CAPÍTULO 7- ESCLARECIMENTOS
Sam's POV
Rebecca se levantou e andou até a outra garota, rebolando. O balanço do vestido mostrou um tecido preto e eu tombei a cabeça no sofá para ver melhor. Dean riu perto de mim.
– Seu pilantra – murmurou. – Todos pensam que você é um santo, mas olha como você prova que não é!
Eu ouvi um murmúrio e pedi silêncio a Dean.
– Você e seu namorado são estranhos – murmurou a voz baixinha de Olívia.
Dean deu uma risadinha.
– Viu? Eu sempre falei isso...
– Shhh.
– Por quê? – respondeu a voz da Rebecca, como se tivesse sido ofendida.
– Se eu tivesse um namorado daquele iria dar um beijo nele de tchau, de oi, de volto logo...
– Ele é tímido – falou Rebecca. Os murmúrios acabaram.
– Você é tímido, Sammy? – zombou Dean.
Revirei meus olhos.
– Cala a boca, Dean.
– Dá uns pegas nela e depois fala que foi somente um álibi – sugeriu.
– Não, obrigado.
– Idiota.
– Otário.
Nós rimos.
– Por que será que Olívia chamou Rebecca para o quarto? – perguntou ele. – Será que Olívia é lésbica?
Franzi meu cenho.
– Ah, acho que não, porque Olívia falou que você é um tesão – continuou brincando.
– Não falou não – contrariei.
– Falou sim: "Se eu tivesse um namorado daquele..." Se você não dar uns catos na Rebecca na frente de Olívia, ela não vai acreditar que vocês são namorados...
Suspirei. Rebecca era tentadora, a ideia de beijá-la só por um álibi também era tentadora. Balancei a cabeça tirando isso de minha mente.
Rebecca's POV
Ao passar dos cômodos eu percebi que a casa era mesmo enorme, principalmente por dentro. A gente andava, andava e nada de quarto. Passamos por uma segunda sala de estar, um corredor, uma sala vazia – a não ser com um altar coberto por velas e outras coisas estranhas.
– Um altar – falei, maravilhada. Minha vida foi sempre desprovida de crenças. Minha família não me criou em nenhuma religião e apesar de conhecer alguns conceitos básicos das religiões cristãs não me afirmava em nenhuma. Mas também não duvidava na existência de Deus, ou deuses, de energia superior ou nada do tipo. Eu só não sabia no que crer. Até encontrar os meninos: a partir daí, pelo menos podia afirmar na existência de demônios e do sobrenatural.
– Sim, eu comecei a rezar no mês passado. – Ela deu um sorrisinho de lado e eu pensei ter perdido alguma piadinha particular dela.
E ao lado da sala vazia tinha o seu quarto, finalmente!
O quarto de Olívia era todo tabaco com branco, um pedaço de luz no meio de sua casa mais clássica. As cortinas caíam delicadamente e a TV de mais ou menos 50 polegadas ocupava quase que uma parede inteira. A cama King Size estava em metade do quarto e na outra metade tinha uma jacuzzi.
– Uau – murmurei. – É lindo e gigante e sofisticado.
Ao canto, era possível ver um aparelho de som, iluminado por uma luminária imensa. Tinha até um frigobar, ao lado de uma pequena mesa com taças e velas.
A cama estava repleta de pétalas de rosas vermelhas e cada canto do quarto estava coberto com velas. Foi aí que dirigi meu olhar para Olívia e percebi que a roupa dela estava sofisticada demais, quase como a minha.
– Que sem noção eu sou! Nem me passou pela cabeça que você tivesse um compromisso. Mil desculpas – pedi, ruborizada, sem conseguir esconder o quanto me sentia inadequada em estar atrapalhando Olívia na preparação de um encontro.
– Não precisa se sentir mal, garota. Vocês não estão atrapalhando. Só irei receber minha visita mais tarde. – Ela abanou a mão, soando compreensiva e educada. Talvez fosse por isso que ela tinha se oferecido para me mostrar a casa e o seu quarto, para eu finalmente perceber que estava sendo uma visita folgada.
Eu tinha que pegar os meninos e sair dali.
