Décimo Capítulo.
[CAPÍTULO DEZ]
1920.
Primavera. [10/13]
09:30am. Sábado.
Chegou enfim o final de semana, para a alegria de muitos em Sheerground. Poder se preocupar mais com o lar, em ficar com a família, descansar, dentre outras coisas. Mas ainda tinha aqueles que não conseguiam se ver livres do trabalho mesmo em um sábado. Seja pela razão de não folgar aos sábados, ou pelo motivo de ter tantos problemas para resolver em relação a trabalho. Em todo caso, Evan era um desses exemplos. Depois do ocorrido da noite anterior, havia muita coisa para digerir. O ataque contra o The Queen, o encontro com Luna que foi arruinado e claro, o depoimento de Beatrice para fugir da delegacia.
O famoso bilhete dourado premiado.
Evan não conseguiu sequer pegar no sono naquela noite, que viu o sol nascer. Afinal, como ficaria tranquilo para dormir, com todas aquelas coisas na cabeça? De acordo com Beatrice, o assassino da família Smith, de fato, não foi Alice Edwards mas sim Noah, o mafioso que Evan teve o prazer de já conhecer. Ainda no depoimento da Florence, alegou que Alice assumiu a culpa para proteger Noah, devido a uma história dela com Morgan, líder de Shelter. O policial não era nenhum ingênuo, sabia dos crimes que ainda rodeavam aquela cidade, era exatamente por isso que sempre deu o seu máximo, para tentar limpar Sheerground de tudo aquilo. Porém, não conseguia entender a relação de Alice com Morgan Rodriguez, chefe de uma das máfias mais poderosas no país. Sabia bem do histórico de Morgan, mas em todos os seus registros na delegacia o nome de Alice sequer fora mencionado.
Na pior das hipóteses, caso Beatrice estivesse mentindo, por quê inventaria algo do tipo? No caso, o que iria ganhar com tudo aquilo? No fim, são muitas perguntas e até agora nenhuma delas foi respondida. O que deixava Evan completamente angustiado, ainda mais sabendo que só poderia voltar ao trabalho na segunda feira, devido a suspensão que levou de Sebastian. Falando no mesmo, sabia que não poderia falar sobre nada disso com ele, não só pelo pedido de Nathan, mas por saber que seu chefe ainda se encontra ressentido devido ao último desentendimento. Dessa forma, apenas Evan e Nathan estavam a par de toda aquela história. E Luna, que foi jogada naquele meio sem sequer saber o que estava acontecendo. Outra coisa que tirava o sossego de Evan, pois não queria que nada disso respingasse nela.
Completamente perdido em seus próprios pensamentos, que Evan sequer percebeu alguém batendo na porta de sua casa. Foi necessário que a visita batesse mais fortemente na porta, para enfim chamar a atenção do policial. O mesmo ao ouvir aqueles sons, se levantou prontamente e andou em passos rápidos até a porta, pois a julgar pelas batidas a pessoa do outro lado estava bem nervosa com alguma coisa. No momento em que abriu a porta, arregalou um pouco os olhos, surpreso em ver o detetive em sua casa logo cedo.
– Nathan? O que faz aqui, já tão cedo? – Perguntou, coçando os olhos, abrindo um bocejo.
– Nossa, que cara é essa? – Franziu as sobrancelhas, reparando na cara de cansaço do outro. – Você sequer conseguiu dormir, não é? – Evan apenas concordou com a cabeça. – Não te julgo, eu também não. Porém, trago novidades.
– O que houve?
– Lembra daquele meu amigo, que estava me ajudando nesse caso, de ter algum traidor dentro da delegacia? – Após perguntar, Evan assentiu com a cabeça. – Então, ele me ligou ainda agora e falou que os resultados das impressões digitais estão prontos. – Abriu um grande sorriso. – Mas, ele não quis falar nada sobre o telefone, com medo de ter algum grampo. Então, marquei hoje a noite, na minha casa e ele vai me trazer toda a papelada com os resultados. – Disse empolgado.
– Isso quer dizer que...?
– Sim, Evan. Eu estava certo. Há um traidor entre nós. Talvez, ao descobrirmos quem seja, o depoimento da senhorita Florence, de ontem, comece a fazer mais sentido. Você não acha?
– Eu espero que sim, Nathan. Porque essa história toda está uma verdadeira bagunça. Você quer que eu vá na sua casa hoje a noite, para ver os resultados com você?
– Eu prefiro que não, Evan. Pois, eu contei para esse meu amigo que não tinha ninguém comigo nessa história. Se ele descobrir que envolvi outra pessoa, que também é da delegacia, já vai ficar começar a levantar inúmeras pessoas. Eu espero que consiga entender. Mas, logo depois que eu ver os resultados, telefono para você no mesmo instante. Afinal, você me ajudou muito.
– Eu compreendo, e não precisa me agradecer. Somos amigos e amigos se ajudam. Com um sorriso no rosto e um pouco emocionado, Nathan estendeu a mão para Evan, que estendeu a sua de volta, dando um forte aperto de mão. Mas naquele mesmo instante, um arrepio diferente passou pelo corpo do policial. Um sentimento... Ruim, uma forte dor no peito. No mesmo instante, mudou completamente sua feição, assustando um pouco o colega. – Isso... – Sussurrou para si mesmo.
– Evan? Que cara é essa? Algum problema? – Soltou da mão dele, preocupado.
– Eu não sei. Senti um... Aperto no peito. – Botou a mão sobre seu peito, massageando-o de leve. – Que sensação estranha.
– Deve ser fome. Vá comer alguma coisa, nos falamos a noite, tudo bem?
Evan concordou e Nathan sorriu, indo embora dali. Entretanto, mesmo não sabendo que sensação e sentimento eram aqueles, Evan sabia que não era fome. Definitivamente, não era.
