𖤍𖡼↷Odeio Ser Uma Semideusa
AGORA
Se Ah-reum soubesse o como era a vida de um semideus naquela época, anos atrás, definitivamente teria deixado a dracaena a devorar. Ainda teria perguntado se a criatura não queria adicionar uma pitada de sal para dar um tempero na carne pálida e sem graça de Ah-reum. Mas como ela não tinha ideia do como sua vida iria desenrolar tão catastroficamente, Ah-reum tentou lutar arduamente para sobreviver. E foi assim que Luke Castellan a conheceu, perdida na rua, quase devorada por um monstro, e o nariz e a boca sangrando de forma patética. Ah-reum podia até não ter quebrado o nariz, mas lascou o dente e precisou fazer um procedimento odontológico caríssimo para colocar tudo em seu devido lugar. E ela preferia mil vezes só lembrar disso do que lembrar de como Luke a havia arrastado para tudo o que existia de ruim naquele mundo.
Ah-reum odiava estar no Acampamento Meio-Sangue quase tanto quanto odiava sua vida. Era uma droga todo o verão a mesma coisa: as encrencas com filhos de Ares que diziam que Ah-reum tinha que parar de ser uma covarde e treinar pra valer, um estresse com os filhos de Apolo quando todas às vezes que ela tentava ajudar na enfermaria, acabava, de uma certa forma, piorando o paciente, e era a desgraça das ninfas que não podiam a ver perto dos morangos que gritavam para que Ah-reum saísse de perto, como se ela fosse um bicho podre. Mais que isso: ela odiava por depois de todos aqueles anos seu querido pai jamais ter se dignado a reclamar Ah-reum. Ainda era obrigada a dividir o quarto com os filhos de Hermes, mas não que fosse ao todo ruim já que Ah-reum tinha aprendido a roubar e pregar peças como ninguém.
E quem ela queria enganar? O que Ah-reum mais odiava no mundo era encarar alguns semideuses que estiveram presentes na época de Cronos e saber que no fundo eles jamais se esqueceriam de tudo o que ela havia sido forçada a passar. Mesmo depois da guerra com Gaia e contra os Imperadores Romanos e o esforço de Ah-reum para ajudar, principalmente contra Nero, ainda parecia que ela estava em débito com todos. Não com Quíron e menos ainda com os deuses, mas com Annabeth Chase, a quem havia confiado a Ah-reum uma missão que ela se recusou a cumprir.
-Mas que merda você tá fazendo?! - a ferocidade na voz de Clarisse enquanto arrancava a espada da mão de Ah-reum a deu um susto tão grande que a lâmina caiu das mãos da semideusa enquanto fitava os olhos de Clarisse. Podia ver o momento que ela colocaria as mãos ao redor do pescoço de Ah-reum e a enforcaria. -Você tá estragando a espada, idiota. - ah. Ah. Ah-reum nem mesmo tinha se dado conta que estava limpando a espada com o lado errado da esponja. Ela fez uma careta, percebendo que nem para isso servia. Talvez fosse melhor ela só desistir daquelas férias de uma vez por todas e voltar para casa. -Só... Deixa isso pra lá. - Clarisse deu um último resmungo irritado antes de sair pisando duro, fazendo Ah-reum suspirar. Porque uma pessoa tão bonita tinha que ser tão esquentada quanto ela era?
Ela estava definitivamente de saco cheio daquilo. Queria gritar com os deuses, com seu pai, fosse quem fosse, para que saísse de onde estivesse e a reclamasse de uma vez por todas. Anos! Haviam se passado anos. Ela já não tinha provado o suficiente? Nas duas guerras e na batalha contra Nero, já não estava bom? O que mais Ah-reum precisava fazer? Ir em uma droga de missão dada por uma profecia? E porque ela se importava tanto, afinal? Não havia lugar para ela no Acampamento Meio-Sangue; e a cada dia que passava, ela tinha mais certeza disso.
Ah-reum não sabia dizer ao certo, mas havia algo estranho dentro de si. Ela nunca havia tido nada de especial e particularmente não sentiu que tinha mudado algo em sua vida saber que era uma semideusa. Mas havia uma inquietação crescente dentro de seu peito, como algo puxando e puxando, tentando se libertar. Ela não sabia o que era aquilo e, se fosse ser sincera, também não queria saber. Ela já tinha seus pesadelos e próprios fantasmas para enfrentar. Não precisava de mais problemas para virem a atormentar.
-Você comeu hoje? - Ah-reum se assustou mais uma vez quando Will chegou. Ela ainda estava ali parada desde o momento que Clarisse havia partido, perdida dentro de seus próprios pensamentos. Foi pega totalmente de surpresa pelo filho de Apolo que parecia o único de seu chalé a gostar de Ah-reum. Ela fez uma careta, principalmente porque sabia que a resposta que tinha para dar a Will não ia o agradar em nada. E de fato ele viu isso claramente em seu rosto, pois fez uma expressão de irritação para Ah-reum. -Ann, já te disse mil vezes que você precisa comer. Tá cada dia mais fraca, não consegue nem lutar direito na caça a bandeira. Parece o Nico antes de eu e ele voltarmos do Tártaro!
-Eu nunca consegui lutar direito, vamos começar por ai. - Ah-reum disse dando de ombros, mas os dois sabiam que aquilo era mentira. A pessoa que a havia treinado era muito boa em lutar e mesmo que não fossem mencionar aquele nome ali, os dois sabiam daquele fato. Ah-reum fez uma careta, lembrando que tinha até uma pequena cicatriz no braço como uma lembrança daqueles dias que pareciam bons e depois se tornaram infernais. Um assombro para a semideusa que ela não sabia ao certo como se livrar. Talvez ela devesse fazer igual ao Nico tinha feito recentemente com Will: se jogar no Tártaro para se livrar de alguns traumas. Mas provavelmente ela só arranjaria mil e um mais, isso se ela sobrevivesse. -Eu tô bem, Will. Sou a última pessoa com quem deve se preocupar.
