Capítulo 1- O TRANSFORMADOR
6 meses depois – Atualmente
Sinceramente, nunca entendi porque eu ainda me lembrava de quando comecei a namorar Peter. Ele sempre foi um inútil, até quando eu pensei que ele me ajudaria em alguma coisa no momento em que mais precisava. Depois que meus pais morreram, eu vendi a casa destruída, os móveis, o automóvel, as joias da minha mãe e me mudei para um hotel. Eu conhecia o dono, e o aluguel ficou em conta para a nova órfã da cidade.
Peter me ajudou em tudo no começo como a vender as coisas, a me recuperar, a continuar a trabalhar. E eu consegui sobreviver. Ele me pediu em namoro uma semana após a morte de meus pais e eu decidi aceitar. O que eu perderia, afinal? Minha mãe o adorava, ela gostaria que eu começasse a namorá-lo. Ele era bonito e compreensível. Mas o problema é que eu não o amava e nunca amaria. Eu gostava dele como amigo, somente.
Uma semana após o começo do nosso namoro ele começou a tornar-se insistente: Começávamos a nos beijar e ele já vinha com mãos bobas. Tinha dias que eu as deixava caminhar por minhas costas, mas Peter sempre arranjava um jeito de passá-las para o lado da frente, ou descê-las demais. Eu não queria dormir com ele, eu só queria um pouco de carinho, um colo confortável para afundar minha cabeça quando o que eu queria era desaparecer do mundo.
Na mesma época, algumas garotas começaram a ser barbaramente mortas: Primeiro eram estupradas e depois mutiladas. Fiquei com medo de sair de casa alguns dias, pois parecia coisa de serial-killer. Somando o perigo iminente ao meu estado de espírito anterior, causado pelo luto, eu me tornei ainda mais introspectiva e isolada.
Peter me disse que era totalmente seguro e isso deveria ser coisa de algum animal. "Mas as garotas são estupradas", eu retrucava. "Esses animais acham o corpo estuprado e depois se alimentam", insistia. Eu não discutia para não dizer as coisas horrendas que pensava. Ele não percebia que não tinha o mínimo de nexo?
Faz hoje exatas duas semanas que eu terminei com Peter. E isso foi tudo culpa dele, afinal, foi ele que transgrediu as regras, não eu.
FlashBack – Rebecca's POV
Peter estava na minha casa, novamente. A TV estava ligada, mas nenhum de nós estava prestando a devida atenção.
O beijo rolava normal, mas foi esquentando. Ele estava com a mão no meu ombro e ela começou a cair, rolando pela minha cintura. Então ele colocou a mão na minha coxa: Foi o estopim. Eu me levantei e praticamente chutei Peter para fora.
– Vai embora agora, Peter. Não volte mais hoje – gritei.
– Oras! Por que você não quer...?
– Eu quero fazer isso quando eu estiver pronta.
– Há! Fala sério. Você não é virgem.
– Não mesmo – retruquei. – Eu quero estar pronta para fazer isso com você. Mas parece que você não entende, não é mesmo?
Ele respirou fundo e colocou os dedos na ponte do nariz. Não entendo porque lhe parecia inconcebível que consentimento é essencial qualquer que seja a ocasião: dentro de um relacionamento ou em um affair casual, na primeira vez ou na décima vez...
– Por que você simplesmente não pode fazer o que uma namorada tem que fazer?
Eu franzi o cenho.
– O quê?
– Você é minha namorada e eu sou o seu namorado. Namorados passam a noite juntos. Você não aceita isso.
– Você é mais nojento do que eu imaginava. Uma namorada não tem que fazer coisa nenhuma! Saia daqui, Peter e nunca mais volte. Já que para você namorados passam a noite juntos, eu não sou mais sua namorada.
Eu fechei a porta na cara dele.
Fim do FlashBack
Depois daquele dia, Peter me procurou somente duas vezes. E eu o ignorei essas duas vezes, até que ele desistiu. Eu não conseguia entender como faltava sensibilidade e falta de caráter a esse garoto. Ninguém nunca ficou me pressionando desse jeito.