– Bem, já estamos de saída, de qualquer forma. Não queremos atrapalhar mais. Mas está tudo muito lindo. Para quem é isso tudo?
– Meu namorado... – sussurrou, rindo. Eu conhecia o jeito de uma garota e sabia muito bem que ela estava louca para contar a alguém sobre isso. Então foi bem fácil, era só me oferecer para ouvi-la.
– Como ele é? – perguntei, com um sorriso no rosto. – Deve ser um ótimo cara para merecer tudo isso!
Ela soltou uma risadinha nervosa.
– Bem, ele é incrível. E na verdade você o conhece. É o Felipe... – confessou.
Tentei disfarçar o meu espanto, utilizando minha melhor capacidade de atuação.
Ela tinha começado a namorar o namorado da falecida amiga dela em menos de duas semanas de sua morte. Céus.
– Ah! Uau! Não esperava por isso! – Foi o melhor que eu pude falar.
– Sim... Foi engraçado como tudo aconteceu. Quer dizer, eu sempre senti que ele gostasse de mim mais do que apenas como amiga. E foi lindo quando ele começou a perceber isso.
Por sempre entendi durante o namoro dele com minha melhor amiga e tudo fez sentido. Então era por esse motivo que ela não gostava da Karine! Por causa do namorado.
– Bem, fico feliz que vocês já conseguiram assumir o namoro, sem medo do que as outras pessoas podem falar. Elas podem ser maldosas – observei, inocentemente.
O seu sorriso sumiu. Evidentemente não era um assunto no qual ela pensava em conversar.
– Ainda não assumimos o namoro. Mas estou com altas expectativas para hoje.
– Boa sorte, estou torcendo por vocês! – falei, em tom animado. – Então eu acho melhor nós irmos embora antes que Felipe chegue, para que tenham privacidade.
Começamos a voltar para a sala onde os meninos estavam e lembrei que eu precisava de informações sobre ela para o caso dos meninos. Então comecei a inventar.
– Eu estava lembrando aqui, era você a amiga de Karine que foi assaltada uma vez e levou uma mordida? Maior esquisitice.
Lobisomens precisavam ser mordidos para se transformarem.
– Não! – Ela me olhou julgando minha sanidade. – Eu nunca fui assaltada e mordida. Definitivamente não sou a amiga de quem você está falando.
Eu suspirei. Não era ela.
– Bom, que bom que não foi você! – Dei uma risadinha sem graça. – Ainda fico curiosa para descobrir quem é.
Voltamos até o cômodo em que Sam e Dean estavam. Eles examinaram meu rosto e fizeram cara de: (?)
– Meninos, vamos? – perguntei, ficando em pé ao lado deles e os convidando a levantar.
– Já? – falou Dean.
– Já.
Eu dei um abraço em Olívia.
– Foi muito bom eu passar aqui – murmurei. – Obrigada pelas bebidas e pela conversa. Meu coração está mais sereno. E adorei a casa!
Ela sorriu, pegando nas minhas duas mãos. Ela me parecia bem gentil, mas depois de ter ficado de olho no namorado da amiga por sei lá quanto tempo sem demonstrar, eu não acreditava muito nas impressões que ela passava. Poderia não ser nada legítimo.
– Que a sorte esteja comigo essa noite.
– Eu cruzarei os dedos para que dê certo – confessei. Eu a abracei de novo e depois peguei na mão de Sam. – Desculpe se a gente atrapalhou você.
– Não! – quase gritou. – Foi muito bom tê-los aqui. Eu precisava conversar com alguém mesmo.
Ela nos levou até o portão. Sam foi no lugar do motorista, logicamente, por causa do disfarce. Acenei animadamente para ela enquanto Sam saía com o carro.
– O que ela conversou com você lá em cima? – perguntou Dean, curioso, como sempre.
– Aquela garota está mesmo precisando de uma amiga... – murmurei. – Sabem por que ela estava vestida daquele jeito?
Eles fizeram a mesma careta ao balançaram a cabeça.
– Por que ela vai receber o namorado dela.
– O que isso tem a ver? – questionou Dean.
– Sabem quem é o namorado dela?
