3-Epiphane
— Nós ainda amamos vocês…
Seokjin reconheceu aquele sussurro no meio dos gritos dos repórteres e no caos dos flashes de suas câmeras curiosas, procurou com os olhos aquela pessoa, aquilo que se misturava aos inúmeros sons desapareceu no meio das vozes e questionamentos. Paralisado, se sentia tão desorientado quanto desnorteado com todo aquele empurra empurra, soltou a mão de Kim Namjoon sem poder reagir quando um amontoado de pessoas o cercaram esticando os braços em sua direção.
— Senhor Kim Seokjin, quanto às vítimas, o senhor está satisfeito com o caso encerrado da forma que foi? Acha que as famílias estão…
Namjoon girou o olhar naquela direção, suas feições duras, odioso, ríspido por alguns segundos paralisou aquele repórter quando o contato visual se estabeleceu, aquela pergunta o irritou, a insistência em colocar o dedo na ferida aberta era de uma crueldade pura saindo daquela boca nojenta, aqueles abutres…
Falar das vítimas sempre o pegava com força, o homem se enfurecia com a imagem daquele dia ainda fresco em sua mente, o cenário, aquelas vozes, aqueles corpos, seus fãs.
— Ninguém está satisfeito, senhor! Tenho plena certeza que todos nós racionalmente concordamos que uma tragédia dessas não deixa ninguém feliz, ninguém!
Soou acusatório para a multidão de pessoas que se apoiavam naquela notícia, sorvendo cada gota de novidade, cada erro deles sendo noticiado com aquele tom azedo de crueldade. Maldades ditas sobre eles, acusações infundadas, desrespeito ao luto das famílias, do fandom…
Nada mais que maldade e crueldade.
— Nós te amamos, te amamos…
Seokjin quase viu o som rodopiar e arregalou mais os olhos buscando aquela pessoa, aquele pequeno som que o enchia de alguma nostalgia de quando eram amados, ovacionados, quando o mundo delirava sobre suas vozes, mas…
— A justiça não foi equivalente…
Seokjin se encolheu, não deveria, tinha sido orientado sobre como agir mas, abaixou-se em uma curvatura funda para todos e sentiu as bochechas úmidas, a voz veio em um sussurro fininho, a multidão se calou olhando para ele, e merda.
Kim Seokjin se sentia encurralado, nu, feio.
— Sinto muito, foi nossa culpa, sentimos muito, nos perdoe…
A multidão sentiu o impacto daquele cena, daquele homem prostrado, daquele pesar.
— Nós te amamos…
Alguém insistiu.
— Eles morreram por irresponsabilidade?
Algum repórter induziu.
— Sinto muito….
Lamentou profundamente Seokjin.
— Não há perdão…
Kim Seokjin sentiu os dedos das mãos de Namjoon o puxando para se afastar, estava cansado daquilo, sabia que sua voz agora só servia de fermento para todos aqueles abutres idiotas, Seokjin escondeu o rosto com a mão se sentia feio…
— Queimem.
Houve um estouro e gritos, as pessoas se espalharam desesperadas quando três homens mascarados apareceram cantando uma música lenta, cadenciada, quase infantil e atirando pedras se aproximavam do foco daquelas pessoas todas, uma delas atingiu o rosto de Seokjin que caiu pra trás, entre eles teve aquele que segurando um arma apontada para cima, disparou sete vezes.
Seokjin e Namjoon foram cobertos por seguranças em questão de segundos, arrastando-os em fúria praticamente, em direção ao SUV blindado.
— Queimem.
Mais pedras, mais músicas, mais gritos.
Seokjin foi empurrado porta adentro da melhor forma possível, Namjoon se jogou, praticamente em direção ao carona, não houve espera, Kim Seokjin acelerou o máximo que podia.
As mãos tremendo apertando o volante e ainda sim sentindo aquele pavor dos estouros e gritos…
O cheiro da fumaça.