A esposa do dono do hotel onde eu ficava havia arranjado uma kitnet para mim, na periferia da cidade. Era uma de suas propriedades, mas ela se recusou a aceitar aluguel. Eu falei para ela que eu poderia pagar, mas ela insistiu, a compaixão com a mais nova órfã da cidade. Um monumento de piedade de Natalia, Texas, terrível... Mas, no final, cedi, pois sabia muito bem que o meu dinheiro já estava sendo usado em outras coisas.
Eu havia complementado meu guarda-roupa e comprado algumas malas depois de terminar com Peter. Eu estava pensando em viajar por alguns dias, ou meses, quem sabe?
Estava chegando das compras – havia comprado alguns salgadinhos e refrigerante de lata (era só o que eu comia há dias). Praticidade falava mais alto. Sem comentar que não havia com quem dividir uma refeição decente.
As sacolas estavam meio cheias e eu estava com dificuldade para abrir aquele portão.
– Abre logo, caramba. Eu não tenho a noite toda.
Olhei por cima dos ombros somente para checar se não havia nenhum homem psicopata/estuprador/serial-killer me seguindo ou se aproximando com um machado.
Balancei a cabeça, rindo. As coisas em que eu comecei a pensar desde o dia do acidente são muito estranhas.
Finalmente consegui abrir o portão, entrar e fechá-lo. Coloquei as sacolas em cima da mesa, guardando tudo aos seus devidos lugares depois.
Como eu estava sem fome, resolvi assistir um pouco de TV. Não passava nada de interessante e eu cheguei a pensar que iria dormir ali. Mas as luzes começaram a piscar e de repente houve me deparei numa escuridão total.
E eu estava sem energia.
Se acalme, pensei. É só um corte de energia.
A campainha tocou e eu tive que morder o meu pulso para não gritar. O que me aliviava era que eu sabia que se eu ainda estivesse morando em casa seria pior. Eu acharia que eram os espíritos de meus pais. Porém na situação atual o que me assustava era que eu morava na periferia – lugar onde havia muitos crimes, roubos e o estuprador à solta.
– Quem é? – gritei.
– É o técnico da energia elétrica. Eu estou passando para explicar a vizinhança sobre o corte de energia. É necessária uma manutenção na caixa de energia.
A voz era de um homem e era bem suave. Mas poderia ser o meu estuprador se ele fosse um ótimo psicopata.
– Você pode me explicar pelo portão? – perguntei com a voz alta.
– Olha, vai demorar um pouco...
– Ok, ok. Estou indo.
Eu estava confiando naquele homem e isso me irritava. Se ele fosse o assassino eu morreria por burrice! Preparei meus músculos como aprendi naquela aula de defesa pessoal e caminhei lentamente até o portão, levando as chaves comigo. Girei a maçaneta e o portão se abriu.
Primeiro veio a surpresa, depois a admiração. Aquele cara era bonito demais para ser um simples técnico de energia elétrica. Era alto, meio loiro, forte e parecia ter olhos claros. Tipo um galã de filmes.
– Boa noite. Posso falar com a pessoa da casa que cuida da manutenção da parte elétrica? – perguntou. – São necessários alguns ajustes e eu gostaria de explicar.
– Bem... A pessoa não se encontra no momento.
O moço passou a mão por sua barba por fazer, visivelmente pensativo.
– Sem essa manutenção os cabos de energia não vão funcionar nesta casa. Está na nossa agenda retornar ao bairro na próxima quarta-feira, se você puder esperar.
Fiquei completamente em pânico de imaginar meus dias e minhas noites sem energia elétrica, sem internet, sem banhos quentes e luz.
– Olha, a empresa não me autoriza entrar, mas... poderia te ajudar com a caixa de força. Você só precisa me indicar onde fica. É uma manutenção de cinco minutos.
Hesitei instantaneamente. No entanto, a outra opção, de ficar sem energia, me deixou ainda mais apavorada do que deixar aquele homem entrar e fazer a manutenção por ele mesmo. Suspirei, observando bem o traje da companhia elétrica. Não tinha como não ser.
– Tudo bem. Te indico o caminho.
Eu acenei para a minha casa escura.