Sam olhou profundamente nos meus olhos procurando a resposta. Pelo menos esse irmão Winchester não estava questionando minha sanidade. Eu dei um sorrisinho.
– É o Felipe – disse. – Não é?
Eu assenti e Dean xingou.
– Eu percebi desde o início da conversa que tinha algo errado entre a amizade de Olivia e Karine. Não senti um carinho muito verdadeiro. Tinha alguma coisa por trás mal resovida. E era isso. Olivia já era apaixonada por Felipe enquanto ele namorava Karine – expliquei. – Mas não tenho certeza de que esse sentimento era recíproco. Senão ele poderia só ter dado um pé na bunda de Karine e ter ficado com a amiga dela.
Sam virou o pescoço para me olhar, pensando sobre o que eu estava falando. Me senti quente por dentro de repente, feliz por não estar falando besteira.
– Penso que se Felipe não amasse Karine, por que aturaria ser chifrado? Vocês são a prova... aceitariam ser cornos?
Dean fez outra careta. Ele não parecia tão atento, mas isso era visivelmente um sinal de que estava prestando atenção.
– Eu não aceitaria não.
– Nem eu. Eu nem sei o que eu faria se descobrisse... – Sam levantou as sobrancelhas, incomodado com a perspectiva.
– Então. E sobre sair à noite, eu sinceramente acho que ele não tinha opções e acabava irritando Karine. – Eu sorri, empolgada, enquanto Sam estacionava o carro. – No livro de vocês eu vi um relato sobre lobisomens... E lá está escrito que eles não têm consciência quando assume a forma... Talvez ele se tornou a fera, saiu, matou Karine, voltou pela manhã e não saiba exatamente o que aconteceu.
Dean's POV
Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu, eu pensava enquanto Rebecca explicava suas teorias. Eu teria que matar o irmão da mina que eu queria comer.
Meu rosto se transformou em uma carranca quando Rebecca terminou de falar. Ela parecia tão convicta, tão perceptiva, tão esperta – até demais. Afinal, ela era uma novata! Era para ela estar aprendendo, e não nos ensinando – era para Sammy e eu estarmos explicando para ela porque suspeitávamos de alguém e não ela nos justificando os motivos da veracidade de suas teorias.
Os papeis estavam errados.
Senti um peso na consciência de ter que matar alguém de tanta importância para uma conhecida. Não que eu fosse matar o meu cunhado, as chances de querer algo mais do que ficar com Ang eram pequenas – sinônimo de 'Dean Winchester' é 'pegando todas'. Era provado geneticamente, cientificamente – religiosamente também, se quiser – que eu não era homem de mulher só. Pensar em mim é me imaginar sentado abraçando duas mulheres, uma em cada braço. Mas... Angelina... Eu conseguia dimensionar o quanto a perda de seu irmão impactaria sua vida. Ela me despertou uma compaixão tão grande.
Mas além de compaixão, eu conseguia sentir uma inquietação, algo mais. Um gostinho de vida normal. Afinal, um dia eu teria que sossegar com uma mulher só, não teria?
Eu estava errado. O mal nunca acabaria. Essas criaturas nunca evaporariam do nada. E eu estarei aqui, matando uma a uma.
Eu bufei, ganhando dois olhares de curiosidade.
– O que foi? – perguntou Sam.
– Nada. Não posso bufar?
– Normalmente as pessoas bufam do nada quando tem algo em mente. Diga-nos o que tem nessa sua cabecinha – brincou Rebecca, batendo na minha têmpora.
Esperei até que a gente estivesse seguro entre as paredes do quarto.
– Mas e se... E se não for Felipe? E se for essa tal Olívia? Ela parecia ter mais motivos para matar Karine – cogitei, buscando alternativas.
Rebecca sorriu com cara de sabe-tudo. Senti vontade de apertar o seu pescoço.
– Olívia não foi mordida. Eu perguntei e ela respondeu que não.
– Mas ela pode estar mentindo mesmo assim – retruquei.
Sam revirou os olhos.
– Eu acho mais provável que seja Felipe, porque ele brigava o tempo todo e pode ter ganhado uma bela mordida – completou ela.
Rebecca estava me dando nos nervos. Por que tinha que ser tão completa? Tão... complexa?
