Capítulo 1
O som dos aplausos ainda ressoava em sua mente, mesmo horas depois do fim do show. As luzes vibrantes, as vozes que ecoavam cada palavra de suas músicas, o peso das notas finais no piano... Era tudo tão familiar, tão parte de quem Taylor Swift era. Mas, naquele momento, enquanto subia os degraus do jatinho particular, tudo parecia vazio.
Taylor passou pela entrada estreita, tirou os óculos escuros e os colocou no bolso de sua jaqueta. Seu corpo doía de exaustão, cada músculo implorando por descanso. Ela sempre ficava exausta após os shows – isso fazia parte da rotina, parte da magia. Mas havia uma diferença. Antes, ela costumava se sentir exausta e realizada, como se cada gota de suor valesse a pena. Agora, ela estava apenas... exausta.
Ela se jogou na poltrona de couro macio e fechou os olhos por um momento, tentando desacelerar o ritmo de seus pensamentos. Mas eles vinham, implacáveis, como sempre.
Joe.
Três meses se passaram desde que ela havia descoberto a traição, e a ferida ainda estava lá, aberta e latejante. A imagem daquela mulher, loira como ela, mas com um corpo que parecia esculpido por anjos, ainda assombrava sua mente. Taylor se pegava constantemente olhando no espelho, comparando-se a um ideal inalcançável. "O que ela tem que eu não tenho?" A pergunta sussurrava em sua mente, como uma melodia triste que ela não conseguia parar de ouvir.
Ela suspirou, olhando pela janela enquanto a equipe carregava suas bagagens. O céu noturno era infinito, mas ela se sentia presa, como se a vastidão lá fora não tivesse espaço para ela.
"Eu não quero isso", pensou, o peito apertado. "Eu não quero mais aplausos, nem recordes quebrados, nem mansões vazias. Eu só quero... alguém."
Era uma confissão que ela nunca ousaria dizer em voz alta, mas que gritou silenciosamente dentro dela. Alguém que quisesse estar ao seu lado pelo que ela era, e não pelo que representava. Alguém que enxergasse Taylor – não a estrela, não o ícone, mas a mulher que estava cansada de lutar sozinha.
Ela pensou em todas as noites solitárias nas últimas semanas, todas as vezes em que se pegou encarando o teto, tentando preencher o silêncio com qualquer coisa que não fosse o som de sua própria vulnerabilidade. Era ridículo, talvez, para alguém na posição dela, desejar algo tão simples. Mas ela sabia, no fundo, que fama, fortuna e sucesso não compravam paz.
Taylor passou a mão pelo cabelo preso em um coque bagunçado e olhou para o anel prateado em seu dedo. Era um presente de sua mãe, algo que ela sempre usava para lembrar de suas raízes. "Não se perca," sua mãe costumava dizer. Mas ultimamente, ela não sabia onde estava.
Ela precisava de uma mudança, mas não sabia como encontrá-la. Tudo parecia tão pesado, como se o mundo esperasse que ela fosse perfeita, enquanto ela mal conseguia suportar o peso de sua própria tristeza.
O som dos motores do jatinho rugindo trouxe Taylor de volta ao presente. Ela olhou para a janela novamente, vendo as luzes da cidade começarem a desaparecer enquanto o avião decolava. Nova York era seu destino – o próximo ponto de sua turnê. Ela tinha uma semana para se preparar antes do retorno da The Eras Tour, e ainda assim, a ansiedade já começava a se arrastar por sua pele.
O que ela mais temia, no entanto, não era o palco, nem os ensaios exaustivos. Era o vazio que vinha depois. O momento em que as luzes se apagavam e ela voltava a estar sozinha com seus pensamentos.
"Alguém mude minha profecia," ela sussurrou para si mesma, quase inaudível. Ela sabia que ninguém ouviria – ninguém nunca ouvia. Mas talvez, só talvez, o universo estivesse prestando atenção.
Taylor fechou os olhos, tentando afogar as dúvidas e medos em uma tentativa de dormir. O céu lá fora estava escuro, mas, no fundo, ela sabia: a escuridão dentro dela era muito mais densa.
