Os escândalos do Google.
Quando entrei nas entranhas do Google Dreams, minhas mãos até tremiam de emoção sobre o teclado, porém não posso dizer que senti medo. O poder possível era tão imenso, mas tão grande, que uma vertigem não deixava meu cérebro avaliar completamente a situação. Ali havia dados sobre o mundo inteiro. Boa parte das pessoas que existem vivendo neste mundo estavam presentes de alguma forma. E quase a totalidade das pessoas que alguma vez tentaram ser públicas. E quanto mais famosa fosse a pessoa, então muito mais dela estava ao meu alcance, dentro do armazém de dados do maior conglomerado de informação do mundo, a Alphabet.
Dentro do caos organizado do Infinito Arquivo dos Sonhos, onde as manifestações psíquicas se entrelaçavam de maneiras misteriosas, uma massa de dígitos obscuros se desdobrava na encruzilhada entre a imaginação e a realidade. Naquele vasto repositório onírico, raramente se explorava a conexão menos nobre entre outras esferas, como por exemplo, o sombrio diretório das fanfics.
Além das técnicas de acesso eram necessários um arsenal à parte, usei as ferramentas de decifração e os textos se materializavam em uma escrita perturbada, repleta de absurdidades que dançavam nas fronteiras entre o imaginário belo e as obsessões bizarras. Os sonhos, muitas vezes, traçavam caminhos pelos chavões inescapáveis, explorando os desejos íntimos despertados pela alimentação cultural teleguiada pelos emissores centrais de conteúdos desde a criação da projeção de imagens e veiculação eletromagnética, uma agenda poderosa e antiga em atividade desde 1895.
Em meio a esse tumulto de ideias encontrei uma encruzilhada particular. Meu olhar curioso repousou sobre um nome que ecoava uma familiaridade, uma lembrança sutil de algum podcast sugerido pelo algoritmo de controle do YouTube. Uma faísca de reconhecimento incitou minha curiosidade, e decidi abrir aquela trilha específica mergulhando nos recantos menos explorados do vasto Infinito Arquivo dos Sonhos.
Depois de alguns minutos de imagens sem som irrompe a voz: "Senhoras e senhores, está começando mais um podcast". Antes da cena inicial marcada com a tag do assunto da pasta, estavam vários arquivos com os episódios em ordem numérica de todos os podcasts daquele moço, desde 2012 até 2048. Fiz uma análise rápida repassando os thumbnails, nos primeiros o youtuber abusava de um apelo sexual que evocava um garoto de programa a contragosto com sérios problemas com a mãe. Nos últimos, de careca translúcida e terno e gravata transparentes, dirigia uma versão melhor humorada das pautas distribuídas pelo Ministério do Humor, que era a última subdivisão do Ministério da Cultura de um governo democrático e totalitário, que condenava apresentadores divergentes à prisão perpétua.
Como chegou a este fim, foi algo que me inteirei depois, mas o que iniciava na pasta que se abria em minha tela, certamente deixou pistas sobre o que haveria de se passar com todas aquelas pessoas que não sabiam que seus destinos estavam sendo decididos em escritórios políticos e governamentais e em bunkers tecnológicos de grandes corporações.
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