Que merda, merda, merda.
Kim Seokjin parou o carro com os pés bambos e permaneceu com as mãos no volante, os dedos duros, os vidros abertos, os cabelos jogados para trás revoltados e a boca arroxeada de frio. Sentia-se rígido e ao mesmo tempo era arrasado por imagens que queimavam seu pensamento, queimavam e confundiam sua cabeça.
Kim Namjoon foi quem saiu primeiro do carro, se encarregou de trazer o outro aconchegado em seu peito, sentia a atmosfera pesar a cada passo, abraçava o parceiro com força o obrigando a andar juntinho até a casa tentando protegê-lo com seu corpo alto.
A decisão de nunca se separar estava sendo cumprida. Mesmo que a situação fosse pior para Kim Taehyung, todos concluíram que seria bom que a regra fosse a mesma para todos.
E eles estavam certos, haviam algumas câmeras direcionadas aos portões quando passaram por ele, flashes, gritos e até algumas pessoas xingando.
Aqueles disparos anteriores foram com tudo na direção de Kim Seokjin que ainda continuava com olhos arregalados pelo susto.
Não parecia bom ficar só, Namjoon não sabia se poderia se segurar de novo caso alguém viesse pra cima e até aquele momento eles tinham apenas aceitado sobreviver àquela situação toda sem se expor ainda mais.
Por isso não estavam saindo muito, tentando não ser vistos, mas era uma tarefa complicada, já que eles eram seguidos e nada passava aos olhos da mídia.
Seokjin seguiu Namjoon até o quarto onde o abraçou as costas, pois estava gelado dos pés a cabeça, gelado de uma maneira insuportável, frio, sentindo a si mesmo sumindo em meio ao pavoroso toque da dormência.
Os pés, dedos, mãos e a boca.
— Hyung? — resmungou Namjoon.
Kim Seokjin lhe olhou atravessado.
— Hun?
— Como está se sentido? Quer que eu prepare algo para comer? Está com sono? Seu rosto doi?
Seokjin negou em suas costas, apenas permaneceu agarrando o outro, respirando, puxando o seu aroma e empurrando o calor em si mesmo.
Namjoon se virou desajeitado, passou os braços a sua volta e respirava profundamente em seus cabelos escuros.
Porra, como estava triste!
Aquele gosto amargo que lhe era tão íntimo cobria suas papilas com um sabor desagradavel. A sobrecarga em seus ombros chegava a latejar, no entanto ficou ali parado esperando o outro se aquecer, sentindo-o enfiando o rosto em seu pescoço, sugando seu perfume, tocando sua pele por debaixo da blusa, arranhando a pele fina de suas costas em busca de calor e contato físico, provocando alguma reação no mais alto em busca de alguma resposta para si, mas aquilo ainda não parecia o suficiente.
— Hyung? — murmurou em tom profundo — me peça alguma coisa — Seokjin olhou-o sem expressão — por favor fale qualquer coisa — implorou sussurrando.
Namjoon gemeu pesado em seu ouvido externando a frustração de olhar aquele rosto tão bonito inexpressivo, tinha uma coisa em sua voz que fez Seokjin apertar o enlace em busca de mais daquilo, aquele gemido doloroso arranhando seu cérebro de modo que não conseguiu deixar passar, bufou, apertou e tocou a pele do outro, limpando a garganta e jogando o som pelos lábios.
— Me abrace e não solte — sussurrou — por favor...
Namjoon obedeceu, já estavam tão grudados que seria difícil não se fundir em uma massa corpórea só. Mas era aquilo, eles não se sentiam tão derrotados quando estavam juntos e talvez por aquele motivo acabou puxando o rosto do outro e dando um beijo em seus lábios.
Estava cansado!