Diferente de Evan e Nathan, em outra parte da cidade havia outra pessoa muito feliz, mesmo tão cedo. Após ter uma deliciosa noite de sono, Beatrice Florence já estava acordada, arrumando seus cabelos pretos de frente para o espelho. Julgando pelo rosto da mulher, só comprovou que de fato dormiu muito bem naquela noite. Permaneceu tão tranquila que nem se importou em trocar sua camisola de dormir. Só queria continuar relaxando e se apreciando perante aquele grande espelho.
Afinal, foi por pouco que ela escapou da situação de ontem. Não que fosse a primeira vez que quase foi pega, na verdade, Beatrice gostava dessa adrenalina. De sair de uma situação ruim para ela, no último segundo. É como se isso motivasse o sangue a correr mais rápido por suas veias, se sentindo cada vez mais viva. Entretanto, não era boba, sabia muito bem que toda ação tem sua consequência. Teve que entregar Noah, nas mãos dos policiais, confessando a ligação de Morgan com Noah e Alice. Enquanto alguns gostaram muito dessas notícias, outros... Nem tanto.
– Senhorita Florence? – Indagou Demi, vendo a porta do quarto da patroa entreaberta. – Já está acordada? – Abriu devagar a porta, vendo a outra sentada de frente para o espelho, arrumando os cabelos.
– Não. Estou dormindo sentada, enquanto penteio os cabelos. – Riu. – Que pergunta idiota, minha filha. – Largou o pente sobre a pequena escrivaninha na sua parte e se virou para a outra garota. – E que cara é essa? Parece que viu uma assombração. – Perguntou debochada, ao ver a expressão no rosto de Demetria.
– O senh-... – Antes que terminasse de falar, foi empurrada para trás por outro homem bem mais velho, que logo se colocou na frente da garota.
– Você está maluca, Beatrice? – Indagou Charles, bastante irritado, invadindo o quatro de Beatrice. – Você tem noção do que fez?
– Parece que o velhote acordou virado no samurai hoje, hein? – Debochou e olhou para Demetria, parada na porta. – Está tudo bem, pode ir. Já vá acordando as outras meninas, porque vamos abrir mais cedo. Algo me diz que teremos bastante movimento hoje. – Ao ouvir a ordem, Demi fechou a porta e deixou os dois sozinhos.
– Isso é sério, Beatrice! Você entregando a relação da Alice com o Morgan, coloca o nosso na reta também. Ou você é burra e não percebe isso? Estamos todos no mesmo barco, se um cair, cai todos!
– Você deve achar que eu sou uma idiota não é, seu velho? – Levantou-se, com um sorriso irônico no rosto. – "Todos no mesmo barco", não é? E da última vez que me pegaram, que eu fiquei mais de 10 anos presa, aturando aquelas mulheres pretas dividindo a cela comigo. Elas fedem, você sabia?
– Nós já conversamos sobre iss-...
– Conversamos o caralho! – Furiosa, passou a mão sobre sua mesinha ao lado e jogou tudo no chão. – Porque não foi você que teve que aturar aquela pretaiada por mais de dez anos. E ontem, eu quase voltei para lá, por SUA causa.
– Minha causa?
– Você disse que iria me enviar seus "melhores homens". Os mesmos que foram derrotados por um policial pirralho e uma prostituta. Você queria me foder!
– Eu acho que você está se esquecendo com quem está falando, Beatrice. – Charles fechou os olhos, respirando fundo, tentando se manter calmo.
– Não, é você quem está se esquecendo de quem eu sou, porra! – Bateu com as mãos na mesa ao seu lado. – Eu não vou ser a primeira que vai cair se o barco afundar. Eu não vou, você me ouviu? EU NÃO VOU! Não outra vez! – Percebendo o silêncio do mais velho, continuou a gritar. – Suma daqui! VAI EMBORA! – Pegou uma das sandálias de seus pés e ameaçou jogar contra o outro homem.
– Nós conversaremos outra vez quando você estiver mais calma.
Sem dizer mais nada, Charles apenas abriu a porta do quarto e saiu dali, deixando a Florence sozinha. Após uns segundos, apenas observando a porta em sua frente, Beatrice soltou um alto grito e jogou a sandália sobre o espelho ao seu lado, quebrando-o em inúmeros pequenos pedaços. Agarrou-se em seus próprios cabelos e sentou outra vez em sua cama, fitando o chão. Lembrando dos dias horríveis que teve naqueles dez anos em que esteve presa. Não conseguia esquecer. E faria de tudo para não voltar para atrás das grades, mesmo que isso significasse trair um aliado. Antes o outro, do que ela outra vez. Não via como egoísmo, mas sim como sobrevivência.
Decidida em ir atrás de respostas, Lilith não se deu por vencida. Desde que viu aquela pulseira no pulso de Evan, que é igual ao de Noah, no mesmo instante percebeu que tinha algo de errado. Suas teorias só ficaram ainda mais comprovadas após a conversa que teve com seu pai, no dia anterior. Conhecia Morgan muito bem, mesmo que quisesse disfarçar, conseguia saber quando ele era pego de surpresa por alguma informação ou situação. Nem mesmo o chefe de Shelter tinha conhecimento da situação traga por sua filha. Algo definitivamente não estava correto. Mas ao mesmo tempo, Lilith sabia que não podia contar com ninguém para lhe ajudar.
Ora Noah, que achava besteira e desperdício de tempo, Alice se recusou a contar o que sabe e Morgan estava tão surpreso quanto a própria. E não é como se fosse íntima do policial Evan para chegar e fazer perguntas mais íntimas. Chegou um momento em que podia contar apenas consigo mesma. Ninguém mais, ninguém menos.
