5. What do you want?
Alguns míseros dias após a visita ilustre de Ten, meu então consagrado noivo, ao meu apartamento, estava novamente presa em uma multidão de cidadãos que queriam entrar naquele ônibus tanto quanto eu queria, por inúmeros motivos. Apesar de lidar com a demora dos transportes públicos talvez a melhor forma de se chegar menos cansada ao local em que tentaria me candidatar ao emprego de meio-período seria não indo andando até o outro lado da cidade.
E quando pensei que finalmente conseguiria embarcar fui empurrada para fora por um homem mais velho que tomou meu lugar nos degraus ds escadaria; apesar de ter o perfil de quem andava somente em carros particulares, o mesmo, no entanto, apontava sua pasta para mim batendo em seu terno à medida que gritava comigo.
— Meu terno está fedendo a cigarro por sua causa, garota imunda!
— Não acha que seu terno irá ficar cheiroso no meio de um ônibus lotado, acha?
— Cala a boca, sua vagab... — antes que o homem de meia idade pudesse terminar sua frase fora repentinamente interrompido por um garoto desconhecido que entrou em minha frente o cumprimentando como se fossem conhecidos.
— Yow, chefe, não passou da hora de pagar seus funcionários? Esse terno parece ter sido importado, mas ainda está afundado em dividas para estar andando de ônibus, hm? — sem parar de apertar a mão do mais velho, que parecia estar a ponto de explodir, continuou-se a chamar atenção dos passageiros que esperavam as portas se fecharem.
— Quem é você? — questionou o homem soltando-se do aperto, lançando olhares desconfiados para mim que assistia tudo sem entender o que estava ocorrendo.
— Não se lembra de mim?
— Do que está falando? Vocês são malucos, idiotas! — assustado com a intimidação do mais novo, o homem de terno resolveu entrar no ônibus de uma vez, deixando algumas pessoas para trás por causa da capacidade limite de embarque ter sido atingida; suspirei consciente de que teria que esperar pelo próximo sem saber quando esse poderia aparecer.
— Não se esqueça! — o garoto completamente desprovido de senso deu batidinhas na lataria do ônibus conforme o veículo arrancava, ganhando novamente atenção das pessoas que acompanhavam a pequena confusão.
Apesar de querer entender melhor a situação sabia que teria que entrar em outro ônibus assim que fosse possível. Espiar pelo canto do olho o garoto que despistou um dos meus diversos problemas me pareceu errado, mas não poderia ignorar a sensação familiar que sua presença me dava.
Assim que outra lataria azul estacionou em frente ao ponto meus pés ansiosos subiram os degraus desgastados, torcendo por um assento desocupado para descansar meus calcanhares doloridos. Apenas não contava que o garoto encapuzado de mais cedo pensasse a mesma coisa ao deslizar sua mochila para o assento ao meu lado, sendo que havia muitos outros livres.
— O que você quer? — questionei sem ousar encará-lo. Seria constrangedor demais tentar reconhecê-lo no meio da viagem.
— Te pedi alguma coisa? — resmungou ignorando meu olhar sobre seus fios claros descobertos pelo capuz, abrindo sua mochila e me encarando brevemente antes de voltar a procurar por qualquer coisa nela.
— Não parece estar aqui por coincidência. — retruquei cruzando os braços.
Seguia, dentre desse contexto, constantemente perguntando-me se minhas roupas estavam realmente impregnadas com cheiros estranhos àquela hora da manhã; por estar acostumada aos aromas de cigarros, a maioria passava despercebida por mim, além de que também me preocupava em não parecer uma intrometida curiosa sobre o indivíduo ao meu lado, sendo que poderia ser apenas uma pessoa completamente diferente da que imaginava ter conhecido antes.
— Para sua sorte posso te ajudar com isso. — sorriu voltando-se para mim.
— O que? Ei, você!
— Não foi fácil consegui-lo, aproveite enquanto durar. — explicou após borrifar alguns espirros de perfume em mim sem a mínima permissão, impossibilitando que eu respirasse naquele espaço.
— Por que carregaria um vidro de perfume com você? Ah, céus. — indaguei abanando minhas mãos ao meu redor conforme tossia sentindo minha garganta arranhar.
— Porque eu quero, duh.
— Se eu perder meu emprego por causa disso eu vou-
— Você tem um emprego?
— Ainda não, mas-
— E o que acha que vai conseguir parecendo uma chaminé? — emburrei minha expressão, revirando os olhos.
— Se eu fosse um homem estaria tudo bem, não é? — discuti, voltando a me encostar na janelinha, esperando que pudéssemos ficar calados o restante do caminho.
— Como se fosse mudar alguma coisa.
— O que disse? — antes que pudesse confrontá-lo, em um instante, o garoto já estava de pé alternando seu olhar entre mim e a porta de saída, enquanto segurava-se num dos ferros de suporte dos degraus.
— Aliás, gosto do seu cheiro.
— Espera, o que você acabou de falar?
— Nos vemos depois. — com uma piscadinha ao me encarar por uma última vez, o estranho desceu assim que o ônibus parou, deixando-me mais uma vez com uma nuvem de desacordos em minha mente bagunçada.
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