‹⟨ Episódio 3 ⟩›
O ônibus escolar parte de nossa vista e a Darla continua falando. Ela não parou por um minuto desde que saímos.
—essa é a nossa escola, bem grande, né? Mais de 2 mil alunos estudam aqui e aí você pensa: "uau! Vai ser um ótimo lugar pra mim fazer amigos e será impossível eu não fazer!." Todos aqui são legais, quer dizer, quase todos. Os professores são gentis e atenciosos. Isso é rato hoje em dia. Você vai adorar!—atravessamos a rua. Subimos as escadas e finalmente adentramos a escola—tem uma professora que é a mais legal. O nome dela é Shirlei—entrego a minha mochila para o segurança. Ele a revista e passo pelo escâner. Me entrega a mochila—esse aqui é o escâner, é tipo aqueles de avião.
—ah, eu sei o que é—digo. Olho para o Eugene e o Pedro—ela é sempre assim?—Pedro acena. Eugene tá ocupado demais jogando no celular.
—silêncio me deixa desconfortável.
—ela quase nunca ta desconfortável—Eugene comenta ainda vidrado no jogo.
Todos já atravessaram e seguiram seus caminhos. Darla me abraça pela cintura. Suspiro.
—tenha uma boa aula, maninho—desfaço o ato e me inclino pra ela.
—olha, não precisa ficar fazendo isso sempre e a gente nem é irmão de verdade, né?—digo sorrindo.
—ah...—de repente seu olhar baixa junto da cabeça, com um tom triste e abatido—... Tá legal.
Se vira, caminhando na direção do corredor contrário. Freddy passa o braço sobre os ombros da garotinha triste. Acaba que eu mesmo me sinto culpado por tê-la magoado, não era a minha intenção.
—ah, eu, eu não queria magoar ela...!—tento falar mas Freddy ergue a mão, balançando a cabeça.
—deixa, deixa.
Suspiro e logo desisto, virando e seguindo pelo meu próprio caminho.
No intervalo, fico sentado numa mesa redonda no refeitório, terminado de comer o meu lanche dado pela tia da cantina. Brinco com a fatia de cenoura, sem nada pra fazer e num grande tédio. Uma bandeja de metal é atirada na minha mesa, me dando um rápido susto.
—vôo ou invisibilidade?
—que?—estranho a pergunta de Freddy, que logo se convida para se sentar ao meu lado.
—anda, escolhe um super poder—ponho o pedaço de cenoura na boca, mastigando—sabe, fizeram um estudo e 9 em cada 10 pessoas escolheu voar. Sabe porque?
—pra voar pra longe dessa conversa?
—por que super herói voa e quem não quer ser um super herói?—recolho minha bandeja e me levanto—imagina, você tem invisibilidade é meio anti-ético, né? Imagina, você ficar espiando a pessoa contra a vontade dela e invadindo seu espaço—me distancio dele, o mais rápido possível—isso é poder de super vilão, né?!—ele acaba gritando e todos no recinto o olham, como um alienígena entre nós.
Jogo os restos de comida fora e deixo sobre a mesa ao lado para ser levada. Freddy me segue.
—ahhh—suspiro mais como uma respiração pesada.
—fizeram o mesmo estudo, só que dessa vez anônimo—anda apoiado com sua muleta—e adivinha? A maioria escolheu invisibilidade. Isso mostra que ninguém se sente confortável pra falar de verdade. Super vilão—abro a porta do banheiro—você vai fugir—paraliso. Me viro o encarando com meus olhos—de boa, eu entendo. Sério. Você não confia em ninguém e tá tudo bem. Também pegou a bala do Superman, eu sei. Mas como a invisibilidade, você sempre acaba sozinho.
—hah, eu não peguei a sua bala idiota —fujo para dentro do banheiro.
O horário da escola passou e já estamos na saída. Seguro as alças da minha mochila enquanto ando de cabeça baixa. Todos já estão reunidos quando me aproximo. A neve ainda está na cidade e isso vai durar por mais alguns meses.
—oi. E aí, como foi o dia?—Mary pergunta. Ela se veste bem. Usa até uma boina para a lateral, com casaco rosa para se proteger do frio. Nada respondo e passo por ela—não foi legal, né?
De repente uma camionete preta grande surge pela rua, tocando uma música alta. Ela derrapa estacionando e acaba chocando sua lateral com Freddy que cai no chão.
—ai!
—Freddy!—Mary corre até ele.
De dentro do carro, saem dois meninos mais velhos. Parecem ter no máximo 17 de idade. Um é ruivo e usa uma toca com casaco relaxado e feio, o outro tem aparência de mauricinho, com jaqueta de couro preta e cabelo ondulado e ajeitado por um gel de cabelo. Eles dão risadas conforme se aproximam de Freddy. O mauricinho o ergue e o preciosa contra a camionete. O de toca analisa o arranhão na lateral.
