30. New vision
Pela manhã, as gotas de água fria atingiam toda minha pele, refrescando meu corpo anteriormente aquecido pelo calor dos cobertores. Com a cabeça encostada no ladrilho do boxe desejava que a água pudesse lavar todas as minhas preocupações levando-as ralo abaixo.
Esfreguei meu rosto tentando me livrar da sonolência quando involuntariamente abracei minha cintura diante a súbita onda de dor. Encarei meu pés colados e notei uma trilha de sangue descer até eles. Bufei com a cena terminando de me limpar, saindo enrolada na única toalha clara que havia trago para o banheiro.
Verifiquei todas as gavetas e armários possíveis a procura de absorventes e remédios para cólicas, mas parece que eu me esqueci de repor o estoque a alguns meses atrás. Como minha menstruação estava atrasada não tinha me preocupada em providenciar os itens necessários para lidar com ela, e agora eu sentia a importância de sempre planejar tudo com antecedência.
Por sorte, Xiaojun já havia ido embora. O post-it colado em minha testa quando eu acordei sozinha em minha cama pelo menos indicava isso.
"Precisei resolver algumas coisas, desculpe não te avisar pessoalmente. Se precisar falar comigo meu número está no verso."
Sorri admirando sua escrita simétrica. A essas horas seu número já estava salvo em meus contatos, mas eu não o incomodaria com coisas do tipo, por mais que fosse tentador. Xiaojun aparentemente morava perto de meu bairro, mas nunca soube para onde ia todos os dias, ele não parece se importar com os negócios de sua família então imagino que não vá para a empresa a não ser quando é obrigado. Vantagens de ser o último herdeiro, eu diria.
Quando dei por mim, já estava atravessando a faixa de pedestres enquanto passava meu dedo pelo ecrã do celular rolando suas notificações. Avistei uma farmácia, ainda receosa em andar até lá. Mesmo assim consegui empurrar sua porta de vidro parando alguns segundos para respirar fundo e tentar não fazer nenhuma careta de dor quando eu fosse falar com o atendente.
— Com licença, será que eu poderia utilizar o banheiro por um momento? — questionei apoiando meus itens que pretendia comprar sobre o balcão enquanto esperava uma resposta do funcionário que me observava confuso.
— Ah, está com algum problema? — perguntou me analisando, sorri desconfortável entregando o dinheiro com uma mão e abraçando minha cintura com a outra.
— Eu só preciso me trocar, por favor. — implorei mordendo o lábio inferior em agonia. Na verdade, eu não saberia até quanto aguentaria para chegar em casa.
— O banheiro é só para funcionário, mas você pode usar agora, ok? — meus olhos brilharam com sua permissão, assenti em agradecimento pegando a sacola com minhas compras e indo rastejando por trás do balcão em direção ao caminho indicado pelo funcionário, que por uma grande sorte foi simpático com minha condição.
— Obrigada, de verdade... Qian Kun. — agradeci assim que sai do banheiro, lendo seu nome em seu crachá.
— Tudo bem, eu entendo sua situação, mas isso foi apenas uma exceção. — sorriu gentilmente apoiando suas mãos no balcão. Concordei envergonhada, batendo o olhar rapidamente em um papel colado na porta pela qual eu havia entrado mais cedo.
— Estão contratando funcionários? — questionei alto o suficiente para que pudesse me ouvir do balcão. A loja não era grande, mas era bem espaçada em relação as distâncias do caixa e da porta.
— Uhum, faz um tempo.
— Eu poderia me candidatar?
— Quer trabalhar aqui? Envie seu currículo para o e-mail informado no papel, enviaremos uma mensagem caso seja selecionada. — disse sorrindo, observando meu estado diante uma nova oportunidade.
— Sério? AH, Obrigada! — agradeci freneticamente algumas vezes antes de finalmente sair da farmácia.
Andando com o pensamento de que talvez a dor que eu estivesse sentindo tivesse um propósito maior, senti meu celular vibrar em meu bolso despertando-me de meu transe temporariamente eufórico.
Sicheng: Estamos vivos.
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