CAPÍTULO 8: TEM SANTOS QUE NÃO SE BATEM
Rebecca's POV
Os Winchesters entraram no quarto e pararam na mesma posição. Seria hilário se não fosse tão medonho. Os dois estavam com os braços esticados ao lado do corpo e o pé direito à frente. Suas sobrancelhas estavam erguidas.
A única diferença estava no olhar. Sam olhava algo na cama – que eu não me virei para olhar para descobrir o que era – e Dean me olhava de um jeito tão... estranho. Eu corei e soltei uma risadinha.
– O que foi? – perguntei.
– Hmm, nada. Belo shorts? – falou o mais velho.
– Qual é o problema? Pessoas usam short... E está o maior calor – rebati, me forçando a não cobrir minhas pernas com um cobertor.
– Tudo bem. É que eu nunca convivi com alguém que usa... short curto.
– Aaaah, aposto que vira e mexe você vê o Sam de cuequinha – brinquei.
Os dois fecharam a cara.
– Tudo bem. Parei. Mas não me façam me sentir esquisita, eu gosto de me vestir assim.
– Só é estranho... Mas eu até gosto. Não é sempre que você tem uma mulher 24 horas na cola, com roupa curta, que não é sua mulher nem sua namorada – disse Dean.
Revirei meus olhos.
– Leu mais do diário do papai? – A voz de Sam denunciava descrença.
Dei de ombros.
– Tem muita informação. Mas eu já está ficando tudo mais claro. Hmm, Sam, me responde uma coisa?
Ele se sentou na cama e Dean começou a cavar sua mala.
– Pode falar.
– Como a gente vai ter certeza de quem é o lobisomem? – questionei. O sonho ainda martelava na minha cabeça.
– Teremos que ficar vigiando, fazer perguntas... Essas coisas – disse Sam.
Eu me sentia mais confiante de conversar e tirar dúvidas com Sam, porque Dean não parecia ter a mesma paciência de ficar me ensinando essas coisas de novata. Mas Sam... Ele sempre tinha.
– Mas que tipo de pergunta nós vamos fazer para ela? – reclamei. A ideia de ficar usando informações de Angelina me incomodava. Ela só parecia disposta a colaborar com Dean, no máximo com Sam e duvido que ficaria contente comigo questionando seus assuntos pessoais.
– Perguntas úteis sobre o irmão dela, o Felipe. – Sam estava descendo as escadas ao meu lado enquanto Dean ia mais à frente. Eu podia até imaginar o motivo de tanta empolgação dele.
Suspirei. Eu era a única ali que não me dava bem com a recepcionista faz-tudo, então eu seria sempre a errada.
– Tudo bem.
– Angelina! Que mesa de café da manhã maravilhosa! – exclamou Dean, admirando uma mesa gigante cheia de quitutes.
A pequena Angel estava em pé na frente de Dean com um sorrisão na cara, focando só o seu 'Deus Grego'.
Sam's POV
Pude ver Rebecca respirando fundo e revirando os olhos enquanto se dirigia para a mesa de café da manhã. Mulheres, repeti inutilmente segurando um riso.
Ela pegou um copo de suco de laranja e foi para a outra mesa. Dean estava com Angelina na mesa de quitutes – ele enchendo um prato de comida e ela o acompanhando – e eu fui me juntar a eles para preparar o meu prato.
Quando terminei, me sentei com Rebecca.
– E aí, está sem fome? – perguntei.
Ela deu de ombros.
– Tanto faz. Quero terminar isso logo.
Ela se calou quando Angelina se sentou a sua frente e Dean ao seu lado. Eu continuei comendo, de cabeça baixa, até que ouvi o copo de suco da Rebecca batendo na mesa... vazio.
– Angelina, a gente quer fazer umas perguntas – falou ela.
– Quais? – perguntou a outra com um sorriso. Estava na cara que ela estava se esforçando muito para não ser mal-educada explicitamente.
– Qual foi a ultima briga que seu irmão se meteu? – questionou Rebecca.
A recepcionista fez uma careta.
– Por que quer saber?
– Só é necessário para o nosso caso.
Somente as duas conversavam. Eu e Dean as estávamos encarando, um pouco intimidados pela hostilidade pairante. Talvez não tenha sido a melhor ideia deixar com Rebecca. Tínhamos pensado que as emoções que afloravam entre as duas poderia servir para que Angelina falasse a verdade, mas talvez tivéssemos alimentando algo destrutivo.
– Hmm, foi há umas semanas atrás, com um amigo da Karine – respondeu Angelina, provavelmente com medo da Rebecca, porque eu estava.
– E ele saiu muito machucado?
– Na verdade, eu não sei. Ele não veio para a casa.
Rebecca assentiu com a cabeça.
– Certo. Quando Felipe não volta para casa, você sabe onde ele fica? – perguntou.
