❨ otto ❩
ׂׂ ˖ ◗ ᥫ᭡ ˖ ࣪ ‹ ATO I. the lightning thief
✸ No qual um deus compram-lhes hamburgers, e Noercy vão no
túnel do amor.
Na tarde seguinte, 14 de junho, sete dias antes do solstício, o trem entrou em Denver. As crianças não comiam nada desde a noite anterior no vagão-restaurante, em algum lugar de Kansas. Não tomavam banho desde que saíram da Colina Meio-Sangue.
— Vamos tentar entrar em contato com Quíron — disse Annabeth. — Quero contar a ele sobre sua conversa com o espírito do rio.
— Não podemos usar telefones, certo?
— Ela não está falando de telefones. — disse Florence, como se fosse óbvio mas para Percy não era.
Eles perambularam pelo centro da cidade por cerca de meia hora. O ar estava seco e quente, o que era estranho depois da umidade de St. Louis. Aonde quer que fossem, as Montanhas Rochosas pareciam olhar Percy, como um tsunami prestes a quebrar sobre a cidade.
Finalmente encontraram um lava-jato vazio. Foram para o boxe mais afastado da rua, atentos a carros de policia. Eles eram cinco adolescentes sem automóvel em um lava-jato; qualquer policial que se prezasse deduziria que não estavam fazendo nada de bom.
— O que exatamente estamos fazendo? — Percy para Noelle enquanto ela pegava a mangueira de um compressor.
— São setenta e cinco centavos — resmungou. — Só me restauram duas moedas de vinte e cinco. Annabeth?
— Não olhe para mim — disse ela. — O vagão-restaurante me deixou lisa.
Florence e Percy retiraram alguns trocados e passaram as moedas que juntaram para Noelle.
— Excelente — disse Noelle. — Poderíamos fazer isso com qualquer spray, é claro, mas a conexão não fica boa, e meus braços cansam de tanto bombear. Aposto que ninguém aqui aguentaria fazer isto também.
— Do que está falando?
Ela depositou as moedas e ajustou o botão para Esguicho Fino.
— M. I.
— Mensagem instantânea?
— Mensagem de Íris — corrigiu Annabeth. — A deusa do arco-íris transmite mensagens aos deuses. Se a gente souber como pedir, e ela não estiver atarefada demais, fará o mesmo para meios-sangues.
— Você convoca a deusa com um compressor?
Noelle apontou o bico da mangueira para o ar e água saiu chiando em uma espessa névoa branca.
— A não ser que conheça um meio mais fácil de fazer um arco-íris. — disse Florence, apoiando-se no ombro de Noelle.
De fato, a luminosidade do fim de tarde se filtrou através da névoa e se decompôs em cores.
Annabeth estendeu a palma da mão para Percy.
— Dracma, por favor.
Ele entregou.
Ela ergueu a moeda acima da cabeça.
— Ó deusa, aceite nossa oferenda.
Jogou o dracma no arco-íris. Ele desapareceu em um tremuluzir dourado.
— Colina Meio-Sangue — solicitou Annabeth.
Por um momento, nada aconteceu.
E então eles estavam olhando através da névoa para campos de morangos e o Estreito de Long Island a distância. Era como se estivessem na varanda da Casa Grande. Em pé, de costas para eles junto à cerca, estava um cara de cabelos da cor da areia, de short e camiseta regata laranja. Segurava uma espada de bronze e parecia olhar atentamente para algo na campina.
— Luke! — Percy chamou.
Ele se virou, os olhos arregalados.
— Percy! — O seu rosto marcado pela cicatriz se abriu em um sorriso. — E as meninas estão aí também? Graças aos deuses! Vocês estão bem?
— Estamos... ahn... ótimos - gaguejou Annabeth. Ela tentava deseperadamente alisar a camiseta suja e tirar os cabelos soltos da fente do rosto. — Nós pensamos... Quíron... quer dizer...
— Ele esta lá embaixo nos chalés. — O sorriso de Luke se apagou. Estamos tendo alguns problemas com os campistas. Escute, está tudo legal com vocês? Noelle está bem?
— Estou bem aqui — gritou Noelle. Ela virou o esguicho para um lado e entrou no campo de visão de Luke.
— Que tipo de problemas?
Bem naquele momento um grande Lincoln Continental entrou no lava-jato com o rádio tocando hip-hop no último volume.
Quando o carro entrou no boxe ao lado, os alto-falantes vibravam tanto que sacudiram o calçamento.