– Certo. Recebemos um chamado porque alguns moleques mexeram com os fios e comprometeu a segurança dos pedestres que passam por perto dos postes. Pela emergência, tivemos que começar os procedimentos logo. Vamos trabalhar até finalizar todas as ruas do bairro. Por isso passamos sua rua nesse horário, sinto muito o desconforto da família. – Ele observou a sala, desconfortável, passando a mão pelo cabelo. Mas logo deu um sorrisinho acanhado.
Minha sala definitivamente não era muito confortável, faltando todos os tipos de móvel e decoração possível. Eu sabia o que ele falaria antes de que abrisse a boca.
– Hmm, me parece que a família é só você.
– Bem, sim. A caixa de energia é logo ali. – Apontei para trás da porta.
O técnico trabalhou com os fios por alguns minutos. Realmente, foi rápido.
– Pronto. Quando religarmos a energia da rua, você não encontrará problemas.
– Obrigada.
Dirigimo-nos para o portão. Comecei a me sentir mais aliviada por realmente ser um técnico que não aparentava ameaça alguma. Até me culpei por ter pensado mal dele.
– Então é isso.
– Sim. Muito obrigada por ajudar. – Sorri para ele, estendendo a mão.
Ele abriu um sorriso charmoso, apertando sua mão na minha.
– Desculpa o inconveniente, mas... você tem namorado?
– Ãhn, acho que isso não é da sua conta. Obrigada de qualquer forma pela ajuda... – Fui fechando o portão, incomodada pelo flerte tão evidente. Por mais que fosse bonito, não era hora ou local para tentar se aproximar de mim. Mas uma mão me impediu de fechar o portão.
– Acho que temos uma conversinha pendente... – pude escutar sua voz, cheia de malícia. Antes que pudesse reagir, o rapaz praticamente pulou para o meu lado, agarrou a minha face com suas duas mãos e me beijou, tão forte que eu não conseguia ao menos respirar. Eu o empurrei com toda a minha força, fazendo-o cambalear significativamente.
– O que é isso? Vá embora daqui! Agora! – Ele me segurou com uma das mãos, fechando o portão com a outra. Praticamente me arrastou para dentro de casa enquanto eu me debatia.
– Não. Você me renegou muitas vezes, Rebecca. Eu fui seu namorado, eu tinha um corpo bonito e você não me quis. Agora estou aqui com outro corpo bonito e você também não me quer. Então você tem algo contra mim, não é? Eu vou conseguir o que eu quero hoje.
Não sei como, mas de repente eu consegui entender quem era aquele homem. "Entender" de maneira obscura, visto que aquele loiro, alto de olhos verdes era fisicamente alguém que nunca vi na vida. Não sei como era possível, mas só podia ser ele. Não tinha outra explicação!
– E o que você quer? Me matar, Peter? O que você é exatamente? Como você consegue mudar de corpo?
Essas eram apenas poucas perguntas que eu tinha na minha cabeça. Ele deu outro pulo, fazendo com que eu batesse a cabeça na quina do sofá.
– Eu quero você. Possuir você. Eu sou um anjo: um anjo que muda de formas.
– Se fosse para você parecer algo desse tipo – retruquei –, você seria o demônio, em pessoa.
Suas narinas inflaram e ele bateu minha cabeça uma segunda vez. Só que nessa eu desmaiei.
Peter's POV
Ela apagou. Fiquei surpreso com a facilidade em que ela me reconheceu. Esse novo corpo não era nem um pouco parecido com o meu de sempre.
Gostei desse, acho que seria permanente. Ninguém perceberia que Peter havia sumido: Era só sumir com Rebecca também. As pessoas pensariam que eles haviam fugido. Ninguém notaria que havia dois homens iguais já que o cara que eu copiei era um turista que nessa altura do campeonato estava a quilômetros da cidade.
Observei o corpo caído de Rebecca e a peguei no colo – este meu novo corpo tinha muitos músculos –, levando-a para a cama, no quarto dela. Amarrei suas mãos, bem devagar. Eu queria um nó bem feito para que ela não escapasse.
Lógico que eu não faria algo com ela desacordada. Eu quero ter o prazer, literalmente, de fazer isso com ela consciente. Aí ela vai ver o que perdeu esse tempo todo e irá gritar o meu nome na hora H. Farei Rê pedir "bis" e depois eu irei matá-la, assim como fiz com as outras vítimas.