Angelina fez uma cara de "Como você sabe o nome do meu irmão?", franzindo o cenho.
– Bem, em uma república de uns amigos dele.
– Pode me passar o endereço? – Rebecca pegou um bloco de papel dos bolsos.
Angelina ficou em pé em um rompante, fazendo um barulho estridente quando a cadeira foi arrastada.
– Por que você quer saber o endereço do meu irmão? Está interessada nele? – gritou.
Senti meus olhos se arregalarem e meu rosto espelhou o rosto assustado de Dean. Ele me encarava com uma cara de 'O que nós vamos fazer? Como Rebecca vai reagir a isso?'.
– O que você está querendo dizer? – Rebecca também se levantou.
– Que você tem um charminho barato e não me sinto confortável com você perguntando nada sobre o meu irmão!
Esperei uma cara assustada de Rebecca, mas ela apenas sorriu.
– Olha, garota, se seu irmão for 1% parecido com você, pode apostar que eu não chegaria nem perto.
Se a situação não estivesse tão feia – se as duas não estivessem a ponto de sair rolando e brigando pelo chão – eu teria rido. Rebecca sempre tinha uma resposta na ponta da língua.
– E se for para falar sobre charminho barato e desespero, deveríamos mudar o enfoque para outra pessoa. Porque, por acaso, não sou eu que estou me jogando para cima de um cara que eu não conheço nem por 48 horas – ela continuou.
Angelina soltou um som de ofensa eu percebi que a coisa ia ficar feia. Rebecca já tinha se deslocado para o lado e a recepcionista também. Só Dean, sentado na cadeira, estava entre elas.
Rebecca's POV
– Então vocês está me chamando de puta? – Seus olhos ardiam de raiva. Bem, não era eu quem tinha começado isso.
– Se a carapuça serviu... O que eu posso apostar que aconteceu... Faça proveito dela – Meu sorriso foi exultante.
– Sua filha da puta – gritou, os olhos ardendo.
Eu não via nada mais do que ela, meus olhos focados no seu pescoço – que era a região que eu queria quebrar.
– Não xingue minha mãe, sua vadia! – gritei.
E quando eu me vi, eu já estava por cima dela. Eu pulei por cima da cadeira de Dean, fazendo com ele caísse no chão de costas. Coloquei uma perna em cada lado de Angelina e agarrei seu cabelo.
– Saia de cima de mim, sua vagabunda! – ela gritou, se esperneando.
– Só quando você aprender a virar gente!
Ela conseguiu pegar meu cabelo e eu abri meus braços contra os delas, fazendo com que suas mãos se afastassem. Eu as prendi no chão, como uma algema.
– Garota, pensa bem quando for xingar a mãe de alguém da próxima vez. Tô pegando leve com você – Eu estava enfurecida, mas não o suficiente para desacordar a menina de porrada. Alguma coisa me pegou pela barriga, as mãos entrando na minha blusa. Se eu não tivesse tão submersa em pensamentos, eu teria ficado brava. Afinal, a mão dele estava entrando na minha blusa!
Como eu não dei sinais de que estava colaborando, a mão me puxou para cima com uma força masculina e desnecessária. A mão era grande demais, então imaginei que era de Sam.
Eu me soltei dele e arrumei meu cabelo. Dean estava levantando Angelina que reclamava.
– Você de olho no meu irmão e eu que sou a puta! E eu que apanho, ainda mais – reclamou, tentando arrumar seu cabelo.
– Fala sério, sua caipira, eu não quero o seu irmão – falei, tentando me controlar para não ir para cima dela de novo. Mesmo se eu tentasse, eu não conseguiria – e eu sabia disso – porque Sam estava prontamente de guarda na minha frente.
E depois o rastro onde as mãos dele seguraram minha barriga queimaram, como uma labareda de fogo. Mas era um fogo bom. Senti um arrepio descer pela minha coluna.
– Ela queria o endereço para a investigação, Angelina – explicou Dean segurando seu ombro.
Angelina corou, parecendo se tocar que estávamos investigando o assassinato da garota.
– Desculpa... Nicole. Eu me exaltei.
Levantei a mão como se estivesse parando o trânsito.
– Não me importo. Eu não apanhei mesmo. – Dei um sorrisinho cínico. – Estarei lá no quarto, pesquisando. Peguem o endereço vocês, meninos, porque eu tenho certeza que ela não vai achar que querem o irmão dela.
A ironia foi bem pesada e eu gostei do silêncio que se seguiu enquanto eu subia as escadas. Se eu sentisse minhas orelhas queimando, iria bater nos Winchesters mais tarde.
Sam's POV
Assim que Rebecca saiu de vista, Dean soltou a respiração e pegou a mão de Angelina.
– Me desculpe por isso – murmurou ele.