– Dean, qual é? Você ficou sentimental agora? Não quer ferir os sentimentos da sua Angelina? – perguntou Sam, seriamente preocupado.
Eu revirei meus olhos para ele e passei para o banheiro, jogando água fria na cara e organizando meus pensamentos.
– Eu só vou meter bala em alguém quando eu tiver certeza – avisei.
– Você está mais parecendo mais a mim do que a você – criticou, enrugando o cenho para mim.
– Idiota – xinguei.
– Otário.
– Ok, né. – Rebecca revirou os olhos. – Vocês parecem duas crianças.
Eu não falei nada a ela porque tinha muita consideração pelo pouco tempo em que estávamos convivendo juntos.
– Ninguém aqui quer sair matando todo mundo, então é claro que a gente vai ter que esperar até a semana que vem, que bate com o ciclo lunar do lobisomem. Podemos ficar de tocaia no Felipe e até na Olívia se isso te acalmar, Dean. A gente vai descobrir quem é e então acabaremos com isso. – Rebecca parecia calma, talvez porque sabia que isso iria acalmar a mim e ao Sam.
Mas, fala sério, era para ela estar gritando "OH MEU DEUS, E AGORA? FICAREI DE FRENTE COM UM LOBISOMEM!" ou pelo menos estar com uma careta de medo. Mas ela estava relaxada, e o brilho em seus olhos denunciava que ela estava... com expectativas.
Estava na cara que o sangue dela a preparou para isso. Um sangue demoníaco, que a deixava com poderes. O sangue que a preparava para a guerra que vinha, o sangue que a tornou uma caçadora. Minha boca formou uma linha rígida. O destino dela sempre esteve traçado, não importa se o demônio tivesse ou não infectado o sangue dela, cedo ou tarde ela descobriria o sobrenatural. E viraria uma caçadora.
Fim.
Rebecca nasceu para isso. Tudo bem, se ela gosta de desafios... Vou tornar tudo mais complicado para ela, então.
– Primeiro, vamos compartilhar informações – falou Sammy.
– Eu tenho uma teoria – avisou Rebecca.
Após ela contar a sua geniosa teoria de vingança do Felipe, que consistia em Karine morta pelo Felipe-lobisomem porque terminou com ele, Rebecca colocou o gravador de Sam para tocar. Fiquei impressionado – de um jeito bom e de um jeito ruim – com a capacidade dela de enganar o policial e de fazer as perguntas tão bem elaboradas de improviso.
Sam contou sobre os detalhes da casa de Karine e ninguém se empolgou com nada. Lógico que Sam estava realmente fascinado com os dons de Rebecca – e com a facilidade dela de lidar com o sobrenatural, com a desenvoltura dela com Olívia e com a rapidez com que Rebecca pensava nos detalhes e criava teorias – e eu estava me irritando. Eu fui o único a perceber que eu estava excluído da conversa? Os dois estavam de frente para o outro, Sam com um ângulo perfeito para o decote dela, conversando na maior excitação.
– Eu estou só meio bolada com uma coisa – disse ela, olhando para os olhos dele como se só estivessem os dois ali. Eu contei mentalmente: fazia oito minutos que eles não se dirigiam a mim. – O ciclo lunar corresponde a, o quê? Uma semana, né? Então. Normalmente, teria que haver mais de uma morte. Que sentido há em se transformar em lobisomem por uma semana e só matar uma pessoa em sete transformações?
– Talvez não houve sete transformações. Ele pode se drogar com frequência, passar noites em claro... – respondeu Sam.
– Eu ainda não sei. Um lobisomem... de repente? É lógico que é a teoria mais certa, porém me instiga a procurar mais – retrucou a garota, dando de ombros.
Eu revirei meus olhos. Não dava nem para mandá-los procurar um quarto porque já estavam em um – eu que era um tonto de ainda estar ali.
– Tudo bem. Oi, gente, eu estou aqui. – Eu levantei meus braços e acenei para eles.
Rebecca e Sam viraram somente a cabeça para me olhar – ainda estavam de frente um para o outro. A diferença é que a cara de Sam era: "O que foi?", visivelmente confuso, e a de Rebecca era: "Vai se foder" misturado com a vergonha que fez a cara dela ficar vermelha.
