há poucos passos de Morgan, Lilith correu até seu pai e o pegou pela blusa, em prantos. — Por favor, por favor!
— Minha querida Lilith — abriu um pequeno sorriso e olhou para o lado, fazendo contato visual com a menor — se você quer tanto o bem dele, aconselho que volte para o seu lugar, pois acredite, seu pai sempre pode se superar e você também sabe disso. — Sussurrou para que apenas a menor ouvisse. De imediato, Lilith recusou, obedecendo ao seu pai.
— Estou aqui. — Disse friamente o mais novo, em frente a Morgan.
— Eu não esperava menos de você. — Riu baixo. — Agora, o segundo passo, meu filho — apontou para a blusa branca que ele estava vestindo. Noah sabia o que tinha que ser feito, então prontamente retirou sua blusa, apesar do frio – que era o menor de seus problemas. Após, Morgan sinalizou com a mão para que ele se virasse de costas, e assim o fez. — Eu peço perdão a todos por terem chamado vocês até aqui a hora essa, e nesse frio de merda. — Brincou. — Mas, eu precisava fazer isso. Não por mim, mas por todos vocês. — Andou até Noah, pondo uma mão em seu ombro, forçando-o para que ele se ajoelhasse.
— Noah... — Sussurrou Lilith, vendo aquilo de perto, não parando de chorar.
— Somos todos iguais aqui em Shelter. — Deu uma pausa, olhando atentamente para seu povo a sua volta. — Uma regra é a mesma para todos. Foi assim que eu construí esse lugar e foi assim que nós, todos juntos, o deixamos cada vez maior. E vocês sabem por quê? — Deu outra pausa, mas logo continuou. — Porque temos REGRAS! E regras tem que ser cumpridas. E quando isso não ocorre — com a mão livre, a estendeu para o lado, não demorou para que um de seus capangas deixasse um chicote em sua mão. — o cidadão, ou cidadã, há de pagar pelo feito. Não há regras sem punições, meu povo. E nesta noite, para mostrar a todos, que somos todos iguais, resolvi mostrar a vocês o meu filho — Olhou para Noah ajoelhado na sua frente de costas. — Ele descumpriu uma uma das regras mais importantes de Shelter, talvez a mais importante de todas. — Fez um silêncio para que pudessem refletir. — Não baterás de frente com o chefe. E quem é o chefe? — Perguntou alto e em bom tom. — Eu não estou escutando!
— Você, chefe! — Todos os moradores gritaram em uníssono.
— Quem? — Perguntou mais alto.
— VOCÊ, CHEFE! — Repetiram ainda mais alto.
— Eu adoro isso. — Riu baixo, voltando para a situação atual. — Exatamente, o chefe sou eu. E jamais, eu disse, jamais — deu uns passos para trás, se distanciando de Noah — alguém deve bater de frente comigo! — Gritou furioso, batendo com o chicote fortemente nas costas de Noah. Morgan não iria parar apenas com isso, então continuou batendo nas costas do menor repetidas vezes. Entretanto, Noah sempre foi resistente, não soltou um grito ou gemido de dor, permaneceu aguentando aquilo trincando os dentes e apoiando as mãos no chão, olhando sempre em frente, para o horizonte. — Eu —bateu mais uma vez — sou — e bateu de novo — a porra — outra vez — do chefe! — Bateu com mais raiva do que as outras vezes. O suficiente para que Noah cuspisse uma quantidade de sangue no chão a sua frente.
— N-NOAH! — Gritou Lilith, apavorada com aquela situação. O garoto apenas levantou sua cabeça e olhou para sua meia irmã, e sendo uma das raras vezes, abriu um pequeno sorriso de canto de boca enquanto sussurrou lentamente umas palavras para si.(*)
Atualmente...
— S-Seu idiota! — Lilith bateu com o pé no chão, com os olhos fechados, chorando cada vez mais. — Como que eu poderia ser forte e não chorar numa situação como aquela? — Enxugou os olhos com as partes de trás das mãos. — Idiota, idiota, idiota...
12:30pm.
Dentre todos que estavam felizes com a nova lei seca, o prefeito da cidade de Sheerground, Arnold Gonzales, era que exalava mais felicidade. Ora, ocupando o cargo de prefeito todas as responsabilidades sempre caem no seu ombro. E não podia negar que realmente os habitantes da cidade enfrentavam alguns problemas com relação a bebida. Homens embriagados arrumando confusões em bares e nas ruas, além das reclamações de vizinhos ao ouvirem brigas familiares – sendo na maioria dos casos, iniciada com o marido/companheiro alcoolizado. Então, uma vez que o consumo de bebida alcóolica se tornou proibido era menos um fardo nos ombros do prefeito.