—ihhh, olha só, vão pagar pelo arranhão, Freddy?—retiram sua muleta a jogando pra longe.
—ah, claro. Pode ser com isso aqui?—Freddy ergue as duas mãos mostrando o dedo do meio. Os três riem.
—vem aqui!
O atiram no chão e começam a chutar sua barriga.
—para!
—deixa o meu irmão!—Darla grita.
Continuam chutando ele, com vontade e alegria. Gostam de fazer isso.
—ué, precisa da sua família falsa pra te defender?
Puxo a toca do meu moletom e começo a caminhar para longe dali, na direção contrária pela calçada coberta pela neve.
—vai reclamar pra mamãe? Ah, é mesmo! Você não tem mãe.
Paro. Olho na direção deles. Já deu disso. Agarro a muleta no chão e me aproximo.
—ae!—chamo suas atenções. Quando o de toca se vira, acerto um golpe no seu rosto e ele caí. Não dou tempo pro mauricinho e emperro a ponta inferior da muleta, diretamente no seu júnior—ih, foi mal galera. É que eu não gosto de valentões. Também não foi muito justo, né? Mas aposto que vocês não ligam.
O de toca se levanta e me acerta um soco no rosto. Me desarmam e me jogam contra o carro preto. Acertam bem a boca do meu estômago e logo, me vejo sendo jogado no chão. Valentões...
—ai!—Eugene tira do bolso um nunchaku e começa a girar—eu sei usar isso!—acerta a própria cabeça—ai...
Aproveito a distração e parto em retirada, numa fuga rápida.
—ei!
—volta aqui!
Eles partem atrás de mim. Viro pulando um cercado. Eles decidem seguir por dentro do prédio. Corro entre as pessoas seguindo desesperadamente enquanto eles surgem no meu em cálcio. Avisto a entrada para um metro. Pulo sobre a escada rolante e começo a deslizar. Eles seguem descendo pelas escadas. Pulo continuando a correr. Vejo um trem fechando suas portas. No último segundo, atravesso e logo estou seguro. Olho pra trás enquanto eles gritam e apontam o dedo revoltados. Recupero o fôlego enquanto rio na cara deles.
—você tá morto!
—eu sei onde você estuda, moleque!
O trem dá partida. Suspiro. Ah, todo exercício que evitei e enrolei pra fazer na vida, foi compensado nessa corrida de hoje. Me sento em um dos bancos, com a mochila no meu colo. Há poucas pessoas comigo. Uma senhora perto de mim e um outro senhor distante para a direita.
De repente o trem começa a tremer, um tremor estranho, como se estivesse em uma turbulência. Que que foi agora? Símbolos estranhos começam a ser marcados na tela que indica as estações. Os vidros são congelados, totalmente de um jeito macabro. O trem parece atingir uma velocidade absurda. Me seguro para não cair enquanto ele balança. Foi somente nesse momento que percebi que as pessoas no vagão sumiram.
O trem para. Meus olhos ficam indo de um lado para outro. O que aconteceu? A porta na minha frente se abre. Revela uma caverna. Me levanto. É uma caverna enorme, misturada com arquitetura antiga e medieval de castelo. Há algumas coisas ali distante. Tem um espelho? Uma estátua? E um pote de vidro? Que?!
Olho para o mapa das estações na parede do vagão, olho pra caverna, olho pro mapa, olho pra caverna.... Meu Deus...
Passo pela porta. Vejo que no pote de vidro em forma de cilindro, tem um bicho, uma larva, parece ser larva de borboleta com olhos grandes. Tem olhos grandes e é verde. Além de um caixinha no peito. Um barulho surge atrás de mim e quando viro, o trem sumiu.
—que tá acontecendo?!
Minha fala se torna um grande eco por todo o lugar. Olho para a esquerda e vejo uma entrada. Passo por ela. Vejo sete tronos distantes acima de uma escada, com um raio desenhando logo acima. Há sete estátuas pela lateral esquerda, de monstros, monstros assustadores. Na direita, uma esfera azul brilhante que pulsa. São rochas misturadas com arquiteturas de castelos.
No trono do meio, tem alguém sentado. Fico sem reação mas ele se levanta, limpando sua garganta em um som característico.
—eh... Oi. Acho que... É, enfim, acho que eu desci na estação errada.
—Billy Batson.
Diz abrindo as mãos, enquanto segura um pau de madeira nas mãos que tem um brilho azul na ponta. Ele parece um bruxo de Harry Potter, só que com um raio no peito e roupa brega, mais brega que naquele filme.
—como sabe meu nome?—questiono.
—eu sou o último do concelho dos magos—aponta para os tronos logo atrás de si—guardião da pedra da eternidade—desce as escadas, enquanto se aproxima.
Eu só penso em como eu vim parar com um velho biruta da cabeça. Espero que seja só biruta da cabeça...
—ah, você é esse cara, é? Eu, eu tenho que te pedir um autógrafo...? É que eu não tô ligado nisso não...