– Sabe o que eu acho? Que vocês estão envolvidos demais com isso, a dois. Então vou lá falar com Angelina – reclamei, dando um sorriso amarelo de quem não se importa.
Eu saí do quarto, deixando os dois com cara de bobos e desci as escadas. Mas quando cheguei à recepção as portas da frente estavam fechadas. Olhei para todo canto e não vi Angelina lá.
Certo, ela é a única funcionária. Eu esperava o quê? Que ela trabalhasse 24 horas por dia?, perguntei mentalmente.
Subi as escadas, aborrecido. Sim, era exatamente isso que eu esperava.
Para minha surpresa minha bronca pareceu dar conta do recado. Sam estava deitado na cama de solteiro mexendo em seu notebook e Rebecca estava de pijama enrolada no lençol lendo o diário do papai. Eu suspirei.
– Quem vai dormir em qual cama? – perguntei, carrancudo.
Os dois desviaram os olhares de seus afazeres para me encararem.
– Já quer dormir? – questionou Rebecca, com uma sobrancelha levantada.
– Só vamos deixar tudo pronto. Vou trocar de roupa e tentar me desligar de vocês dois – resmunguei. Discutir sentimentos não era comigo, mas provocar, ah, disso eu gosto!
Rebecca me olhou magoada.
– Dois ou um? – sugeriu ela. – O primeiro que sair fica na cama de solteiro.
– Você tem sempre um joguinho de mãos para decidir coisas assim, né? – provoquei, rindo.
Ela também riu.
– É minha função...
Ela rolou para mais perto da cama em que Sam estava e acenou para que eu me aproximasse. Eu fiz o que ela mandou.
– Dois ou... um! – gritou no momento exato em que nossas mãos se abriram.
Eu coloquei um, porque soava mais macho. Dois é estranho, porque parece com tesoura. E isso me lembra uma orientação multissexual, o que eu não tenho. Mas é claro que Sam colocou tesoura, considerando como ele era. E a grande expectativa... Se Rebecca colocasse um, eu estaria feito: dormiria ao lado dela. Se Rebecca colocasse dois, Sam estaria feito, de novo.
Novamente, como o esperado, o indicador dela era o único dedo que estava à mostra.
– Ótimo. Hoje a cama de solteiro é minha! – exclamou, se deliciando com esse fato. Ele não parecia nada incomodado em não dividir cama com ela.
Já Rebecca...
– Isso é injusto – reclamou ela. – Eu não tinha opções? Qualquer dedo que eu colocasse, eu iria dormir na cama de casal!
– Foi você quem sugeriu a brincadeira – lembrei.
– Nunca mais sugiro – respondeu, voltando a se enrolar no lençol e se exilando para o canto mais longe de mim da cama de casal. – Me dá azar.
– Você deu uma oportunidade a Sam essa noite passada, agora seja boazinha e me dê a minha. Eu não vou desperdiçar como ele fez...
Ela se virou apenas para meter um murro no braço, voltando a me dar as costas.
– Ai – gemi. – Doeu.
Ela bufou, me ignorando e fiquei quieto – com o propósito de continuar com o meu saco intacto, porque eu sabia que seria o próximo lugar que ela agrediria se eu continuasse a irritá-la. Mulheres eram previsíveis.
Eu me levantei e tirei minha blusa, com vontade de agitar.
– Sammy, me empresta o notebook? Eu pensei que Rebecca era mais quente, mas como ela está brava eu preciso de outra distração.
Pude ouvi outra fungada de Rebecca.
– Nem vem. Nada de pornografia no meu computador – reclamou ele.
– Argh. Só você pode? – perguntei. Você entra em sites pornôs que eu sei – insisti.
– D...
– Ok! – gritou Rebecca, virando para me olhar. – Dean, deixa o seu irmão pesquisar em paz. E se não tiver nada para fazer trate de arrumar. Vai folhear um livro, preparar armas, programar o próximo dia. Eu estou tentando ler e aprender com isso.
Arregalei meus olhos.
– TPM? – perguntei. Seus olhos arderam e eu pensei que ela me tacaria o travesseiro. Ou o diário de meu pai. Mas ela apenas revirou os olhos.