— Quíron teve de... que barulho é esse? — gritou Luke.
— Deixe que eu cuido disso! — gritou Annabeth parecendo muito aliviada por ter uma desculpa para sair de vista. - Grover, Flora, venham comigo!
— O quê? - disse Grover. — Mas...
Florence e Grover foram resmungando, mas foram com Annabeth deixando Percy Noelle e Luke conversando.
— Quíron teve de separar uma briga — gritou Luke, mais alto que música. — A situação anda um bocado tensa por aqui. A questão-impasse entre Zeus e Poseidon vazou. Ainda não sabemos direito como... provavelmente, foi o mesmo s ujeito nojento que convocou o cão infernal. Agora os campistas estão começando a tomar partido. As coisas estão ficando como na Guerra de Tróia, tudo de novo. Afrodite, Ares e Apolo estão de certo modo apoiando Poseidon. Atena está apoiando Zeus.
Percy estremeceu só de pensar que o chalé de Clarisse pudesse estar do lado de seu pai para alguma coisa. No boxe ao lado , eles ouviram Annabeth e algum cara discutindo, e então o volume da mús ic a abaixou drasticamente.
— Então, qual é a sua situação? — perguntou Luke para mim. — Quíron vai lamentar muito não ter podido falar com vocês.
Percy olhou para Noelle, como um pedido silencioso, e ela acenou com a cabeça e então ambos contaram praticamente tudo, inclusive os sonhos esquisitos - que eles descobriram que tinham em comum. Eles não perceberam o tempo que passaram falaram com Luke até que o alarme do compressor disparou. Noelle avisou que só tinha mais um minuto antes que a água desligasse.
— Queria poder estar aí — disse Luke. — Não podemos ajudar muito daqui, infelizmente, mas escutem... com certeza foi Hades quem pegou o raio-mestre. Ele estava lá no Olimpo solstício de inverno. Eu estava supervisionando uma excursão e nós o vimos.
— Mas Quíron falou que os deuses não podem tomar diretamente os itens mágicos um do outro.
— É verdade — disse Noelle. — Ainda assim... Hades tem o elmo das trevas. Como alguém mais poderia se esgueirar para dentro da sala do trono e roubar o raio-mestre?
— É preciso estar invisível. — completou Luke.
Ficaram os três em silêncio até que Luke pareceu se dar conta do que dissera.
— Ei — protestou ele. — Não quis dizer Annabeth. Nós nos conhecemos faz uma eternidade! Noe sabe disso. Ela jamais iria... quer dizer, ela é como uma irmã para mim, assim como Noelle.
Percy pensou consigo mesmo se Annabeth iria gostar daquela descrição. No boxe ao lado, a música parou. Um homem gritou aterrorizado, portas de carro bateram e o Lincoln saiu a toda do lava-jato.
— É melhor nós irmos ver o que foi aquilo. — disse Noelle.
— Escute, está usando os ténis voadores? Eu me sentiria melhor se soubesse que lhe serviram de alguma coisa.
— Ah... ahn, sim! — tentou não soar como parecer um mentiroso culpado - Noelle riu disso. — Sim, foram úteis.
— É mesmo? — sorriu. — Serviram e tudo o mais?
A água cessou. A névoa começou a dispersar.
— Bem, cuide-se lá em Denver — gritou Luke, a voz ficando mais baixa. — E diga a Grover que dessa vez será melhor! Ninguém será transformado em pinheiro se ele apenas...
Mas a névoa se foi, e a imagem de Luke desapareceu. Noelle e Percy estavam sozinhos e molhados.
Annabeth, Florence e Grover apareceram no canto, rindo, mas pararam quando viram as faces deles. O sorriso de Annabeth sumiu.
— O que aconteceu, Noe, Percy? O que Luke disse?
— Quase nada — mentiu a Laurent, sentindo o estômago vazio.
— Venham, vamos procurar alguma coisa para jantar.
Poucos minutos depois, estavam sentados num restaurante pequeno e reluzente. À nossa volta, famílias comiam hambúrgueres e bebiam cerveja e refrigerantes. Finalmente, a garçonete veio. Ela ergueu uma sobrancelha com um ar cético.
— Então?
Florence disse:
— Nós, ahn, queremos pedir o jantar.
— Têm dinheiro para pagar, crianças?
— Se eu estou aqui, pedindo comida, acho que sim. — sorriu inocente, Noelle havia ensinado muito bem como ser irônica.