Will sabia que Ah-reum estava sempre vivendo a base de mentiras. Desde o dia que ela tinha chego no Acampamento e tinha tomado uma ovada de Clarisse, Will soube que Ah-reum jamais iria se ver como alguém aceita ali, mesmo que há muito tempo tudo aquilo já tivesse passado por completo. Às vezes o filho de Apolo pensava que Ah-reum precisava se ver mais como todos a viam: uma semideusa poderosa e extremamente habilidosa com qualquer arma que fosse colocada em suas mãos. Mas Ah-reum só se via como uma coisa: uma semideusa esquecida pelo próprio pai, alguém sem saber de onde veio e o porquê fazia parte daquele mundo. Mesmo com todo o tempo que havia passado nele.
-Fiquei sabendo que hoje você vai ir para sua casa, é verdade? - Will mudou o assunto, falando sobre algo que talvez a anima-se. E de fato deu certo, pois ao lembrar de sua mãe, Ah-reum abriu um sorriso sincero. Mesmo que o mundo estivesse desabando sobre sua cabeça, Ah-reum sempre se sentia mais confortável quando estava em casa. Quando tinha alguém que verdadeiramente a amava e deixava isso claro todos os dias para ela. Yuna era a melhor mãe, e tinha a incrível capacidade de fazer Ah-reum esquecer que havia sido rejeitada pelo próprio pai.
-Sim, é aniversário da minha mãe. - Ah-reum disse dando de ombros. Não daria para se livrar por muito tempo do Acampamento Meio-Sangue, mas ela podia tentar. -Eu quero passar pelo menos esse dia com ela, e como ultimamente está tudo calmo e tranquilo, sem sinal de uma guerra prestes a explodir, eu acho que vou aproveitar minha vida enquanto eu posso, né? Já que meu pai não pretende me reclamar hoje, como deixou de fazer nos últimos anos.
Will fez uma careta e por um minuto eles ficaram em silêncio, como se esperando uma punição dos deuses. Mas nem para isso o pai de Ah-reum se dignava a dar as caras, nem mesmo para punir a língua afiada de sua própria filha. Ah-reum nem sabia mais se aquilo a frustrava, de certa forma. Ela já tinha se acostumado a viver com os filhos de Hermes, que a haviam acolhido como uma irmã de verdade. Aquilo era bom; faziam os dias ali mais leves, mesmo com todo o peso que Ah-reum já carregava nos ombros.
-Sei o que está pensando. - Will disse baixinho. Ah-reum fez uma careta engraçada, querendo dar uma resposta espertinha como "ah, é mesmo? Não sabia que ler mentes era uma das habilidades dos filhos de Apolo", mas no fundo ela sabia que Will conseguia a ler perfeitamente bem, diferente da maior parte das pessoas. Desde os momentos que passaram nos últimos anos, principalmente quando foram juntos ajudar Lester/Apolo a derrotar Nero, Will havia prestado atenção demais em Ah-reum, consequentemente passando a entender ela melhor. Bom, Nico era difícil de ser lido, então era compreensível a batalha diária de Will, mas Ah-reum não era tão difícil assim. Então não era surpreendente que Will soubesse o quão vazia ela se sentia por dentro. -Você não tá sozinha, Rere.
Então porque ela sentia como se estivesse? Durante anos, desde o momento em que havia se mudado para aquele maldito país e conhecido o maldito Luke Castellan, Ah-reum viu sua vida desandar completamente, sendo atirada em um grande furacão o qual ela viu todos conseguirem escapar com vida: Percy, Annabeth, Leo, Piper e até mesmo Nico! Então por que ela não conseguia sair daquele lugar? Era como se todos tivessem seguido com suas vidas e Ah-reum ainda estivesse presa naquele lapso de sofrimento, incapaz de se livrar disso. Nico, que costumava a compreender como ninguém, tinha conseguido seguir em frente. Então por que parecia que Ah-reum não era capaz disso?
-Às vezes - ela começou, fixando seus olhos escuros nos de Will por um instante. -Sinto como se tivesse me afogando no rio Aqueronte, o rio de dor. E não conseguisse impedir as vozes de me levarem com elas. - Will fez uma cara horrorizada para ela, principalmente porque Ah-reum estivera lá. Até que Nico e Will caíssem no Tártaro em um caminho sem volta, Ah-reum havia percorrido o Mundo Inferior com eles e dado a cobertura necessária. E quando não havia mais nada que ela pudesse fazer pelos dois, sabendo que era uma missão a qual ela não pertencia, Ah-reum, sozinha, escapou dos guardas de Hades e fez seu caminho de volta. Mesmo que quisesse se jogar no Rio Estige e morrer afogada lá dentro. Ou talvez devesse se jogar no Rio Lete; talvez assim esquecesse sua vida patética.
Mas Will a olhou tão sério, com tanta intensidade, que fez qualquer pensamento autodepreciativo de Ah-reum morrer.
-Você precisa aprender como Nico aprendeu, Ah-reum. - ele nunca a chamava pelo seu nome, e aquilo a fez ter certeza da seriedade que Will estava falando. -Você não está sozinha nesse mundo. Não mais. E nós não somos como Luke. E precisa aprender a confiar na gente também.
bom dia povo bonito!
tudo bem com vocês?
espero que sim!
agora sim um capítulo
de verdade pra vocês
conhecerem a
Ah-reum!
essa história vai ter
muuuitas camadas
espero que gostem!
~Ana
Data: 08/01/24
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