– Não. Mas espere três semanas e aí você verá o que é TPM – avisou.
Engoli em seco. Se ela era assim sem TPM, imagina com. Sam deu uma rápida olhadela para mim e eu pude ver o pânico em seus olhos espelhando o meu. Fechei os olhos e pedi para que Deus não fizesse essas três semanas passarem rápidas e que a TPM dela acabasse rápido também.
Não fiquei acordado a tempo de imaginar a provável resposta.
Rebecca's POV
– Não é um lobisomem! – insisti para Dean.
Ele revirou os olhos.
– Quais provas você tem que não é um lobisomem? – perguntou, subestimando-me. – Tudo indica que sim.
– Não tenho provas. Mas não é um...
– Rebecca, você é amadora nisso!
– Mas, Dean, NÃO É UM LOBISOMEM!
No mesmo instante, duas sombras se movimentaram na minha visão periférica e atacaram Dean, deixando-o sem escapatória e matando-o no ato.
Arfei e me sentei na cama. Com o movimento repentino a minha visão escureceu e eu perdi o senso de espaço. Balancei a cabeça para tentar me livrar da tontura.
– Que horas são? – perguntei para uma silhueta. Eu não tinha conseguido distinguir formas ainda.
– Oito da manhã. Você não dormiu tanto assim. – Ele riu, pensando que eu acordei agitada por medo de ter dormido demais.
Abri meus olhos e percebi que era Sam. Pelo tom da resposta (não sarcástico), já deveria ter imaginado.
– Você foi dormir tarde, né? – disse, com o cenho franzido.
– Sim. Você e Dean já tinham empacotado. Eu sou a única com dever de casa, né? – Dei uma risadinha, arrumando uma mexa perdida da minha franja. – Fiquei lendo o diário do pai de vocês até tarde.
– O diário não é assim tão grande – retrucou.
– Não. Mas tem muitas informações, então li com bastante cuidado.
– Sabe, Rebecca, você não precisa fazer tudo isso de uma vez. Eu e Dean demoramos anos e anos para chegarmos ao nosso nível de conhecimento atual. E, basicamente, é com caçadas que a gente aprende mais.
Suspirei.
– Eu imagino, Sam, mas quero ser do mesmo nível de vocês. Eu quero ajudar, não ser apenas um peso.
Eu vi que ele ia continuar com o sermão, então mudei de assunto.
– Mas enfim... Por que você já está vestido para sair?
– Dean e eu vamos até o mercado para reabastecer nosso... estoque.
Estoque?, pensei.
– Hmm, quer que eu vá? – perguntei, começando a sair da cama.
– Não, não, não. Não precisa. Pode ficar!
Tentei pensar se a relutância na voz de Sam indicava outra coisa. Talvez eles não fossem ao mercado, por isso não queriam que eu fosse. Será que eles iam investigar algo relacionado ao caso? Era por isso que ele não queria que eu fosse... Por que era perigoso? Ou será que os Winchesters perceberam que eu era inútil e resolveram me deixar? Ou eles iriam a uma boate de strip-tease? Era por isso? Segurei o riso.
– Bem, quer alguma coisa de lá, aproveitando a "viagem"? – interrompeu meus pensamentos.
– Hmm, uma escova de dente. É sempre bom ter uma reserva. Espera, que eu já te dou o dinheiro... – falei, me levantando de vez.
– Não! – negou. – É só uma escova de dente. Eu pago.
Dei de ombros.
– Onde está seu irmão, falando nisso?
– Onde você imagina que ele está? Eu só vim buscar minha carteira. – Ele deu uma risadinha.
Lógico que eu tinha noção de onde Dean estava. Com Angelina! A resposta era óbvia. Os dois estavam como chiclete.
– Então eu já vou – disse Sam. – A gente volta logo.
Eu levei minha nécessaire para o banheiro.
– Tudo bem. Vou ficar aqui, pesquisando mais.
– A chave reserva está em cima da cômoda – avisou, fechando a porta.
– Tá – murmurei para o vácuo.
Escovei meus dentes e penteei a juba acima de minha cabeça. Foi aí que eu percebi o calor intenso e resolvi tomar um banho logo.