O lábio inferior de Grover tremeu. Percy teve medo de que ele começasse a balir, ou, pior, começasse a comer o linóleo. Annabeth parecia prestes a desmaiar de fome.
Noelle estava tentando pensar em uma história comovente para a garçonete quando um forte ronco sacudiu o edifício inteiro; uma motocicleta do tamanho de um filhote de elefante havia encostado no meiofío.
Todas as conversas cessaram. O farol da motocicleta brilh a va em vermelho. Tinha labaredas pintadas sobre o tanque de gasolina e um coldre de cada lado, com espingardas de caca. O assento era de couro - mas um couro que parecia... bem, pele humana , caucasiana .
O cara da moto podia fazer lutadores profissionais saírem correndo chamando a mamãe. Vestia uma camiseta justa vermelha, que ressaltava os músculos, jeans pretos e um casaco comprido de couro preto, com um facão de caça preso à coxa. Usava óculos escuros vermelhos, presos na nuca, e tinha a cara mais cruel, mais brutal que eu já tinha visto - boa-pinta, eu acho, porém mau -, com cabelo aparado a máquina negro como petróleo o rosto marcado por cicatrizes de muitas, muitas brigas.
Quando ele entrou no restaurante, um vento quente e seco soprou no ambiente. Todos se levantaram, como se estivessem hipnotizados, mas o motociclista acenou a mão com desdém e eles sentaram de novo. Todos voltaram às suas conversas. A garçonete piscou, como se alguém tivesse apertado o botão de retroceder em seu cérebro. Ela perguntou novamente:
— Têm dinheiro para pagar, crianças?
O cara da moto disse:
— É por minha conta. — Escorregou para dentro do acento deles, pequeno demais para ele, e espremeu Noelle contra janela.
Encarou a garçonete, que olhava para ele de olhos arregalados, e disse:
— Ainda está aí?
Ele apontou para ela, e ela ficou rígida. Virou-se como se alguém a tivesse girado e marchou de volta para a cozinha.
O homem da moto olhou Percy e Noelle. Ambos tiveram vontade de bater na parede, vontade de comprar briga com alguém. Quem aquele cara pensava que era?
— Então você é o garoto do Velho das Algas, ahn?
Percy deveria surpreso, mas ficou com raiva ao invés disso:
— O que você tem com isso?
Os olhos de Noelle lançaram-lhe um alerta.
— Percy, este é...
— Tudo bem — disse ele. — Não me incomodo com um pouco de petulância. Desde que você lembre quem manda. Sabe quem eu sou, priminho?
— Você é o pai de Clarisse — respondeu Percy. — Ares, deus guerra.
Ares arreganhou um sorriso e tirou os óculos. Onde deveriam estar os olhos havia apenas fogo, órbitas vazias brilhando com miniexplosões nucleares.
— Certo, mané. Ouvi que vocês quebram a lança de Clarisse.
— Ela estava pedindo isso.
— Cala a boca, Aqua-Boy.
— Provavelmente. Tranquilo. Não me meto nas brigas dos meus filhos, sabia? Estou aqui porque ouvi dizer que estavam cidade. Tenho uma pequena proposta para você.
A garçonete voltou trazendo bandejas com montes de comida - cheeseburgers, batatas fritas, anéis de cebola empados e milk-shakes de chocolate.
Ares entregou-lhe alguns dracmas de ouro.
Ela olhou nervosa para as moedas.
— Mas estas não são...
Ares puxou seu enorme facão e começou a limpar as unhas.
— Algum problema, benzinho? — A garçonete engoliu em seco e se afastou com o ouro.
— Não pode fazer isso — disse Florence. - Não pode ameaçar pessoas com uma faca.
Ares riu.
— Está brincando? Eu adoro este país. Melhor lugar, depois de Esparta. Você não anda armado, garotinha? Pois devia. O mundo lá fora é perigoso. O que me traz de volta à minha proposta. Preciso que me faça um favor.
O sangue de Florence esquentou, sentiu uma raiva repentina. Noelle, sentindo isso, segurou a mão da filha de Afrodite por baixo da mesa, tentando deixar-lá calma - o que funcionou. E, agora, quem estava com raiva era Noelle. Ninguém fala assim com Florence Delacour e sai impune.
— Não.
— Que favor eu poderia fazer para um deus?