Namjoon era aquela dor aguda no peito impossível de ignorar, aquele sentimento preso na garganta, o sabor do fracasso degustado em uma porrada só. Aquela certeza maliciosa de que nenhuma melhora viria, era a ruína, a queda depois da ascensão. Era duro demais ficar debaixo da incerteza do dia seguinte, do próximo pôr do sol, e...
Será que os sete se veriam em mais uma reunião? Será que iriam conseguir se livrar daquele absurdo, aquele vazio, aquela podridão que os abraçava o tempo todo.
Iriam sair vivos?
Seu rosto molhado e o gosto salgado chamaram a atenção do mais velho que soltou seus lábios. Olhinhos miúdos e atentos buscavam contato visual, Namjoon não fugiu, pois estava farto de se sentir tão angustiado, tão despedaçado, tão…
Porra, tão inseguro.
Tinha tanta melancolia em seu corpo que não sabia onde mais colocar toda aquela enchente de questões não resolvidas e só por isso ele chorou enquanto voltou a beijar Seokjin em uma calma corrosiva e aterradora.
Queria aquela certeza das manhãs em que tudo o que queria era ter mais tempo para se agarrar ao outro, receber aquele toque que sempre era dado para si com tanta facilidade. Saber onde e porque, com quem e para quê e porra, tudo era tão incerto agora.
Queria dar um grande foda-se para aquela tristeza que o impedia de sequer aguentar seu próprio peso e tolerar aquele desapontamento, estava tão magoado que mesmo quando mordeu o queixo bonito de Seokjin ainda chorava continuamente, o outro não estava diferente, sentia aquilo roubar o ar, tinha medo demais para falar, não havia segurança em quebrar o contato ou questionar Namjoon, mostrar preocupação lhe parecia idiotice, era obvio que ele não estava bem, como poderia?
Seokjin queria ser mais forte, mas aquela memória estava tão intimamente viva e contagiosa em si que o impedia de ultrapassá-la, atravessá-la era uma tarefa inconclusa por seu cérebro cansado daquela dor, de sentir a corrosão, de ver sua família moribunda pelos cantos, do pavor descontrolado quando Taehyung surtou.
Merda. Se sentia feio demais.
Apertou seu corpo contra o outro em busca de mais contato, desesperado, queria sugar sua alma pela boca. Afinal aquela coisa feia no seu rosto foi incapaz de afastar Namjoon, se agarrou aquilo, pois era só o que tinha.
Sugava sua boca, puxava o ar, apertava sua pele e sentia que não era suficiente.
Nada nunca mais bastaria?
Porra! Aquele gosto salgado no meio do beijo era assustador e seu coração martelava fundo doendo muito, mas era bom e íntimo, os beijos iam ficando mais intensos, o medo ia crescendo e roubando a energia, o desespero subia pelas pernas agarrando, entrando, subjugando. Jin se apertava no outro, cada arranhão doía mais, cada respirar puxava mais ar, cada toque vibrava e sentia a necessidade de continuar.
Não aguentava mais o frio. Não aguentava mais a impotência. Aquela imagem amaldiçoada que sempre voltava.
Porra, caralho e ao inferno dez mil vezes!
Tocou o outro de forma mais íntima, agressiva, tinha um desejo vivo e um coração aterrorizado.
Namjoon era especial para ele de uma forma muito doce, imaginou ser incapaz de fazer qualquer analogia sobre o que sentia por ele, então apenas continuou forçando o abraço para mais contato, para mais de seus beijos molhados e salgados.
E mesmo estupidamente triste, Namjoon não o soltou, manteve o abraço e beijou-o deixando que o tocasse, ficando assim por todo o tempo em que Kim Seokjin lhe quis...
Quando dormiu com o corpo do outro parcialmente jogado sobre si, ainda se agarrava nele, de alguma forma queria se esconder na pele de Namjoon, ao mesmo tempo que aliviava aquela coisa asquerosa que estava estampada em seu rosto, aquela feiura lhe tirando tudo de mais valioso.
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