Fechei a cara. Rebecca tinha se saído muito bem, aguentado as ofensas por tempo demais. Foi Angelina que pegou mais pesado xingando a mãe. Mas era típico de Dean ignorar tudo isso para 'puxar saco' da garota que ele está querendo. Se fosse ele no lugar de Rebecca, ele teria sido muito menos paciente.
– Tudo bem. A culpa foi minha. Eu não devia ter falado aquelas coisas nem xingado ninguém... Mas é que meu irmão já passou por coisas demais... Não me sinto confortável com nada disso – começou Angelina.
Dean acariciou a sua bochecha.
– Não foi sua culpa. Nicole tem um gênio muito forte – falou Dean.
Angelina e Dean me olhavam com desapontamento enquanto eu subia as escadas.
Rebecca's POV
Qual é?, pensei depois de um tempo. Eu não fiz absolutamente nada para a faz-tudo... Ela foi logo me ofendendo.
A porta se abriu e por um segundo eu me encolhi. Dean me daria uma bronca e tanto por tocar na 'bonequinha de ouro' dele. Mas minha coragem voltou e eu me levantei para encarar... Sam.
– Se vier bravo comigo, eu juro que vou bater em você também – ameacei.
Ele levantou as duas mãos como se estivesse se rendendo.
– Eu não vim brigar com ninguém. Eu vim... Sei lá! Ficar com você – disse, abaixando a cabeça.
Eu o encarei, incrédula, até que ele levantou o olhar para me encarar de volta.
– O quê? – perguntou.
– Para ficar comigo?
– É. – Ele deu uma risadinha. – Eu sinceramente me orgulhei de você, Rebecca. Olha. Você se controlou bastante, isso é importante.
Levantei a sobrancelha.
– Uau, Sam, casa comigo.
Nós rimos. Permanecemos em silêncio por algum tempo, mas, por incrível que pareça, não era desagradável.
– Sério... Se a gente vai mesmo conviver juntos, caçando uns monstros desgraçados, você e seu irmão deveriam me arrumar um apelido. Rebecca é muito formal. E o endereço? – indaguei, mudando o assunto, totalmente envergonhada.
– Dean vai pegar e nos trazer.
– Mas, Sammy... Qual vai ser a história? A gente não pode sair interrogando as pessoas cada vez com uma história diferente... A cidade é pequena, o povo comenta, as histórias diferem.
Ele assentiu novamente.
– Então você vai ser a nossa prima... O de sempre.
Balancei a cabeça negativamente, discordando.
– Olívia está com o Felipe... Ela pode comentar sobre nós para ele.
– Talvez tenhamos que usar a mesma história com ele... A que nós somos namorados – sugeriu.
– É o único jeito – completei. – Mas ele é um homem. E não é legal chegar todo mundo na casa dele. Talvez tenhamos que ir só você e eu, perguntando sobre Karine, exatamente como fizemos com Olívia.
– É, a gente convence o Dean sobre isso.
– Dean vai deixar você pegar o carro dele? – brinquei.
– Acho que sim.
O silêncio que se seguiu foi constrangedor. A história de fingirmos ser namorados pesava e era desconfortável. Mordi meu lábio.
– Ãhn, Sam – comecei. A gente tinha sentado na cama de casal. Antes de minha voz ecoar, ele estava com as mãos apoiando a cabeça e o cotovelo na perna. Dirigiu-me um olhar curioso. – Eu percebi que até agora você não ficou com nenhuma garota. Dean já está com uma... e você, nada.
– Só se passou um dia – lembrou.
Revirei meus olhos, sorrindo.
– Mas eu não sou como meu irmão... Normalmente eu não saio com uma garota a cada semana. – Ele me olhou, com um sorriso divertido na cara.
– O que foi? – questionei. Ele parecia pensar em algo.
– E você? Ainda não encontrou um garoto por quê?
– Eu já tenho um namorado.
Ele arregalou os olhos por um tempo, com certeza não entendendo minha brincadeira.
– Ele é bem alto, moreno, bonito e a gente sai pela cidade dando os pêsames para conhecidos de Karine Holmes.
Quando Sam entendeu a relação, ele riu.
– Ah, é mesmo. Se for assim, eu também tenho namorada.
– O problema é que tem pessoas que acham que somos primos. Então temos que nos catar quando não tem ninguém por perto. Falando nisso, estamos sozinhos.
Eu dei uma risada e me deitei de bruços na cama, pegando o diário e voltando a ler. Ele suspirou e eu sabia que ele estava me julgando com o olhar.
– Eu ainda não decorei tudo – justifiquei, mesmo que ele não tenha falado nada. Seus pensamentos eram tão altos!
Ele estava quieto e pensativo enquanto eu me concentrava nas páginas escritas por John Winchester; acho que ele estava arquitetando um plano. Confirmei isso quando saiu de sua boca:
– Sabe, Rebecca. Acho que deveríamos ir à república, ou seja lá o que chama o lugar onde Felipe fica, assim que Dean chegar.
