‹⟨ Episódio 2 ⟩›
TV ON
—muitos relatos semelhantes, praticamente iguais, estão ocorrendo pelo mundo. Pessoas de todas as partes do mundo estão relatando apagões estranhos e "abduções."
—eu tava em casa e de repente tudo ficou frio e gelado. A porta do meu quarto brilhou e símbolos estranhos apareceram no meu celular. Quando eu atravessei a porta...
—era uma caverna estranha, com várias coisas que não sei dizer...
—e apareceu um velho, de vermelho e cajado. Tinha várias estátuas estranhas também...
—ele disse que eu não era pura de coração... Depois eu me vi de novo no meu trabalho.
—não há nenhum padrão entre as pessoas dos relatos. Tudo ainda continua sem explicação alguma, mas a teoria mais aceita é que todos estejam sofrendo de histeria coletiva. Outras notícias: quem são os heróis do super grupo intitulado Liga da Justiça? Aqui, contaremos quem são e o que eles podem representar para a mudança no cenário mundial. Veja tudo isso e muito mais após o intervalo.
TV OFF
Espero numa cadeira enquanto assisto a TV presa no alto da parede. Balanço o pé pra frente e pra trás, raspando a sola dos meus tênis no chão. A porta ao lado se abre, revelando a Globie que me conhece de vários rodeios. Assim que ela me vê, solta um suspiro cansado se sem paciência. Eu solto o meu mais belo sorriso.
—entra, Billy—diz farta.
Fico sentando em frente a senhora E.B Globie. Ela lê uns papéis, com seus óculos retangulares na face.
—a instituição Reny Bary não quer mais você—me encara séria—já é a sexta vez que foge deles e desistiram.
—ow, que triste, vou chorar—dou uma rizada.
—você ri? Pois eu acho isso triste, senhor Batson. Você já fugiu de vários lares em seis condados. E em busca de que? Vejo que dá uma de detetive, né?—ergue meu caderninho em uma de suas mãos. Suspira—buscando mulheres com o sobrenome Batson entre vinte e quarenta anos. Eu não quero você procurando alguém que não procura você. Porque é o que me parece. Tem pessoas, pessoas boas que te querem, te querem dar uma chance. Dê uma chance também.
—olha só, eu não preciso de nenhuma família. Eu sei me virar sozinho!
—aposto que sim, quando tiver dezoito. Até lá, não quero você morando nas ruas—nós dois suspiramos—aquele casal lá fora—aponta pelo vidro. Olho na direção. É uma moça e um cara de origem asiática. Conversam com grande sorrisos com um dos assistentes, principalmente a mulher. Seu olhar me encontra. Ela tem um brilho nos olhos e um sorriso doce, gentil... Amigável. Tenho que admitir isso—eles querem te dar essa chance. Você vai com eles. São os Vásquez. São pais de outras cinco crianças como você. São pessoas boas—bufo—você vai com eles. Sem escolha.
Depois de tudo isso e mais um pouco, me vejo dentro da vã deles no banco traseiro. Eles se ajeitam na frente, com o homem no volante. Se viram com sorrisos acolhedores e simpáticos.
—eu vou pular o sermão—o homem grandão começa—mas saiba que eu e a Rosa entendemos. Também crescemos em lares adotivos.
—uh, isso foi na idade das trevas.
—mulher!—encara ela. Os dois riem juntos—tenho coração de jovem! E eu tô ligado em tudo.
—é, só se tiver ligado em aparelhos, porquê ele é uma múmia—ele ri. O olhar da Rosa volta para mim. Eu apenas não sei o que falar nesse momento—Billy, é alérgico à algum alimento?
—vai rezar pra ser. Hoje é a Darla que tá cozinhando.
—¡Mira, Víctor!
Ele recebe um tapa e dá um pulo no banco com o susto.
—que é?!—ela suspira.
Após isso, ele dá partida com a vã. Seguimos pela estrada até chegarmos na nova casa. Estaciona o veículo em frente à garagem.
—a gente sabe que as vezes é sufocante. Casa nova, gente nova...
—a pressão é grande, mas, ah, dê tempo ao tempo.