O jatinho pousou suavemente no aeroporto de Nova York, mas o coração de Taylor ainda parecia pesado. As luzes da cidade piscavam ao longe, mas nada parecia brilhante o suficiente para atravessar a névoa que havia tomado conta de sua mente.
Seu motorista já estava esperando, e ela entrou no carro sem dizer muito. Durante o trajeto até seu apartamento, a familiaridade das ruas trouxe uma pontada de conforto. Nova York sempre foi sua fortaleza, o lugar onde ela se reinventava, mas agora parecia mais um lembrete de tudo que ela estava tentando esquecer.
Quando finalmente chegou ao seu prédio, subiu diretamente ao apartamento. Era espaçoso, moderno, mas desprovido de qualquer coisa que realmente a fizesse se sentir em casa. Ela tirou os sapatos assim que cruzou a porta, deixou a bolsa cair no chão e foi direto para o banheiro.
A água quente caía sobre ela, lavando não apenas o suor e a exaustão da turnê, mas também a sensação sufocante de tristeza que a acompanhava desde que descobrira a traição de Joe. Enquanto esfregava a pele com o sabonete, sua mente a torturava com imagens que ela não queria ver. O rosto da mulher. O riso de Joe. As memórias distorcidas de um amor que parecia tão sólido e que agora não passava de ruínas.
Quando terminou o banho, vestiu uma calça de moletom cinza e um suéter de cashmere, uma de suas combinações favoritas para dias que ela sabia que terminariam em solidão. Foi até a cozinha, abriu o armário e pegou uma garrafa de vinho tinto. Não era a escolha mais sensata, especialmente considerando seu cronograma, mas naquele momento, sensatez era a última coisa em sua mente.
Ela afundou no sofá, puxou um cobertor e, com um suspiro, tomou o primeiro gole direto da garrafa. O calor do vinho percorreu seu corpo, trazendo uma ilusão de conforto.
"Isso não é apropriado," ela murmurou para si mesma, mas a verdade era que ela não se importava. Não agora.
Enquanto ela saboreava o segundo gole, seu celular começou a vibrar na mesa de centro. Uma vez, depois outra, e mais outra. Ela ignorou, determinada a não deixar ninguém interromper o único momento de paz que havia conquistado naquele dia. Mas as notificações não paravam, e o som incessante começou a irritá-la.
Taylor pegou o celular com uma expressão de desgosto, destravou a tela e viu uma enxurrada de mensagens no grupo que ela tinha com Blake e Brittany.
Blake havia começado:
Blake:"Genteee! Precisamos de um final de semana só nosso! Eu e o Ryan alugamos uma casa de praia incrível aqui em Kansas City. As crianças vão ficar com os avós, então vai ser perfeito. Sem interrupções. Topam?"
Brittany:"Siiiiim! Finalmente uma escapada que eu não preciso planejar. Conta comigo!"
Taylor suspirou, já se preparando para recusar. Ela não tinha energia para isso, muito menos para lidar com casais apaixonados enquanto ela própria estava tentando reconstruir os pedaços de si mesma.
Taylor: "Obrigada pelo convite, mas vou passar dessa vez. Estou exausta."
A resposta foi quase imediata.
Blake: "Ah, qual é, Tay! Você PRECISA disso. Vai ser relaxante, divertido. Sem pressões."
Brittany: "É sério, Tay. Você está sempre cuidando de tudo e todos. Deixa a gente cuidar de você um pouquinho."
Taylor passou a mão no rosto, já sentindo o cansaço emocional da insistência das amigas. Antes que pudesse responder, outra mensagem apareceu.
Blake:"Além disso... Travis não vai. Então você não precisa se preocupar com ele."
Taylor parou, encarando a mensagem. Sua mente imediatamente trouxe a imagem de Travis Kelce, com seu sorriso presunçoso e a habilidade infalível de irritá-la com uma única frase. Ele era o tipo de pessoa que ela evitava a todo custo – competitivo, teimoso, e, acima de tudo, alguém que parecia se divertir demais provocando-a.
Taylor:"Ele não vai mesmo?"
Blake:"Prometo. É só diversão, nada de drama."