Annabeth e Noelle disseram ao mesmo tempo, se olhando em seguida, Annie tinha um olhar de aviso e Noe um olhar de ódio.
— Algo que um deus não tem tempo de fazer ele mesmo. Nada demais. Larguei meu escudo em um parque aquático abandonado aqui na cidade. Estava no meio de um... encontro com minha namorada. Fomos interrompidos. Deixei o escudo para trás. Quero que vá buscá-lo para mim.
— Por que não volta lá e pega você mesmo? — retrucou o filho de Poseidon e a garota Laurent.
O fogo nas órbitas dele ficou um pouco mais incandescente. — Por que não transformo vocês em duas marmotas e os atropelo com minha Harley? Porque não estou com vontade. Um deus está dando a você a oportunidade de se pôr à prova, Percy Jackson e Noelle Laurent. Vocês vão mostrar que são covardes? — Ele se inclinou para a frente. — Ou, quem sabe, você, Jackson, só luta quando há um rio para mergulhar dentro, para que seu papai possa protegê-lo?
Percy agora que estava furioso, mas, de algum modo, ele sabia que o deus esperava por isso. O poder de Ares estava causando a sua raiva.
— Não estamos interessados — falou. — Já temos uma missão.
Os olhos ardentes de Ares o fez ver coisas que ele não queria - sangue, fumaça e corpos no campo de batalha.
— Eu sei de tudo sobre sua missão, seu imprestável. Quando aquele item foi roubado, Zeus enviou seus melhores para procurá-lo: Apolo, Atena, Ártemis e, naturalmente, eu. Se eu não consegui farejar uma arma tão poderosa... — Ele lambeu o beiço, como se a própria idéia do raio-mestre o tivesse deixado com fome. — Bem... se eu não consegui encontrá-lo, você não tem nenhuma chance. Entretanto, estou tentando lhe dar o beneficio da dúvida. Seu pai e eu nos conhecemos há muito tempo. Afinal, fui eu quem lhe contou minhas suspeitas sobre o velho Bafo de Cadáver.
— Você disse a ele que Hades roubou o raio? — Noelle rangeu os dentes ao escutar a resposta em seguida:
— Claro. Acirrar os ânimos para uma guerra. O truque mais antigo de todos. Eu o reconheci imediatamente. De certo modo, você tem de agradecer a mim por sua missãozinha.
— Obrigada — resmungou.
— Ei, sou um cara generoso. Faça meu servicinho e eu o ajudarei em sua viagem. Vou arranjar uma carona para oeste para você e seus amigos.
— Estamos indo muito bem sozinhos.
— Sim, certo. Sem dinheiro. Sem rodas. Sem nenhuma pista do que vão enfrentar. Ajude-me, e talvez eu lhe conte algo sobre que precisa saber. Algo sobre a sua mãe.
— Minha mãe?
Ares sorriu.
— Percy...
— Isso despertou sua atenção. O parque aquático fica um quilômetro e meio a oeste, na Delancy. Não há como errar. Procurem o Túnel do Amor.
— O que interrompeu seu namoro? — Jackson perguntou.
— Alguma coisa o assustou? — Laurent continuou.
Ares arreganhou os dentes, mas havia algo de incerto, quase um nervosismo.
— Vocês tem sorte de ter me encontrado, bobões, e não um dos olimpianos. Eles não são tão indulgentes com a grosseria quanto eu. Encontrarei você aqui novamente quando tiver terminado. Não me desaponte.
Depois disso Percy deveria ter desmaiado, ou entrado em um transe, pois quando voltou a abrir os olhos Ares havia desaparecido. Podia ter pensado que toda a conversa fora um sonho, mas a expressão de seus amigos lhe dizia outra coisa.
— Nada bom — disse Grover. — Ares o procurou, Percy. Isso não é nada bom.
Agora que ele se fora, toda a raiva deles passaram. Florence percebeu que Ares devia adorar bagunçar as emoções das pessoas. Era esse o seu poder - exacerbar tanto as paixões que elas atrapalhavam nossa capacidade de pensar.
— Deve ser algum tipo de truque — comentou Percy. — Esqueçam Ares. Vamos embora e pronto.
— Acho que tem muita alga no seu cérebro, garoto. — Noelle disse, o encarando.
— Não podemos — disse Annabeth. — Olhe, detesto Ares tanto quanto qualquer um, mas não é possível ignorar os deuses a não ser que se deseje um azar tremendo. Ele não destava brincando sobre transformar você em um roedor.