Quando saí do banheiro, os meninos ainda não tinham chegado. E isso era bom, porque eu pude vagar pelo quarto somente enrolada em uma toalha. Eu liguei meu I-pod e coloquei minhas melhores músicas para tocar.
Vesti-me vagarosamente com um short preto e uma bata azul. Coloquei uma sandália prateada para não sujar meu pé. Estava tocando 'On & On'.
Balançava o corpo na batida da música até que desligar para me concentrar no diário do pai deles. Apesar de ser estranho (era muito estranho), aquilo tudo realmente me interessava. Fiquei fascinada com as coisas sobrenaturais que existiam. E isso me ajudou a concentrar em tudo.
Enruguei o cenho para a folha de papel e soltei uma risadinha. Sal simbolizava pureza... Mas eu nunca fui muito a fim desse tipo de condimento. Lembrei-me de quando minha amiga Natale falava que eu era uma demônia, safada... Eu ri novamente, tentando guardar as lembranças para outra hora.
Sam's POV
– Vamos, mano! – falei, arrastando Dean de Angelina. Eu dava dois dias, no máximo, para eles começarem a se pegar.
Dean deu uma piscadela para ela e entrou no carro, girando a chave na ignição e se achando 'o galã'.
– Ela me ama, cara – murmurou ele.
Revirei meus olhos.
– Rebecca acordou quando eu fui buscar a carteira – comentei.
– Ainda bem! Pensei que alguém a tivesse prendido em um pesadelo ou algo do tipo.
– Ela me contou que dormiu super tarde porque estava tentando memorizar tudo que está no diário do papai. Isso está errado... Ela está se esforçando demais.
– Deixa a garota se divertir! Se ela está gostando de aprender a matar esses monstros então deixe.
– Tem outra coisa – lembrei. – Ela acordou com a respiração acelerada.
Dean me encarou com uma careta.
– E daí? – perguntou. – É um país livre... As pessoas respiram como quiser.
Ignorei a última parte.
– E daí que isso indica pesadelos. Você se esqueceu de que Rebecca também tem 22 anos? E se o poder dela evoluiu ou algo do tipo?
Ele revirou os olhos e estacionou.
– Depois você pergunta para ela. Mas se fosse algo muito real, ela teria te contado.
Tentei assentir. Mas nada garantia que ela confiasse na gente o suficiente para se sentir tranquila de contar o teor de seus pesadelos.
O mercado parecia ser o maior. Tinha uns homens na entrada, bebendo e umas mulheres conversando lá dentro. O ponto de encontro da cidade. Que ótimo. Dean ficou mais relaxado assim que entramos e nos deparamos com umas gatinhas.
– Oi – cantarolou uma loira para mim.
– Hmm, oi – falei, depois de um pigarro.
– Se não acharem alguma coisa aqui, me chamem. Ficaria honrada de ajudar.
– Ah, sim, obrigado – agradeceu Dean, visivelmente mal-humorado por eu fazer o tipo das gostosonas e não ele.
Não precisei acrescentar para a moça que era impossível não achar alguma coisa ali.
– Elas me amam – provoquei, cochichando para Dean.
Ele revirou os olhos.
– Eu estou precisando de um desodorante e de um shampoo novo – falou, pegando os produtos de sua marca favorita.
– Pega um desodorante a mais para mim que eu vou procurar uma escova de dentes reserva para Rebecca.
Eu fui para outra sessão.
Achei um kit '2 por 1', com uma escova roxa e outra verde. Não sabia muito sobre Rebecca, mas bem... Toda garota curtia roxo... Dean já tinha escapulido para a sessão de 'comes e bebes', colocando no braço um pacote de balas e uma cerveja.
– Você definitivamente não tem jeito – murmurei, alcançando-o.
– Cala a boca e ajuda aí.
Ele me passou o desodorante e outra cerveja.
– Viu como não sou egoísta? Peguei uma cerveja para você. Mas, se não quiser, pode dar para mim – começou.
– Vamos passar isso no caixa logo.
A loira gostosona sorriu de nos receber no caixa, com olhos maliciosos.
– São novos na cidade? – questionou, me encarando.