Taylor hesitou. Ela não tinha certeza se queria passar um fim de semana em Kansas City, mas a menção de que Travis não estaria lá fez com que a ideia fosse um pouco mais atraente. Talvez, só talvez, isso pudesse ser uma distração.
Taylor: "Tudo bem. Eu vou. Mas só porque vocês não vão me deixar em paz."
As mensagens de comemoração vieram quase imediatamente, com Blake e Brittany enviando emojis, gifs e palavras de animação. Taylor colocou o celular de volta na mesa e tomou outro gole do vinho.
Ela sabia que suas amigas tinham boas intenções, mas algo dentro dela ainda estava hesitante. Ir a Kansas City era uma escolha ousada para alguém que só queria se esconder do mundo. Mas talvez, apenas talvez, fosse o que ela precisava.
Taylor largou a taça vazia sobre a mesa de centro com um movimento desleixado, o leve tilintar do vidro ecoando pelo apartamento silencioso. Ela esticou as pernas sobre o sofá, afundando-se ainda mais nas almofadas macias. O vinho já aquecia seu corpo, mas a mente continuava pesada, sobrecarregada com pensamentos que insistiam em se arrastar até o passado.
Do outro lado da sala, Olívia, sua gata, estava empoleirada na ponta do arranhador. Seu olhar penetrante parecia analisá-la, os grandes olhos verdes fixos nela como se estivesse julgando suas escolhas.
Taylor soltou uma risada curta e amarga, balançando a cabeça enquanto se inclinava para alcançar a garrafa de vinho que repousava sobre a mesa. "O que foi, Olívia? Vai me dar uma palestra agora? Já basta a minha mãe, não preciso de mais ninguém pegando no meu pé."
A gata continuou imóvel, observando-a com o mesmo olhar estoico. Taylor encheu novamente a taça, mas não a levou imediatamente à boca. Em vez disso, encarou o líquido rubro que balançava suavemente no vidro, perdida em seus próprios devaneios.
"Você não entende, né?" ela continuou, agora falando diretamente com Olívia, como se a gata fosse capaz de oferecer respostas. "Todo mundo acha que eu tenho tudo. Dinheiro, fama, sucesso... Mas ninguém enxerga o vazio que isso deixa. Eu só queria... alguém. Alguém que quisesse ficar por perto, mesmo quando eu não sou 'Taylor Swift'."
Olívia soltou um leve miado, como se respondesse. Taylor arqueou uma sobrancelha, rindo com a ironia. "Ah, claro. E você, a dona da verdade, o que sugere? Que eu simplesmente me abra para as pessoas de novo? Você sabe o que aconteceu da última vez, Olívia. Ele me destruiu. Ele destruiu tudo."
Ela balançou a cabeça e tomou um grande gole do vinho, como se tentasse apagar as palavras que acabara de dizer. O calor do álcool misturado à exaustão do show mais cedo a deixava atordoada, e ela sabia que deveria parar. Mas a dor em seu peito parecia insuportável naquela noite, mais pesada do que o normal.
De repente, a garrafa em sua mão estava vazia. Ela encarou o vidro vazio por um momento, então levantou-se, cambaleando levemente em direção à cozinha. "Acho que preciso de mais uma. O que você acha, Olívia?"
A gata a seguiu com o olhar, mantendo sua posição inabalável no arranhador. Taylor soltou uma risada amarga enquanto abria a adega e pegava outra garrafa. "Eu sabia que você ia concordar. Você sempre concorda, mesmo com esse olhar julgador."
Ao retornar à sala, com a nova garrafa em mãos, Taylor parou por um momento, encarando a enorme janela que exibia a cidade de Nova York brilhando lá fora. "Talvez Blake esteja certa, talvez eu precise mesmo sair daqui. Ver gente, mudar de ares. Mas... Kansas City? Onde *ele* vai estar? Não sei, Olívia. Talvez seja melhor ficar por aqui."
Olívia não respondeu, claro, mas Taylor sentiu o peso da solidão que até mesmo a presença da gata não conseguia dissipar. Com um suspiro pesado, ela abriu a nova garrafa, serviu outra taça e voltou para o sofá.
A noite prometia ser longa, e a batalha dentro de sua mente, ainda mais.
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