— Por que ele precisa de nós?
— Talvez seja um problema que requeira inteligência — disse Florence. — Ares tem força. É tudo o que tem. Mesmo às vezes tem de se curvar à sabedoria.
— Mas esse parque aquático... ele agiu quase como se estivesse apavorado. O que faria um deus da guerra fugir desse jeito?
Todos da mesa se olharam nervosamente.
Annabeth disse:
— Acho que teremos de descobrir.
<⚡>
Quando encontraram o parque aquático, o sol estava se pondo atrás das montanhas. A julgar pela placa, ele outrora se chamara AQUALÂNDIA , mas agora algumas letras haviam sido arranca, então ela dizia AQU L D A.
O portão principal estava fechado com cadeado e tinha no alto arame farpado. Dentro, enormes escorregadores, tubos e canos se retorciam por toda parte, secos, desembocando em piscinas vazias. Velhos ingressos e folhetos subiam do asfalto com o vento. Com a noite chegando, o lugar parecia triste e arrepiante.
— Se Ares traz a namorada aqui para um encontro — falou Percy, olhando para o arame farpado —, não ia gostar de ver com aparência dela.
— Percy — advertiu Noelle —, tenha mais respeito.
— Por quê? Pensei que você detestasse Ares.
— Ainda assim, ele é um deus. E a namorada dele é muito temperamental.
— Não queremos ofendê-la — acrescentou Grover.
— Quem é? Equidna?
— Não, Afrodite — disse Florence, olhando Percy com nojo. — A deusa do amor, a minha mãe.
— Pensei que ela fosse casada com alguém — disse ela. — Hefesto..
— E daí? — perguntou ela.
— Ah. — Percy olhou para Noelle, em busca de ajuda, mas ela deu de ombros. — Então, como fazemos para entrar?
— Maia! - Os tênis de Grover criaram asas.
Ele voou por cima da cerca, deu um mortal involuntário no ar, depois pousou cambaleando no lado oposto. Sacudiu o pó dos seus jeans, como se tivesse planejado tudo aquilo.
— Vocês vêm?
— "Vocês vêm?" — repetiu Noelle, zombando.
Annabeth, Percy, Florence e Noelle tiveram de escalar à moda antiga, empurrando o arame farpado um para o outro enquanto eles se arrastavam por cima do topo.
As sombras se alongaram enquanto caminhavam pelo parque. Havia a Ilha dos Pequeninos, o Por cima da Cabeça e o Cara, Cadê o Meu Calção?
Nenhum monstro chegou para atormentá-los.
Havia uma loja de lembrancinhas que fora deixada aberta. Ainda havia mercadorias enfileiradas nas prateleiras: globos de neve, lápis, cartões-postais, e prateleiras de...
— Roupas — disse Annabeth e Noelle. — Roupas limpas.
— É — completou Percy. —Mas vocês não podem simplesmente...
— Observe.
Elas agarraram uma fileira inteira de artigos das prateleiras e desapareceram dentro do provador, Annie pegou a mão de Florence a arrastando junto para o provador. Noelle vestia uma camiseta azul e um short jeans que ela encontrou, Florence e Annabeth vestiram uma camiseta vermelha e um short florido - todas as roupas tinham a logomarca do parque, o que era estranho e feio. A filha de Afrodite reclamava sobre a péssima combinação das roupas, apenas Noelle deu bola para a amiga. Pendurada no ombro de Annabeth, uma mochila da Aqualândia, obviamente recheada de outras coisinhas.
— Ora, que se dane. — Grover encolheu os ombros.
Logo os cinco pareciam anúncios ambulantes do parque temático fantasma. Eles continuaram procurando pelo Túnel do Amor.
— Então Ares e Afrodite — falou Percy, recebendo um olhar de aviso de Noelle. — estão tendo um caso?
— É uma fofoca velha, Percy — disse Annabeth. — fofoca de três mil anos.
— E o mando de Afrodite?
— Bem, você sabe — disse Florence. — Hefesto. O ferreiro ficou aleijado quando bebê, atirado de cima do Monte Olimpo por Zeus. Então não é exatamente lindo. Habilidoso com as mãos e tudo, mas Afrodite não curte inteligência e talento, entende?
— Ela gosta de motoqueiros.
— Ou isso.
— Hefesto sabe?