– Deve ter alguma coisa por aqui... – Sussurrou para si mesma ao entrar no quarto de seu pai. Sabia bem que aquilo era uma das coisas que seu pai não gostava que fizesse, mas não era momento de se preocupar com isso. Tinha que achar alguma pista.
Prontamente empurrou a porta para trás, querendo fechá-la. Mas a deixou apenas entreaberta. Ligou a luz daquele quarto e começou a procurar por todo canto, em busca de alguma resposta. Foi até o armário de seu pai, abriu todas as gavetas possíveis, algo deveria ter ali. Entretanto, quanto mais procurava mais se frustrava, pois não encontrava uma pista sequer. E não é como se Lilith fosse a pessoa mais calma do mundo, ainda mais em momentos tensos assim. Seu pai poderia chegar a qualquer momento, e ninguém sabe qual seria a reação dele ao vê-la mexendo e revirando suas coisas. Mas, puxou ao pai, era tão corajosa quanto ele.
Depois de procurar por alguns minutos, chegou a uma conclusão de que não ia adiantar continuar procurando pensando nela mesma. No caso, deveria procurar pensando como o próprio Morgan, nos lugares que ele pensaria em esconder algumas coisas. Pois em todos os lugares em que Lilith considerou bom para se guardar algo, não tinha nada. Então, mudou de plano. Chegou a hora de pensar como seu pai.
De início, não funcionou como esperado. Pensou nos lugares mais inusitados, porém de nada adiantou. Quer dizer, até aquele momento em que algo chamou a sua atenção. Ela olhou na direção da cama de seu pai e ao lado tinha um pequeno baú. Aonde Morgan sempre gostou de colecionar acessórios... Femininos, das mulheres que foi se relacionando. Obviamente, Lilith sempre passou longe daquele objeto. Por achar aquilo extremamente nojento e repugnante. Porém, dessa vez...
– Não, ele não fez isso... – Disse baixo para si mesma e negou com a cabeça. Se negando a acreditar, mas logo caminhou até aquele pequeno baú e o abriu. Como já esperava, havia roupas íntimas femininas, além de bijuterias, tais como anéis, colares, brincos. Ainda achando aquilo nojento, Lilith botou as duas mãos dentro, vendo se achava alguma coisa. Mas nada. Então, já irritada, mesmo sendo um pouco pesado, conseguiu virar aquele baú para o chão, deixando tudo que tinha dentro dele agora no chão. Em seguida, o botou de volta no lugar, olhando dentro dele, agora já vazio.
O curioso foi que apenas um brinco sobrou ali dentro, mas reparando com atenção, a garota reparou que, mesmo sem mexer naquele baú, o brinco foi escorregando até o meio, sendo que de início estava bem no cantinho. Sem entender, ela pegou aquele mesmo brinco e botou no lugar que antes estava. E o mesmo aconteceu. Sem sequer mexer no baú, o brinco descia sozinho até o meio. Não restou dúvidas. Um fundo falso.
– Por que ele colocaria um fundo falso logo aqui? – Perguntou enquanto foi tentando retirar aquele fundo falso de dentro do baú. E ao conseguir, abriu um sorriso. Haviam algumas pastas ali dentro. Não perdeu tempo e retirou todas dali e as botou na sua frente. – Deve ter alguma coisa aqui. – Não perdeu tempo e começou a abrir cada um daqueles envelopes pardos, em busca de alguma resposta.
Eram tantos documentos, dos mais variados. Desde a legalização da terra aonde Shelter foi fundada, até documentos pessoais de Morgan. Mas, entre eles, encontrou uma foto de um bebê, reconheceu quem era de imediato. Era Noah naquela foto. Não tinha dúvidas quanto a isso. Rapidamente pegou aquela imagem e aproximou de seu rosto, reparando que tinha algo escrito ali. E tinha razão, estava escrito no canto inferior esquerdo da foto "Noah Rodriguez, 1920". Por Lilith ser quatro anos mais velha que ele, conseguia lembrar vagamente de como ele chegou, ainda bebê. Por fim, ela virou a foto, para ver se tinha algo mais escrito. E cerrou os olhos para ler aquelas letras miúdas atrás da foto. Conforme foi conseguindo ler...
– "Bellevue Hospital, Manhattan, New York, 1920". – Murmurou. Naquele mesmo instante um sorriso se fez entre seus lábios. Já sabia o que iria fazer.
– Pediu para me chamar? – Indagou Noah, entrando na sala de Morgan. – Rachel me disse que queria conversar algo comigo. – Ainda bem indiferente com a situação, se aproximou até a mesa do chefe, sentando-se na cadeira de frente para ele.
– Na verdade, meu filho, tem alguns assuntos sim que eu quero conversar com você. – Ao falar aquilo Noah permaneceu em silêncio, esperando que o outro continuasse a falar. – Primeiro, eu não sei se você já sabe, mas, aquela puta da Beatrice Florence deu com a língua nos dentes. Você deve se lembrar dela, era uma amiga bem próxima da Alice. – Noah concordou com a cabeça. – Então, pelo que chegou até mim, ela tentou atacar o The Queen mas conseguiram lhe pegar. Uma das garotas que trabalha lá e um outro policial. Evan, o nome dele. Você chegou a conhecê-lo, não?
– Me recordo vagamente deste nome. E qual foi o desfecho?
– O desfecho foi que aquela vagabunda para se livrar da polícia entregou você e a minha relação com a Alice. Eles já sabem que foi você quem matou aquele casal da família Smith e que a Alice protegeu você, pela ligação que tem comigo.
– Isso quer dizer que...
– Sim, meu filho, você vai ter que se esconder por um tempo, até essa poeira abaixar. Já devem estar atrás de você, é questão de tempo até virem lhe procurar aqui. Eu pensei em alguns lugares que você pode ficar até-....