– Não. Só turistas que vamos ficar por algum tempo – respondi.
– Hmm, uma morena alta de olhos castanhos veio aqui ontem e era turista também. Ela usava uma blusa cintilante roxa. Ela está com vocês?
– Sim – concordou Dean.
– Ela é sua namorada? – perguntou a loira me encarando. Seu tom de voz fez Dean soltar uma risadinha.
Eu quase não resisti à vontade de falar 'Sim, estamos juntos há três anos e nos amamos perdidamente', só para que a loira não tivesse mais esperanças. Mas era mais certo falar que Rebecca era nossa prima, caso a loira viesse a falar com Angelina.
– Não, é nossa prima. – Eu dei algumas notas para ela e ela me devolveu o troco. Dean já havia empacotado as compras e eu não via a hora de sair de perto da moça que me comia com os olhos. Eu estava me sentindo pelado.
– Meu nome é Liv, voltem sempre. – Seu sorriso era exultante.
Enquanto saíamos do mercado, pude escutar Dean começando a dar risadinhas de deboche.
– Fazendo sucesso, hein, irmão? – provocou Dean, já no carro.
– Permaneça calado que sua cara fica intacta – ameacei.
Dean riu.
– Como se você fosse capaz de danificar meu rosto... Como se você fosse corajoso a ponto de começar uma briga comigo... Como se você fosse fortão para sobreviver caso brigue comigo.
– Pelo menos a Liv era gata e me quis – contra-ataquei.
– Angelina quis a mim – retrucou.
– Ainda bem, porque ela é baixa demais – falei, descartando a ideia.
O sorriso presunçoso de Dean voltou.
– Não para mim.
Nós rimos em coro. De longe pude ver Angelina quase quicando no mesmo lugar de tão ansiosa para que nós chegássemos longe. Assim que ela avistou o Impala de Dean, abriu um sorriso imenso.
– Quero ver quando você tiver que explicar Angelina que vocês não vão se casar e que você vai embora em breve – comecei.
Dean fez uma careta.
– Deixa isso comigo.
– Lógico que vou deixar! Eu só quero ver a reação dela.
Talvez a recepcionista até desmaiasse... Ou talvez ela grudasse na perna de Dean e não soltasse mais. Ambas as reações seriam engraçadas.
Isso incomodou Dean e ele não me ajudou a carregar as compras. Não era muita coisa, mas...
– Oi – disse Angelina. – Vocês nem demoraram.
– É – murmurou Dean, incapaz de ser rude com uma garota humana e indefesa.
– Bem, vocês vão tomar o café-da-manhã a que horas? – perguntou ela, se dirigindo ao meu irmão. – Faz parte da diária. Está tudo incluído... Todas as refeições.
Isso me fez refletir se a fala de Angelina era uma indireta com duplo sentido, se ela queria dizer que ela também estava incluída no pacote. Me senti sobrando.
– Ótimo! Vamos chamar a... Nicole e já voltamos – falou, batendo palmas. Dean parecia faminto.
Angelina fez uma careta discreta que durou apenas uma fração de segundos, deixando perceptível que deixou demonstrar mais do que deveria.
– Ah, é. A prima de vocês. Vou arrumando a mesa, então.
Franzi o cenho para Dean. Será que ela e Rebecca já se esbofetearam em segredo? E se não fosse isso, o que era? Por que mulheres se odiavam? Fiz outra careta enquanto seguia Dean escada acima.
Sexo feminino: Um mistério, uma confusão... Um sexo demoníaco, cheio de relações obscuras e mudanças de humor complicadas. O sentimento que as mulheres têm por elas mesmas me confunde. Uma hora elas são 'melhores amigas': Se protegem e guardam os segredos mais secretos. Se amam e abrem os corações. Em outro caso, elas se odeiam: Mal se conhecem e já não se dão bem. Veem umas as outras como inimigas mortais, fazem de tudo para causarem a queda das outras.
Mulheres simplesmente me dão medo.
– Oi, Rebecca – falei, entrando no quarto depois de Dean.
Ela se levantou subitamente da cama, deixando à vista o diário do papai. Levantei uma sobrancelha: o diário de novo?
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