— Ah, com certeza que meu padrasto sabe. — continuou a japonesa. — Uma vez ele os pegou juntos. Quer dizer, pegou mesmo, em uma rede de ouro , e chamou todos os deuses para ver e rir da cara deles. Hefesto está sempre tentando constrangê-los. E por isso que eles se encontram em lugares escondidos, como...
Ela se interrompeu, olhando em frente.
— Como aquilo.
Diante deles havia uma piscina vazia que teria sido sensacional para andar de skate. Tinha pelo menos cinquenta metros de largura e forma de bacia.
Em volta da beira, uma dúzia de estátuas de Cupido montavam guarda de asas abertas e arcos prontos para disparar. Do outro lado abria-se um túnel, provavelmente para onde a água escoava quando a piscina estava cheia. A placa acima dele dizia : EMOCIONANTE PASSEIO DE AMOR : ESTE NÃO É O TÚNEL DO AMOR DOS SEUS PAIS!
Grover se arrastou até a borda.
— Gente, olhe.
Abandonado no fundo da piscina havia um barco de dois lugares rosa e branco, com coraçõezinhos pintados por toda parte. No assento da esquerda, brilhando na luz pálida, estava o escudo de Ares, um círculo polido de bronze.
— Fácil demais — disse Florence. — Então é só descer até lá e pegá-lo?
Annabeth correu os dedos pela base da estátua de Cupido mais próxima.
— Há uma letra grega entalhada aqui — disse ela.
— Eta. Imagino... — a Laurent continuou.
— Grover — Percy chamou. —, sente cheiro de algum monstro?
Ele farejou o vento.
— Nada.
— Nada do tipo no-Arco-você-não-sentiu-o-cheiro-de-Equidna ou realmente nada?
Grover pareceu ofendido.
— Disse a você, aquilo foi num subterrâneo.
— Certo, desculpe. — ele respirou fundo. — Vou descer até lá.
— Vou com você. — Grover não pareceu muito entusiasmado.
— Não — retrucou o filho de Poseidon. — Quero que fique no alto com os tênis voadores. Você é nosso ás da aviação, está lembrado? Vou contar com você para dar apoio, caso alguma coisa dê errado. Também preciso que fique de olho nas meninas. — dessa vez, Percy sussurrou.
Grover estufou um pouco o peito.
— Claro. Mas o que poderia dar errado?
— Não sei. Só urna sensação. Noelle, venha comigo...
— Está brincando? — ela o olhou para ele como se Percy tivesse acabado de cair da Lua. Suas bochechas estavam num tom vermelho vivo.
— Qual o problema agora? — perguntou, ganhando uma risadinha de Florence.
— Eu... ir com você para um... um "Emocionante Passeio de Amor"? Que coisa mais embaraçosa! E se alguém me vir?
— Quem é que vai ver? — mas agora a seu rosto também estava queimando. — Ótimo. Vou fazer isso sozinho.
Quando Percy começou a descer pela lateral da piscina, ela o seguiu resmungando sobre como os meninos sempre complicam as coisas.
Chegaram ao barco. O escudo estava apoiado em um banco e ao lado havia um lenço feminino de seda. Eles tentaram imaginar Afrodite ali, um casal de deuses se encontrando em um brinquedo de parque de diversões sucateado. Por quê? Então eles notaram algo não tinham visto de cima: espelhos por toda a volta da borda da piscina, voltados para aquele ponto. Noelle ria descontroladamente, porque aquilo era a cara da deusa, e Percy não entendeu nada.
Ele pegou o lenço. Tinha um brilho rosado, e o perfume indescritível - rosas, ou louro. Alguma coisa boa. Ele sorriu, um sonhador, e estava quase passando o lenço no rosto quando Noelle o arrancou de sua mão e enfiou em seu bolso.
— Ah, não, não faça isso. Fique longe dessa magia de amor.
— O quê?
— Apenas pegue o escudo, Aquaboy, e vamos dar o fora daqui.
No momento em que tocou o escudo, ele percebeu que estavam encrencados. Sua mão arrebentou algo que o conectava ao pára-brisa. Uma teia de aranha, pensou, mas então olhou para um fio invisível na minha palma e viu que era algum tipo de filamento metálico, tão fino que era quase invisível. Uma armadilha.
— Espere — disse a garota ao seu lado.
— Tarde demais.
— Há uma outra letra grega na lateral do barco, um outro eta. Trata-se de uma armadilha.
Um ruído os irrompeu, um milhão de engrenagensrangendo, como se a piscina inteira estivesse se transformando em uma máquina gigante.