– Não se preocupe comigo, Morgan. Eu já sei aonde irei ficar.
– Ótimo. – Abriu um sorriso, mais tranquilo, vendo que ele não ficou nervoso nem aflito com aquela situação. Não que esperasse outra postura de Noah. – Mas, antes que você vá, sobre o outro assunto que eu quero conversar com você. A Lilith, por acaso, comentou com você alguma história bizarra sobre você e-....
– Sim. Ela disse que viu uma pulseira igual a minha no pulso de outro policial. Inclusive, acabamos de falar dele. O policial Evan. – Os olhos de Morgan se arregalaram um pouco. – Mas eu disse a ela que isso não tem nada a ver. São pulseiras, fabricadas em lotes. É normal que mais de uma pessoa tenha o mesmo modelo. Eu pensei que ela tivesse tirado essa história da cabeça, mas pelo visto não.
– Senhor Rodriguez! – Rachel entrou rapidamente na sala do outro. – Algumas viaturas da polícia já entraram em Shelter, estão a caminho daqui.
– Merda, foram mais rápidos do que eu pensava. – Morgan trincou os dentes. – Não se preocupe, filho. Eu falarei mais tarde com a sua irmã, ela está com muito tempo livre daí fica pensando nessas histórias malucas. Agora, você tem que ir. Mantenha contato comigo, viu? Ao menos para eu saber que você está bem.
Noah concordou com a cabeça e se levantou, indo em direção a saída daquela sala, do mesmo jeito que entrou, desprovido de qualquer emoção em seu rosto. Enfim, Morgan retornou a ficar sozinho naquela sala. Não conseguindo pensar em outra coisa a não ser aquela história das pulseiras. Noah estava enganado, essa pulseira não foi fabricada em lotes. Existem apenas duas da mesma. Tinha certeza disso, pois conhecia bem a pessoa que as fez. Sua antiga paixão não correspondida, Lauren Miller.
Ela criou tais pulseiras no momento em que descobriu estar grávida de gêmeos, sendo uma pulseira para cada um. Mas, lembra perfeitamente daquele dia... E do que Alice lhe contou. Era impossível existir outra pessoa com aquela pulseira. Ele viu... Com os próprios olhos. Lembra perfeitamente, como se fosse ontem.
O irmão de Noah... Estava morto.
Vinte anos atrás...
Parecia que o mundo ia desabar perante aquela tempestade. Como esperado do inverno em Sheerground, as chuvas eram fortes, acompanhadas de fortes trovões e muita ventania. Já era tarde da noite, mas Alice não conseguia se acalmar. Tinha que achar Cristal e os dois bebês. Cristal era apenas uma criança, não pode ter ido tão longe carregando dois bebês nos braços. Desesperada, só pôde contar com ajuda de alguém que ela sabia que queria ver os bebês seguros tão quanto ela mesma.
Morgan Rodriguez. Mesmo com a paixão não correspondida por Lauren, sempre priorizou em vê-la bem. Mesmo que não fosse ao seu lado. Quando descobriu que ela estava grávida de Sebastian, claro que ficou com um ódio tremendo. Mas, sabia que o maior sonho dela era ser mãe de menino. Então, tentou ajudar durante a gravidez como pôde. Afinal, apesar de tudo, tinha uma grande amizade com Lauren.
Então, quando Alice o chamou, dizendo que Cristal havia desaparecido com os bebês, iria fazer de tudo para encontrá-los. Mesmo que tivesse que revirar a cidade inteira.
– Achou alguma coisa? – Perguntou Morgan, correndo em direção de Alice, que não parava de chorar por um segundo, completamente desesperada. – Para de chorar, isso não vai adiantar em nada. Precisamos achá-los, e logo! Com essa chuva, é capaz dos bebês não aguentarem, sem os cuidados certos.
– A culpa é minha... – Em pânico, Alice se ajoelhou no chão, tampando o rosto com as mãos. – Se eu tivesse ficado de olho na Cristal... Me desculpe, Lauren, me desculpe...
– Mulher, me escuta – Morgan se ajoelhou também, na frente dela, pegando nas mãos da mesma. – você não teve culpa de nada! Ninguém poderia imaginar que aquela bastarda faria uma coisa dessas. Eu prometo – pegou no queixo dela, forçando um contato visual – que nós vamos achá-los e eu irei cuidar bem deles, dos dois.
– Você?
– Você tem alguma ideia melhor? Mandá-los para um orfanato? Porque não podemos deixá-los nas mãos daquele assassino que matou a Lauren. – Alice ficou em silêncio. Mas logo Morgan ajudou a levantá-la. – Vamos, temos que continuar procurando. A chuva está ficando cada vez pior! Vamos nos separar outra vez.
Enfim, se levantaram do chão, encharcados devido a chuva. Foram cada um para um lado, para procurarem em outros lugares. Não podiam desistir, tinham que encontrá-los, não tinha uma outra opção senão essa. Assim, o tempo se passou e mais tarde foi ficando, enquanto nada da chuva diminuir. Eis que, Morgan, ainda procurando, conseguiu ouvir um barulho diferente... Barulho que estava querendo ouvir. Era som de bebê chorando. Então não teve outra reação a não ser esboçar um grande sorriso.
Morgan virou-se para trás e viu Alice se aproximando, com dois bebês em seus braços. Enfim, a busca chegou no fim. O coração de Morgan se acalmou finalmente. Porém, conforme Alice foi se aproximando, o sorriso de Morgan foi se dissipando. Pois reparou que, de fato, havia sons de choro, mas reparou que era apenas de um bebê chorando. E não de dois. Quando conseguiu ver nitidamente, mesmo com a chuva, o rosto de Alice, reparou que ela estava devastada. Chorando mais que antes.