Saímos da vã. Rosa lidera o caminho e Victor protege a retaguarda. A casa é de dois andares, bem estilo americana. Tem aparecia boa e acolhedora. Além de um gramado sem cercado, coberto pela neve da época do natal que passou. Rosa abre a porta, me mostrando um sorriso animado. Adentramos a casa. Eles deixam seus casacos nos cabide perto da porta.
—oii!—ninguém responde, só tem o som de música tocando no fundo—chegamos!—Rosa procura avistar alguém.
—é por isso que você é um lixo!
Rapidamente olhamos para o cômodo da sala, onde tem um menino com fones e notebook no colo. Ele parece bem concentrado no jogo. Victor se aproxima de nós.
—que festa de boas vindas—comenta.
—ah, olha—Rosa começa virando o olhar para mim. Apenas ouço—aquela coisinha sentada na poltrona é o Eugene.
—é ele?—de outro cômodo surge uma menininha de óculos e roubas bastante infantis. Olhamos pra ela—caramba! Billy!—parte correndo.
—epa, com calma, com calma.
Ela não escuta Victor e logo me vejo com seus braços ao redor da minha cintura. Ela me aperta bastante e eu fico sem reação.
—seja bem-vindo!
—e essa é a Darla.
—eu sou a Darla!—levanta a cabeça, mostrando seus dentinhos que faltam no sorriso.
—adora abraçar.
—eu percebi—digo depois de Victor.
—morre, morre, morre!—olhamos de novo para Eugene que nem notou nossa presença.
—não se preocupa. É só um jogo—aceno para a menina, pressionando meus lábios um no outro.
Victor caminha até o menino e retira seus fones, o pegando de surpresa.
—ai, refrigerante de noite não pode.
—opa... Já tá de noite?
—ah, o cartaz, vem ver!—sou arrastado por Darla. Não tenho nem tempo de reagir. Me leva pra outro cômodo à frente que tem poltronas e sofás—ah, não!—para quando se depara com grandes pesos em cima do papel cor de rosa, desenhado com glitter em letras tortas—desculpa. O Pedro deve ter malhado—tenta tirar os pesos—ele quer ficar saradão—tenta puxar o cartaz.
Rosa corre para ajudar mas é tarde quando Darla sem querer rasga o cartaz, ficando com o pedaço em mãos.
—ai...
A menina fica com o olhar cabisbaixo e triste.
—toma...—me entrega o pedaço, com um tom tristonho.
—valeu—agradeço.
—sim!—levo o olhar para a menina mais velha que surge ao telefone, junto de Victor que aparece ao seu lado—é por isso que o departamento de matemática é excelente pra mim—ouvimos mais comentários abafados pela distância de Eugene. Ele solta mais xingamentos—não dá, não dá pra aturar o Eugene agora. Prazer, Mary, oi!—abre um sorriso—to numa entrevista pra faculdade.
—eu sou o Billy...
—com o que eu tô mais animada?!—expressa em um tom alto—ai, que ótima pergunta. Fico feliz por perguntar. Com o que eu tô mais animada?—pergunta baixinho, pedindo ajuda para Rosa e Victor.
—eu não sei!
—diz que é órfão. A faculdade adora isso—Victor da a idéia. Ela volta pro telefone.
—com o que eu tô mais animada? Com a experiência no campos, sendo uma jovem órfão eu acredito encontrar uma família e amigos nos lugares, hã, mais improvaveis—após uma curta espera, ela sorri e dá pulinhos feliz. Agradece Victor batendo seu punho com o dele—valeu!—ela se vai.
—ah, vou sentir tanta falta dela—Rosa comenta. Tem as mãos entrelaçadas em frente à cintura—essa faculdade é de muito prestígio.
—só que fica lá na Califórnia.
—mas a gente não precisa falar disso agora—baixo o olhar pra garotinha—é um assunto difícil pra mim. Gosta de comida vegana?—Victor balança a cabeça, como um aviso projetado para me proteger—é que eu amo os animais.
Um alarme estridente e irritante dispara, vindo de onde parece ser a cozinha.
—ah, não! O Peru!—ela corre na direção da fumaça branca.
—ai, não, agora vai ser peru de verdade!—Victor parte para o salvamento.
—isso é...
