10. Just the same
Desejava apenas poder me sentir bem comigo mesma. Sem a sensação de estar constantemente sendo monitorada; uma realidade alternativa, menos dolorida.
Era só questão de tempo até tudo se transformar em cinzas.
— Desde quando acionistas estrangeiros recebem adicionais por cada contrato feito? — Ten revirava os papéis em suas mãos, ajeitando seu óculos toda vez que se irritava com o que descobria.
— Acordos internacionais possuem mais valor no mercado. — respondi sabendo que nossa busca demoraria mais do que esperávamos.
Após conseguirmos contatar um dos herdeiros que estaria supostamente esperando o momento certo para destuir aquele império que nos gorneva, pudemos ter uma porção de esperança quando Yukhei disponibilizou cópias dos materiais em seu alcance para cabeças que se relavam em cada linha tentando encontrar qualquer desvio de conduta dentro do conglomerado.
Por ter uma posição elevada, Yukhei, além de ser casado com minha irmã, também passou pelo que estávamos enfrentando agora, e com isso, sua solidariedade conosco era justificável.
Entretanto, a história deveria desviar seu percurso do habitual.
Pelo menos era isso que planejávamos.
— Meus olhos estão doendo.
— Parece que esse sistema é mais rigoroso do que pensamos. — murmurei largando pelo chão a papelada que analisava por horas, sem nenhum vestígio de fraude.
— O que acha que acontecera conosco se não conseguirmos impedir isso? — suspirei com sua pergunta, deitando meu corpo sobre o carpete da sala.
— Seguiremos o roteiro deles.
Odiava pensar que estávamos indo contra nosso casamento sem saber que poderíamos ter que realmente enfrentarmos isso sem nenhuma escapatória. Mesmo sendo novos demais, mesmo tendo outras vontades, estamos fadados a esse empecilho desde que nossos pais estabeleceram um acordo entre eles, trocando a vida de seus filhos em favor de seus negócios.
— Também está com medo disso, não é? — Ten riu ainda que parecesse nervoso, como de costume, quando sentia que precisava amenizar nossos humores.
— Não.
Tinha medo de várias coisas para ser sincera, mas não tinha medo do escuro. Gostava de reviver minhas memórias nostálgicas, pensando sobre como um pequeno respirar poderia mudar meu destino. Qualquer passo estaria alterando uma trajetória invisível, ou me levando de volta ao início.
— Estou com raiva de ser assim. — completei antes de levantar do chão, recolhendo o material que reviramos sem qualquer resultado.
— Acharemos outra alternativa, não se preocupe. — encarei sua expressão confiante, tentando adivinhar o que tinha em mente.
— Deveria estar aliviada? — sorri brevemente, esticando meu corpo adormecido antes de voltar para o sofá de seu apartamento.
— Sabe que pode confiar em mim.
— Ten cruzou suas pernas, folheando uma revista qualquer em seu colo. — Não suportaria te ver chorando novamente por causa deles.
— Isso me faz parecer tão patética.
— ri sem humor, encarando meus dedos estalarem.
— Por que diz isso?
— Foi por causa de um acidente quando éramos crianças. — comentei sentindo minha garganta arder com as poucas palavras. — Desde aquele dia vivemos numa bagunça.
— Não é sua culpa.
— Em parte. — suspirei reprimindo a sensação angustiante que retornava em meu coração.
— Realmente não se lembra de mais nada desde aquele dia? — encarei-o confusa por um instante, recordando-me daquelas mesmas palavras.
— Nada. Só consigo imaginar cores desfocadas, algumas luzes vibrantes e...
— Está tudo bem, ainda estamos com você. — Ten deixou sua revista sobre a mesa, focando sua atenção em mim.
— Eu não quero me casar, Ten. — murmurei sem me importar se estava a ponto de manchar meu rosto com mais lágrimas incessantes.
— Acredite que isso não estava em meus planos, e mesmo que conseguisse os melhores advogados ainda teria que encarar meus pais apontarem para mim como uma falha do sistema. — Ten tinha seu olhar perdido enquanto falava despretensiosamente. — Ainda não estou pronto para decepcioná-los.
— Sinto muito por isso, seria melhor se fosse alguém que apenas aceitasse os termos. — sentia-me egoísta por estar querendo quebrar um acordo matrimonial que estaria afetando também meu melhor amigo, mas sempre que pensava em aceitar esse infortúnio acabava entrando em um colapso assustador.
— Não vou me casar contra sua vontade. — sua voz mantinha-se intacta, sempre certo de suas vontades.
— Eles fizeram isso de propósito, mesmo sabendo que éramos amigos. Isso vai muito além de apenas negócios, Ten.
Sua expressão era impaciente, tão angustiada quanto a minha.
— Quero saber o quanto querem esse acordo concretizado. — seu celular deslizava por sua mão diretamente para sua orelha.
— O que está fazendo? — questionei com receio, sabendo que suas ações impulsivas poderiam nos levar a um abismo infinitamente mais profundo; qualquer deslizer seria fatal.
— Apenas o mesmo de sempre. — Ten sorriu antes de se afastar para outro cômodo, impedindo que escutasse sua conversa.
Ultimamente temos camuflado nossos passos, tendo cautela em cada rua que cruzavamos. Não poderiamos alegar que vivíamos confortavelmente antes de sermos cotados em mais um negócio de nossos pais, entretanto, agora, parecia que tinhamos linhas imaginárias presas em nossos corpos, esperando o momento certo para coordenar nossos movimentos ou até mesmo paralisá-los.
Um paradigma inquebrável, estampado nas capas de notícias, viralizando em correntes internacionais, abordando um sentimentalismo falso sobre desejo de solidariedade e justiça. Isso era um redemoinho de mentiras e egoísmo.
Um sistema que caminhava sobre suas próprias ruínas.
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