Suspirei.
– Tomara só que ele não demore muito.
A porta se abriu e um Dean especialmente alegre e sorridente entrou – eu esperava que ele chegasse bravo e começasse a brigar comigo.
– Peguei o endereço do garoto – disse, entregando um papel a Sam.
– Ok. Deixa eu te explicar agora... – O irmão mais novo se lançou ao seu projeto: Iríamos eu e ele fingindo sermos namorados, exatamente a mesma história com a melhor amiga da falecida.
– Por que ela vai com você? – reclamou Dean.
– Para mantermos a mesma história, ué – respondi.
Ele fez uma careta.
– Odeio me sentir rejeitado.
– Nossa, é mesmo. Deve ser horrível para você levar um 'não'.
– Horrível – concordou, irônico.
Sam estava separando uma roupa e se trancou no banheiro.
– Posso saber por que você ainda não brigou comigo? – perguntei a Dean.
Ele me encarou com um sorriso torto maravilhoso.
– Eu não saio brigando com todo mundo, sou pacífico.
– Aham, com certeza. – Ironia minha.
– Mas por que você perguntou isso? Quer que eu brigue com você? – Ele ainda sorria.
– Lógico. Não vivo um dia se você não brigar comigo. – Revirei meus olhos.
– Olha, eu não vou brigar com você por causa do que aconteceu mais cedo entre você e Angelina. Mas não vou ignorá-la também. Terei amizade com as duas.
– Você não quer só a amizade dela – questionei.
– Está com ciúmes, Rebecca? Posso ser mais que um amigo seu também.
Algo na minha expressão o fez rir.
– Dá um tempo, Dean.
– Vocês dois não podem parar de discutir? – murmurou Sam, saindo do banheiro.
– Na verdade, não estamos discutindo – falei, pegando uma saia de cós alto, uma blusa branca, lingerie e indo para o banheiro para trocar.
Sam's POV
– Do que vocês estavam falando? – perguntei.
Dean me encarou; o rosto de repente presunçoso.
– Sobre ela ser mais do que uma amiga para mim.
Eu o encarei de volta, meus olhos duros.
– Será que você não consegue deixar de jogar charme nem para uma garota que vai viver com você?
– Quem disse que eu estava jogando charme? Eu poderia estar falando sobre ela ser mais do que uma amiga, uma irmã por exemplo...
Revirei meus olhos.
– Até parece que eu não te conheço. Sei que você não falou que ela parecia sua irmã.
Dean riu.
– É, eu sei que você sabe. Bem, já que ela vai viver comigo, eu posso aproveitar. – Ele deu um sorriso malicioso.
E Rebecca saiu do banheiro e eu não consegui encontrar ar para os meus pulmões. Ela estava simplesmente maravilhosa, inexplicavelmente linda e absolutamente sedutora. Tinha passado alguma maquiagem e colocado brincos de argola. Seu cabelo caía pelos seus ombros e chegava quase na altura do seu quadril. Nunca percebi que seus cabelos eram mesmo grandes.
Ela foi para a cama para colocar um sapato de salto e nem percebeu que Dean e eu a admirávamos. A diferença era que Dean sabia disfarçar.
– Estou pronta – falou, se levantando.
– Então vamos – respondi, tentando não parecer tão... sem fôlego.
– Levem um celular – avisou Dean.
– Acho que vamos precisar de seu carro – comentou ela, sorrindo.
Ele a olhou de cima a baixo e de baixo a cima e sorriu, deixando-a ruborizada.
– Dessa vez passa, mas só porque você está uma tentação.
Revirei meus olhos.
– Ignore-o – sugeri, indo para a porta.
– Eu ignoro – respondeu ela rindo ao passar pela porta, mas antes mandando um beijo para Dean.
Mas percebi que ela não o ignorava. Ela o provocava.
Dean's POV
Assim que eles saíram, me joguei na cama.
Rebecca era um tesão. Puta que pariu. Como eu ia aguentar isso?
Eu sei que ela não ficaria comigo, mas mesmo assim, eu poderia sonhar, não podia?
Tentei dormir e deixar as fantasias para mais tarde.
Rebecca's POV
– O que vamos, basicamente, conversar com Felipe? – perguntei.
– Vamos examinar a casa dele e ouvir o que ele tem a dizer sobre a morte de Karine, mas não dá para ter certeza de que é ele.
– Só no final de semana, na lua cheia – falei.
– Só no final de semana, na lua cheia – concordou Sam.
– Que saco.
– Eu que o diga.
A casa de Felipe era perto do hotelzinho, nada de muito interessante.
– Como assim, vocês não acharam nada? – Dean reclamou.
