4. Not alone
Quando pensei estar sozinha o suficiente para descansar sem qualquer espécie de perturbação, sons incansáveis de campainha começaram a disparar pelo prédio. E para o meu azar o barulho vinha da minha porta, acompanhado por batidas ritmadas.
— O que você quer dessa vez? — sabendo quem estaria àquela hora da manhã causando um rebuliço em meu andar, apenas encostei do batente da porta aberta esperando por sua resposta descarada.
— Como está?
Desde aquele dia na ponte não havíamos nos comunicado, e podia compreender o motivo de sua visita ao meu apartamento. Entretanto, custava a acreditar que suas intenções sejam somente verificar se eu estava em meu perfeito estado.
— Não me pergunte essas coisas depois de ter feito pactos com minha família. — resmunguei revirando os olhos, preparando-me para trancar a porta apropriadamente.
— Não faça isso, Bo-na. — seus dedos foram mais espertos em impedir que a porta se fechasse; suspirei, permitindo sua entrada.
— Ten, somos amigos a tempo suficiente para sabermos que isso não é certo para nós. Por que insistir nisso?
Lá no fundo sabia que somente estávamos nessa situação por nossas decisões passadas. Ten decidira continuar com os negócios de seus pais, enquanto por outro lado a mim apenas cabia o papel de concordar com qualquer contrato que fosse beneficiar o conglomerado, e com isso todos sairiam ganhando; todos exceto eu mesma, irrelevante.
— Quer que eu desista de você? —reprimi uma risada com sua pergunta, ajeitando minha postura quando seu olhar se prendeu ao meu ansiando por uma resposta.
— Desistir de mim? O que caralhos está tentando fazer?
— Tentando salvar sua vida.
— Salvar minha vida? Conta outra.
— Aish. Sirva-me algo quente antes, por favor. — Ten juntou suas mãos em seu rosto, esfregando-o de maneira frustrada, como sempre fazia quando estava a ponto de colapsar. — Discutir com você cansa.
— Baita porquinho tailandês atrevido.
— resmunguei cruzando os braços ao botar uma caneca de café em sua frente.
— Sinto falta de te ver pintando. — subitamente, após estarmos há alguns minutos em um silêncio confortável, seu comentário me chamou atenção.
Encarei a direção pela qual se referia, onde localizava-se uma parede com alguns quadros de variados tamanhos em exposição, todos esses foram pintados quando eu estava descobrindo uma maneira de me distrair dos probelmas que me circundavam. Naquela época, assim como agora, ainda procurava uma alternativa para expressar o que sentia; todas aquelas cores misturadas ainda não faziam sentido para mim.
— Eu também. — sorri minimamente.
— Por que parou?
— Eu só não consigo mais fazer isso. — pisquei algumas vezes sentindo meus olhos arderem em agonia; odiava aquela sensação de impotência intermitente.
— Espero que um dia consiga sua própria galeria.
— Eu não sirvo para essas coisas, sabe disso. — impotência constante, era o que mais se encaixava em minha definição turbulenta.
— Por causa de seus pais? — Ten questionou jogando uma almofada em mim, aproveitando para poder se esticar e bebericar o café de sua caneca.
— Espero que queime sua língua, seu linguarudo. — devolvi sua almofada acertando seu ombro, fazendo-o tossir com o impacto de meu arremesso.
— Poderia ser uma artista clandestina. — Ten riu de minha expressão imparcial, desmanchando-se em gargalhadas em sequência.
— Deveria esconder seu corpo dentro da geladeira, não acha? — levantei-me com um sorriso irônico estampado em meu rosto sonolento, rindo ao passar por um Ten horrorizado para procurar o controle da televisão.
— Você tem uns gostos estranhos.
— Quantos anos você tem? — resmunguei voltando a sentar ao seu lado, esperando que pudesse assistir algum documentário sobre o universo e suas curiosidades até cair pacificamente em um sono profundo.
— Ya, sou mais velho que você, pirralha. — Ten, como de costume, gostava de exaltar nossa diferença de idade como se fosse alguma conquista fora do comum.
— Ninguém te perguntou.
— É por isso que estamos fodidos, sabia?
— Estamos, é? Seu traidor ambulante!
— direcionando uma careta em sua direção, passei a ignorá-lo pelo resto da noite.
— Eu tive meus motivos.
— Blá, blá, blá.
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