2013- O pior ano da minha vida.

Acho que todos nós temos uma válvula de escape dos problemas, uns bebem, outros fumam, alguns escutam música, e os que têm sorte de ter amigos de verdade correm até o abraço seguro e reconfortante que eles proporcionam, mas os como eu, que não tinham ninguém verdadeiro, ou sentia que não tinha e estava triste demais para aguentar, acaba se cortando.

Eu não tenho cicatrizes, mas toda vez que olho pros meus pulsos, eu lembro que tinha cortes lá, por mais que eles não apareçam ou nem deixaram marcas mas eles estiveram lá um momento, e eu sei disso.

Eu não lembro quando exatamente meu primeiro corte, mas sei que depois dele você não consegue mais parar, você vicia, quer mais e mais, não tem uma placa de para.

Só há dois jeitos de parar de se cortar.

1° Quando não tem mais espaço para nenhum corte mais.
2° A morte.

Eu não estava pronta pra me matar ainda, então fui com a primeira opção, me cortar até não sobrar mais espaço, mas como sempre estou pulando muito e não contando fatos importantes.

O motivo do meu primeiro corte eu me lembro bem, eu estava tão frustada comigo mesma, e sentia tanta vergonha, de mim, que eu me culpava a certo modo que eu consegui achar certo que me cortar me faria melhor, eu tinha lido nas páginas do Facebook e Tumblr, aquela era a única saída.

O motivo em si era que um menino em particular da minha escola, ele não era o mais bonito, mas era o mais popular, então já é de se esperar que ele sempre seja o queridinho, e quem for contra apenas encontrará problemas.

Esse foi um dos motivos pelo qual não contei o que ele fez, não chegou a ser um estupro, mas foi um assédio sexual, ele tocava em mim sem ao menos perguntar se eu queria ou não, e muitas vezes eu dizia para meus amigos que eu não via ele fazer isso quando eles viam que ele estava me tocando, mas por vergonha ou talvez medo de minha parte eu nunca falei nada.

Fui idiota, eu sei.
Você devia ter falado, eu sei.

Mas eu não o fiz, às vezes você sente tanta vergonha, do que está acontecendo por você ter chamado atenção a isso que você simplesmente não tem reação.

" Você é tão burra Ellie, você não faz nada contra aquele idiota, as pessoas já tão falando que você é puta, oferecida, por deixar ele fazer isso com você!"

" Ele não fez nada Nina, relaxa."

Eu repetia a mesma coisa toda vez que meus amigos diziam alguma coisa.

Era apenas humilhante.

"Ellie, ele acabou de passar a mão na sua bunda você não vai fazer nada?"

"James, ele não fez nada, eu não senti nem vi que ele fez isso, então ele não fez nada, relaxa."

Apenas humilhante.

Eu simplesmente era muito medrosa para falar para ele parar, mas você deve estar se perguntando o porquê exatamente, além de medo, tinha que ter mais algo para eu não fazê-lo parar de me desrespeitar desse jeito.

Eu para ser sincera gostava da atenção.

Ridículo não é?

Eu sei, muito piranha da minha parte, mas eu meio que sentia que alguém se importava comigo? Eu não sei o que passava na minha cabeça de treze anos, agora com dezoito, e volto a pensar nisso, eu deveria ter dado na cara dele por ser tão filho da puta assim.

Mas fazer o que? Eu não posso mudar o passado, posso apenas aceitá-lo.

Foi aí que os cortes começaram, pessoas começaram a me chamar de oferecida e puta, eu ia para a escola sem vontade, faltava sempre que possível, minha vontade de viver diminuía a cada dia.

Os cortes começaram pequenos em meu pulso.

E com o tempo cobriram todo meu antebraço esquerdo e braço direito.

Vergonha.

Nojo.

Desprezo.

Esse eram os olhares que eu recebia quando por acidente alguém via meus cortes.

Meus amigos foram diminuindo, os cortes aumentando.

Minha vida virou um buraco negro, e eu não tinha como escapar dele.

Aí você se pergunta como seus pais não viram isso?

Eu morava com a minha avó, a minha casa mesmo era na frente da casa da minha avó, e com meu avô doente, meu pai pediu que eu dormisse lá, então eu praticamente morava com ela.

E como eles se matavam de trabalhar sempre foi muito fácil esconder os cortes deles, sempre foi muito fácil esconder tudo deles.

Até que um dia não foi mais, porém isso eu contarei mais para frente.