Ele correu até a loira, não conseguindo segurar as lágrimas. Quando parou na frente dela, viu os dois bebês nos braços da mesma. Mas... Apenas um estava chorando, o outro... Estava morto. Morgan olhou para aqueles bebês por alguns segundos, tocando-os gentilmente, enquanto ia derramando mais lágrimas. Sequer sabia o que dizer, apenas pegou o bebê ainda vivo dos braços de Alice e virou-se de costas.
– Eu vou proteger você, independente de qualquer coisa. – Disse, olhando para aquela criança chorando em seus braços. Ainda em lágrimas, esboçou um sorriso. – Noah.
– M-Morgan... Eu sinto muito... – Disse com uma voz chorosa.
– Faça o que tem que ser feito com este, Alice. – Deu uma pausa e começou a andar para longe dali. – Eu não consigo. Me desculpe. – Disse seco, engolindo o choro.
Atualmente...
– Eu vi. Aquele bebê estava morto e os dois estavam com as pulseiras. – Sussurrou Morgan para si mesmo. – Hah! – Esboçou um sorriso debochado. – Aquela vagabunda loira me deve uma boa explicação. – Se levantou e foi até a saída de sua sala. Ao abrir a porta, jogou as chaves da sala na mesa de Rachel ao seu lado. – Cancele todas as minhas atividades de hoje, boneca. Vou sair e não tenho hora para voltar.
– S-Senhor, e os policiais que estão chegando? – Perguntou, sem saber o que fazer.
– Fala para eles irem chupar um pau. – Continuou andando e apenas acenou de costas para sua secretária.
13:00pm.
– Obrigado por vir almoçar comigo, Melissa. – Disse Evan, bebendo mais um gole de seu café. – Digamos que não esteja muito bem hoje. Precisava ver um amigo, e o Ryan ainda também não voltou de Chicago.
– Fico feliz que pensou em mim neste momento, Evan. Sabe que somos amigos mesmo, e não é de hoje. – Bebericou seu café também, com um sorriso gentil. – E hoje é a minha folga na delegacia, então queria sair para me distrair um pouco mesmo.
– Aí... – Botou uma mão na cabeça. – Nem me fale sobre aquela delegacia. Quero passar ao menos um dia sem pensar em coisas que envolvam ela.
– Eita, aconteceu algo? Você está há duas semanas longe de lá, pensei que estivesse conseguindo espairecer a cabeça um pouco.
– É que... Aconteceu umas coisas. Aquele caso em que o Nathan me pediu ajuda, sabe? Mas – respirou aliviado – parece que hoje tudo, enfim, acaba. – Fechou os olhos, sorrindo tranquilo.
– A-Acaba? – Perguntou curiosa.
– Sim, ele me disse que de hoje a noite este tal caso termina. Ele vai descobrir quem é aquele traidor que te falei. Mas bom – abriu os olhos – não vamos falar de trabalho. Você já deve ter ficado sabendo o ataque que o The Queen sofreu ontem, não é?
– Sim. Não me diga que... – Arregalou os olhos. – O policial que a garota que pararam o ataque foram...
– Exatamente, eu e a Luna. Que sorte eu tenho, não? Primeira vez que eu chamo uma moça para sair, acontece um ataque no ambiente que eu estou. Que maravilha. – Debochou, abrindo os braços. Melissa só riu, arrancando outras risadas do policial.
Aproveitando a hora do almoço, Eva saia de seu carro, olhando aquelas casas bem na sua frente. De fato, havia ido numa parte mais precária da cidade. Aonde as casas eram mal acabadas, esteticamente feias, ruas sem asfalto e sujas, enfim, uma área que necessita de muita atenção dentro da cidade de Sheerground. Mas, por ser no Sul, o prefeito decidiu não dar mais atenção para aquela parte da cidade, até que todos desistam de viver por lá e que se torne possível demolir tudo que ainda resta pelo local. Mas Eva tinha visões diferentes sobre o sul da cidade. Enquanto seu pai via como vergonha e fracasso, Eva via o Sul como a ascensão e oportunidades.
– Pode trazer. – Disse, sinalizando com a mão para o motorista parado atrás de si. – Quero que você vá e bata na porta de cada um e na hora que for entregar as marmitas, diga que é um carinho de Eva Gonzales. – Abriu um pequeno sorriso e botou seus óculos de sol, em seguida retornou para o seu carro. – Não demorem.
– Senhorita Gonzales? – Indagou a jornalista antes de Eva entrar no carro. – Que surpresa a encontrar por aqui. – Abriu um sorriso, se aproximando da loira.
– Olá. – Respondeu com outro gentil sorriso e retirou seus óculos de sol, forçando um pouco a vista, tentando se lembrar da onde conhecia aquela pessoa. – Você é... – Abriu um sorriso maior, se lembrando. – Aquela jornalista, Pamela Turner, não é?
– Isso, eu mesma. E este – apontou para o rapaz atrás de si com uma câmera. – É o meu camera-man, Roberto.
– Ah, prazer. – Olhou atentamente para a câmera. – Ela está ligada?
– Não. A senhorita quer que ligue? – Pamela perguntou, mas Eva não disse nada, apenas ajeitou seus cabelos dourados, em silêncio. A jornalista não perdeu tempo. – Liga isso, Roberto. – Sussurrou para o homem atrás de si.
– A-Ah, está filmando? – Eva sorriu sem graça, não tirando os olhos da câmera.
– Senhorita Gonzales, deseja dizer alguma coisa? – Perguntou.
– Não é nada demais. É que eu não sei se vocês sabem, mas, – direcionou seu olhar para Pamela – eu não concordo muito com as opiniões que meu pai tem sobre o sul da cidade. Afinal, existem tantas pessoas que ainda moram aqui e que merecem nossa atenção e carinho, como o resto da cidade. Então, eu faço o que eu posso, sabe?