– Sim, Dean. Nada. Nada de mordidas ou brigas ou arranhões, nem EMF ou enxofre. Nada – suspirei.
Sam e eu tínhamos voltado para o hotel quando não tínhamos mais perguntas para Felipe. Eu tinha vasculhado a casa quando fugi para ir o banheiro. E nada. F-R-A-C-A-S-S-O.
– É, estranho.
– Bem, portanto Olívia é a mais estranha até agora – Dean comentou.
– Sei não, Dean. Felipe ia dizer o quê? "Oi, eu ando aparecendo no meio da cidade quando acordo e não é sonambulismo... Descobri que sou um lobisomem! Que legal, né?" Acho que não. Melhor listá-lo. – Sam fechou o notebook.
– É, melhor listarmos os dois – falei, abrindo o diário de J.W. – Tem alguma coisa estranha nisso. Eu tenho certeza de que sei de alguma coisa que se encaixa, mas não... Não me lembro.
Dean suspirou, junto com Sam, ajeitando as coisas, o que significava que iam dar o passeio rotineiro do clube dos irmãos W.
– Rebecca, estamos indo comprar umas coisas para o almoço ou algo do tipo. – Os dois saíram; Sam me lançando um olhar intenso antes de fechar a porta. Um olhar conhecido de: "Diário. De novo".
Aproveitei o meu tempo Rebecca & Eu para relaxar ao meu antigo modo. Tirei minhas roupas – andei pelada pelo quarto. Peguei meu celular – coloquei minhas musicas altas. E pude até cantar o quanto eu quiser! Curti uma deliciosa ducha quente de 25min – ainda cantando. Quando acabei, coloquei uma roupa leve, que eu sempre colocava antigamente quando estava a fim de ficar em casa. E depois me deitei na cama de casal, pegando o diário – não o do pai Winchester. O meu diário. Aquele que possuía a maior parte da minha vida, quando minhas preocupações se resumiam a namorados complicados, notas baixas, briguinhas tolas com os pais – e não preocupações tipo pais mortos, quase ser morta e caçar lobisomens e outras criaturas.
Eu terminei de ler um tempo depois e estava fechando o livro com lágrimas nos olhos, pensando em quanto estava com saudade daquela vida que eu tinha. Dos meus amigos. Da minha cidade, meu trabalho, meus estudos. Eu me inundava cada vez mais em nostalgia até que ouvi um baque surdo vindo de dentro do banheiro, como se alguma coisa enorme e com bastante massa tivesse despencado no chão.
Eu peguei a faca na minha bolsa e já a preparei dentro do meu bolso. Podia ser um animal... Um gato, um pássaro... E mais nada!
Meu coração não acreditava nessa minha teoria, porque estava na última marcha. Mas se era alguém, como pôde entrar em uma janela minúscula? Era preciso muito esforço para isso... e muita capacidade.
Antes que eu pudesse imaginar, uma silhueta alta saiu do banheiro e correu até mim. Quando reconheci o rosto, esqueci que eu estava com medo... Esqueci a arma no meu bolso preparada para ser usada... Esqueci onde estava.
E, com a mesma rapidez, voltei a me lembrar de tudo.
– Nicholas? – perguntei.
– Rebecca! BECCA! Não acredito que encontrei você bem!
Ele segurou meus ombros e me chacoalhou, como se isso fosse provar que eu era real. Depois ele me deu um abraço apertado. Eu podia jurar que estava pálida.
– Nich, co-como você me... achou? – gaguejei.
– Não importa! Não temos tempo! Talvez só alguns minutos até os caras voltarem e você precisa sair daqui. Eu vim te resgatar, Becca! Junte suas coisas...
A voz dele se perdeu. O que ele estava falando mesmo?
Eu tinha plena consciência da música 'Destination Calabria' tocando no volume máximo, mas eu não achei minhas pernas para reagir a ela.
– Nich, o que você está falando? – gaguejei.
– Dos caras te sequestraram! Você tinha se esquecido de que ontem eu e a Natale iríamos te buscar de manhã para irmos ao parque? Quando a gente chegou à sua casa, você não atendeu à porta, então Nat usou a cópia da chave que você deu a ela. Nós entramos e sua casa estava vazia! Não vazia de móveis, mas vazia de vida... Seus utensílios pessoais, roupas, malas tinham sumido e você também. Natale não se preocupou muito: "Ela foi embora. Deixe que ela siga a vida dela!", falou quando insisti em procurar você! Mas você não tinha deixado mensagem, então eu sabia que tinha algo errado.
Eu vi que Nicholas estava em uma cor estranha de vermelho.
Ele era namorado da minha melhor amiga, Natale. Eu nem pensei em avisá-los que eu ia partir ou em responder as várias conversas do aplicativo de mensagem que eu deixava como "não lidas" para sempre. Me senti culpada.