O que diferenciava Rebecca das outras era que Rebecca não deixou que eu me aproximasse. As outras se jogaram quando eu, com o corpo de um cara bonito, me "encantava" por elas... Mas Rebecca soube que era eu. Ela não me queria, não importa qual fosse a minha forma ou corpo. Isso me deixou com raiva e eu me controlei para não matar Rê naquele exato momento. Eu queria fazer isso depois, quando ela estivesse ciente da dor.
E então, ela acordou. Já estava na hora, meu amor.
Rebecca's POV
A minha visão estava embaçada, mas não o bastante para que eu deixasse despercebido que eu estava na minha cama, no meu quarto. Olhei imediatamente para ele – com um rosto passivo – e tentei juntar o resto das peças do quebra-cabeça. Aquele cara bonitão sentado na pontinha da cama era Peter em outro corpo. Ele veio aqui somente para me obrigar a fazer uma coisa que ele já queria me obrigar a fazer há muito tempo e talvez já tivesse conseguido.
Olhei para minha calça somente para ver se ela estava em seu devido lugar. E ela estava, ainda bem. O que eu não entendia era como ele não havia feito nada ainda, se eu estava desacordada.
Tentei me levantar, mas algo estava prendendo as minhas mãos: Uma corda. Então o desgraçado havia me prendido?
– Por que não fez o que queria quando eu estava "dormindo", Peter? – resmunguei.
– Vai ser mais gostoso quando eu ouvir você pedindo mais.
Eu ri sobriamente.
– Eu? Pedindo mais? Só nos seus sonhos.
Ele me olhou sério e depois sorriu. Veio se aproximando de mim, e prendi a minha respiração. Eu preferia morrer a ser estuprada.
– Eu te provo que você vai gostar muito. – Peter segurou minhas mãos e aproximou sua cabeça. – Você não gosta disso? – perguntou, roçando seu membro na minha coxa.
Um arrepio percorreu pela minha espinha. Uma reação involuntária do medo. Eu queria chorar, desaparecer, entregar as pontas. Primeiro ficar órfã, perder o meu chão, depois ser violentada e morta. Por favor, céus! Não!
Mas me mantive firme.
– Não. Gostaria com qualquer um que não fosse você. Até com aquele psicopata que mata as garotas.
Peter, para a minha surpresa, começou a rir.
– Fique feliz de saber que somos a mesma pessoa. Eu estuprei e depois matei aquelas garotas. E se eu fosse você ficaria muito deprimido. Foi por sua culpa que elas não estão vivas, saltitando por aí. Se você já tivesse me dado o que eu quero há muito tempo eu não precisaria aliviar a minha tensão sexual desse modo.
– Você as mata, Peter. Você não faz isso só pela tensão sexual, faz porque tem problemas!
– Eu sou o louco? Você é que é! Esse tempo todo fiquei ao seu lado, aguentei o seu mau humor, suas TPMs, suas brigas idiotas, sua família ridícula, namorar você... e você nem ao menos me recompensou por tudo isso.
Ele achava a minha mãe ridícula? O meu pai? Aqueles que sempre apoiavam que eu tinha que namorá-lo? Então ele havia mexido na minha ferida.
– Espera aí! Foi você que incendiou minha casa? – gritei.
– Não. – Ele fez um beicinho. – Eu nunca teria feito aquilo. As tortas da sua mãe eram as melhores.
Eu já estava cheia de aguentar tudo o que ele jogava na minha cara. Era melhor ele acabar com tudo aquilo. Seria ótimo voltar a ficar com minha mãe e meu pai novamente, mesmo na morte.
– Sabe como você pode aliviar a sua tensão sexual? Corta a desgraça da sua minhoca e depois cozinha em água fervente, seu idiota.
Senti que meu fim estava próximo. Seus olhos cintilavam de uma raiva indecisa. E ele me deu um tapa na cara.
– Cala a boca, vadia.
– Se quer tanto transar comigo, vai logo – falei.
Ele deu um sorrisinho de canto – aquele sorriso que há uma hora eu achava lindo – e se aproximou de mim.
E logo depois o sangue dele estava esparramado por toda a parte.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro