— Eu disse que não vou nesta droga.

— Quantas vezes preciso te falar que não depende do que você quer?

— Até você entender que não vou aceitar nada contra minha vontade.

— Kim Bo-na, mas que caralho. Sabe que se não aparecer estamos fodidos, não sabe?
— Eu não vou aparecer, Chittaphon.

Desliguei a chamada, encerrando os longos sete minutos da discussão que me atormentava diariamente. Não era de se espantar que, sendo uma das representantes de minha família, após minha irmã, tivesse assim o especial papel de seguir suas ordens que determinavam cada passo que deveria seguir.

Em um determinado momento de minha vida percebi quando as pessoas ao meu redor passaram a me enxergar como um objeto lucrativo, por ser herdeira dos donos de um conglomerado, ignorando a ideia de que uma garota com suas próprias decisões pudesse transcender esse universo capitalista.

Quantas vezes quis desistir sem nem ao menos tentar?

Balancei a cabeça afastando os pensamentos difusos nela. Por mais que não fosse o correto, a fumaça gerada pelo cigarro em meus dedos  funcionava como uma espécie de terapia para meu corpo, assim como os pingos grossos de chuva transformavam as ruas desertas num cenário agradável e refrescante; amaciando meus ouvidos com sons suaves de gotas geladas atingindo as superfícies dos telhados, deixando também o cheiro de grama molhada ser carregado pela brisa, que fazia seu caminho entre as construções da cidade iluminada. Imaginava que, se a liberdade pudesse ter um aroma, provavelmente seria esse.

Não se passaram muitos minutos desde que o terceiro cigarro rodava entre meus dedos, entretidos com sua estrutura cilíndrica. Encostada na parede oposta à loja de conveniência me encontrava fingindo por alguns instantes que poderia ser invencível, lidando com qualquer empecilho que entrasse em meu caminho.

Porém, nesse episódio, pude sentir olhares constantes sobre mim, desmanchando consequentemente minha pose relaxada. Ao me deparar com uma figura encapuzada vindo em minha direção àquela hora da noite, ao contrário do que a maioria das pessoas faria, apenas permaneci em meu lugar, esperando que o desconhecido pudesse apenas passar por mim.

Tudo que aconteceu em sequência foi o mínimo contato possível. Parando ao meu lado, parecendo querer dizer alguma coisa, seus olhos escuros pareciam familiares, e me questionava se era isso que também estava pensando enquanto mantinhamos nossos olhares presos. Voltando a caminhar seguindo para à loja de conveniência, o garoto de capuz saiu em seguida sem nada em mãos, desaparecendo pelo mesmo caminho que viera.

Não gostava daquela sensação, o sentimento de deja vú, quando algo acontece na realidade exatamente como no sonho da noite anterior. E o fato de não gostar desses sonhos incluía uma série de acontecimentos ruins relacionados a eles; também conhecidos como pesadelos reais.

E isso me assusta.

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*Chittaphon = Ten
*Sicheng = Winwin
*Yukhei = Lucas