– Aí as notícias vazaram e Nat ficou sabendo que Peter também sumiu. Todos têm certeza de que vocês fugiram juntos, mas, bem, eu não sentia muito amor da sua parte... Então eu segui pistas. Moradores viram dois turistas entrando de supetão na sua casa, então eu percebi na hora a verdade! Que eles sequestraram você. Os policiais nem cogitaram minha hipótese, então estou aqui sozinho te salvando. Vamos, antes que eles cheguem!
Eu comecei a rir do desespero dele – minha voz tingida de histeria.
– O quê? – sussurrou.
– Nich, eles não me sequestraram.
Ele franziu o cenho.
– É verdade!
– Não?
– Não! Os dois homens que estão comigo são... meus primos. Uma parte desconhecida da minha família, sabe? Então. Aí souberam da morte dos meus pais e mandaram Sam e Dean virem me buscar para ir com eles – inventei, com um sorriso no rosto. Parecia uma boa história.
A cara de Nicholas denunciava que ele não acreditava na minha mentira.
– Três palavras sobre isso: Fala. Sério. Rebecca – reclamou ele.
– Argh, é sério, Nich. Não corro risco de vida, tá? Você tem que ir embora antes que Natale fique preocupada com você. Isso é o certo!
– Ela e eu terminamos, Becca. Ela ficou meio puta por eu ter vindo atrás de você.
– Viu? Você deve voltar e se desculpar...
Dean's POV
Sam e eu estávamos voltando de boa quando fomos interceptados por Angelina. Quase suspirei e falei "Agora não", mas só sorri agradavelmente.
– Oi – ela disse. – Raphael, lembra quando eu te perguntei se sua prima te arranjava problema?
Demorei a raciocinar.
– Lembro – respondi, hesitante.
– Então... Eu continuo achando que sim, porque até veio um cara procurá-la.
Eu encarei Sam, me controlando para não sair correndo escada acima naquela hora. Somente me virei para a recepcionista, querendo mais informações.
– Procurá-la? – repeti.
– É. Ele mostrou uma foto e perguntou se ela tinha se hospedado aqui com dois homens. Eu disse que ela ainda estava hospedada aqui. Perguntou também quem estava no quarto no momento e eu respondi que somente ela. Depois disso, o rapaz falou que iria voltar depois porque ele queria mesmo era falar com vocês dois, o que é estranho, visto que ele estava com uma foto dela e não de vocês...
– Só isso? – interrompi.
– Bem, antes de virar as costas e sair ele quis saber o numero do quarto de vocês.
– Deixa eu adivinhar: Você falou – Sam ironizou.
– Ãhn, falei... – Angelina parecia envergonhada.
– Tudo bem – finalizei, saindo com meu irmão para o quarto. – Obrigado, viu?
– Dean, quem será? – ele me perguntou, desconfiado.
– Não sei. Coloca a sacola de compras aqui. – Indiquei um canto do corredor e peguei a arma.
Nos aproximamos da porta.
Se tivesse algum desgraçado aí, eu não ia nem esperar explicação. Eu ia meter bala. O que eu podia esperar é que ele não tivesse matado Rebecca ou a sequestrado... mas era o limite.
Sam abriria a porta e eu daria cobertura. Era simples. Se tivesse um homem lá, já era para ele.
Então meu irmão cumpriu a parte dele, revelando Rebecca de costas para nós conversando com um garoto da idade dela. Ele não estava armado e seu rosto parecia muito confuso.
Rebecca virou-se para me olhar sorridente. O que ela tinha na cabeça? Ele podia ser um transformador! Ou podia estar controlado por um demônio! Ou podia ser mais um milhão de coisas sobrenaturais – tinha um monte de possibilidades.
O que eu esperava de Rebecca era que ela estivesse com uma faca na garganta dele e não conversando.
Rebecca's POV
Eu estava convencendo Nicholas, quando Sam e Dean entraram no quarto com armas nas mãos. Eu quis suspirar de frustração. Eu estava conseguiiiindo fazer Nich ir embora, mas agora com os dois armados, ele não iria nem-a-pau!
Entrei em desespero. Como explicar isso a Nich?
Mas depois outro desespero me invadiu.
Nicholas estava na mira de Dean.
– Rebecca, cuidado! – Nicholas e Sam falaram juntos.
– Dean, abaixa essa arma! – gritei.
Ele só franziu o cenho.
– Eu não vou deixar você machucá-la – Nich se dirigiu a Dean, que ameaçou atirar nele novamente.
– Ok, ok. Parem com isso. Dean, abaixa a arma. Nich, tudo bem, já te falei, são meus primos, estão apenas preocupados, pensando que você queria me fazer algum mal – falei.
– Conhece ele? – perguntou Dean.
– Sim – suspirei.