Em contra partida, sua filha única, Eva Gonzales, sempre pensou diferente de seu pai. Nunca concordou com a forma autoritária e arrogante que ele liderava aquela cidade. Ele não via os cidadãos como pessoas, mas sim como dinheiro, que se não pagassem os impostos ia afetar os bolsos dele. E para Eva, essa era a pior forma de se liderar um povo. Entretanto, por ainda ter dezessete anos seu pai nunca lhe levou tão a sério no que diz a respeito de opiniões políticas. "Você é só uma criança", ele dizia.
Criança ou não, Eva sempre teve uma cabeça muito bem formada. Agora, com essa lei seca, de início já imaginou que não daria certo. Pois acredita que não é porque se tornou proibido que as pessoas deixarão de fazer, muito pelo contrário. Ela sabia o quão instigante pode ser algo considerado incorreto para o restante da sociedade.
— Por quê eu não estou nada surpresa? — Comentou Eva, se aproximando da mesa para almoçar com sua família; seu pai e sua madrasta, Mary.
— Bom dia para você também, Eva. — Disse levemente irritado o prefeito, já sentado em sua mesa, bebericando um pouco daquele whisky em seu copo. — Essa não foi a educação que eu te dei por todos esses anos.
— Nisso devo concordar. — Olhou com repulso o pai já quebrando a lei nova. — Felizmente, não foi mesmo. — Com Arnold sentado na cadeira da ponta, Mary permaneceu sentada de um lado e Eva sentou-se do lado oposto. — Bom dia, Mary. — Abriu um pequeno sorriso, que foi retribuído pela outra.
— Bom dia, meu bem. Suco de maça, acabaram de fazer, aceita? — Perguntou, levando as mãos até a jarra de suco bem na sua frente. — Está uma delícia.
— Ela sabe se servir, Mary. Não é mais uma garotinha, como ela mesma sempre fala para mim. — Bufou o mais velho.
— Deixe-o para lá. — A madrasta tentou rir para descontrair.
— Ele falou algo? Eu nem ouvi. — Riu de volta, levantando seu copo. — Eu aceito sim, obrigada, Mary.
— Então temos um acordo, senhores? — Perguntou Morgan com os braços abertos. — Dividido deste jeito, não fica ruim para ninguém, correto? — Eles concordaram com a cabeça. — Amanhã então, às oito horas da manhã, no cais. Vocês mandam a parte de vocês e os recompenso generosamente, como sabem. — Brincou debochado.
— Como teremos certeza de que não é uma armadilha?
— Que armadilha, vovô. Se eu quisesse matar vocês já o teria feito bem antes. Não só vocês, mas como esses pirralhos que trouxeram com vocês. — Ao falar isso, reparou que alguns deles arregalaram os olhos, surpresos. — Vocês realmente acham que sabem se esconder? — Notou um silêncio deles e riu, prosseguindo. — Alguém de confiança vai estar lá para receber.
— Quem? — Perguntou um dos cinco, curioso.
— S-Senhor Noah, ele está em reunião, por favor espere... — Disse Rachel do lado de fora, tentando acalmar o mais alto. Porém, sem sucesso. Noah abriu bruscamente a porta de sala de Morgan. — D-Desculpe, senhor Morg-...
— Shhh! – Ele interrompeu a secretária, que permaneceu assustada. — Falando no diabo, ora quem temos aqui. — Morgan cruzou os braços, contente por vê-lo ali.
Os outros cinco apenas observaram aquela entrada grotesca do mais novo, sem entender nada. Ainda mais a julgarem pela sua aparência, estava horrível. Com a roupa toda rasgada, o cabelo bagunçado e com o corpo cheio de sangue, principalmente no rosto e nas mãos. Em seu rosto? O de sempre, não havia nada. Como ele mesmo sempre diz, havia apenas o Noah ali. Um Noah determinado que não iria passar por aquela situação novamente. Definitivamente, não iria.
Sem demorar muito, Noah se retirou da sala por uns instantes mas logo retornou para tal, segurando três lanças ensanguentadas. No mesmo instante as fincou no chão da sala, deixando com que todo aquele sangue escorresse pelo tapete branco de Morgan – que ficou tão feliz com aquela cena que pouco se importou de sujar seu tapete caríssimo. O chefe olhou para aquelas três lanças de baixo para cima, ao chegar na parte de cima viu o que estava esperando.
Haviam três cabeças cobertas de sangue fincadas na ponta de cada lança ensanguentada. De um homem, uma mulher e de uma criança. Os cinco homens mais velhos e Rachel permaneceram levemente assustados com aquela situação, mas a troca de olhar entre Noah e Morgan era o ápice daquele momento. A forma orgulhosa como o mais velho olhou para o mais novo, com um sorriso de orelha a orelha. Enfim, levantou-se de sua cadeira com os braços abertas.
— Bem vindo de volta, meu filho. — Começou a bater palma sem um porquê específico. — Desta vez, você passou no teste, Noah. — Bateu palma mais alto. — Estão surdos? — Olhou para as pessoas restante da sala, dando a entender para baterem palmas também; o que não demorou para acontecer, mesmo que não estivessem entendendo nada. — Este é o meu garoto.
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