– Então, a senhorita veio ajudar essas pessoas?
– Vim fazer um agrado apenas.
No meio da entrevista, alguns moradores começavam a chamar pelo nome de Eva, da janela de suas casas. A loira apenas olhou para eles e acenou de volta. Enquanto a câmera ia filmando tudo aquilo, a alegria dos moradores com a presença de Eva Gonzales, além de todo carinho que ela parecia ter para com aqueles moradores.
14:40pm.
– Espere aqui, vamos trazer a visita. – Falou uma policial, deixando Alice sozinha dentro daquela sala. Andou ate a porta e a abriu, olhando para alguém parado bem na sua frente. – Pronto, a trouxemos. Pode entrar. Vocês têm quinze minutos.
– Obrigado, minha boneca. – Disse entre riso frouxo, entrando na sala. Assim que a Edwards ouviu aquela voz, já revirou os olhos e cruzou os braços, puxando a cadeira para se sentar. Não queria vê-lo tão cedo. Mas não tinha para onde correr. – Ora, ora, ora... – Brincou Morgan ao entrar na sala e ver Alice sentada mais a frente. Prontamente a policial fechou a porta, deixando-os sozinhos.
– O que você veio fazer aqui? Eu já fiquei sabendo o que aquela vagabunda da Beatrice fez. Se foi sobre isso que veio falar comigo eu já-...
– Eu vou te dar três segundos para me falar a verdade sobre os bebês da Lauren. – Tirou o sorriso de seu rosto no mesmo instante, agora já bem mais sério. E antes que Alice pudesse dizer qualquer coisa, Morgan já a interrompia novamente. – Nós dois sabemos que foi a Lauren quem fez aquelas pulseiras e sabemos que ela só fez um par.
– Por que trazer esse assunto agora, Morgan?
– Como que você me explica – retirou de seu paletó uma foto e a botou em cima da mesa, para que a loira visse. Na foto, estava Evan, tomando um café com Melissa. Mas a imagem estava centralizada, bem na mão do policial. – essa porra? Como que esse policial pirralho tem uma pulseira igual ao do Noah? – Ao perguntar, Alice não conseguiu dizer nada, apenas ficou com os olhos arregalados, não sabendo o que falar. – Três segundos, Alice. – Deu uma pausa. – Três...
– E-Eu não... – Gaguejou, não sabendo o que dizer perante aquela situação. Não podia dizer a verdade para ele, não naquele momento. Não era hora.
– Dois... – Botou a mão dentro do bolso de sua calça, ameaçando retirar algo dali.
– Você é maluco? – Antes que o outro terminasse a contagem, a porta daquela sala era aberta ferozmente. Interrompendo o assunto dos dois, que naquele instante olhou em direção a pessoa. – Quando me falaram que você estava aqui eu não pude acreditar. Como se atreve a aparecer aqui, Morgan Rodriguez? – Perguntou Sebastian, bem irritado em vê-lo ali dentro de sua delegacia. Ainda mais depois do depoimento de Beatrice, aonde culpou Noah pelo assassinato da família Smith.
– Ué? – Morgan abriu um sorriso debochado e se levantou. – Eu não sabia que eu estava sendo procurado por algo. Fiz algo de errado? – Deu de ombros, perguntando sarcástico. – Se não me engano, vocês não estão atrás de mim, mas sim do meu filho, que inclusive foi acusado injustamente por aquela maluca.
– Meus policiais voltaram agora de Shelter e falaram que Noah Rodriguez não estava mais lá e quando perguntaram de você, nos disseram que você mandou eles irem... – Antes que Morgan terminasse de falar, percebeu que Alice também estava ali e não iria dizer uma coisa daquelas na frente de uma dama. Era civilizado. – Enfim, você sabe muito bem a mensagem que deixou para os meus rapazes.
– O que aconteceu com o Noah? – Alice, preocupada, se levantou. – Para onde ele foi, Morgan? – Olhou na direção dele. Sebastian fez o mesmo em seguida.
– Por que estão me olhando assim? Só porque sou pai dele devo saber de todos os passos que ele dá? Eu estou na mesma que vocês, ele só me disse que ia sair, mas não me contou para onde. Filhos, não é? – Riu baixo, cruzando os braços. – Mas não me surpreendo que não entenda muito bem sobre esses assuntos... – Foi chegando mais perto de Sebastian, com o mesmo sorriso sarcástico entre os seus lábios.
– Morgan, pare! – Exclamou Alice.
– Deixa ele continuar. – Sebastian apenas o olhou nos olhos, vendo-o se aproximar cada vez mais. Permaneceu frio e ríspido perante aquele mafioso. – Só não se esqueça que você não está em Shelter, Morgan. As coisas aqui não funcionam como lá.
– E você acha que eu tenho medo de você – parou bem na frente e olhou fixamente nos olhos, a pequenos centímetros do outro. – seu assassino de merda?
Aquilo foi o ápice, nem mesmo Sebastian conseguiu se conter. Ao ouvir aquelas palavras, o sangue subiu em sua cabeça, não conseguiu pensar em outra coisa, que sequer percebeu seu punho levantar e depositar um forte soco contra o rosto do Rodriguez – que tonteou para o lado, com a mão sobre ande recebeu o tapa. Enquanto Morgan, por sua vez, apenas riu baixo e passou a mão em sua boca, vendo que estava sangrando. Rapidamente voltou a si e foi em direção do outro, conseguindo acertar outro gancho de direita bem em seu queixo. Sebastian não custou para se recompor e se atirou em cima do mafioso, empurrando-o contra a mesa daquela sala, quebrando-a no meio, além das duas cadeiras que estavam em volta dela.