Grover gritou:
— Gente!
Lá em cima na borda, as estátuas de Cupido armavam os arcos; antes que eles pudessem se abaixar, dispararam, mas não contra eles. Dispararam uma contra a outra, atravessando a piscina. Cabos de seda foram levados pelas flechas, fazendo um arco por cima da piscina e fincando-se no chão para formar um imenso asterisco dourado. Então fios metálicos menores começaram a se tecer magicamente por entre os principais, formando uma rede.
— Temos de dar o fora — disse Percy.
— Ah, você jura? — disse Annabeth.
Ele agarrou o escudo e eles correram, mas subir pela inclinação da piscina não era tão fácil quanto descer.
— Venham! — gritou Florence.
Ela estava tentando manter uma seção da rede aberta para eles, mas onde quer que eles tocassem, os fios dourados começavam a envolver suas mãos.
A cabeça dos Cupidos se abriu de repente. De lá, saíram câmeras de vídeo. Luzes se ergueram por toda a volta da piscina, cegando-os com a claridade, e um alto-falante soou:
— Ao vivo para o Olimpo em um minuto... Cinquenta e nove segundos, cinquenta e oito...
— Hefesto! — gritou Noelle. — Como eu sou estúpida! Eta é H - Annabeth me ensinou sobre. Ele fez essa armadilha para pegar a mulher dele com Ares. Agora vamos ser transmitidos ao vivo para o Olimpo e parecer completos idiotas!
Estavam quase conseguindo chegar à borda quando a fileira de espelhos se abriu como escotilhas e milhares de... mini trecos metálicos jorraram para fora.
Noelle gritou.
Era um exército de bichos rastejantes de corda: corpo de engrenagens de bronze, pernas compridas e finas, bocas em pequenas pinças, todos correndo em nossa direção em uma onda de estalando e zumbindo.
— Aranhas! — disse Noelle, estremecendo. — Ar... ar... aaaaaaaah!
Percy nunca tinha a visto daquele jeito. Ela caiu para trás , aterrorizada e quase se rendeu às aranhas-robôs antes que ele a puxasse para cima e a arrastasse de volta em direção ao barco.
Aquelas coisas vinham de todos os lados, milhões delas, inundando o centro da piscina, cercando os dois completamente. Percy pensou que elas, as aranhas, não estava programadas para matas, morde-los ou qualquer coisa pior. Mas, por outro lado, era uma armadilha para deuses. Eles não eram deuses.
Noelle e Percy subiram para dentro do barco. Desesperada, Noelle começou a chutar as aranhas para longe quando se acumulavam a bordo.
— Trinta, vinte e nove - anunciou o alto-falante.
As aranhas começaram a cuspir fios de metal, tentando amarra-los. De início os fios eram fáceis de romper, mas havia muitos deles , e as aranhas simplesmente continuavam a chegar.
Grover pairava acima da piscina com seus tênis voadores, tentando soltar a rede, mas ela não cedia.
Pense, pensou Percy, pense.
A entrada para o Túnel do Amor ficava embaixo da rede. Poderiam usá-la como saída, mas estava bloqueada por um milhão de aranhas-robôs.
— Quinze, catorze — anunciou o alto-falante. Água, pensou Percy. De onde vem a água para o passeio?
Então ele viu: enormes canos atrás dos espelhos, de onde tinham vindo as aranhas. E acima da rede, perto de um dos Cupidos, uma cabine com janelas de vidro que devia ser a estação de controle.
— Grover! — gritou. — Entre naquela cabine! Encontre o botão de ligar!
— Mas...
— Faça isso! — Era uma esperança louca, mas era a única chance. As aranhas já estavam por toda a proa do barco, Noelle gritava, e se remexia, sem parar.
Grover estava agora na cabine de controle, malhando os botões.
— Cinco, quatro...
Ele olhou para Jackson desamparado, erguendo as mãos. Estava sinalizando que já tinha apertado todos os botões, mas nada acontecia.
Percy fechou os olhos e pensou em ondas, água correndo no Mississipi. Sentiu um aperto familiar na garganta. Tentou imaginar que estava arrastando o oceano até Denver.
— Dois, um, zero. — A água explodiu para fora dos canos. Entrou rugindo na piscina, varrendo as aranhas para longe. Ele puxou Laurent para seu lado e prendeu seu cinto de segurança bem quando a onda gigante atingiu o barco, de cima, expulsando as aranhas e os encharcando completamente, mas sem virar o barco. Ele girou, erguido pela inundação, e circulou no redemoinho.