– Fala. Sério. Rebecca. De novo. Seus primos andam armados? – Nicholas parecia prestes a me esganar. – Você é louca!
– Provavelmente. Mas agora você tem que ir embora.
– Nem a pau! E deixar você com esses seus... sei lá, primos... armados? – resmungou.
– Espera ai, Rebecca. Quem é ele? – Dean fez uma careta.
Definitivamente, eu suspirei.
– Dean e Sam, esse é Nicholas. Ele é meu amigo. Já contei para Nicholas que vocês são meus primos...
– Bem, estou aqui porque estava com medo de ela ter sido raptada. Mas ela está entre familiares. Seria ótimo se vocês não estivessem armados.
– Cara, você fala demais – Dean reclamou.
– Viu, Nich? Larga de ser super protetor – consegui falar. Os irmãos já tinham guardado as armas e estavam tentando ser simpáticos.
– Que dia vocês vão embora? – perguntou ele.
– Em alguns dias, por quê?
– Acho que vou passar uns dias aqui também.
Quis revirar os olhos.
– Por quêêêêê? – resmunguei.
– Só conferindo.
– Ok, cara. Mas será que agora você poderia sair do quarto? – Sam pediu, falando pela primeira vez em alguns minutos. – Sério. Se você vai passar a noite aqui, ótimo. Mas no seu quarto, pelo menos.
– Ai, meu Deus, cada uma que você me arruma! – exclamei, empurrando Nicholas pra fora do quarto, lançando um olhar bravo para os irmãos.
Ele era lindo. Alto, moreno, um rosto de anjo. Mas quando ele voltou para olhar pra mim naquele momento, parecia mais lindo do que já era.
– Você vai ficar bem, Becca?
– Com certeza, Nich. Eu estou bem. Você não precisa ficar.
– Mas eu vou.
Suspirei mais uma vez. Teimoso como uma mula.
– Vou pedir o quarto do nosso número da sorte, ok? Você me encontra lá mais tarde?
– Claro, Nicholas.
Ele me deu um beijo na testa e eu fechei a porta quando ele saiu.
– Pelo amor, me fala por que vocês entram de repente armados! Ele seria mais persuasível se vocês não tivessem com duas armas na mão. Por favor, até parece – reclamei para os dois Winchesters.
– Por favor mesmo. Quem é ele? Outro participante do Rebecca fã-clube? Quando Angelina falou que tinha alguém procurando por uma garota com a mesma descrição que você, ficamos desesperados! – Dean se sentou com tudo na cama.
– E eu fiquei desesperada quando alguém pulou a janela do nada. Quase desci a porrada no Nicholas... – Eu ri.
– O que não seria má idéia – completou Dean.
Fiz cara feia para ele.
– Por favor, Dean. Modos. Ele vai complicar para o nosso lado, Rebecca? – Sam perguntou.
– Não. Ele não ia me contrariar. Provavelmente vai passar uma ou duas noites, algo do tipo, e depois vai embora atrás de Natale. – Dei de ombros.
– Espero – murmurou Dean.
– Eu também – concordei.
– É só a gente sair que já vem alguém atrás de você. É moleza, não é? – Sam riu.
– Nem me fale! – Eu ri também. Depois de alguns minutos embromando, saí do quarto em direção ao quarto numero 13 (número da sorte meu e de Nich, quando éramos crianças). No segundo toque, ele abriu a porta.
– Rebecca! – Ele me abraçou.
– Claro. Não vem inventar que estava com saudade, porque estivemos juntos faz menos de meia hora.
– Só estava preocupado. Custava você deixar uma mensagem? Passar em casa para se despedir? Responder as mensagens? Seus primos parecem tão perigosos! – suspirou.
– Não precisa se preocupar, Nich. Eles são minha família. Faz tanto tempo que não sei o que é família que estou tão feliz, Nich... Você deveria se lembrar como foi quando meus pais morreram e imaginar como me sinto. Não há nada com o que se preocupar. Você deve partir amanhã e me deixar seguir a minha vida – pedi. – Eu sei que vivemos juntos e que você me conhece há séculos e que eu deveria ter avisado. Me desculpa, eu sou péssima. Mas acredite quando digo que estou muito bem, muito contente e muito segura.
A parte da segurança era uma mentira lavada que me senti mal de falar, mas necessário.
O meu pequeno discurso pareceu fazer algum significado para Nicholas. Ele me abraçou delicadamente.
– Se isso te faz feliz, amanhã estou indo embora. – Sua voz parecia conter até dor.
– Te magoei? – perguntei. – Você sabe que você aqui também me faz feliz, não sabe? Mas preciso ir atrás da minha família, você também sabe disso. Para eu poder ficar ainda mais feliz. Prometo te mandar notícias sempre. E não te deixar mais de seis meses de vácuo.