—tá tudo bem. Vem, vamos ver seu quarto—a sigo pela casa. Começamos a subir as escadas de madeira escura e bem cuidadas—é casa de maluco, eu sei, mas, é legal—ouvimos o caos na cozinha, os xingamentos de Eugene e a entrevista de Mary—cuidado com o degrau—no meio das escadas, um outro garoto surge. Rosa o para. Ele tira um de seus fones. Estava ocupado demais ouvindo suas músicas num volume que dava pra ouvir daqui—Pedro, mi amor, Hola, fala com o Billy—apenas acena e desce pelo seu caminho—não leva pro pessoal, ele é assim com todo mundo—no andar de cima, adentramos a primeira porta aberta do quarto em frente a escada—Freddy, esse é o Billy Batson—apareço logo atrás—deixa ele à vontade, tá?—encaro o menino que veste uma camisa verde do Aquaman. Ele está sentado em frente a tela do computador e só espera Rosa terminar de falar—tenta não fazer nada esquisito, ok?
—ah, só uma coisa esquisita: sabia que os romanos escovavam os dentes com o xixi?—meu deus. Alguém me leva daqui. Rosa fica paralisada e apenas balança a cabeça, suspirando—pelo visto, funciona—como assim "pelo visto"?
—eehhh, hãn—ela me olha. Não diz nada e logo se vai.
Com esse guri estranho aqui, ando pelo quarto, abrindo uma fresta pela corrida. Está de noite e analiso a altura.
—ah, é uma queda feia—diz. Se levanta agarrando uma muleta. O olho de cima para baixo—eu sei bem—se aproxima—o Victor me empurrou—passo o olhar rápido entre ele e a janela—parecem legal, mas não caí nessa. É estilo jogos vorazes aqui—arqueio a sombrancelha um pouco assustado, eu diria.
—que?—ele ri.
—cara, tô te zuando—de repente muda a expressão pra algo triste e doloroso—na verdade eu tenho câncer terminal. Eu tenho só três meses—olho ele e a porta. Me diz que alguém vai surgir logo pra me salvar desse doido.
—como é que é?
—é zoeira, de novo!—ri. Dá um tapinha no meu braço—você olha e pensa: "baixo astral, é um órfão deficiente. Tirou a sorte grande hein"—tenta fazer uma voz grossa... . Passo por ele indo até uma estante. Ele tem um Bat-rangue sob ela, de pé—ah, é, esse é o meu Bat-rangue—a estante dele tá cheia de bonecos do Superman e do Batman. Além de revistas em quadrinhos—é uma réplica—fica ao meu lado. Além dessas coisas de nerds, tem as coisas de super nerd com folhas de jornal recortadas com notícias. "Quem é a Liga da Justiça?" umas das manchetes—mas tá bem afiado. Dá pra te matar dormindo—o encaro. Ele parece que é um menino normal, mas não caí nessa—você é fã do Superman?
—aham.
Abre uma gaveta com mais recortes de capas de jornais e outras coisas. Eu acho que ele é um stalker dos super heróis.
—é, eu também—agarra um saquinho. Ergue com o braço estendido, o glorificando—esse aqui, é o santo grau! Uma bala nove milímetros que atiraram no Superman—a única coisa que penso é que isso deve valer alguma coisa—é de verdade. Deve valer uns 500, 600 ou até mais. O que tem na mochila?—toca ela mas logo retiro de suas mãos.
—ow!
—calma!—o encaro. Eu nem conheço ele e as coisas não funcionam assim—é bom ter limites—continuo encarando—vai ver como é. É legal—fecha a gaveta.
Seguro o caderno sobre meu colo, com minha mochila ao lado de meu pé. Viro as páginas, sentado sobre a banheira. Vários os nomes que listei estão riscado, sem sucesso. Risco o último. Viro a página, vendo a próxima em branco. Suspiro. Jogo o caderno na lixeira do banheiro.
—jantar!—ouço a voz de Victor abafada pela porta do banheiro.
Desço o andar e sou o último a chegar, já que todos estão reunidos. Me sento no último lugar ao lado da ponta, em frente a Freddy.
—vamos, mão aqui na mesa—Victor estende sua mão aberta. Todos pousam suas mãos sobre a dele, menos eu—agradeço por essa família, agradeço por esse alimento, mesmo que não seja um filé mignon—todos sorriem. Apenas observo de cara estranha.
[...]
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