A água estava cheia de aranhas em curto-circuito, algumas colidindo contra a parede de concreto da piscina com tamanha força que explodiam.
As luzes brilharam sobre eles. As câmeras dos Cupidos estavam transmitindo ao vivo para o Olimpo.
Mas Percy só podia se concentrar em controlar o barco. Desejou que ele seguisse a corrente, que ficasse afastado da parede. Talvez fosse sua imaginação, mas o barco pareceu reagir. Pelo menos não se quebrou em um milhão de pedaços. Circularam uma última vez, e o nível da água já era quase suficiente para retalhar-los contra a rede de metal. Então o nariz do barco se virou para o túnel e disparam como um foguete para dentro das trevas.
Os dois pré adolescentes gritaram, seguraram-se com força, os dois gritando quanto o barco se atirava em curvas e rodeava cantos e dava mergulhos de quarenta e cinco graus, passando por figuras de Romeu e Julieta e montes de outras bugigangas de Dia dos Namorados.
Então estavam fora do túnel, o ar da noite assobiando em seus cabelos enquanto o barco seguia em alta velocidade para a saída.
Se o brinquedo estivesse em perfeito funcionamento, teriam navegado por uma rampa entre os Portões Dourados do Amor e caído em segurança na piscina de saída. Mas havia um problema. Os Portões do Amor estavam fechados com correntes. Dois barcos que haviam sido arrastados para fora do túnel antes de nós estavam empilhados contra a barricada - um submerso e o outro partido ao meio.
— Solte seu cinto de segurança — Percy gritou para Noelle.
— Endoidou é?
— A não ser que queira morrer esmagada. — Prendeu o escudo de Ares no braço, Noelle apenas revirou seus olhos castanhos. — Vamos ter de pular. — sua ideia era simples e insana. Quando o barco colidisse, iriam usar a força do impacto como um trampolim para pular por cima do portão. Com sorte, cairiam na piscina.
A Laurent pareceu entender. Ela apertou minha mão quando os portões se aproximaram.
— Quando eu der o sinal.
— Não! Quando eu der o sinal — corrigiu ela.
— O quê?
— Física básica! — gritou ela. — A força multiplicada pelo ângulo da trajetória...
— Está bem! — gritou. — Quando você der o sinal!
Ela hesitou... hesitou... e então gritou:
— Agora!
Crack!
Noelle estava certa, sempre estava. Se tivessem pulado quando Percy achava que deviam, teriam se arrebentado contra os portões. Ela conseguiu o máximo de impulso.
Por azar, foi um pouco maior do que precisávamos. Nosso barco foi atirado na pilha e foram lançados para o ar, por cima do portão, por cima da piscina, e na direção do asfalto duro.
Alguma coisa o segurou por trás.
Noelle gritou:
— Aaai!
Grover!
Em pleno ar, ele tinha o agarrado pela camisa, e agarrado Noelle pelo braço, e tentava impedir que eles caíssem no chão, mas Noelle e Percy ainda estavam com toda a energia do impulso.
— Vocês são pesados demais! — disse Grover. — Estamos caindo!
Desceram em espiral, com Grover fazendo o que podia para reduzir a velocidade da queda.
Bateram contra um painel de fotografia. A cabeça de Grover entrou bem no buraco onde os turistas enfiavam a cara, fingindo ser Nu-Nu, a Baleia Camarada. Annabeth e Florence foram mais rápidas e colocaram algumas, várias, boias salva-vidas, então eles caíram e não de machucaram tanto. O escudo de Ares ainda estava nos braços de Percy.
A cem metros, na piscina de entrada do túnel, os Cupidos ainda filmavam. As estátuas tinham se virado de modo que as câmeras estavam apontadas para nós, os holofotes em nossos rostos.
— Acabou o show! — gritou Noelle.
— Obrigado! Boa noite! — completou Jackson.
Os Cupidos voltaram às posições originais. As luzes se apagaram. O parque ficou novamente em silêncio e no escuros, a não ser pelo brilho fraco da água na piscina da saída do Emocionante Passeio de Amor.
Tanto Percy quanto Noelle não gostavam de ser insultados e não levariam desaforo para o resto da missão. A Laurent se virou para seus amigos, com um sorriso lupino nos lábios, e disse:
— Precisamos ter uma conversinha com Ares.
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