Eu sabia que família era um ponto fraco para Nich. Ele sempre ficava com medo de eu ficar magoada com esse assunto, porque sofreu comigo a perda dos meus pais.
– Não estou magoado, magoado. Mas eu queria você perto. – Como se para reforçar o que ele disse, Nich me abraçou um pouco mais forte.
– Eu também queria. Mas a gente ainda vai se ver de novo, não é uma despedida definitiva! Até parece que nunca mais vou voltar a vê-lo! – Eu sorri, cutucando a ponta de seu nariz.
– Você promete?
– Prometo prometido. – Dei uma risadinha.
Ele suspirou.
– Então eu acredito.
Ficamos mais um tempo em silêncio até que Nicholas me soltou do abraço e segurou as minhas mãos, me fazendo sentar junto com ele.
– Antes de ir embora, você poderia fazer algo por mim? – perguntou.
– Se estiver ao meu alcance...
– E está.
– Ok, então. Pode falar.
Nich mordeu os lábios. Parecia receoso.
– Eu sempre gostei muito de você, Becca. Muito mesmo.
Assenti para ele continuar a falar.
– Eu queria que você correspondesse antes de sair pelo mundo afora – sussurrou, os olhos intensos me encarando o tempo todo.
– Que eu retribuísse o quê? – Balancei a cabeça. Ele não estava falando nada com nada para mim...
– Uma coisa muito importante para mim.
E com essa frase nada explicativa, ele me beijou. Apaixonadamente.
Demorei alguns minutos para entender o que estava acontecendo. E aí já era tarde demais, eu estava correspondendo o beijo.
– Espera – arfei, quando consegui desgrudar de Nicholas.
– O quê? – Ele parecia vermelho.
– Gostaria de saber o que isso significa. Você nunca mostrou sentir nada por mim. E ainda é ex da minha amiga, sabe? Me sinto uma cachorra das brabas nesse momento. Se Natale descobrir, vai descer a porrada em você.
– Em você também – falou, dando gargalhadas. Eu também ri.
– Em mim não. Ela sabe que não consegue descer a porrada em mim, porque senão eu é que desço a porrada nela!
E rimos mais um pouco. Só com Nich poderia ser tão fácil – beijando em um momento para depois conversar coisas sem noção como sempre! Ai, ai. Ele me fazia sentir em casa...
– Desculpa, mas é que eu precisava descobrir como era o seu beijo. – Nicholas me puxou para um abraço gostoso.
– Te desapontei? – zombei.
– Não. Superou as estimativas. Não sei como vou deixar você ir embora agora. Queria seus beijos para sempre...
– Nich... – censurei.
– Tô brincando, Becca. Eu vou embora assim que acabarmos aqui, tá? E você vai poder ir para sua família.
– Obrigada.
E dito isso, nos beijamos mais e mais vezes, até o sol se pôr.
Sam's POV
– Palpite para o que Rebecca está fazendo no quarto do garoto? – brincou Dean.
Controlei a vontade de mandar ele para o quinto dos infernos.
– Não.
– Ah, mas que falta de criatividade! Eu consigo imaginar vários cenários... – continuou.
– Eu também. Mas vamos deixar isso de lado, ok? – pedi, exasperado.
Dean me encarou.
– Hmmmmm, ciúmes?
– Não – respondi. E ele caiu na risada.
– Ah, Sammy, não fique assim. Talvez não seja isso o que estamos pensando e ela volte em alguns minutos...
– Tanto faz para mim.
Dean caiu na risada novamente e eu suspirei.
– Você não tem mais o que fazer não, Dean?
– Ok, ok. Estressadinho.
Vinte minutos. Meia hora. Uma hora. Uma hora e meia. Duas horas. Duas horas e quarenta e cinco minutos. Três horas.
– Será que ela está bem, Dean? – perguntei, realmente preocupado.
Ele revirou os olhos.
– Larga de ser bobo você, Sam. Deixa a menina.
Menina! Ela tinha a minha idade! Há.
Mas não rebati, porque a porta se abriu naquele instante e Rebecca entrou no quarto. Parecia normal, pelo menos. A não ser pela vaga tristeza no olhar.
– Ele foi embora hoje mesmo. – Ela deu de ombros. – Deve estar saindo da cidade nesse momento.
– Tudo bem? – perguntei.
– É, Sam estava bem a fim de ir ver se você estava bem lá no quarto com o garoto. Acho que não ia ser uma cena que ele quisesse presenciar, não é, Rebecca? – Dean riu maliciosamente.
Ela o encarou firmemente.
– Vai te catar, Dean. – Ela pulou na cama, escondendo a tristeza, pegando o diário do papai e começando a folheá-lo.
Nem me incomodei de censurá-la por estar conferindo o diário de novo. Rebecca parecia de um momento para ela. Confrontar a vida que tínhamos e amávamos ter nunca era fácil.
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