—não me subestime, rapaz!—bate aquele negócio nas mãos dele, acho que o nome é cajado. Ele brilha. Um brilho dourado explode dele, navegando por mim e ao meu redor. São ondas douradas em brilhos—você está na fonte de toda magia: A Pedra da Eternidade—o quer que seja esse negócio dourado, formam uma espécie de holograma estranho, com imagens de pessoas e civilizações—sete tronos para sete magos. Há muito tempo, escolhemos um campeão—surge nesse holograma alguém encapuzado com capa. Ele é gigante de forte—mas foi uma escolha imprudente. Ele usou seus poderes para vingança, libertando os sete pecados capitais em seu mundo. Milhões de vidas se perderam. Civilizações inteiras, limpadas da face da terra—esse holograma mostra tudo isso, em uma forma assustadora e macabra, até se sumir por completo—outros tentaram tomar o poder mas falharam. Foi por isso que eu jurei nunca transfirir a minha magia, até encontrar uma pessoa boa de verdade, forte de espírito—conforme fala, caminha ao meu redor me cercando—pura de coração—fica na minha frente.
—olha, moço, talvez seja magia e sei lá, mas a pessoa que tá procurando, não sou eu. Eu acho que nem existe alguém assim.
—você, Billy Batson—dá passos se aproximando—é tudo o que eu tenho. Tudo que o mundo tem—bate o cajado com firmeza—ponha suas mãos no meu cajado.
—sai fora, eu hein—dou um passo pra trás.
—e diga meu nome, para meus poderes fluírem por você. Eu abro meu coração para você, Billy Batson. E assim sendo, escolho você como campeão.
—hã v-valeu. O papo tá bom, cara, mas eu realmente preciso chegar na estação certa.
—meus irmãos e irmãs foram mortos pelos pecados. Seus tronos!—aponta para eles—estão vazios! Estou fraco demais para continuar. Minha magia precisa ser transferida. Agora!—bate o cajado mais uma vez, só que agora, com mais brutalidade—diga o meu nome!
POV Narrador
Sua cara agora com certeza está a mais estranha possível. Abre e fecha a boca sem falar nada.
—eu nei sei seu nome, moço. Não te conheço, lembra?
—neu nome é... Shazam!—ele falou de uma forma tão sério e heróica que Billy simplesmente não aguenta e caí na gargalhada.
—hahhhahahahhahahahhaah, tá brincando?
—agora!—bate mais uma vez o cajado, assustando o garoto.
—calma! Nossa...—segura com uma mão, enquanto a outra continua sobre a alça de sua mochila verde. O mago põe suas duas mãos juntas. Billy estranha mais ainda—é só dizer? Tipo: Shazam!
Um relâmpago atinge o menino, liberando uma névoa branca, tamando a visão do que ocorre. O mago ergue seu cajado para o alto.
—sim! Leve meu nome e com ele todos os meus poderes!—uma eletricidade mágica navega pelo seu ser—a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, a resistência de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio!—a cada nome pronunciado, um relâmpago atingia o cajado.
Da fumaça branca que se desmancha, uma grande silhueta emerge. Alta com grandes músculos e adulto. Veste um traje vermelho com raio no peito, capa branca, cinto, braceletes e botas douradas. Se põe de pé, um pouco atordoado. Recobra os sentidos e logo se alto analisa.
—o que houve comigo, por que eu—se olha e encara as partes do próprio corpo. Na sua visão, ele parece que cresceu uns dois metros—o que você fez comigo?—seus olhos se arregalam—o que fez com a minha voz?!—percebe que a mesma engrossou.
—você foi transformado no seu potencial máximo, Billy Batson—bate o cajado. Billy por impulso o segura—com seu coração liberte seu maior poder. Ela virá, e você terá que estar pronto. O trono de nossos irmãos e irmãs aguardam!
O rosto do mago começa a rachar. Sua pele craquela se esfarela. Billy observa se assustando mais ainda. O corpo do mago, interinamente, se desmancha, caindo em poeira como terra. Ele agora, se juntou aos seus irmãos e irmãs. Billy abre a boca apavorado e jogo o cajado para longe amedrontado.
—ah, meu Deus!—agarra sua mochila—começa a correr—eu quero sair daqui!
Um brilho branco cobre suas vistas. Ele é obrigado a fechar os olhos. Billy os abre de novo e se vê de volta ao trem lotado. A primeira coisa que vê é um cara aleatório rindo e batendo palma para ele.
—meu irmão, arrasou na ropitia. Cinto dourado, botas douradas, capa branca. Vai arrassar na comic-con desse ano!
Billy arqueia a sobrancelha assustado e sob os olhares das pessoas que riem dele. O trem para e ele se lava. As porta se abrem e quando ele passa, acaba batendo a cabeça acima.
—au!—mais risadas.
Apressadamente ele parte correndo dali, querendo fugir de toda essa maluquice que ocorreu nessa última hora.
[...]
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