– Parem com isso vocês dois! – Gritou a loira, que correu para o lado, para não ser atingida por eles. – Estão parecendo duas crianças! – Mesmo tentando fazê-los parar, era em vão. Ambos continuavam em briga, no chão mesmo. Depositando vários golpes um contra o outro. – Alguém, por favor, socorro! – Sem saber o que fazer, restou a gritar por ajuda. Que não demorou a aparecer....
Rapidamente abriram a porta daquela sala e Evan e Melissa entraram. Correram até aqueles dois, querendo separá-los. Evan se botou na frente para afastá-los, enquanto Melissa conseguiu ir puxando Sebastian para trás. Depois, Evan segurou Morgan por trás, colocando os braços debaixo dos braços dele, deixando-o imóvel.
– O que vocês estão fazendo? – Indagou Melissa, assustada com aquela situação. Parou ao lado do mais velho, vendo-o se estava bem. – O que houve aqui?
– Evan, está tudo bem, pode soltá-lo. – Ofegando, devido a luta que teve, disse Sebastian.
– Ah, então é você? – Perguntou Morgan, olhando com atenção para a mão dele lhe segurando. Conseguindo ver, enfim, a pulseira que Lilith falou. E de fato, era igual a de Noah. – O famoso Evan. – Riu, enquanto o outro lhe soltou.
– Famoso? – Indagou Sebastian, sem entender. Morgan olhou para todos ali presentes, vendo que não estavam entendendo nada. – O que você quer dizer com isso?
– Ah, vocês não sabem? – Se espreguiçou, se recompondo. Pegou a foto de Evan, que agora estava no chão, e entregou para Sebastian. – Reconhece?
– Por que você está tirando fotos dele? Isso é crime. – Respondeu o Miller de imediato, ao analisar melhor aquela foto. Mas Morgan apenas cruzou os braços e ficou em silêncio. – Diga, Morgan, por quê essa foto? O que você veio fazer aqui?
– Eu também vim aqui querendo entender. – Morgan olhou para Alice. – Vamos, senhorita Edwards. Ou eu vou precisar contar a história desde o começo para eles entenderem?
– E-Eu... Não estou me sentindo bem... – Disse Alice, com a mão sobre a cabeça, começando a sentir meio tonta. Ficando com a visão meio embaçada.
– Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – Gritou Evan, já assustado com aquela situação. Mas, ao ver Alice perdendo o equilíbrio, correu até ela. – Ei, Alice... Alice! – Antes que a mesma caísse desacordada no chão, conseguiu segurá-la em seus braços. – Ela desmaiou e está com a respiração fraca. – Olhou para trás, na direção de Sebastian. – Precisamos levá-la a um hospital, Sebastian. – O chefe da polícia permaneceu olhando para a Edwards desacordada, não falou mais nada. – Sebastian, por favor! – Ainda em silêncio, Evan desistiu. – Melissa, por favor!
Diferente de Sebastian, Melissa correu atrás de ajuda.
Morgan apenas andou em direção da saída daquela sala. Mas antes que saísse, parou ao lado de Sebastian, olhando em frente, enquanto o outro sem tirar os olhos de Alice.
– Eles não estão mortos. – Sussurrou, baixo o bastante para que somente Sebastian pudesse ouvir. Em seguida, saiu da sala. Deixando Sebastian sem entender nada.
22:30pm.
– Pelo visto, você ainda não tomou uma decisão, não é? – Indagou Noah, sentado no chão tomando uma xícara de chá ao lado de Emílio. Após perceber o silêncio dele, continuou a falar. – Como vocês podem preferir viver aqui? Em Shelter vocês terão suas casas, cama, água quente, comida de qualidade.
– Nós temos medo, senhor Noah. Estamos aqui há tanto tempo. Não sei como os outros iriam nos receber lá fora. – Explicou-se Emílio, também com uma xícara de chá em mãos. – Por favor, não quero que o senhor pense que é uma desfeita. Muito pelo contrário, nós realmente somos muito gratos por toda a ajuda que vem nos dados nessas últimas semanas. Nem sei como agradecer por isso tudo.
– Não precisa agradecer. Vocês me ajudaram naquele dia com a polícia e – bebeu um gole de chá – estão me ajudando novamente hoje. Eu preciso passar uns tempos por aqui, Emílio, espero que não se importe.
– A-Aqui? – Arregalou um pouco os olhos. – Senhor, não sei se iremos conseguir te proporcionar tudo o que-...
– Eu preciso apenas de um canto para dormir. – Interrompeu o mais velho. – Só isso, não se preocupe comigo. Não serei um incomodo para vocês. Só por favor, não faça mais perguntas. É melhor pra vocês não saberem de nada.
– Senhor Noah... O senhor está envolvido com aquele negócio de maf-...
– Sem perguntas, Emílio. Eu disse. – Após interrompe-lo outra vez, terminou de beber o café que tinha em sua xícara e se levantou. – Já está ficando tarde. Posso me botar em algum canto para dormir? – Olhou para Emílio, ainda sentado. O senhor apenas concordou com a cabeça. – Obrigado, Emílio. Boa noite, até amanhã.
Noah deu uma olhada rápida no local, vendo o canto mais apropriado para descansar. Viu o canto mais longe de todos, para não incomodar ninguém, e decidiu aonde iria ficar. Então, com uma pequena mochila nas costas, que trouxe de casa, foi até o local escolhido. Sentou-se no chão e abriu a mochila, retirando apenas um travesseiro. Era o suficiente. Botou-o no chão e fechou a mochila, deixando-a do seu lado. Por fim, se deitou, virado de costas para todos os outros. Ficou na mesma posição por muito tempo que sequer percebeu o tempo passar, nem os outros já terem ido dormir também. A madrugada foi vindo e com ela, alguns ventos frios que entravam por aqueles esgotos. Noah não podia negar que naquele momento começou a sentir frio.
Mas não tinha o que pudesse fazer, não trouxe nada para aquela ocasião. Então restou aceitar e tentar dormir do mesmo jeito. Porém, eis que algo fino cai sobre si, assim que abriu os olhos viu que era um lençol, lhe cobrindo. Cerrou os olhos e levou a cabeça para trás, vendo que era uma das crianças, com no máximo dez anos de idade, vindo lhe cobrir. E após isso, a mesma criança deitou ao lado de Noah, também de costas para ele, mas deixando ambos debaixo da coberta, para se protegerem do frio. Logo ele percebeu, era Erick ao seu lado, filho de Emílio.
Sem mostrar qualquer reação, o mafioso não conseguiu tomar uma atitude. Por que aquela criança foi lhe cobrir? Ou além, porque resolveu dormir ao seu lado? Noah não se via como a pessoa mais apropriada para lidar com crianças, tão pouco pensou que elas poderiam gostar dele. Era um sentimento muito diferente que corria pelo seu corpo, além de sentir aquecer seu próprio coração, coisa que não acontecia muitas vezes.
Mas, não conseguiu fazer nada. Apenas sentiu as costas daquela criança colidindo com as suas, como se a outra estivesse se afofando mais ao lado dele. Antes que percebesse, o frio que sentia foi passando e seus olhos foram se fechando.
01:15am.
– Então, são esses os resultados da autopsia? – Indagou Nathan, com aquele envelope em suas mãos. Permaneceu sentado em seu sofá, enquanto Tommy Carvants sentado em outro sofá bem em frente. – Aqui diz quem matou aquela garota, Rose Lincoln?
– Sim, meu caro. E eu acho que você vai ficar meio surpreso com o resultado. – Disse o médico, terminando de beber aquele resto de whisky em seu copo.
– Bom, vamos ver então, quem é o traidor dentro da delegacia de Sheerground. – Foi abrindo o envelope, bastante ansioso para saber o resultado. – E por que ele estava fazendo joguinhos com aquela Alice Edwards? Provavelmente, eu descobrindo quem é o assassino, as coisas comecem a fazer sentido. – Por fim, retirou aqueles papeis de dentro do envelope e começou a lê-los, bem diante dos seus olhos. Mas, conforme lia e ia passando aquelas folhas, mais seus olhos iam se arregalando, de surpreso.
– Eu falei que você ia ficar surpreso. – Murmurou Tommy.
– E-Espera... – Gaguejou, relendo de novo e de novo as informações que tinham naqueles papeis. – Não é possível, o traidor é a... Melissa Collins? – Levantou a cabeça e fitou o senhor sentado na sua frente. – Como... Como? Por que ela faria uma coisa desse tipo? E qual é a relação dela com Alice Edwards? Céus! – Largou o envelope ao seu lado e botou as mãos na cabeça, fitando o chão. – Eu achei que descobrindo o traidor, ficaria tudo mais fácil. Mas, agora, mais dúvidas apareceram.
– Bom, eu imaginei que você ia ter essa reação. Pois eu também tive. Então – botou a mão dentro de seu paletó e retirou outro envelope pardo e jogou na direção de Nathan, que rapidamente o pegou – eu fui atrás do histórico dessa tal Melissa Collins. Eu tive um certo trabalho, não foi fácil obter esses documentos. Ela apagou bem seu passado, não queria que ninguém soubesse. Mas fui atrás das pessoas certas. E não se preocupe, fica por conta da casa. Não precisa me pagar por esse favor extra.
– Eu... Agradeço muito, senhor Carvants. De verdade. – Após agradecer, ele abriu este novo envelope, querendo ver o que tinha naquelas folhas, quais novas informações estavam a sua espera. Achando que não poderia piorar, piorou. Mais assustado e chocado Nathan ficou com aquelas revelações. – Melissa... Então era ela, esse tempo todo... Bem debaixo do nosso nariz... É ela... – Levantou a cabeça e olhou para o velho a sua frente. – Cristal Miller. A filha desaparecida do chefe Sebastian Miller.
Anteriormente....
– "Fique longe deles. O próximo aviso será bem pior. E você sabe disso. Não brinque comigo". – Leu em voz baixa ao desembrulhar aquele papel e ver o que tinha escrito nele. Algo ainda mais interessante chamou a sua atenção naquele bilhete, na parte debaixo inferior esquerdo havia apenas uma letra. – "C"? Quem é "C"? E por quê a Alice está protegendo essa pessoa, que matou uma de suas garotas? – Respirou fundo, ficando um pouco ofegante. – Por que eu sinto que essa história é bem pior do que realmente parece? Cristo... – Suspirou, fechando os olhos.
Atualmente...
– A letra "C" naquele papel que encontrei no quarto de Alice, era ela. Mas ainda não entendo, por que Alice está protegendo a Cristal? E quando ela diz "deles", quem seriam eles? Pelo que eu sei, Alice viu a filha de Sebastian crescer, então tem um passado com ela. – Tornou a olhar os papeis em suas mãos. – Mas isso, eu nã-...
Antes que terminasse de falar, seus olhos se arregalaram bem mais do que antes. Enquanto aquela sala foi tomada por um banho de sangue. A cabeça de Nathan Prescott foi explodida, por uma bala de pistola que atravessou sua cabeça. Uma vez sem vida, o corpo do detetive caiu de frente, de cara no chão. Inundando o chão com o sangue que ia escorrendo de sua cabeça, levando embora não só sua vida, mas todas as suas descobertas, que agora, não servem mais. Para literalmente, nada.
– Intrometido. – Sussurrou Melissa, ou melhor, Cristal, após efetuar o disparo. Do lado de fora da casa, com a arma mirada na direção de onde Nathan foi atingido há alguns segundos.
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